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domingo, 30 de abril de 2017

CONFLITO DE IDENTIDADE


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            Por João Oliveira
           
           
            
O momento atual requer que as grandes instituições façam a aplicação do método empowerment nos elementos de suas equipes funcionais. Esse método é conhecido por dotar o colaborador de mais autonomia e responsabilidade e, dessa forma, se torna a chave para aumentar a velocidade de resolução de demandas diárias. Isso requer também um grande preparo desses indivíduos que, a partir de agora, terão o poder de tomar algumas decisões finalistas sempre que isso for necessário. Ele se torna um micro gestor de sua própria função.


Mesmo as empresas que não optam pelo empowerment estão aplicando, de alguma forma, uma maior transferência de responsabilidades para os seus funcionários estando eles instruídos devidamente para isso, ou não, para isso. A boa produtividade solicita agilidade e cada posto de trabalho deve possuir a capacidade de solucionar impasses que ocorreram durante a execução das tarefas cotidianas. Dessa forma o profissional se vê, cada vez mais, parte de um todo institucional se tornando elemento indispensável a ampla estrutura onde atua. Na sua ação decisória resulta o sucesso ou o fracasso da própria organização.

Ocorre que isso acaba gerando uma pressão interna na cultura organizacional e reflete, muitas vezes, no surgimento de um estado de ansiedade capaz de ser levado pelo profissional além do seu período de atividade laboral. Esse indivíduo pode perder a capacidade de dissociar o estado onde está imerso nas responsabilidades profissionais do estado onde é um ser social e familiar: a ansiedade se torna um constante em sua vida.


Os elementos afetados por este conflito de identidade não possuem recursos suficientes para perceber o mal que os afligem. Não se dão conta da impossibilidade de ultrapassar a fronteira diária que existe entre o profissional e apenas um integrante normal da sociedade. Torna-se difícil ocupar, novamente, o seu lugar em sua estrutura familiar todos os dias ao fim da jornada de trabalho. Tal qual um general que não tira sua farda para jantar com a família, esse sujeito que não observa os limites dos dois ambientes e impõe a si mesmo e aos outros à sua volta uma série de restrições oriundas do seu mundo laboral.


Isso pode se dar pela falta de uma clara separação psicológica entre os dois universos distintos. O sujeito entra e sai de diferentes momentos de seu dia mantendo uma única postura que, para ele, é a mais importante no momento. O trabalho acaba se sobrepondo aos afetos da vida pessoal e, sem nenhuma percepção consciente, se torna a identidade reinante no sujeito.

Muitas profissões ainda mantém o hábito de usar uniformes durante o período de trabalho. Seja dentro da instituição ou fora dela, o colaborador que veste o uniforme sabe que é uma representação dos valores da empresa e sua conduta, durante este tempo específico, pode ser diferente nas interações com outras pessoas de quando ele não usa tal indumentária. Esse elemento cria uma marcação visível e ajuda na separação dos estados psicológicos.


Outras tantas empresas não optaram pelo uso de roupas padronizadas e permitem que seus profissionais se vistam de forma casual, porém, mantendo um certo nivelamento, um padrão mais ou menos estabelecido pelas diferentes culturas organizacionais.


Com ou sem uniforme ainda podemos notar um outro detalhe que diferencia o ser social, fora de sua jornada de trabalho, do profissional, inserido nas responsabilidades de seu cargo: o uso de um crachá. Da mesma forma que o uniforme, não existe um padrão estabelecido e várias instituições não possuem o crachá de peito como parte da identificação de seus colaboradores.


Essas diferentes modalidades de diferenciação que podem sinalizar a alteração de status de uma pessoa causam mudanças na estrutura psicológica atuando do mesmo jeito que os ritos de passagens durante a vida do ser humano. De forma micro e diária, o profissional que usa uniforme da empresa que atua, sabe o exato momento em que começa a responsabilidade, diante da sociedade de uma forma geral, de transparecer os ideais institucionais que estão inseridos nas cores, símbolos ou crachá que ostenta.


O mesmo pode não ocorrer de forma tão clara com o colaborador destituído da norma vestual. Esse profissional muitas vezes não consegue definir, com exatidão, onde começa e onde termina a fronteira que separa os seus perfis de atuação pela ausência de marcações distintas.


