Por João Oliveira
A
conversa andava solta entre as duas árvores no pátio da universidade:
- Se prepara que o Sol não deve
aparecer amanhã e, se aparecer, vai chegar na parte da tarde.
- Do que você está falando
criatura de Deus?
- Feriadão! Sol de novo,
madrugador, só na segunda feira... e olha que hoje ainda é quinta. Ou seja,
teremos três dias de penumbra no mínimo, sem fotossíntese para nós.
- Você está é doida! Isso é
impossível.
- Ah é? O que você sabe da vida? Assim
como eu, você nunca saiu desse lugar! Eu ouço as pessoas conversando e estou
sabendo desse feriado prolongado. Todo mundo vai desaparecer... estão falando
direto isso aqui no estacionamento.
- Saiba você que as pessoas se
sentam na minha sombra lendo livros e eu aprendo muito com isso. Por exemplo:
você sabia que o sol é uma estrela de quinta grandeza?
- Exatamente por isso não vai
trabalhar nesse feriado. Onde já se viu uma estrela, um pop star, levantar de
madrugada? Mesmo sendo de quinta grandeza como você diz.
- Olha, tenho pena de você. É a
Terra que gira em torno do sol, vi isso ontem mesmo num livro de física que
estava na mão de um garoto que sentou bem aqui encostado no meu tronco. O Sol
nem se mexe no espaço.
- Você pensa que sabe tudo mesmo.
Eu também aprendo muitas coisas com as pessoas que se sentam em minha sombra.
- É mesmo? Me diga algo que você
aprendeu nos livros?
- Hum... deixa eu lembrar... Ah!
Lembrei! Você sabia que existem cinquenta tons de cinza?
Moral
da história: conhecimento deve ser certificado.
Na
Índia uma pessoa que quer aprender sobre filosofia de uma religião deve
procurar um guru que tenha linhagem. Como uma árvore genealógica, o pretenso
guru deve apresentar todos os mestres que o antecederam no conhecimento: ele
aprendeu com fulano, que aprendeu com sicrano, que aprendeu com beltrano, até
que essa descrição chegue há milênios de mestres no passado. Só assim a pessoa estará
segura de ter um conhecimento certificado de fato por mestres que aprenderam
direto com a fonte do saber filosófico original.
No
nosso mundo ocidental moderno temos outras fontes de certificação como
graduações, pós-graduações, mestrados, doutorados, pesquisas científicas e até
mesmo a prática constante de um saber, mesmo sem as certificações acadêmicas,
pode gerar conhecimento válido.
Sair
absorvendo todo e qualquer conhecimento de uma determinada área, pelo simples
fato de acumular muito conteúdo, não é garantia de qualidade e, nem mesmo de validade
no momento da aplicabilidade. Conhecer bem a fonte, saber de suas qualificações
ou, tempo de experiência dedicado ao tema em questão, faz toda diferença caso
você tenha a intenção de usar seriamente as informações que lhe chegam.
Um
outro detalhe importante em qualquer conhecimento é a utilidade prática do
mesmo. Muitas são as pessoas que abarrotam a mente de leituras excelentes mas
nunca colocam as teorias em sua própria vida. A vida é muito curta para nos
darmos ao prazer de colher flores sem cheirá-las. Leonardo da Vinci têm uma
frase ótima sobre isso:
“São
muitas as pessoas que olham sem ver, ouvem sem escutar, tocam sem sentir, comem
sem saborear, se mexem sem estarem conscientes de seus músculos, respiram sem
cheirar e falam, falam, sem pensar!” Leonardo
da Vinci (15/04/1452 à 2/05/1519)
Buscar
saber a origem da informação não é falta de respeito com a fonte final. Até
porque, se ela for a base de um novo conhecimento, estaremos diante do próprio
manancial que o gerou e isso é muito bom, caso seja um saber científico e não
uma mera opinião. Mesmo assim, a palavra de quem possui longa prática têm seu
valor reconhecido e é respeitada por todos, o que também é positivo.
Com
a rede mundial de informação disponível para todos (excelente isso) é necessária
cautela quando se encontra uma informação e, mais ainda ao repassar tal
material. Pode ser que estejamos ajudando a propagar inverdades que podem causar
dano a outros.
Se
o conhecimento que deseja é para uso próprio, profissional ou não, tenha mais
cuidado ainda. Afinal, é o seu nome que estará em jogo quando for replicar esse
saber. O segredo é conhecer a base fundamental do conteúdo para se ter a
certeza de sua veracidade.
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