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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

AS SOMBRAS DE HIROSHIMA


Por João Oliveira (Psicólogo CRP 05/32031)

Muitas são as marcar que podemos deixar nesta vida. Algumas podem ser frágeis como as pegadas que traçamos na beira mar em uma tarde fresca de verão, outras atravessam milênios da mesma forma que os hieróglifos egípcios deixados nas paredes do templo de Hatshepsut. O que determina a força de uma marca não é o material onde a imprimimos e sim o conteúdo que pode ser replicado por outros: nossas perguntas ou respostas.

Durante essa limitada existência é bem provável que elaboremos mais perguntas do que tenhamos respostas claras. Principalmente no dueto “morte x vida” lugar comum de poetas, filósofos, religiosos e pensadores de toda natureza. As três perguntas básicas sobre esse tema funcionam como alavancas para o autodescobrimento: - “Quem sou?”; - “De onde eu vim?”; - “Para onde vou?”. Podemos acrescentar uma que pode ser ainda mais relevante no contexto de urgência de resposta dentro de nossa curta existência: - “O que deixarei?”.

A sabedoria popular aponta a resposta para o clássico trinômio: plantar uma árvore, ter filho e um escrever um livro. No entanto, não devemos assumir esse posicionamento como algo literal e, finalizar o processo de produção ao completar essa minúscula lista de feitos. Podemos e devemos ser mais se expandirmos essa lista pelo poder da interpretação.

Plantar uma árvore é o mesmo que ser um bom cuidador de talentos. Esses podem surgir de sementes prósperas e gerar frutos na sociedade. Um bom líder e gestor é capaz de escolher essas boas sementes no meio da floresta e, sob seus cuidados, se transformarão em grandes e poderosas sequoias de troncos gigantescos ou em um frondoso cajueiro, como o de Pirangi no Rio Grande do Norte, considerada a maior árvore frutífera do mundo.

Muito próximo ao possível significado subliminarmente oculto no termo “ter um filho”. Permitir que partes de você sobrevivam à sua existência levando consigo conhecimento e experiências vividas, dever ser algo, enfim, desejado de ser alcançado. De que adianta tanta vivência com sofrimentos e vitórias se isso não serve para facilitar o caminho que quem está vindo na mesma trilha? Ter um filho é exercer o mentoring na instituição em sua forma mais completa. Passar aos colaboradores que entram na instituição, com carinho e atenção, o conhecimento claro de como se dá a forma correta de agir produtivamente.

E o tal livro? Não precisa de fato ser algo editado e publicado, basta ser divulgado. Claro que, se de fato for possível transformar a experiência em algo perenizado pelas folhas de papel, será muito melhor. Trata-se da síntese de tudo que produzimos sendo repassado pelas pessoas com quem tivemos a oportunidade de trocar conteúdo ao longo da vida. O que eu lhe digo e por você é replicado se torna uma página desse livro constituído de tempo vivido.

Quando se sentir pouco produtivo ou tentando adiar a prática de seus talentos no ambiente laboral, lembre-se das sombras que ficaram impressas no chão e nas paredes de Hiroshima e Nagasaki: pessoas vaporizadas pelas explosões atômicas deixaram apenas suas sombras como prova que um dia existiram nesse mundo. São retratos do último segundo de vida e, apenas isso, posto para sempre em tom escuro, silhueta muda que tanto pode nos dizer sobre a finitude e a imortalidade.

Como você gostaria que sua sombra fosse impressa na parede, para sempre, se esse viesse a se tornar seu último segundo na vida?

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