Isso não deve ser um real problema para alguns, mas, rotineiramente podemos encontrar no ambiente psicoterápico pessoas que se encontram em estado de grande ansiedade pela incapacidade de alterar suas estratégias comportamentais em ambientes sociais/familiares. São seres profissionais, atuando com posturas envolvidas nas missões e visões das instituições onde trabalham, todo o tempo.


Da mesma forma, o home-office pode criar um universo particular onde o trabalho e o lazer ou, a responsabilidade e o estado de relaxamento, deixam de existir claramente. O ser humano quando perde as referências que funcionam como fronteiras entre estados psicológicos, muitas vezes é levado a somatização ou, em casos mais leves, a sublimação que vai criar mecanismos de defesas.


Ninguém é capaz de manter uma sólida e única estrutura comportamental durante todo o tempo. A voz do presidente quando fala à nação não é a mesma de quando se dirige ao seu neto. A postura do caminhar do operário na fábrica difere, em muito, do modo como anda pelas ruas do seu bairro. São diversos e pequenos detalhes que podem ser percebidos externamente e, outros tantos, de ordem endógena, que só mesmo os indivíduos envolvidos no processo podem ter conhecimento.


Essa capacidade de se adaptar aos diversos modelos de ambiente por onde interagimos normalmente faz fluir uma dinâmica comportamental saudável. Saber retirar de si a capa que envolve o cargo é parte da estrutura para a manutenção de uma vida saudável. Transitar bem entre os perfis de identidades é algo que deve ser desenvolvido com tranquilidade justamente para manter o equilíbrio emocional sem criar pontos de estresse nos relacionamentos existentes.


Existem pessoas que são capazes de se desligar totalmente quando deixam a esfera laboral, outros profissionais (como médicos e policiais) são incapazes de fazer isso pelo próprio aspecto legal inerente ao seu código de ética de sua categoria. Mesmo esses devem ter suas estratégias de liberação e manter um estilo de vida familiar ou social saudável afim de proporcionar a válvula de escape dos processos de ansiedade gerados no trabalho formal.




Mecanismos sinalizadores podem ser criados como roupas de lazer ou um local de descanso onde o indivíduo possa se sentir, ao menos por algum tempo, liberado totalmente de suas características laborais. Ter atenção a esse problema já é metade do caminho andado para a solução. Se permitir ficar totalmente envolvido pelos problemas existentes no ambiente do trabalho, mesmo quando eles não existem de fato, é o caminho mais curto o desenvolvimento de sintomas psicossomáticos que, muitas vezes, acabam se tornando permanentes e com difícil remissão completa.



