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domingo, 3 de maio de 2015

O REI E O SAPATEIRO

Era uma vez... quando foi
Eu bem ao certo não sei!
Porém sei que era uma vez
Um sapateiro e um rei.

Olha, Helena, o sapateiro
Era um pobre remendão,
Casado e com quatro filhos,
Que vivia quasi sem pão.

No recanto de uma escada
Noite e dia trabalhava,
E por allivio de máguas,
Esta cantiga cantava:

"Ribeiros correm aos rios,
Os rios correm ao mar;
São tudo leis deste mundo
Que ninguém póde atalhar:
Quem nasce para ser pobre
Não lhe vale o trabalhar!"

O rei tinha montes d'ouro
E joias em profusão,
E tinha mais que ouro e joias,
Pois tinha um bom coração.

Em vendo um pobre, acudia-lhe
Sem que o soubesse ninguem,
Que assim quer Deus que se faça.
E assim o faz tua mãe.

Por muitas vezes saía
Sem criados de libré,
E sósinho e disfarçado
Corria a cidade a pé.

Na rua do sapateiro
Passa o rei e ouve cantar:
"Quem nasce para ser pobre
Não lhe vale o trabalhar."

Isto uma vez e mais de uma
com voz que o pranto cortava,
E o rei condoeu-se d'alma
Do velho que assim cantava.

Chegado ao palacio ordena
Que lhe arranje o seu copeiro
Um bolo, do melhorio,
E que o mande ao sapateiro.

No melhorio do bolo
E' que estava o delicado,
Pois era de peças d'ouro
Todo, todo recheado.

Os pequenos, quando o viram,
Helena, imagina então,
Os olhos que lhe deitaram
Elles que nem tinham pão!...

Mas o pae a um seu compadre,
Que ás vezes o soccorria,
Foi dar de presente o bolo,
Sem ver o que nelle havia!

No dia seguinte o rei
Torna de novo a passar,
E com grande espanto seu
Ouve ainda o velho cantar;

"Ribeiros correm aos rios,
Os rios correm ao mar;
São tudo leis deste mundo
Que ninguem póde atalhar:
Quem nasce para ser pobre
Não lhe vale o trabalhar!"

Mandou-o chamar ao palacio,
E agastado então o rei
Lhe diz: " Que é das peças d'ouro
Que no bolo te mandei?"

O pobre do sapateiro
Tremendo conta a verdade:
Abalou-se novamente
O rei na sua piedade.

"Toma esta sacca", lhe diz,
"Ao erario vai daqui
Enchê-la de peças de ouro,
Que as peças são para ti."

Oh! Helena, suppõe tu
Qual foi a sua alegria,
Vendo que um thesouro aos filhos
Naquella sacca traria!...

Encheu-a a mais não poder,
Pô-la ás costas e partiu;
Deu quatro passos...nem tantos,
E nisto morto caíu!...

Na mão direita lhe acharam
Um papel onde se lia
Esta sentença, que o povo
Ser sobrehumana dizia:

"Eu para pobre o criei,
Tu rico fazê-lo queres;
Agora alli o tens morto:
Dá-lhe a vida, si puderes."



Bulhão Pato (1829-1912)

O COELHO



Por Beatriz Acampora
Psicóloga – CRP 05/32030


O coelho é um dos animais mais espertos que existe. Ele consegue alimentar seus filhotes de uma maneira muito original. Talvez poucos animais sejam tão perspicazes em proteger a cria quanto o coelho.

Quando um coelho tem filhotes ele cava um buraco até um determinado ponto para despistar o predador e deixa esse buraco aberto, depois ele se distancia deste lugar e cava um outro buraco, coloca seus filhotes dentro e cobre com a terra para que nenhum outro animal ache seu ninho, sua toca.

Este bicho muito esperto sabe o tempo exato que os filhotes podem ficar enterrados sem que isso cause prejuízo à vida deles. E, por isso, tem esta prática para se alimentar, ficar forte e poder amamentar seus filhotes, os desenterrando cada vez que faz isso.

O coelho, assim, consegue despistar seus predadores naturais, que não descobrem onde seus filhotes estão enterrados porque sempre se deparam com um buraco vazio.

Ocorre que, por outro lado, toda esta peripécia logística poderia ser mais eficiente se o coelho não tivesse uma terrível falha: ele faz o mesmo percurso todos os dias! Nunca muda seu caminho.

Dessa forma, o predador não precisa ficar fuçando à procura dos filhotes de coelho que se encontram enterrados. Ele simplesmente fica no meio do caminho à espreita, esperando sua presa passar e a captura ou, ainda, segue o coelho até ver este desenterrar seus filhotes, podendo capturar todos ao mesmo tempo.

