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sábado, 12 de março de 2016

MUNDO JUSTO



Por João Oliveira (Psicólogo  CRP 05/32031) 

Existe nos seres humanos uma constante tentativa de dar ordem ao caos. Essa arrumação do mundo faz parte de uma estratégia do cérebro para lidar com muitas informações ao mesmo tempo de forma que não sobrecarregue o sistema. Assim, nos é mais fácil acreditar que existe uma lógica reinante em nosso universo físico e que sempre teremos um bom resultado se formos éticos e bondosos com todos os outros seres que também habitam o nosso planeta.

Infelizmente isso não é verdade. Pessoas boas podem sofrer perdas, adoecem e morrem. E alguns canalhas vivem bem até o último dia de vida, sem nunca serem incomodados por nenhuma força contrária ao seu bem-estar.  Ou seja, a tal justiça, que deveria prevalecer de fato, não faz parte da realidade.

A falácia do mundo justo sempre foi implantada em nós pelas religiões ocidentais. No universo filosófico, mais presente no oriente, não é tão forte essa necessidade de receber benefícios vindos graciosamente das mãos de seres onipotentes só porque está se agindo corretamente em relação ao seu ambiente social. Ser correto, sério, honesto, ético e agir dentro da moral reinante é o mínimo que se espera de qualquer um de nós e isso não pode ser considerado uma moeda de troca.

Todos nós estamos sujeitos ao acaso e isso tanto pode significar a chamada sorte quanto o temido azar. Não há garantias de uma vida sem dor ou sofrimento para nenhum ser vivo por mais que ele tenha comportamentos louváveis e cheios de boas intenções para com seus semelhantes. 

O interessante é que podemos ter uma expectativa de como pensa e age uma nação inteira baseada, apenas, na conduta de alguns de seus representantes. Assim, ao observarmos os japoneses retirando o lixo no Maracanã deixado pelos brasileiros ao final de algumas partidas da última copa, podemos ter uma ideia de como esse povo se comporta em sua própria nação. Dessa forma, o estereótipo de um país, com milhões de habitantes, está seriamente vinculado à observação do padrão comportamental de apenas algumas dezenas de pessoas.

No Brasil possuímos várias condutas, que estão organicamente inseridas em nossa cultura, que algumas leis são necessárias para impor atitudes éticas e assertivas em relação aos nossos semelhantes. O preconceito é um exemplo de como os seres humanos pensam de uma forma e agem de outra, pois existe em todo o mundo e no Brasil são tantos tipos de preconceito quanto podemos pensar: raça, religião, altura, obesidade, idade, sexualidade, beleza e a lista aumenta se incluirmos classe social, regionalidade, grau cultural e muito mais. A imaginação é o limite.

Importante lembrar que os que pensam estar acima do limiar de contato do pensamento alheio e que nunca serão alvos de preconceito ainda não experimentaram morar fora do Brasil. Existem locais onde os brasileiros geralmente são até bem tratados, mas, somente quando estão travestidos de turistas. Pode-se sentir na pele o peso do preconceito nos países europeus, principalmente os nórdicos, que tratam os residentes estrangeiros da mesma forma que muitos aqui se relacionam com os que consideram de castas inferiores inclusos nas categorias já citadas.

Mas, a roleta russa do preconceito não para por aí. Esses mesmos nórdicos, quando aqui estão, são tratados pelos nativos como vítimas portadoras de câmeras fotográficas na orla de Copacabana. Assim, o ciclo se fecha, preconceituoso um dia e vítima no outro. O mundo é muito estranho mesmo.

O grande problema que enfrentamos de uma maneira geral é a espera de retorno pelas boas atitudes praticadas. Sem querer introduzir nenhum aspecto religioso, apenas pense o seguinte: porque motivo estamos aqui de fato? Será que somos parte de um grande jogo entre o bem e o mal e, se atuarmos corretamente, teremos vantagens que nos colocarão em destaque acima dos que não agem da mesma forma?

Isso até poderia existir se as relações que podem ofertar ou retirar benefícios não fossem administradas por seres humanos e, se a natureza pudesse parar o tempo nos mantendo jovens e saudáveis. Dessa forma, o mundo não é justo. Ele é tão humano quanto os que nele vivem.

Mudar a estrutura de um país para tornar o mundo em que vivemos mais equilibrado depende de ações que muitas vezes podem ir contra a uma composição já assimilada como normal. São atitudes comportamentais já totalmente inseridas como parte da cultura e entendidas como “o jeito de ser” do povo. Não são poucas as pessoas que aceitam a corrupção como algo institucional e que o pagamento de propinas faz parte de um negócio já estabelecido. Pode ser que muitos desses indivíduos se assustem ao ver alguma mudança de cenário e um pensamento ordeiro querendo impor normas que são, pelo menos no papel, legítimas.

Não dá para esperar o mundo (pelo menos o nosso) se ajustar naturalmente. Isso pode levar mais anos do que temos de vida. Nem devemos apenas rezar para que todo o planeta se torne amigável e sereno como gostaríamos que fosse. Torna-se necessário apoiar o respeito pelas leis, dar o exemplo com nossas atitudes e experienciar ser ético apenas porque é assim que devemos ser. Sem esperar as estrelinhas de premiação no final da aula.