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sábado, 29 de abril de 2017

AS OPORTUNIDADES NA CARREIRA



Por João Oliveira
Quando ouvimos a palavra oportunidade associamos naturalmente a outra que, de fato, pouco tem a ver: sorte. Esse é um pensamento muito comum entre profissionais que observam outros em plena ascensão sem se dar conta dos fatores envolvidos no processo de crescimento no ambiente institucional e como isso pode ser possível se todos ao mesmo tempo só falam de crise em todos os setores.
Alguns pontos devem ser observados e, o primeiro deles, é o preparo do profissional que deseja alçar voos mais altos. O investimento deve ser apenas na direção de aquisição dos conhecimentos técnicos necessários para uma determinada posição. Lógico, que isso faz parte do processo, mas, nos dias atuais, uma graduação, apenas, não é certificação que garanta um brilho especial no currículo.
Dessa forma, o profissional precisa se especializar cada vez mais. A busca por cursos livres, pós-graduações e especializações diferenciadas podem fazer toda diferença na hora da escolha de um novo gestor na organização. No entanto, o investimento no processo pessoal de administração emocional provavelmente é o tempero mais relevante quando a oportunidade sai em busca de preparo.
Sabemos que o gestor eficiente não é necessariamente um expert em todos os perfis profissionais que gere. De fato, o gestor, é o elemento que consegue navegar bem entre pessoas cuidando de aspectos gerais e individuais mantendo a equipe focada no objetivo principal. Por isso, ele é antes de mais nada, um gestor de emoções. Cabe então ressaltar que não se pode aplicar fora o que não se tem dentro e, nesse caso, a administração emocional é um forte elemento diferenciador de um bom ou mal gestor.
As oportunidades estão sempre nas mãos das pessoas que decidem quem deve subir ou descer na empresa. Por isso, agir com ética e respeito a todos é o mínimo que se espera de alguém que deseja ser notado como preparado pela linha de comando. Deixar claro que possui ambição de crescer e que está se preparando para isso deve ser parte dos temas de conversas entre os companheiros de trabalho. Nem sempre as pessoas são concorrentes diretos, pois algumas não querem assumir responsabilidades, mesmo que isso possa trazer maior valor financeiro em seus contracheques.
O ambiente sempre é favorável ao crescimento. Se ocorre uma crise é necessário um novo plano de intervenções e, se o mercado está em amplo crescimento, é preciso mais profissionais de talento para gerirem a demanda. Ou seja, as oportunidades sempre estão diante de nós, que podemos ou não percebê-las como tal.
Imagine a cena de um recrutador que entra em um escritório e diz em voz alta que tem uma vaga que paga cinco vezes mais o maior salário da instituição. Ele completa a frase dizendo que, para se candidatar é somente necessário domínio pleno do alemão e mandarim, pois irá atuar como intérprete desses dois idiomas nas futuras negociações da empresa com empresários desses dois países. Provavelmente a seleção interna não terá sucesso, afinal, dificilmente alguém se prepara tão especificamente para uma oportunidade como essa.
Outro perfil de oportunidade profissional se dá quando o ambiente oferta uma forma diferente de atuação que pode dar uma grande possibilidade de crescimento. Isso pode ocorrer, inclusive, fora do ambiente de trabalho em outra atividade completamente nova.
Um exemplo de aproveitamento de uma boa chance de mercado ocorreu no Rio de Janeiro, cidade sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Com a questão da acessibilidade em alta, o comércio teve de se adaptar rapidamente para prover rampas para cadeirantes. Alguns pequenos empresários criaram rampas metálicas de fácil encaixe que podem ser colocadas e tiradas das entradas das lojas todos os dias, eliminando assim, o custo e o atrapalho causado por obras de adaptação. O resultado pode ser visto por toda a cidade com pequenas rampas de alumínio facilitando o acesso em cumprimento a uma determinação legal.
Estar atento às informações de forma ampla faz parte do empreendimento quando o objetivo é aproveitar oportunidades que nem sempre estão visíveis para todos. Pensar além do trivial pode apresentar uma rede de possibilidades, antes imperceptíveis, por ter um foco direcionado aos elementos do dia a dia. Quando não se consegue ir além do que o próprio caminho oferta, é melhor buscar um novo destino com probabilidades de sucesso.
Por isso, o trabalho emocional é provavelmente o mais importante de todos: estar bem consigo mesmo e com a autoestima no lugar é imprescindível. O investimento do preparo só irá obter resultado se houver coragem de se lançar como possível candidato a próxima promoção ou, uma nova realidade de atuação profissional que pode ser em outra instituição ou mesmo como empreendedor de sua própria ideia de negócios.
Só há destino finalizado para quem nisso acredita. Ficam as dicas essenciais para permitir o surgimento de oportunidades:
- Estar sempre preparado. Da melhor forma possível seja tecnicamente ou emocionalmente. O investimento é mais do que necessário caso exista o desejo de crescer profissionalmente.
- Manter o networking em constante crescimento. Basta lembrar que as escolhas dos nomes que ocuparão cargos de gestão são feitas por pessoas que conhecem outras pessoas. O currículo é importante, mas, conhecimento pessoal é tudo.
- Observe outras atividades fora de seu eixo principal. Muitas vezes, a oportunidade pode estar em outro modelo profissional próximo ao seu perfil de atuação.
- Converse mais, ouça mais, leia mais. As boas informações já existem: é somente necessário acessá-las.
Vai longe no passado o período em que uma carreira podia ser medida, em seu sucesso, pelo tempo de trabalho na mesma função. Hoje, um profissional que está estagnado numa mesmo posição por muitos anos pode ser considerado obsoleto se não agregar novas habilidades as suas capacidades já existentes. Procurar o crescimento não é somente uma busca por mais altas remunerações é também uma apresentação de dinamismo e pró atividade. Toda instituição, mesmo em momentos de severa crise, preserva aqueles que agregam mais valor. São esses que podem possuir a chave de ignição para o sucesso esperado por todos.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

O OLHO DO FURACÃO



O OLHO DO FURACÃO
Por João Oliveira
O momento atual no ambiente corporativo nos apresenta muitos desafios que vão além de qualquer preparo técnico desenvolvido nos últimos anos