Assim, o coelho, que cria estratégias tão específicas para proteger seus filhotes, fica vulnerável diante de seu oponente, isso porque não consegue sair da sua zona de conforto e busca aquilo que já lhe é conhecido, familiar.

Poderíamos questionar: “Mas ele já teve uma excelente ideia e ainda tem que pensar a mais?” Essa é a questão para a reflexão! Não basta ter uma excelente ideia, é preciso ter uma visão sistêmica, enxergar o todo e buscar estratégias complementares para que tudo funcione adequadamente sem prejuízos.

A vida implica em cuidado e isso abrange o que é simples e ao mesmo tempo o que é complexo. Como proteger o que nos é mais caro se não mudarmos o caminho percorrido? A trajetória de hoje pode ser prejudicial amanhã.

Buscar sempre um novo caminho, manter o campo aberto para novas possibilidades e encontrar novas formas de concretizar ações e ser feliz é a chave para não ser capturado. Entregue-se à sua criatividade e abra novas portas!


sexta-feira, 1 de maio de 2015

PEQUENAS METÁFORAS II


Por João Oliveira

TIGRES

   Já tarde da noite na floresta um grupo de tigres conversam animadamente:
- Já reparou no sabor diferente dos humanos de acordo com a religião de cada um?
- Sim... é verdade! Mas porque isso acontece?
- Olha! – Disse um mais velho – Eu acho que é por conta da alimentação. Algumas religiões são contra comer carne vermelha, por exemplo, assim o sabor da carne dos humanos fica mais adocicado.
- Hum... mas eu prefiro os mais salgadinhos. Como faço para diferenciar na hora do ataque?
- Muito fácil: os que não correm são hares krisnhas e espíritas (nem sempre o gosto é bom); Os que começam a rezar baixinho são os católicos, às vezes alguns são bem gordinhos e saborosos; aqueles que gritam apontando o dedo para o alto são os islâmicos e os que começam a tentar negociar conosco são os judeus.

GALINHAS

   O galinheiro estava em polvorosa era a segunda reunião da semana:
- Isso não pode continuar assim! Temos nossos direitos! – Disse um galo sobre o poleiro mais alto fitando as quase 300 galinhas.
- O que devemos fazer? – Perguntou uma das galinhas em meio à multidão revoltada.
- Devemos exigir melhores rações, mais espaço para ir e vir, direito a cuidar de nossos próprios filhos. Alguma de vocês já viu seus pintinhos depois que nascem? Vocês só veem os ovos, isso está errado!
      Essas palavras realmente incitaram as galinhas que começaram a cacarejar muito alto. Assim, o dono da fazenda, pensando que era fome, começou a jogar milho no galinheiro. As galinhas entraram em debandada, cada uma procurando comer mais que a outra. Acabou a reunião.
       O galo, triste no alto do poleiro filosofou:
- Triste das galinhas que são controladas pelo milho de cada dia.

PATOS

        Nas ruas de uma cidade da Europa:
- Então você entendeu?
- Claro, você aparece e faz gracinhas com os turistas que eu faço a minha parte.
- Perfeito! Veja lá vem um pequeno grupo...
      Dito isso o pato voou até o turista e começou a bicar no chão na frente deles.
- Oh! Coitado, ele deve estar com fome – Disse uma senhora.
- Tome aqui minhas batatinhas fritas – Se aproximou um homem.
- Ele é lindo! – Falou um rapaz.
       Logo um grupo já estava em volta do pato engraçado enquanto outros patos se aproximaram por trás dos turistas que estavam interditos. Sem muito aviso, os patos voam e o pato artista acompanha os demais.
- Então, o que conseguimos? – Pergunta o pato que atraiu os turistas;
- Duas carteiras cheias, um passaporte, dois relógios e um celular smartphone.
- Excelente! Ninguém é melhor que nós: os Patospockets!

