Por: João Oliveira - Psicólogo (CRP 05/32031)
Sabemos muito bem: tudo que nasce um dia morre. No entanto,
temos uma grande dificuldade em aceitar isso como parte do processo,
principalmente quando essa mudança aparenta ser um final permanente de nossa
consciência.
Houve uma era onde os répteis reinavam sobre a face da
Terra, aparentemente um impacto, promovido pela queda de um meteorito de grande
magnitude, terminou com o que convencionamos chamar de: “A era dos
dinossauros”. Também, tivemos algumas civilizações que dominaram suas
respectivas áreas em vários continentes onde, apesar de deixarem fartas provas
de fantásticas tecnologias de construções (por exemplo), não conseguiram
perpetuar seus conhecimentos ou mesmo vestígios mais claros de suas
existências. Desses povos, pouco ou nada sabemos.
Mesmo os curtos espaços de tempo que cronometram alguma
atividade também estão sujeitos ao processo de começo, meio e fim. Um filme que
assistimos, por melhor que seja, em algum momento terá estampado na tela os
créditos finais com os verdadeiros nomes dos profissionais que deram vida a
inúmeros personagens. Ou ainda, uma peça de teatro, onde heróis e bandidos se enfrentam
em uma luta cênica mortal, terá, após o espetáculo uma confraternização entre
os atores atrás do palco. Tudo termina, nada é para sempre.
O grande segredo da pequena trajetória que temos nesse plano
talvez seja preparar uns bons créditos para serem exibidos após nossa jornada.
Provavelmente (não é certeza absoluta) deve existir uma coxia onde os atores
que ainda não entraram em cena ou, os que já saíram, possam observar a nossa
atuação. Na dúvida, se teremos ou não uma confraternização ao final, é melhor
garantimos que será uma festa de comemoração e não de cobranças e repreensões
por uma péssima performance.
Certo é, disso não tenha dúvida, que o nosso inconsciente
não teme a morte. Na verdade, muitas vezes acelera o processo numa tentativa de
nos tirar de uma situação, em vida, da qual não possuímos recursos suficientes
para lidar.
Assim, surgem sintomas psicossomáticos que podem gerar
doenças que levam pessoas, muitas vezes, a uma morte prematura em seu possível
ciclo de vida. Se isso é uma realidade, a morte ser apressada pelo nosso próprio
sistema vital, é sinal que a vida como conhecemos hoje pode ser descartada
diante de barreiras que julgamos intransponíveis: quem valoriza a vida é o que
chamamos de consciente: o ego!
Mesmo sendo um absurdo pensar assim, ainda existe uma outra
faceta curiosa que nos faz pensar sobre esse momento de finalização: os sonhos
terminais. Carl G. Jung foi um dos primeiros a perceber que, nos dias que
antecedem uma morte natural, os sonhos mudam de perfil se tornando extremamente
positivos e satisfatórios, levando o sonhador a ter recordações espetaculares
ou a vivenciar projetos de realizações fantásticas que nunca teve oportunidade
de realizar em vida. Trata-se de um maravilhoso procedimento compensatório, uma
forma que nossa mente criou para tornar mais leve os últimos momentos de vida.
Contrário fosse, se o inconsciente temesse a morte, esses
sonhos deveriam ser, pela lógica, assustadores.
Inúmeras são as crenças religiosas sobre esse tema que
acabamos de abordar. Poucas são as que acreditam em um final permanente e,
ainda menos ainda, são aqueles que não temem retorno, de alguma forma, pelos
seus atos praticados na vida em algum período posterior a própria existência.
Viver não é apenas um monte de manhãs e tardes ensolaradas.
Cada vida é uma era em particular e deve, para ser melhor aproveitada, deixar
vestígios que possam ser lembrados positivamente ou, servir de referência para
os novos atores que irão atuar nesse palco espetacular onde, nesse exato
momento, todos os holofotes estão sobre nós.