Provavelmente, os gestores e seus líderes de equipe podem estar diante de situações jamais previstas na economia de mercado que surge como subproduto do momento político nacional. A impossibilidade de prever as rápidas mudanças causa turbulências que resultam em perdas substanciais muitas vezes impossíveis de serem recuperadas.
Como fazer previsões, dentro de uma realidade como essa? É impraticável. Em um primeiro momento, talvez a avaliação que se faça é que a melhor forma de minimizar as possíveis perdas é uma política interna de recessão, que também pode ter impactos negativos de forma direta e acabar prejudicando essa mesma estrutura interna e refletindo, negativamente, na produtividade e/ou serviços. Caso não existam intervenções assertivas o momento pode destruir toda história de conquistas na construção do estado de ânimo do corpo laboral. Um forte aparato de ferramentas deve ser colocado em serviço pelo departamento de RH.
Procurar manter elevado autoconceito realmente envolve um grande esforço dos gestores e líderes, mas, é o investimento que pode manter uma força coesa em prol da manutenção de um estado de ânimo positivo. Lembrando apenas que esforço não significa custo financeiro e sim criatividade e atitude.
Elementos simples podem ser incorporados ou, caso já existam na organização, devem ser valorizados com uma incrementação de valores. Começando pelo Briefing e Debriefing. Processos simples e fáceis de serem efetuados que, necessariamente, nem precisam ser realizados pelos líderes de fato. Pode existir uma rotatividade nessas ações.
O Briefing – que ocorre no início da jornada – trata-se do momento em que a missão é declarada e os valores da empresa ressaltados, direcionando o sentimento de pertencimento para um objetivo comum. O time se une para enfrentar mais um dia que pode fazer toda diferença.
O Debriefing – momento final do período de trabalho - um retrospecto de toda jornada deve ser cuidadosamente relatado. Erros e acertos! O que ficou para amanhã? Como podemos fazer melhor? Esse é o instante em que a equipe recupera a agenda produtiva e se programa para a jornada seguinte. Os erros devem ser destacados de forma impessoal, não se trata da pessoa e sim do problema. A busca por soluções é conjunta e a prospecção de resultados deve ser discutida de forma ampla.
Outro hábito que deve ser implantado é o Job Rotation Senior. Já conhecido de todos, no momento da entrada do profissional na empresa, a troca de funções pode ser uma boa alternativa para criar elevação de moral. Maximizar o aproveitamento das habilidades ou competências precisa ser o fator destacado do gestor em qualquer período de crise. Aqui, a escolha pode ser do próprio colaborador, realizada por meio de um simples instrumento de avaliação. Basta um questionário com poucas perguntas avaliando se ele está satisfeito com o seu posto e, qual outra posição na instituição ele se sentiria mais produtivo.
Talentos podem estar escondidos abafados pelos ruídos das preocupações com o futuro. Permitir a realização de um sonho, que necessariamente não significa realização profissional, é o mesmo que declarar confiança e respeito pelo trabalhador. Ao fim do período programado uma nova e rápida avaliação deve ser efetuada para aferir os resultados obtidos.
Se o caminho apontado é a troca de função, uma nova programação pode ser elaborada e um plano de realocação pode ser colocado em prática.
Fato é que, no instante em que o gestor percebe a primeira parede de vento da tormenta ele deve se preparar para o momento seguinte: o olho do furacão. Ao contrário do dito popular, estar no Olho do Furacão não é igual a um momento cheio de turbulência, trata-se de uma calmaria vigilante pois, o círculo de vento ronda os 360º do campo de visão. O bom gestor deve aproveitar o silêncio dos ventos e montar suas barricadas compostas de tudo de melhor que seus colaboradores podem possuir.
Como duplo pesquisador, o gestor (e também o líder de equipe) deve ter um olho no telescópio, enxergando longe as movimentações externas, e o outro no microscópio, descobrindo talentos em sua própria equipe e permitindo a extração de toda capacidade desses elementos. A visão do jardineiro, que cuida carinhosamente de suas flores deve ser imediatamente substituída pelo mineiro, que cava em profundidade para extrair ouro do centro da Terra.
Focando no potencial interno, criando possibilidades para a manutenção de uma elevada autoestima corporativa junto ao investimento para o surgimento de habilidades inertes, a instituição pode transpor terrenos minados criando pontes ao invés de passos letárgicos. A diferença está na credibilidade do organismo institucional em suas capacidades de automotivação e renovação de talentos dentro do mesmo grupo.
Bernardino Ramazzini, célebre médico italiano, em 1700, efetuou a primeira classificação e sistematização de doenças do trabalho com a publicação de seu livro: De Morbis Artificum Diatriba, considerada um verdadeiro marco na análise e das doenças que podem surgir com a atividade laboral. Dessa época, até os tempos atuais, poucos foram os pesquisadores que investiram na possibilidade da atuação, no ambiente de trabalho, servir como componente na construção de uma saúde física e mental. O contrário parece mais fácil de ser alcançado.