PORCOS

- Percebeu que o chiqueiro está diferente?
- Não notei. O que mudou?
- O cheiro... estou usando agora uma lavagem mais suave no ambiente. Veja, as cascas estão todas desse lado e as sobras desse. Não ficou mais arrumado.
- Querida, você sabe que nem reparo nessas coisas. Ficou bom é verdade, mas isso não era necessário. Tanto trabalho à toa.
- Não é à toa não, nós merecemos coisa melhor. Você é que é um ignorante e não valoriza o que é bom.
- Cadê as crianças?
- O fazendeiro passou aqui cedo e as levou. Saiu com a caminhonete cheia de animais em direção à cidade.
- Que bom. Pelo menos assim teremos uma noite tranquila.
- Quando ele voltar vou tentar me fazer entender sobre a nossa dieta: têm muito carbo-hidrato aqui... parece que ele quer matar a gente de gordo.
- Bom! Vale lembrar o que aquele leitão maluco falava, que ele nos engorda para depois nos matar e comer.
- Ridículo. Quem iria comer animais que se alimentam de restos e vivem na lama andando sobre as próprias fezes? É isso que nos protege amor: nossa miséria!




PEQUENAS METÁFORAS


Por João Oliveira

GADO

                Duas vacas conversavam no meio do pasto em uma ensolarada tarde de outono:
- Eu não disse que iria funcionar.
- Impressionante a simplicidade de sua proposta: nenhum esforço e resultado total!
- Pode me chamar de gênio, pode ser que eu tenha revolucionado a maneira de interagirmos com os humanos.
- Eu acho que sim. Por centenas de anos essa é a primeira inovação real. É algo para se comemorar.
- Então não tem erro: quando vir o caminhão do abatedouro fique de joelhos!
- Como você sabia que eles não iriam nos levar para o matadouro?
- Simples: o caminhão não tem acessibilidade.

Besouros

                Nessa mesma tarde de outono, em outro ponto do pasto dois besouros também conversavam animadamente:
- Só tenho a te dizer o óbvio: é impossível!
- Eu sei, eu sei, mas eles se locomovem mesmo assim. Ferindo todas as leis da física.
- Como é possível? Veja, são apenas duas pernas. Parecem que sempre irão cair, aí uma perna corre e socorre a outra devolvendo o impulso. Impressionante que eles consigam se manter de pé.
- Tem coisas, amigo, que só pode ser obra de Deus. Tecnicamente os humanos não seriam capazes de andar. Isso não pode ser replicado com segurança de nenhuma forma.
- Mesmo assim eles andam e correm. Sabe de uma coisa, vamos voar que é mais fácil.
- Vai ver que o criador tem uma preferência maior pelos humanos. Só isso explica esse fato.

MAR E SOL

- Claro que sou eu o Rei sobre a Terra e os humanos – disse o sol imponente.
- O que te faz pensar isso? – Falou o mar em meio ao turbilhão de suas ondas.
- Sou eu quem dá à vida. Se não fosse a minha força, luz e calor não existiria nada além de uma massa de gelo.
- Impressionante como você é humilde...
- Você não é nada. Veja como os humanos, raça que só existe graças a minha presença, eu o rei do céu.
- Se é assim, porque todo se curvam diante de minhas ondas em todas as praias do mundo?

PAVÃO

Lá estava no alto da montanha, tarde da noite, a velha Pavoa reunida em seu ninho com vários filhotes de pavão.
- Vejam aquelas luzes lá embaixo. Jamais se aproximem de lá...
- Lá é a cidade dos humanos? – perguntou uma pequena pavoa ainda com casca sobre as penas.
- Sim. Lá vivem os humanos.
- É muito perigoso lá embaixo? – perguntou outro filhote da ave.
- Demais, corremos risco o tempo todo.
- São os humanos que são maus?
               A velha andou em círculos pelo ninho, levantou o pescoço e disse em tom solene:
- Pior, são os carnavalescos.








domingo, 19 de abril de 2015

ADERÊNCIA


Por João Oliveira

                No universo profissional é necessário muito zelo no momento de confeccionar o currículo de apresentação. Nem sempre colocar todas as experiências e cursos já feitos é o melhor que se pode fazer. O conceito de “aderência” está sendo cada vez mais valorizado nas instituições. Assim, todo cuidado ainda é pouco quando se trata de falar de si mesmo em busca de uma posição no mercado de trabalho.

                Em primeiro lugar, deve-se ter atenção ao perfil do currículo. Existem algumas diferenças básicas entre o universo acadêmico, por exemplo, e o universo comercial. O famoso currículo de apresentação impresso ainda funciona tão bem quanto os formatos disponíveis na internet.

                Para os profissionais liberais o ideal é manter um Currículo Lattes atualizado mas não dispensar os outros modelos. Mesmo sabendo que o Lattes tem um foco mais acadêmico ele ainda é extremamente valorizado sendo uma referência importante para qualquer pessoa que deseje alcançar um bom nível de credibilidade entre seus clientes e instituições. Com a facilidade do acesso à internet, o lattes e seus concorrentes digitais, se tornaram fonte de pesquisa para todos que buscam novos talentos ou possíveis colaboradores com larga experiência.