O mundo que pode ser justo começa com um único sujeito justo. Cada um de nós fazendo a sua parte nas mínimas coisas, mesmo quando não há ninguém observando. Da autonomia individual nasce o respeito ao próximo dentro da soberania nacional. Muda não só o personagem, mas, a imagem de toda uma nação. 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

TANATOSE BRASILEIRA



Por João Oliveira




Presente tanto em alguns mamíferos como entre os anfíbios, répteis e artrópodes a tanatose é a capacidade de se fingir de morto para escapar de um predador qualquer. A gazela, por exemplo, quando percebe a presença próxima de um bando de leoas na caça fica imóvel tal qual uma estátua. Outros animais são mais teatrais e chegam a ficar por até 30 minutos na mais completa imobilidade e em posição que simula o quadro post-mortem. Sapos e aranhas são experts nessa prática causando verdadeira confusão até mesmo entre pessoas que lidam com esses animais todos os dias.

Pesquisadores já foram capazes de induzir a bradicardia por medo provocando o surgimento de um estado letárgico, quando os músculos se enrijecem e o corpo paralisa, apenas apresentando fotos de pessoas feridas a um grupo de voluntários. Esse estado psicológico que atua diretamente na estrutura física e comportamental é real entre os humanos, não se trata de uma brincadeira de mal gosto e funciona quase com o mesmo perfil dos citados animais: fingir de morto e esperar que o perigo passe.

Naturalmente esse efeito ocorre quando estamos diante de uma catástrofe. De uma forma estranha, todos nós, nos mantemos calmos em situações que, pela lógica, deveríamos ter comportamentos mais céleres como sair correndo, por exemplo. Esse movimento de calma letárgica pode nos custar caro, pois toma o tempo diminuindo as possibilidades de uma possível reação de fuga. Profissionais que lidam com o perigo de forma constante são submetidos a treinamentos rigorosos para não terem de pensar de forma analítica diante de situações onde as decisões devem ser tomadas em milésimos de segundos.

Bombeiros militares, mergulhadores profissionais, pilotos de grandes aeronaves são submetidos de forma regular a testes de percepção diante de estresse para garantir não somente a própria sobrevivência, mas, também as das pessoas as quais as vidas dependem de suas rápidas ações.

Esse, como já foi bem explanado, é o fenômeno da tanatose reconhecido pelas ciências e já comprovado e testado muitas vezes. Mas, aparentemente, uma nova forma está se espalhando como um vírus e tomando do perfil comportamental de uma imensa parcela de nossa sociedade de, tal qual da estátua de David, feita por Michelangelo, tem um olhar que parece estar atento, no entanto, não se move: nada faz!

Estranhamente certos movimentos que ocasionalmente vão as ruas só ocorrem porque possuem ligações partidárias ou com representações de classes o que não invalida em nada suas ações, mas, até certo ponto, inibe a participação de outras camadas da sociedade que apenas observam pelos noticiários ou criticam as interdições das ruas durante tais eventos.

Ocorre que, o sistema oferta possibilidades de manifestações mais efetivas além, é claro, das garantias dos direitos individuais e coletivos resguardados pelo Artigo 5º de nossa Constituição Federal. Muitos instrumentos legais, quando provocados, podem surtir efeitos sem que nenhuma rua seja tomada por pneus em chamas.

Os Ministérios Públicos – federal e estadual – mantém ouvidorias permanentes que podem ser acionadas de forma eletrônica sem a necessidade de deslocamento físico. O sistema eletrônico permite o acompanhamento das denúncias e, caso deseje o denunciante, de forma completamente anônima. Da mesma forma os Procons trabalham buscando garantir os direitos dos consumidores. Todavia, esses órgãos necessitam de provocações para serem mais assertivos em suas ações de controle e vigilância e para isso é necessário um movimento de quem se sente ferido de alguma forma.

A transferência de responsabilidade para os representantes legitimamente eleitos pode não ser exatamente a melhor opção. É possível que, nesse momento, eles tenham preocupações mais pessoais que coletivas e isso pode criar uma neblina no direcionamento de esforços em prol de soluções.

Cabe a cada um dos indivíduos dessa nação que se sentem tocados de forma negativa, feridos em seus direitos ou se explorados ilegalmente, um movimento ético dentro dos formatos adequados e visíveis a legislação. De nada adianta panelas nas janelas, ou passeios pela orla de Copacabana, pois, apenas o que está nos autos está no mundo ou, ao contrário: “Quod non est in actis non est in mundo”.

Entenda “mundo”, contido nesse velho axioma, como ato real e válido, uma verdade que pode ser tocada pelo universo jurídico da mesma forma que um firme apoio garante um movimento para o deslocamento da alavanca. A tanatose brasileira deve ser apenas fruto da falta de informação o que, de forma responsável cabe a todos nós desvelar, pouco a pouco, o manto confortável da ignorância.

