Por João Oliveira
GADO
Duas
vacas conversavam no meio do pasto em uma ensolarada tarde de outono:
- Eu não disse que iria funcionar.
- Impressionante a simplicidade de sua proposta: nenhum
esforço e resultado total!
- Pode me chamar de gênio, pode ser que eu tenha
revolucionado a maneira de interagirmos com os humanos.
- Eu acho que sim. Por centenas de anos essa é a primeira inovação
real. É algo para se comemorar.
- Então não tem erro: quando vir o caminhão do abatedouro
fique de joelhos!
- Como você sabia que eles não iriam nos levar para o
matadouro?
- Simples: o caminhão não tem acessibilidade.
Besouros
Nessa mesma tarde de
outono, em outro ponto do pasto dois besouros também conversavam animadamente:
- Só tenho a te dizer o óbvio: é impossível!
- Eu sei, eu sei, mas eles se locomovem mesmo assim. Ferindo
todas as leis da física.
- Como é possível? Veja, são apenas duas pernas. Parecem que
sempre irão cair, aí uma perna corre e socorre a outra devolvendo o impulso.
Impressionante que eles consigam se manter de pé.
- Tem coisas, amigo, que só pode ser obra de Deus.
Tecnicamente os humanos não seriam capazes de andar. Isso não pode ser
replicado com segurança de nenhuma forma.
- Mesmo assim eles andam e correm. Sabe de uma coisa, vamos
voar que é mais fácil.
- Vai ver que o criador tem uma preferência maior pelos
humanos. Só isso explica esse fato.
MAR E SOL
- Claro que sou eu o Rei sobre a Terra e os humanos – disse
o sol imponente.
- O que te faz pensar isso? – Falou o mar em meio ao
turbilhão de suas ondas.
- Sou eu quem dá à vida. Se não fosse a minha força, luz e
calor não existiria nada além de uma massa de gelo.
- Impressionante como você é humilde...
- Você não é nada. Veja como os humanos, raça que só existe
graças a minha presença, eu o rei do céu.
- Se é assim, porque todo se curvam diante de minhas ondas
em todas as praias do mundo?
PAVÃO
Lá estava no alto da montanha, tarde da noite, a velha Pavoa reunida em seu ninho com vários filhotes de pavão.
- Vejam aquelas luzes lá embaixo. Jamais se
aproximem de lá...
- Lá é a cidade dos humanos? – perguntou uma
pequena pavoa ainda com casca sobre as penas.
- Sim. Lá vivem os humanos.
- É muito perigoso lá embaixo? – perguntou
outro filhote da ave.
- Demais, corremos risco o tempo todo.
- São os humanos que são maus?
A
velha andou em círculos pelo ninho, levantou o pescoço e disse em tom solene:
- Pior, são os carnavalescos.
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