                O importante está em manter uma linha coerente e crescente de formação e experiência em sua apresentação que não perturbe o entendimento de sua especialização. Hoje, por exemplo, de nada adianta colocar em seu currículo um curso de datilografia. Nos anos 70 era um excelente referencial, assim como hoje o referencial consiste em ter alguns cursos na área da informática, como dominar editores de textos e planilhas.

                Da mesma maneira, deve-se evitar disponibilizar informações demais que não tenham relação com o seu propósito atual ou atividade em exercício. No entanto, algumas correntes de pensamento afirmam que é salutar manter todas as formações e experiências pois, segundo o antigo modo de se fazer currículos, isso pode enriquecer o perfil do candidato. Não acredite nisso.

                O processo de recrutamento e seleção exige muitas horas de verificação de currículo, quanto mais conciso e limpo ele for mais chances o candidato terá de ser convocado para a próxima fase. Sim, existe lugar para os generalistas e sistêmicos mas, o que se busca hoje é o especialista: uma formação e experiência dentro de uma linha de especialização.  Desta forma, rechear o currículo – de qualquer formato impresso ou on line – com atuações fora do que é solicitado pelo provável futuro empregador é colocar em risco a possibilidade de ser visto como alguém focado no tema.

                Aderência, portanto, é limitar o foco de atenção em determinada área. Sua vasta experiência fora do contexto do perfil solicitado pelo recrutador poderá ser apresentada no momento da entrevista pessoal. Isso não irá ferir o protocolo, pois entra como complemento que coloca o profissional como eclético após sua firme capacidade de atuar na área solicitada ter sido observada.

                Vamos supor que o cargo seja para um profissional psicólogo, de nada adianta citar, no currículo, o período de atividade laboral com vendas, por exemplo. Muitas pessoas passam por várias atividades profissionais antes de conseguir, sua graduação, isto é parte do processo. No entanto, não agrega valor para o psicólogo experiências que fogem completamente do contexto requerido.

                Uma outra observação pertinente é quanto a cursos de aperfeiçoamento não finalizados. Caso o profissional tenha, por um motivo ou outro, abandonado no meio algum curso/treinamento que estivesse fazendo é melhor contar como se nada tivesse feito. Pior ainda, se estes cursos não forem diretamente ligados à área de interesse principal.

                Na hora de escolher a próxima atividade para formação complementar busque sempre estar de acordo com sua linha principal. Além de promover conhecimentos que irão acrescentar aos já adquiridos, demonstra seu aprofundamento e interesse no tema. Não é necessário que toda sua vida seja pautada por este modo de agir, claro que experiências extras só acrescentam ao profissional. O problema é transpor esta historicidade para o momento em que o profissional do recrutamento acessar o seu currículo. Livre de tudo que foge ao encaixe laboral proposto, as chances se tornam mais reais.

                De fato uma revisão periódica nos currículos se faz necessária, mesmo que não exista uma pretensão a concorrer algum cargo.



sexta-feira, 10 de abril de 2015

CONHECIMENTO CERTIFICADO


Por João Oliveira

                A conversa andava solta entre as duas árvores no pátio da universidade:

- Se prepara que o Sol não deve aparecer amanhã e, se aparecer, vai chegar na parte da tarde.

- Do que você está falando criatura de Deus?

- Feriadão! Sol de novo, madrugador, só na segunda feira... e olha que hoje ainda é quinta. Ou seja, teremos três dias de penumbra no mínimo, sem fotossíntese para nós.

- Você está é doida! Isso é impossível.

- Ah é? O que você sabe da vida? Assim como eu, você nunca saiu desse lugar! Eu ouço as pessoas conversando e estou sabendo desse feriado prolongado. Todo mundo vai desaparecer... estão falando direto isso aqui no estacionamento.

- Saiba você que as pessoas se sentam na minha sombra lendo livros e eu aprendo muito com isso. Por exemplo: você sabia que o sol é uma estrela de quinta grandeza?

- Exatamente por isso não vai trabalhar nesse feriado. Onde já se viu uma estrela, um pop star, levantar de madrugada? Mesmo sendo de quinta grandeza como você diz.

- Olha, tenho pena de você. É a Terra que gira em torno do sol, vi isso ontem mesmo num livro de física que estava na mão de um garoto que sentou bem aqui encostado no meu tronco. O Sol nem se mexe no espaço.

- Você pensa que sabe tudo mesmo. Eu também aprendo muitas coisas com as pessoas que se sentam em minha sombra.