O ELEFANTE E O COELHO



Por João Oliveira
Esta pequena fábula mostra a importância de colocar no papel tudo que se pretende em termos profissionais, mesmo que a relação seja com pessoas amigas
O mágico colocou a cartola sobre a mesa, com a boca virada para cima, e gritou: – “Alakazan!”. Um silêncio imperou no auditório, a expectativa era grande, pois o anunciado é que, desta minúscula cartola, sairiam um enorme elefante e um pequeno coelho. Mas, nada ocorreu. O mágico, desolado, pediu desculpas e, sob vaias, deixou o palco.
No camarim, cabisbaixo, ouve uma voz que vem do fundo da cartola:
– “Ei, psiu, senhor mágico, está me ouvindo?”
O mágico responde:
- “Quem está falando?”
- “Calma! – diz a voz – Sou eu, o elefante... tudo bem?”
- “Claro que não! – responde o mágico – Vocês me fizeram passar o maior fiasco, o que houve que não saíram da cartola?”
- “Bom, – fala o elefante – o coelho anda meio deprimido, e, sabe como é, eu não ia sair sozinho da cartola, o show não seria completo!
- “O que aconteceu com o coelho? – pergunta o mágico nervoso – Ele está vivo?”
- “É, até está, – diz o elefante – mas muito mal, ele anda meio deprimido, você poderia nos ajudar se comprasse uma televisão 42 polegadas de leds e um desses vídeo games possantes, acho que o coelho iria se animar.”
O mágico comprou a maior TV de leds que encontrou e um vídeo game XBOX 360, com muitos jogos divertidos. Enfiou tudo na cartola.
A noite estava quente, mais de 200 pessoas na plateia, o show estava apenas começando. Todos esperavam a saída triunfal do elefante e do coelho da cartola. O mágico grita a palavra que já conhecemos e, mais uma vez, nada acontece. Grita nervoso novamente:
- “Alakazan!”.
Desta vez o público não tem paciência, tudo que podia ser atirado ao palco atingiu o mágico: tomates, ovos, pedras e até cadeiras.
No camarim ele se revolta:
- “Por que vocês não saíram da cartola?”
- “Sabe o que acontece, – diz o elefante – o coelho não encontra espaço vital depois que a televisão chegou, ela é muito grande e a cartola pequena. Acho que o senhor deveria comprar uma cartola maior”.
O mágico comprou a cartola maior, transferiu todos os pertences de uma para outra. Agora, tudo parecia certo. O novo show estava pronto. Multidão se acotovelava na porta do teatro. Mais de mil pessoas pagaram ingressos. O espetáculo vai começar.
O grito do mágico assusta as crianças:
- “ ALAKAZAAAAAAAN!”.
Ecoa o silêncio no ambiente: – “ALAKAZAAAAAN !”
Repete em desespero. E, mais uma vez, nada ocorre. O mágico já estava abaixando a cabeça e se escondendo atrás da capa quando surge a tromba do elefante saindo, timidamente da cartola. Como um periscópio ela se move apontando na direção da plateia para, subitamente, em um movimento rápido recuar, como quem toma um susto, vira em 180 º e sua ponta foca no mágico:
- “Casa cheia hoje hein?” – fala em tom macio.
- “Temos mais de mil pessoas hoje no teatro, por favor, saiam da cartola!”
- “Pois é – diz o elefante – Seria um mau momento para conversamos sobre participação nos lucros?”
Moral da história: “Dê a mão, e eles lhe arrancarão os braços”!
O que podemos tirar deste pensamento é que o contrato, termos contratuais, devem ser explícitos e confirmados pelas partes. Mesmo quando começamos uma relação profissional com pessoas com quem mantemos laços espetaculares devemos pensar em colocar, no papel, o que pretendemos no futuro sobre a produção que estar por vir.
No início tudo pode ser maravilhoso e a situação pode influenciar numa relação participativa harmoniosa. No entanto, o tempo e o resultado do trabalho podem alterar a percepção inicial. Por isso, o papel (contrato) pode nortear as querências futuras.
Os problemas que surgem durante o desenrolar de uma parceria são mais comuns do que imaginamos e, muitas vezes, o sucesso de uma empresa pode ser prejudicado por má distribuição de deveres e obrigações no início do processo. A questão da retirada de lucros nem é o ponto mais importante nos atritos, mas o que se faz para que o resultado ocorra.
A parte intelectual do processo, o investimento, a força produtiva e, caso exista, distribuição e venda quase sempre disputam a relevância pelo sucesso. Para que isto não se torne um problema futuro deve-se montar um claro texto onde, todos envolvidos saibam exatamente o que lhes é devido.
Pode-se, ainda, colocar um item valioso neste texto, o distrato. Onde já devem ficar acordado, pelas partes, motivos para a extinção do vínculo originado do contrato, a condição gatilho para que o processo tenha uma interrupção, caso algo saia errado. Assim não haverá maior desgaste.
Bom para o coelho que, em nenhum momento, se manifestou para solicitar melhorias em sua relação e que, pelo visto, sempre teve vantagens dentro desta montagem. Pior para quem se achava mágico capaz de controlar, apenas pela palavra, toda situação.
A verdade é que, de elefante, todos nós temos um pouco: sempre querendo mais do universo.
Ainda bem!

