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domingo, 31 de dezembro de 2023

QUE ANO É HOJE?

 



QUE ANO É HOJE?


Por João Oliveira



“- Bom dia! Por gentileza, que ano é hoje?”

“- Bom dia! Bom, isso depende muito! Poderíamos estar em 6273, aproximadamente, se ainda estivéssemos nos baseando nos ciclos do Rio Nilo ou se os faraós ainda estivessem nos reinando.”

“- Nossa, tudo isso, acho que errei de lugar então...”

“- Espere, poderia ser 5784 pelo Calendário Hebraico, que ainda é usado em Israel para festividades religiosas como Rosh Hashanah, Yom Kippur, Pessach, entre outras, mas eles também seguem o Gregoriano.”

“- Não sabia disso... existem muitos calendários não é?”

“- Ah, sim! Também poderia ser o ano de 2776, sabia? Isso se Júlio César tivesse estruturado melhor a questão dos 11 minutos que se acumulavam ano após ano. Assim, o calendário Juliano que ele criou em 45 a.C. teve de ser trocado em 1582 pelo Gregoriano para resolver isso criando os anos bissextos... é uma conta complicada que não vale a pena tentar explicar.”

“- É nesse Gregoriano que estamos certo?”

“- Sim, mas não acabei ainda: No Calendário Islâmico hoje seria o ano de 1445 e é usado até hoje da mesma forma que o Hebraico. O Hindu tem várias versões, a mais comum se baseia nos ciclos lunares e hoje seria por volta de 1945. Pelo Chinês estamos em 4721, ano do coelho mas, o novo zodíaco que vem é muito bom. Em 10 de fevereiro próximo começa o ano do Dragão... vai ser uma festança.”

“- Muito interessante tudo isso...”

“- Também tem o calendário Persa. Nele hoje estamos em 1402 no Irã e Afeganistão. É o famoso calendário Solar Hijri que tem o ano novo sempre no equinócio de primavera do hemisfério norte. Muito fascinante a divisão dos meses: 6 tem 31 dias, os 5 seguintes 30 e o último 29 ou 30 dependendo se for ano bissexto.”

“- Nossa, o senhor conhece mesmo tudo sobre calendários!”

“- É a minha vida filho, minha paixão... é o que faço!”

“- Afinal, nem nos apresentamos, qual é o seu nome?”

“- Ah, sim... sou 2023 aqui pelo Gregoriano.”

“- Mas, então estou no lugar certo: prazer, vim lhe substituir, sou 2024!”

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

A CARTA PERDIDA (CONTO DE NATAL)

 


A CARTA PERDIDA

Por João Oliveira

Em uma manhã quente, quase perto da última semana do mês de dezembro de 2023, sob um céu azul sem nuvens e esse sol intenso do sertão nordestino, Augusto, antigo carteiro experiente e querido pela comunidade, encontrou uma relíquia inesperada em meio às correspondências que estavam, jogadas em um velho baú, que foi achado na parte dos fundos da pequena agência onde trabalhava já há quase 30 anos.

Ele teve a ordem de queimar tudo, uma limpeza há muitos anos não feita para celebrar o início de um novo ciclo de gerência. Já estava jogando gasolina nas tralhas velhas quando uma cartinha amassada lhe chamou a atenção.

Já na casa dos cinquenta, Augusto era um homem de sorriso fácil e coração generoso. Sua pele escurecida pelo Sol e os cabelos brancos o destacavam da paisagem agreste. Conhecido por todos como Seu Guto, ele sempre viveu nessa pequena cidade do interior de Alagoas, dedicando-se ao trabalho postal com a mesma afeição e cuidado que tinha com às pessoas da localidade.

Viúvo, pai de quatro filhos já adultos, Seu Guto encontrava alegria em sua rotina e no afeto compartilhado pelos moradores locais. Mas, naquele dia, ele encontrou algo que enriqueceria ainda mais a sua alma sempre comprometida com o próximo.

Entre as cartas e encomendas perdidas ao longo dos anos, havia um envelope antigo, desbotado pelo tempo, endereçado (quem diria?) ao Papai Noel. Movido pela curiosidade e pelo espírito natalino, Augusto abriu o envelope e encontrou uma carta escrita há 20 anos por uma menina chamada Maria da Consolação, pedindo "apenas um Natal feliz para minha mãe que está doente".