- É mesmo? Me diga algo que você aprendeu nos livros?

- Hum... deixa eu lembrar... Ah! Lembrei! Você sabia que existem cinquenta tons de cinza?

                Moral da história: conhecimento deve ser certificado.

                Na Índia uma pessoa que quer aprender sobre filosofia de uma religião deve procurar um guru que tenha linhagem. Como uma árvore genealógica, o pretenso guru deve apresentar todos os mestres que o antecederam no conhecimento: ele aprendeu com fulano, que aprendeu com sicrano, que aprendeu com beltrano, até que essa descrição chegue há milênios de mestres no passado. Só assim a pessoa estará segura de ter um conhecimento certificado de fato por mestres que aprenderam direto com a fonte do saber filosófico original.

                No nosso mundo ocidental moderno temos outras fontes de certificação como graduações, pós-graduações, mestrados, doutorados, pesquisas científicas e até mesmo a prática constante de um saber, mesmo sem as certificações acadêmicas, pode gerar conhecimento válido.

                Sair absorvendo todo e qualquer conhecimento de uma determinada área, pelo simples fato de acumular muito conteúdo, não é garantia de qualidade e, nem mesmo de validade no momento da aplicabilidade. Conhecer bem a fonte, saber de suas qualificações ou, tempo de experiência dedicado ao tema em questão, faz toda diferença caso você tenha a intenção de usar seriamente as informações que lhe chegam.

                Um outro detalhe importante em qualquer conhecimento é a utilidade prática do mesmo. Muitas são as pessoas que abarrotam a mente de leituras excelentes mas nunca colocam as teorias em sua própria vida. A vida é muito curta para nos darmos ao prazer de colher flores sem cheirá-las. Leonardo da Vinci têm uma frase ótima sobre isso:

                “São muitas as pessoas que olham sem ver, ouvem sem escutar, tocam sem sentir, comem sem saborear, se mexem sem estarem conscientes de seus músculos, respiram sem cheirar e falam, falam, sem pensar!”  Leonardo da Vinci (15/04/1452 à 2/05/1519)

                Buscar saber a origem da informação não é falta de respeito com a fonte final. Até porque, se ela for a base de um novo conhecimento, estaremos diante do próprio manancial que o gerou e isso é muito bom, caso seja um saber científico e não uma mera opinião. Mesmo assim, a palavra de quem possui longa prática têm seu valor reconhecido e é respeitada por todos, o que também é positivo.

                Com a rede mundial de informação disponível para todos (excelente isso) é necessária cautela quando se encontra uma informação e, mais ainda ao repassar tal material. Pode ser que estejamos ajudando a propagar inverdades que podem causar dano a outros.

          Se o conhecimento que deseja é para uso próprio, profissional ou não, tenha mais cuidado ainda. Afinal, é o seu nome que estará em jogo quando for replicar esse saber. O segredo é conhecer a base fundamental do conteúdo para se ter a certeza de sua veracidade.

               

                

sábado, 4 de abril de 2015

QUEM É MAIS FELIZ?



Por João Oliveira

            De todas as criaturas desse lugar foi justamente com a águia que a formiga foi se encrencar. A disputa agora estava pairando sobre quem vive no melhor ambiente:

- É claro que sou eu! – Disse a águia – Vivo no céu, entre as nuvens. Consigo ver o mar mesmo estando aqui no deserto.

-  Isso não é nada. Garanto que você nunca bebeu água de uma fonte subterrânea e que, com certeza, depende da luz para se guiar por onde vai. Eu não! Ando tranquilamente na escuridão...

- Anda! Veja bem, você disse: anda! Eu sou capaz de voar e ando também se quiser.

- Anda que nem um boneco de posto... – disse a formiga rindo alto.

- Você está passando dos limites. Vamos fazer uma aposta então para ver quem vive melhor neste mundo?

- No que você está pensando...

- Que tal se nós trocássemos de lugar? Você vai para o topo da montanha e eu fico vivendo aqui nessas pequenas cavernas que você constrói.

- Você não vai caber dentro de nossas comunidades, as paredes são pequenas e você vai derrubar tudo!

- Está com medo formiga? Teme que eu consiga provar para você que o meu modo de vida é melhor?

            Nesse ponto da discussão já havia meia floresta em volta dos dois. A formiga olhou em volta e, temendo ser humilhada em público disse:

- Eu aceito! Que comecem os jogos!

            Assim a águia levou a formiga para o alto da montanha e voltou para começar a catar folhas e se enfiar nos pequenos formigueiros.

