Por Beatriz Acampora
Em uma pequena cidade com lindas colinas havia um construtor que tinha uma casa ao pé de uma montanha. Ele tinha o desejo de chegar tão alto que pudesse enxergar o mar e o sol do cume do monte. Se pôs, então, a construir uma escada cada vez mais alta e ao mesmo tempo que ia edificando cada degrau da escada, ia também elevando a sua casa.
Perto dali um menino soltava pipa e a empinava tão alto que nem mesmo ele conseguia mais ver onde ela estava, apenas havia uma linha em sua mão que lhe garantia que existia uma pipa no ar.
A intenção do construtor era que, assim como ele, as pessoas também pudessem subir as escadas e vissem a maravilhosa paisagem existente no alto da colina. E assim, erigia a escada e a casa para que pudesse alcançar o topo.
Já o menino sabia que tinha construído uma pipa com suas próprias mãos: cortado o bambu, construído a estrutura da pipa e colado o papel de seda delicadamente. Havia amarrado o fio e empinado a pipa tão alto o quanto pôde.
O construtor elevava a escada e a casa, enquanto o menino colocava sua pipa o mais alto que conseguia no céu. Em um dado momento, a escada estava tão alta e a casa tão distante do solo, que as pessoas que passavam tentavam gritar e falar com o construtor, mas não eram mais ouvidas. Do alto, ele até via que havia pessoas com as mãos acenando e ele as convidava para subir fazendo gestos com as mãos. Mas, as pessoas não o compreendiam, não mais o viam ou ouviam, apenas criticavam uma escada que não servia para nada.
O menino também ouvia críticas, as outras crianças perguntavam a ele o que estava acontecendo, porque ele olhava para o alto se nada havia lá. O menino tentava explicar que ele empenou uma pipa que ele mesmo fez o mais alto que pode e que agora só era possível ver a linha em suas mãos, que também se perdia no espaço. Mas, infelizmente nenhuma outra criança acreditou nele.
Quando o construtor chegou no topo da montanha, ele respirou fundo e olhou para o horizonte à sua frente: viu um lindo mar calmo, cristalino, sentiu a energia do sol e se percebeu totalmente conectado. Olhou para baixo e nada mais via. Já estava tão longe de onde havia partido que só conseguia enxergar o pedaço da escada que estava perto de si.
Olhando para o alto, o menino chegou a duvidar por alguns instantes que ele havia construído e empinado a pipa, afinal, eram tantas pessoas duvidando dele, que uma ponta de hesitação passou por sua mente.
Enquanto isso, no pé da montanha, as pessoas, revoltadas, sem entender para que a escada servia, decidiram quebra-la, destruí-la, perdendo a oportunidade de ter a mesma visão que o construtor, simplesmente porque não compreenderam para que a escada servia.
O construtor já não se importava mais com o que acontecia lá embaixo porque ele tinha construído um caminho do qual se orgulhava e agora podia desfrutar da maravilhosa paisagem. O menino percebeu que as outras crianças não conseguiam compreender aquilo que elas não viam e por isso duvidavam da existência de algo tão banal, simplesmente porque não enxergavam nada além do que pudessem ver. E ele decidiu que ele deveria segurar firme a linha porque ela era o elo de ligação com a sua produção.
Assim é a vida: é quase impossível compartilhar a realização com aqueles que não participaram do processo de construção. Há os que olham, mas não enxergam, os que ouvem mas não escutam, os que sentem e negam. A cada uma cabe os ônus e os bônus de sua própria caminhada. Não abra mão do que tem e do desejo de ir além porque os outros não reconhecem o seu valor.