As poucas palavras simples, mas carregadas de muita emoção, tocaram profundamente o coração de Augusto. Ele se lembrou das festas de fim de ano, repletas de alegria e união que teve em sua infância, e de como a “turma” sempre se unia para ajudar a superar as dificuldades dos outros. Era, de fato, uma cidade muito humilde, mas as pessoas compensavam o que pouco tinham com a fartura de afeto.

Determinado a fazer algo de especial, Augusto iniciou uma busca para encontrar Maria da Consolação. Com a ajuda de registros antigos do cartório de Seu Eduardo e conversas com moradores mais antigos, ele descobriu que, ela ainda vivia na região e que a morte precoce de sua mãe fez Maria enfrentar tempos difíceis.

Foi forçada a ir morar com parentes em uma localidade mais distante, mas havia retornado à região há alguns anos e trabalhava na colheita de jabuticabas e na fabricação de doces artesanais. Ela os vendia aos turistas que sempre visitavam a região.

Inspirado pelo forte senso heroico e empatia típica do nosso povo nordestino, Augusto mobilizou algumas pessoas, mais próximas, para preparar um Natal inesquecível para Maria da Consolação.

Ele conseguiu encontrar amigos de infância dela, vizinhos, e até ex-colegas da escola municipal. Não foi uma tarefa tão difícil assim, pois, o lugar não tinha mais que mil habitantes e praticamente todos se conheciam.

Pessoa por pessoa, que ele recrutou, deu como resposta um caloroso "- Sim"! Faz parte da natureza do nosso povo mais humilde: estar disposto a compartilhar o pouco que têm para acolher quem precisa mais.

Na véspera de Natal (ontem mesmo senhor leitor) Maria da Consolação foi surpreendida no início da noite por batidas em sua porta. Ao abrir, viu uma verdadeira festa acontecendo em seu quintal: rostos conhecidos e alguns nem tanto mas, todos sorrindo e trazendo o que podiam - comida feita em casa, pequenos presentes feitos à mão, e muita alegria.

No meio deles estava Augusto (Seu Guto), com um surrado gorro de Papai Noel, o sorriso maior do mundo e segurando, com as duas mãos, a carta que havia começado tudo.

Lágrimas de felicidade e gratidão brilhavam nos olhos de Maria da Consolação ao ler as palavras que mesma escrevera na infância. Ela se sentiu abraçada pela comunidade, compreendendo que, apesar das dificuldades, o amor e a solidariedade sempre estiveram presentes em sua vida.

A noite foi marcada por uma alegre celebração, repleta de música, histórias, e claro: comida típica!

Essa pequena história de Natal deseja lembrar o que é a verdadeira riqueza existente no coração de todos nós. No espírito que deve ser mantido de poder compartilhar momentos, de se encontrar, olho no olho, mesmo que através dos modernos recursos tecnológicos.

Quem dera que aquela cartinha, hoje esquecida, que todos nós escrevemos um dia na infância fosse encontrada por um “Seu Guto”. Que nossas palavras infantis fossem acolhidas pelos amigos queridos e parentes próximos para serem transformadas em afeto genuíno.

O maior presente é ter presente o amor, o reconhecimento, a amizade!

Mais que presente: o futuro! Cultivar o que pode estar esquecido para que possamos ter amanhã, depois do Natal, a mesma sensação empática exalamos no dia de hoje.

Desejo, apenas lembrar, que os laços que nos unem não são os que embrulham as caixas de presentes.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

A FORTUNA IMAGINÁRIA DE SEU ZINCO

 



A FORTUNA IMAGINÁRIA DE SEU ZINCO



Seu Zinco, antes de mais nada, é um homem modesto. Seu pai, Senhor Astrovaldo, pretendia nomear seus filhos seguindo os elementos da Tabela Periódica. De fato, ele precisaria ter 118 filhos, que é o número total de elementos conhecidos até o momento.

Desta forma, Seu Zinco seria o 30º filho (para ficar claro: Zinco é o elemento de número 30 na Tabela Periódica). Mas, pelo visto, ele pulou alguns elementos, pois, seus irmãos mais novos são: Hélio, Berílio e Boro. Não sabemos o que ocorreu com Hidrogênio e Lítio.