            Uma tragédia!

            A formiga era soprada de um lado para o outro mesmo no mais fraco vento da montanha o frio já estava deixando a pobre coitada congelada dos pés à cabeça e, a águia, por outro lado, estava completamente suja de terra, encolhida e com medo da escuridão que reina nos corredores estreitos das colônias de formiga.

            Nem ao menos terminou o dia e a águia já estava de volta ao topo da montanha toda arranhada e cheia de dores pelo corpo. Quando a formiga viu a ave pousando disparou:

- Já desistiu? Logo agora que eu estava me preparando para saltar da montanha para começar a voar.

            Moral da história: cada macaco no seu galho.

            As pessoas são diferentes e encontram formas de viverem felizes como podem. Não devemos nos apiedar dos outros só porque eles não possuem o mesmo perfil de felicidade que nós. Da mesma forma, o perfil de sucesso é muito individual. Nem todos querem ter o mesmo objetivo de vida – ainda bem – e, sim, é possível ser feliz com pouco e, imensamente infeliz com muito. Felicidade e sucesso são conceitos subjetivos; não há parâmetro que possamos utilizar para todos sem distinção.

            Podemos também perceber que algumas pessoas não conseguem encontrar o seu perfil de felicidade e ficam tentando imitar o de outras pessoas. Claro que isso é impossível, pois o que se vê externamente nada têm a ver com o que se sente. Não há como estar na pele do perfil psicológico do outro. Assim, pode-se pensar que a felicidade alheia está nos bens materiais que cada um possui, pois é isso o que conseguimos enxergar. No entanto, o que não vemos, é que o outro pode estar em desarmonia familiar e isso o faz infeliz nesse momento.


            Assim, buscar o seu modelo de felicidade dentro de suas próprias possibilidades é o caminho mais sábio que se pode ter. Ser feliz como puder, ainda hoje se possível.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Tirando uma vida






Por João Oliveira

Era primeira noite de lua nova, por isso a fogueira estava maior e iluminava até o alto das árvores que circundavam a aldeia. Todos os homens estavam sentados em volta e mantinham o homem branco amarrado pelos pés e mãos. Esperavam a presença do pajé para decidir o que fazer com ele. Afinal, ele tinha descoberto o maior de todos os segredos deles.

O pajé sai da tenda exibindo seu manto colorido, ele era tido por todos como muito poderoso porque era albino, não tinha pigmentação na pele, por isso destacava sua presença no manto da noite. Sentou-se em frente ao grupo:

- Ele viu em funcionamento? – perguntou altivo.

- Sim! Quando estávamos levando peixes para Tikal.

O pajé se voltou para o homem que estava amarrado e perguntou:

- Diga-me homem branco, o que viu?

- Nada...

- Então não viu uma grande tigela de ouro vibrando com um homem dentro a guiando sobre as pedras em direção a Tikal?

- Bom, falando assim... é vi sim.

- O que pensou sobre isso?

- Muito ouro para servir apenas de meio de transporte. Para isso temos carroças e cavalos.

O pajé olhos para os lados e voltou a questionar.

- Temos cavalos aqui?

- É verdade – falou o prisioneiro – Na verdade nem roda ou carroças eu vi. Só muito ouro mesmo.

- Sabe que não podemos deixar você ir embora com essa informação. Outros, como você, viriam roubar nosso ouro.

- E o que pretende fazer comigo? Vai me matar?

- Não! – disse o pajé – vamos tirar essa vida!

Dito isso começou uma grande cantoria na aldeia, mulheres vieram com jarros cheios de um suco feito de ervas e cipós da selva. Os homens agarraram o prisioneiro e o fizeram beber grande quantidade de tal liquido. Tonto, embebedado pela fórmula selvagem, ele caiu em sono profundo.

- E agora pajé, o que fazemos? – Um jovem que nunca havia presenciado tal ritual perguntou assustado.

- Amanhã ele será um de nós! Essa vida que vocês viram hoje jamais voltará a existir. Ele acordará sem memória. Digam que caiu de uma árvore e bateu com a cabeça, não saberá nada a respeito dele mesmo ou de toda sua história de vida. Caberá a nós ensiná-lo como ser um membro de nossa comunidade. Ele será querido e amado por todos nessa nova vida que se iniciará amanhã ao nascer do sol. Que seja bem vindo mais um novo filho do sol!

E assim aconteceu. Pela manhã o homem branco estava imerso na mais completa amnésia. O líquido havia deletado todas as informações de seu cérebro. Mal conseguia falar e, todos da tribo, dedicaram muito tempo a ele com amor e carinho. Por ser branco ele poderia em algum tempo futuro se tornar (quem sabe?) o novo pajé da tribo.