quarta-feira, 26 de abril de 2017

O CEMITÉRIO



Por João Oliveira

        Quando ele começou a trabalhar de vigia no pequeno cemitério de sua cidade, percebeu que, todos os dias, um homem ali entrava pela manhã bem cedo e depositava flores sobre os jazigos.

O ritual era sempre o mesmo: ele entrava, ia até um túmulo, fazia uma pequena prece, depositava o pequeno buquê de flores e ia embora. 

Apenas um detalhe lhe chamava a atenção pela estranheza: nunca era para o mesmo morto. Muitas vezes, o homem ia até o final do cemitério, outras vezes depositava as flores logo em uma das primeiras lajes próximo ao portão de entrada do cemitério.

Depois de assistir essa cena por alguns meses ele tomou coragem e se aproximou do homem:

- O senhor me desculpe, tenho visto fazer isso todos os dias e sempre em túmulos diferentes...

- É verdade, faço isso há mais de vinte anos.

- São conhecidos seus, parentes, amigos...?

- Os túmulos onde coloco flores?

- Sim, exatamente. Estou aqui há quase cinco meses e nunca vi o senhor repetir um, todo dia é um túmulo diferente... desculpe, mas, o senhor conhecia algumas dessas pessoas?

- Sim, de vez em quando me deparo com um nome conhecido escrito no epitáfio. Mas, na maioria das vezes, são de pessoas que nunca conheci em vida ou de outras que faleceram mesmo antes de eu ter nascido.

- E por que o senhor faz isso?

- Bom, em primeiro lugar por que passo aqui todos os dias para ir trabalhar e tenho um grande jardim em casa. Em segundo é por que não faço isso exatamente por eles e sim por mim.

- O senhor me desculpe – disse o jovem funcionário do cemitério– Não entendi...

- Ocorre que sob cada laje dessa existe uma história de vida. Pessoas que sonharam, foram tristes ou alegres, foram honestas ou corruptas, tiveram ética ou foram perniciosas... não saberia lhe dizer. No entanto, por mais que tivessem riquezas ou misérias todas hoje estão reunidas, ou o que sobrou delas, nesse grande campo-santo, um terreno cheio de ossos.

Deu uma pausa, sorriu levemente para o jovem funcionário e continuou.

- Venho aqui todos os dias apenas para me lembrar de que estou vivo e que tenho de me esforçar para ser muito feliz hoje. Mesmo que o dia me traga problemas, mesmo que tenha de enfrentar canalhas e pessoas invejosas ou, que tenha a grata surpresa de só encontrar pessoas que somem à minha construção de bem-estar. Tenho de ser feliz agora, pois, em breve, estarei igualmente sob uma dessas lápides e, muito provavelmente, não haverá nenhuma pessoa que, como eu, deposite flores sobre meu túmulo ocasionalmente.

O funcionário do cemitério ficou em silêncio e o estranho homem finalizou.

- Não venho aqui prestar uma homenagem aos mortos. Venho para renovar o compromisso que tenho comigo mesmo de viver plenamente cada dia da minha vida, investindo o máximo possível em ser feliz e praticar o bem. Afinal, já estamos todos mortos, inclusive eu, é só uma questão de tempo.