Por Beatriz Acampora – Psicóloga (CRP 05/32030) e João
Oliveira – Psicólogo (CRP 05/32031)
As emoções e sensações
muitas vezes se misturam na nossa vida e poucas são as pessoas que conseguem
diferenciar alegria, prazer, satisfação e felicidade. Então, vamos começar
definindo cada um desses termos:
Alegria – a palavra deriva do latim
“alacritas”, de “alacer”, que significam “ânimo leve, contente”. É uma emoção
positiva e agradável que influencia as pessoas que a sentem e também as que a
observam. Pode surgir pela associação com algo ou alguém que propicia o sorriso
fácil, por uma sensação de bem-estar, de bom humor.
Prazer – a palavra deriva do latim
“placere”, que implica em ser aceito, querido e também se relaciona com
“placare”, que significa aquietar, acalmar. Muito se discute a respeito do
prazer e é comum o entendimento que ele é da ordem do desejo, o que implica que
uma pessoa pode sentir prazer com algo que faça bem ou mal a si mesma, uma vez
que o desejo quase nunca é lógico e coerente.
Satisfação – a palavra deriva do latim
“satis”, que significa bastante, suficiente, em quantidade adequada, somada à
“facere”, que implica em fazer do modo desejado. Nesse sentido, podemos
compreender que uma pessoa se sente satisfeita quando supre uma necessidade,
como comer quando está com fome, por exemplo, ou suprir a necessidade de afeto
ao receber carinho.
Felicidade – a palavra felicidade tem
relação com o latim “felicitas” (felicidade), “felix” (feliz) e, ainda com o
verbo grego “Phyo”, que significa produzir, trazendo a conotação de algo
fecundo, produtivo. Dessa forma, podemos compreender que a felicidade tem
relação com se sentir produtivo, útil, fazendo parte de algo. Facilmente
podemos associar com as palavras contribuição, cooperação, produtividade.
Todo
mundo quer ser feliz. Dificilmente uma pessoa afirmará para si mesma e para os
outros que deseja intensamente a tristeza, o desprazer, a insatisfação e a
infelicidade. Isso porque é da nossa natureza buscar a própria realização
pessoal.
Pessoas felizes tendem a ser mais
positivas, a enfrentar as situações da vida de forma diferente, porque já
conquistaram algo dentro de si: um casamento feliz consigo mesmas.
A felicidade é algo a ser desvelado e
cuidado diariamente. Todo mundo a quer, mas poucos estão dispostos a abrir mão
do complexo e buscar a simplicidade, a investir em si, de tal forma, que haja
uma visão enobrecedora: a de que tudo pode ser transformado em aprendizado para
o crescimento pessoal.
Alegria e felicidade são muito
confundidas. Para esclarecer exemplificando, podemos dizer que uma pessoa não é
feliz, mas foi ao parque de diversões e ficou muito alegre, deu boas risadas e
até mesmo se sentiu eufórica. A alegria tem relação com momentos, bem como a
tristeza. Pode-se conceber que uma pessoa está triste por alguma situação
passageira da vida, mas é feliz. Isso porque a felicidade é algo mais
duradouro, perene.
Prazer e satisfação também são tópicos
distintos que podem se relacionar. Ao concebermos uma pessoa com fome, que come
qualquer coisa apenas para se saciar, podemos dizer que ela se satisfez e, ao
mesmo tempo, podemos dizer que uma pessoa que tem um desejo de comer algo
especial e o faz, também pode se sentir satisfeita ao realizar seu desejo.
Mas o prazer é tão complexo que também
podemos conceber que uma pessoa que usa drogas busca apaziguar um desejo de
algo, que muitas vezes nem ela própria sabe o que é, mesmo que as consequências
de tal uso seja muito prejudicial posteriormente – e sente prazer, que depois,
possivelmente, se transformará em desprazer.
O imediatismo do mundo atual vende a
imagem da felicidade através da alegria, prazer e satisfação. É certo que
buscaremos satisfazer nossas necessidades porque isso é da natureza de todo
animal, inclusive o homem. Precisamos de alimento, água, equilíbrio do sono,
segurança, estima e tudo o mais que é necessário para a preservação da vida e a
não satisfação das nossas necessidades pode levar a diversas disfunções físicas
e psíquicas.
Se você der um prato de comida a alguém
que dorme na rua, esta pessoa pode se sentir alegre e se satisfazer comendo,
mas não ser feliz e nem ter grande prazer com isso. Alegria, então, não pode
ser anunciada como felicidade. Contudo, uma pessoa feliz tende a ser mais
alegre, porque se disponibiliza para isso, perde o medo de criar sua própria
existência, investe no autoconhecimento como a ferramenta mais poderosa para
estabelecer limites realistas para si mesma, de forma que não caia na teia das
tentações de prazer momentâneas que terão um alto custo na manutenção da sua
felicidade.
A alegria associa-se ao “estar” e a
felicidade ao “ser”. Quem é feliz escolhe os prazeres aos quais vai se dedicar
e as satisfações que precisa ter para suprir suas necessidades, sem se
abandonar à própria sorte, acaso ou destino, porque compreende que ser feliz
implica em construir o próprio caminho e colocar um pé à frente do outro com a atenção
e o cuidado que o percurso requer, cultivando cada passo dado, para que o
caminho seja o mais bem-aventurado possível.