Ocorre que nossas vidas nada mais são do que resultado de nossas memórias. Todas as vezes que temos de tomar alguma decisão, por menor que seja, o cérebro faz uma rápida busca nas experiências passadas para poder tomar a melhor decisão possível no momento. Caso tenhamos um pacote de resultados negativos ou traumáticos em eventos similares, é possível que exista alguma reação emocional de afastamento em uma nova experiência.

Agora vem o detalhe importante: o cérebro não faz muita distinção entre fatos verdadeiramente ocorridos e os que podemos simplesmente criar em nossa imaginação. Após uma experiência vivida o fato vira memória, mesmo lugar onde estará um cenário criado pela imaginação. Assim, se sua mente estiver cheia de construções positivas serão essas as referências que sua mente terá para auxiliar na tomada de novas decisões.

Escolha muito bem o conteúdo que vive em sua cabeça. Tornar hábito ressignificar fatos ruins do passado é mais salutar do que viver relembrando derrotas. Pare de falar dos problemas isso irá consolidar em sua estrutura mental um padrão negativista. Seja feliz antes na sua imaginação que isso irá se propagar, acredite, pelo ambiente real.


sábado, 14 de março de 2015

O SALTO PARA A MORTE



Por João Oliveira

                Sei que se recordam que deixamos o nosso protagonista a ponto de saltar do precipício quando descobriu que o pai dele era um mago que se fazia passar por rei. Voltamos ao ponto em que os dois discutem o motivo pelo qual o pai (rei/mago) havia criado todas as ilusões em sua vida (príncipe/plebeu). Caso não esteja entendendo essa narrativa é porque está tudo certo, continue.

                Fala o filho enquanto balança o corpo bem próximo a beirada da montanha: - “Pai! Não posso viver com isso. Porque me criastes dentro de uma ilusão? Por me ocultas-te a existência da pobreza e dificuldades do mundo?”

                O pai, simples comerciante de secos e molhados na cidade de Ur, mas poderoso mago na manipulação da realidade, disse sem levantar a cabeça: - “Porque eu te amo filho. Foi por amor que te criei dentro de uma ilusão.”

                Volta a voz do rapaz a ecoar no abismo: - “Amor? Que tipo de amor é esse que coloca um véu sobre a realidade e oculta o que de importante existe na vida?”

                O pai, que (não se esqueça disso) fingia ser rei explica: - “Filho, não há nada que se possa aprender com a pobreza e o sofrimento. Eu te poupei dessas coisas porque eu mesmo sofri muito na minha vida. Sabe filho, os pais sempre querem o melhor para os filhos. Criei tudo ao seu redor com minha magia para evitar o seu contato com o sofrimento dos homens para que você pudesse se desenvolver mais feliz e pudesse ser um homem sem nenhuma mágoa ou angústia em seu coração. Fiz isso porque te amo.”

                Quase soltando o corpo no ar, o jovem olha triste para o pai e pergunta: - “Pai, e porque não me permitiu estudar outras religiões, outros conhecimentos ou mesmo viajar?”

                A fala retorna ao pai: - “Porque te amo filho, já disse. Veja, o conflito que pode ser gerado na cabeça de alguém com muita informação é horrível. Pessoas ficam confusas diante de opções. Eu simplifiquei tudo para você te apresentando a religião que conhecia, transferindo o meu conhecimento do comércio e te mantendo seguro aqui, onde eu posso lhe dar toda proteção. Viajar é perigoso, as estradas possuem ladrões, curvas perigosas e mares revoltos. Fiz para te proteger, porque te amo filho.”

                O rapaz, olha para o pai com enorme tristeza estampada na face e diz: - “Por causa disso não sei o que é falso ou real. Não estou preparado para viver nesse mundo cheio de opções e diferenças. Vou me jogar neste precipício!”

                O pai vendo que o filho estava realmente decidido a pular do penhasco faz uma magia e a morte se apresenta diante do antigo príncipe: - “Busca-me senhor? Aqui estou, abraça-me e vamos para o meu silencioso mundo sem escolhas.”

                Sabe, a morte tem cheiro. Exala calor. A morte possui uma voz grave, um pouco gutural. Faz surgir em nós sentimentos e emoções que só teremos diante da própria e, nesse exato momento (mesmo sabendo que era fruto da magia do pai), o rapaz ressignifica suas questões internas e diz: - “Pai, acho que posso viver com isso.”