Bom, mas essa história começa mesmo quando ele despertou, numa certa manhã, de um sonho vívido e inusitado. No sonho, ele se via como o mais recente ganhador da Mega Sena acumulada. Estava ele nesse sonho sorrindo diante de uma fortuna colossal empilhada em um carrinho de mão, daqueles que se usam em obras. Mas, ao abrir os olhos, as paredes nuas de seu pequeno quarto o trouxeram de volta a realidade de sua pequena casa feita de frágil argamassa com piso de barro.

A lembrança do sonho, no entanto, acendeu uma faísca de preocupação em sua mente prática. - "E se isso realmente acontecesse? Como eu faço para receber esse dinheiro?". Decidido a esclarecer suas dúvidas, Seu Zinco vestiu suas roupas mais sóbrias e partiu para a Caixa Econômica Federal da sua pequena cidade.

Ele queria estar preparado para um destino que, embora improvável, agora parecia uma possibilidade simples e previsível em sua vida, já que em seu sonho, estava tudo tão claro e perfeito. Não, não havia dúvida nenhuma: Ele iria mesmo ganhar e o sonho foi um aviso para que ele se preparasse para isso.

Na agência, Seu Zinco, um tanto hesitante, abordou Maria, a filha mais jovem da recepcionista do Dr. Miguel, dentista da cidade. Maria estava estagiando no Banco já há alguns meses:

– “Maria, pode me explicar como alguém recebe um prêmio da Mega Sena?" - perguntou ele, com um ar casual que mal disfarçava sua curiosidade e nervosismo por se sentir tão próximo de seu destino.

Maria, surpresa e um tanto desconfiada, respondeu com detalhes o processo, mas sua imaginação já desenhava outra história: - "Será que Seu Zinco ganhou e quer manter segredo?".

Mal Seu Zinco deixou o banco, Maria, incapaz de se conter, compartilhou sua suspeita com algumas colegas e sua mãe que, por força da profissão, conhecia todo mundo na cidade. Em um lugar tão pequeno, onde segredos são luxos raros, a notícia se espalhou rapidamente até as fronteiras mais próximas. Antes mesmo do final do dia, em poucas horas de fato, Seu Zinco se viu no centro das atenções.

Pessoas das mais diversas partes da cidade começaram a bater à sua porta. Vizinhos, conhecidos e até desconhecidos apareciam com pedidos e propostas. Uns queriam empréstimos, outros sugeriam investimentos; havia quem propusesse negócios e quem simplesmente buscasse ajuda para problemas pessoais. A fila de visitantes se tornava mais longa, e as histórias e pedidos, mais criativos e insistentes.

A cada esquina, cochichos e olhares curiosos o seguiam. Ele, que buscava apenas esclarecer uma dúvida inocente, agora enfrentava um dilema inesperado e desconfortável, fruto de um sonho que, paradoxalmente, transformou-se em um pesadelo acordado.
Começou então uma verdadeira novela na vida de Seu Zinco:

O corretor de imóveis que só tinha uma casa velha para vender o abordou na padaria:

- "Seu Zinco, parabéns pelo prêmio! Já pensou em investir em um imóvel? Tenho algumas mansões que seriam perfeitas para um milionário como o senhor!"
- "Ah, não, eu... não ganhei nada. Só estava me informando..."
- "Claro, claro, mas quando ganhar, lembre-se de mim!"

O outro estranho que pulou na frente dele dizendo ser um parente distante que sempre morou longe da cidade natal:
- "Zinco, querido! Soube da sua sorte grande. Meu filho está precisando de uma cirurgia. Você poderia nos ajudar?"
- "Eu realmente não ganhei nada, foi só um engano."
- "Ah, Zinco, deixa de ser sovina! Aproveita sua sorte e ajude seus parentes."

Até o Padre da Igreja matriz...
- "Meu filho, a igreja precisa de reformas urgentes. Sua contribuição seria uma bênção divina. Afinal esse prêmio, com certeza, foi resultado de nossas preces."
- "Padre, eu não ganhei nada, já disse para todo mundo: foi só um sonho bobo que tive."
- "Os caminhos do Senhor são misteriosos. Talvez, auxiliar a igreja traga mais bençãos em sua vida e, se não ajudar, vai cometer um pecado capital."

