Por: João Oliveira -
Psicólogo (CRP 05/32031)
A grande maioria das pessoas acredita que existe uma fórmula
infalível de se descobrir a mentira na face dos outros apenas com algumas dicas
como, por exemplo, os movimentos dos olhos para alto a direita. Isso não
corresponde à realidade, pois outros fatores devem ser avaliados antes de
julgar o conteúdo proferido por alguém. Um gesto, apenas, funciona como uma
única palavra fora de um texto, não tem muito significado isolada, ela precisa
estar dentro de uma frase para fazer sentido.
A análise comportamental é uma ciência séria, mas ainda
sofre muito com apressadas sentenças feitas por impulso e sem a devida
profundidade. Não existe um único sinal na face que demonstre a mentira! O
contexto como um todo, deve estar sendo avaliado e, mais ainda, existem
mentirosos que conseguem se colocar sem deixar um único vestígio. Estes são os
que acreditam no que estão dizendo, vivem suas fantasias.
Para nós o importante é analisar as emoções que se
manifestam nas expressões faciais (expressas ou instaladas), nas microexpressões
e na linguagem corporal. Não sem antes avaliar se o sujeito à nossa frente é
destro ou canhoto pela percepção de preferência de comando muscular (esquerdo
ou direito) exposta pelo tamanho da face – um lado sempre é maior que o outro.
São tantos detalhes envolvidos e a maioria deles ainda está
sendo testada e comprovada ou não pelo método científico. A psicologia é uma
ciência em desenvolvimento e todos os dias somos apresentados a novas
descobertas sobre o funcionamento do cérebro. As propriedades da mente e como
elas influenciam o surgimento das emoções. Isso tudo, ainda é, um vasto campo
de trabalho à espera de pesquisadores dedicados.
Acredito que antes de se pensar em descobrir a mentira no
rosto dos outros deveríamos estar preocupados em saber o porquê alguém mente. A
mentira mais comum, por exemplo, funciona como um lubrificante nas relações
sociais, sem ela todos seriam extremamente chatos só falando o que realmente
pensam sobre os outros. Seria impossível a existência de pessoas simpáticas,
embora muitos afirmem que só dizem a verdade.
Outro fator que impede esta precisa análise da mentira é o
grau de afeto entre as pessoas. Quanto mais próximas (ao contrário do que se
pensa) menor a possibilidade de perceber a mentira quando existe a intenção de
trapacear. Um sistema interno parece querer preservar, em nós, a decepção
diante de uma pessoa que amamos e cria – imediatamente – uma justificativa
interna para abafar qualquer sinal externalizado da mentira que está sendo
dita. Pense um pouco sobre isto.
Conhecer a pessoa muito bem não é uma boa condição para uma
análise comportamental isenta. Ao contrário, não ter uma formação ideológica
sobre a personalidade de alguém talvez seja um excelente pré-requisito para uma
boa análise. Óbvio que qualquer analista precisa traçar parâmetros e, para
isto, precisa observar o sujeito se comunicando em diferentes níveis. Uma
expressão ou manifestação verbal, fora de um cenário maior, não pode ser
avaliada com precisão por ninguém.
A única coisa que podemos afirmar com certeza, diante de uma
conversação em andamento, são os perfis emocionais que estão ocorrendo nas
microexpressões expostas pelo sujeito à nossa frente. Mas, mesmo assim, o que
causa essas manifestações pode ser de ordem interna (Ex:
imaginação / memória /lapso) ou externa (Ex: calor/frio/insetos/vento) e só mesmo
o cuidado de ligar vários sinais apresentados pelo corpo, junto a estrutura
comunicacional, para se chegar a uma possível decisão de mudança na linha de
abordagem que está sendo desenvolvida. Ou seja: isso não é mágica nem jogo de
adivinhação.
A ciência da análise comportamental surge para auxiliar o
homem a interagir melhor com o seu próximo. Facilitar a comunicação, levar as
pessoas a um nível de entendimento maior com seus pares e não apenas como
ferramenta de inquérito policial. Um bom comunicador deve ter, inclusive,
maturidade para saber lidar com as emoções refratárias que poderá encontrar no
dia a dia e possuir argumentos que possam levar a uma finalização positiva para
todos.
A mentira existe sim! Todavia, são nas emoções que as
movimentam onde vemos verdades!
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