                O pai finalmente se levanta e fala sorridente: - “Que bom meu filho! Então a partir de agora você também se torna um mago como eu. E, de magia e realidade, vivemos em um mundo imperfeito onde ninguém tem certeza de estar totalmente certo ou absolutamente errado.”

                E continua sua fala: - “Eu errei querendo acertar. Ao te proteger demais criei a fraqueza em você. Agora, tenho o dever de desvelar tudo quanto puder do mundo.”

                O jovem, já voltando em direção ao pai fala e tom baixo: - “Sinto muito, seu tempo de mestre já se foi. Acabou a aula pai. Bem ou mal formado é meu dever desbravar a realidade que está sob o sol. Obrigado por reconhecer seu erro, mas nossas vidas seguem rumos diferentes agora.”

                Dito isso, o nosso protagonista pega uma pequena mochila e caminha para fora da cidade de Ur. Aos poucos ele desaparece no horizonte sem ao menos saber o que existe após as montanhas.

                Esse texto é uma rudimentar adaptação de outro mais longo cujo o verdadeiro autor se tornou desconhecido com o passar dos séculos. Trata de algo simples e fácil de entender: não devemos dar o que nos faltou e, nem obstruir o que não entendemos.

                Os filhos e as pessoas que estão sob a nossa guarda e proteção possuem destinos próprios que serão construídos pelos seus erros e acertos. Querer direcionar um futuro mais adequado baseado em nossa própria história de vida é o mesmo que amarrar asas de um pássaro e depois querer que ele consiga voar.


                Tente olhar para si mesmo e descobrir quais são as coisas que subtrai da vida das pessoas e o quanto de sua magia está usando para construir outra realidade. Pode ser que isso seja a âncora que aprisiona navios cheios de cargas que podem mudar o mundo.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Máscara de seda



 Por João Oliveira
               
                Administrar as emoções é algo que demanda muita atenção e paciência consigo mesmo. Somente aqueles que conseguem se tornar mestres na observação de si mesmo podem se orgulhar de saber o momento certo de mudar o rumo dos atos comportamentais, justamente por perceberem uma emoção perigosa em curso.

                É possível, caso queira, se transformar em uma pessoa que entende o próprio processo emocional. Primeiro responda sim ou não aos seis questionamentos abaixo:

1)   Já perdeu o controle emocional alguma vez em sua vida? 
 
2)   Para você é impossível sair de uma discussão que sabe que está perdendo?

3)     Nunca sorri para as pessoas que realmente não gosta?

4)    Já chorou, publicamente, porque as pessoas não lhe trataram com o devido respeito?

5)     Já agiu de forma violenta por ter sido contrariado seriamente?

6)     Já perdeu oportunidades na vida por não conseguir se controlar emocionalmente?

Parabéns se todas as respostas foram “não” você consegue manter o autocontrole em momentos críticos da sua vida. Caso tenha respondido afirmativamente até três perguntas, você deve se esforçar mais para chegar ao autogerenciamento, pois já conhece o caminho. Mas, se você respondeu “sim” para todas as questões colocadas, preste bastante atenção neste pequeno texto.

Um treinamento de análise comportamental é sempre bem-vindo para se aprimorar a capacidade de interpretar as emoções das outras pessoas. Se isso não é possível, siga algumas dicas que podem ser úteis no seu dia a dia.

1 – Respiração sempre que necessário. Quando perceber que está ficando alterado, inspire profundamente, prenda a respiração contando até quatro e, expire da forma mais lenta possível. Isso poderá ajudar a manter o controle emocional.

2 – Postura antes do contato. Quando estiver próximo a ter contato com pessoas que podem alterar o seu estado emocional faça antes, por dois minutos, algumas posturas que podem alterar o seu estado de ânimo: pose do super-homem, pose do general (mãos unidas nas costas) e mãos colocadas unidas atrás da cabeça. Isso dará resultado, acredite.

3 – Olhar atento. Sempre busque pistas na face das pessoas do estado emocional reinante. A postura do corpo, posição da cabeça em relação ao tronco, tudo isso pode lhe dar informações de como sua conversa está indo e, caso você perceba algo errado, pode mudar a linha de abordagem antes de um colapso comunicacional.


Claro que esse texto não pretende resolver a questão de uma só vez. Serve mais como um alerta para as pessoas que querem melhorar seus relacionamentos. Tentar dominar as emoções sem ao menos prestar atenção nelas é o mesmo que ir a uma festa de fantasias usando uma máscara de seda: todos irão saber quem você é realmente.