Mas o pior mesmo foi a sua própria esposa:
- "Zinco, todo mundo está falando que você ganhou na loteria. Está escondendo isso de mim?"
- "Não, querida, foi tudo um grande mal-entendido. Não ganhei prêmio nenhum!"
- "Zinco, eu atravessei momentos terríveis com você. Agora que tem dinheiro vai me deixar? Quem é essa amante? É a sobrinha da Amélia? Você nunca valeu nada mesmo! Sempre foi um imprestável sem vergonha com ou sem dinheiro!"
- "Eu juro, não há outra mulher e nem dinheiro. Foi apenas um sonho que compartilhei. Um sonho mesmo, destes que a gente tem durante a noite."

A pressão tornou-se insustentável. Seu Zinco, um homem de natureza reservada e desejos bem simples, sentia-se como um estranho na sua própria cidade. Não havia mais privacidade, nem paz de espírito. As noites eram inquietas, perturbadas pelo medo constante de que sua vida estivesse se tornando um espetáculo público.

Foi então que tomou uma decisão drástica. Com um coração pesado, mas determinado, Seu Zinco decidiu deixar tudo para trás. Ele vendeu o pouco que tinha, despediu-se silenciosamente de alguns poucos amigos de confiança e partiu para um lugar desconhecido com sua inconformada esposa. Mudou até de nome! Agora se chama Seu Tenessino, isso porque não conseguia pronunciar Oganessônio, que seria o nome mais óbvio se ainda fosse permanecer na tabela periódica.

Na esperança de reconstruir sua vida longe dos holofotes e rumores infundados nessa nova cidade, Seu Zinco ficou, finalmente, longe das sombras de uma fortuna imaginária que nunca desejou. Pensando bem ele jamais poderia ganhar mesmo, afinal, nunca sequer havia jogado na Mega Sena!

A história de Seu Zinco é apenas uma metáfora para exemplificar que temos de ser cautelosos com o que compartilhamos e como interpretamos as informações que nossa chegam. Em uma era onde a comunicação é rápida e as notícias se espalham com facilidade, é crucial lembrar que nem tudo o que ouvimos é verdade, e que a imaginação pode, às vezes, distorcer o que julgamos ser real.

Pense bem nisso: jamais devemos compartilhar nossos sonhos noturnos ou diurnos. Nem todos têm a capacidade ou vontade de apoiar e entender os sonhos dos outros. Algumas pessoas podem nos desencorajar e criticar devido ao seu próprio ceticismo, inveja ou limitações. Compartilhar sonhos com alguém que não é capaz de oferecer suporte pode levar ao desânimo e à dúvida.

Falar sobre um sonho antes de tomar medidas concretas para realizá-lo pode também diminuir a motivação para agir em direção a ele. Isso acontece porque falar muito sobre os nossos sonhos com outras pessoas pode criar uma sensação prematura de realização. A isso damos o nome de “experimentação antecipada”. Trata-se de um fenômeno psicológico que cria uma falsa satisfação de realização. Isso nos tira a necessidade de vivenciar o fato real. Esse fenômeno é muito usado pela hipnose, mas, no sentido inverso: retirando traumas e fobias.

Também temos a situação de que, quando outras pessoas sabem dos nossos sonhos, elas podem criar expectativas sobre nosso progresso e sucesso. E podem ficar, positivamente, cobrando resultados a toda hora. Isso pode adicionar uma pressão extra desnecessária e estressante.

Dessa forma, pense que é de vital importância escolher bem cuidadosamente com quem você compartilha suas aspirações. Ao selecionar pessoas que você sabe que irão oferecer apoio, encorajamento e assistência prática, você está criando um ambiente de positividade e motivação ao seu redor. Estas pessoas podem ser amigos próximos, familiares ou colegas de confiança que demonstraram através de (principalmente) suas ações e palavras que valorizam seus objetivos e desejam vê-lo prosperar.

Além disso, procurar orientação e conselhos de indivíduos que já percorreram caminhos semelhantes pode ser inestimavelmente valioso. Estes podem ser mentores, conselheiros, ou mesmo profissionais em sua área de interesse que possuem experiência e conhecimento que podem ajudá-lo a evitar armadilhas comuns e a tomar decisões mais informadas. Eles podem oferecer perspectivas únicas, baseadas na experiência real, que podem enriquecer sua compreensão e abordagem para alcançar seus objetivos.

E Seu Zinco hein? Se ele tivesse pegado as informações pelo site do Banco ... quem sabe o final desta história seria outro?


Por João Oliveira