Somente isso é o que deve estar impedindo o surgimento de abalos que levem a destruição das estruturas que foram fortificadas, durante séculos, pela paralisia generalizada de um povo bom, que espera apenas retribuição pelos sacrifícios diários que fazem em prol de sua pátria.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

PORQUE O OUTRO ME IRRITA TANTO?




Por João Oliveira*

Os humanos são seres projecionistas, que projetam o que sentem e se retroalimentam com os estímulos que recebem de volta do ambiente. Assim, o mundo é, em fato, uma representação emocional da carga individual que cada um de nós traz consigo. Simplificando: existe um mundo para cada um de nós e esse, nada mais é, que uma interpretação do afeto que ocorre no nosso universo subjetivo particular.
        Dessa forma, olhamos para o outro e vemos algo de nós mesmos que pode ser:

- Algo que nos falta ou algo que nos completa.

- Algo que gostaríamos de ser, mas, não temos coragem de assumir.

- Algo que desejamos ou que nos foi tirado e por isso invejamos no outro.

- Algo que abandonamos, por vontade própria, mas, ao ver no outro ressurge nova vontade de ter.

- Algo que tememos pois, se assumirmos, pode nos transformar em outro ser.

- Vestígios de personalidades de outras pessoas que ficaram em nós de forma positiva ou negativa ao longo da vida.

Um exemplo positivo é quando alguém completa aquilo que temos e, isso nos faz querer estar próximo dessa outra pessoa. Com o tempo essa linha de afeto pode se tornar mais forte e se tornar um sentimento conhecido como amor.

No entanto, nosso foco maior hoje é o que ocorre com a pessoa vitimada, pelo que nela existe, criando no outro um processo de surgimento da expressão emocional da raiva. Quando sem controle e exteriorizada essa emoção pode ter efeitos danosos em todas as faixas etárias de um ser humano.

De início é bom deixar claro que a raiva (irritação) não é, necessariamente, uma emoção negativa (Oliveira, 2012) ela surge como mecanismo para alterar as produções endócrinas no sentido de reunir recursos internos para alterar algo no externo (Ekman, 2007). Ou seja, caso a irritação (raiva) for direcionada para a produção ela terá o mesmo princípio de ação que a gasolina oferta ao veículo movido a combustão interna: em regra a estrutura funcional muito se assemelha.

Surge um problema quando a irritação se transforma em agressão ao outro que pode possuir formatos diversos com: danos físicos, agressões propriamente ditas; e/ou danos psicológicos como nos relata Sampaio, J. (et all) em seu trabalho sobre a Prevalência de bullying e emoções de estudantes envolvidos:
        
        As informações referentes à desmotivação, igualmente, merecem destaque por se apresentarem em níveis mais altos para as meninas. Isso pode significar que elas não se sentem possuindo condições necessárias para autoproteção, o que pode induzi-las a também se desmotivar em relação aos estudos ou faltar às aulas na intenção de se esquivar de sofrer novas agressões. Tristeza e vergonha também se destacaram para ambos os sexos. Essas emoções podem gerar sensação de impotência e, assim, intensificar o sofrimento vivenciado. (SAMPAIO, J. et all, 2015, p. 348).
Segundo os autores as meninas, em idade escolar, perdem a motivação, a vontade de continuar a progredir em seus estudos. No mundo adulto a estrutura de ataque tem outro nome: Assédio Moral. São as mesmas características do bullying estudantil: alguém que fere o outro com suas palavras e/ou atos, despejando seus desencontros internos sobre a vítima como se ela fosse a culpada pelo descontrole subjetivo do agressor. No mundo corporativo as mulheres são as maiores vítimas em todos os continentes. Essas vítimas vivenciam tristeza e vergonha e, o agressor, nada disso sente: “Para os agressores, prevaleceu a resposta referente a não sentir nenhuma emoção durante a prática de agressões, para ambos os sexos, sinalizando uma ausência de identificação com as vítimas. ” (SAMPAIO, J. at all, 2015, p. 350).
Os danos causados aos homens e mulheres que são vitimados por assédio moral podem se tornar irreversíveis senão forem ressignificados rapidamente. Não se trata apenas de ações trabalhistas que podem chegar a milhões de reais levando empresas quase a falência, nem mesmo da perda de produtividade de outrora bons profissionais e tão pouco do início de um processo de desligamento dessas pessoas das instituições. Estamos falando de algo que não pode ser medido com réguas e números, estamos falando de um possível futuro grandioso na vida dessas pessoas que pode, de uma forma dantesca, ser destruído completamente:

Os indivíduos acometidos pelo assédio moral, ao se sentirem ameaçados, deixam de levar uma vida normal e veem prejudicado todo o contexto de sua vida pessoal. Há casos em que eles se sentem esmagados e perdem inteiramente a disposição e a paixão pela vida. A destruição da identidade do indivíduo nos processos de assédio moral no trabalho se dá rapidamente. (FILHO, A. e SIQUEIRA, M., 2008, p. 16).
De tal modo, planos e projetos de vida podem dobrar a esquina, dar meia volta e deixarem de existir por conta de uma pessoa que não pode observar que estava diante de um espelho, refletindo parte não aceita dela mesma. Não existe justificativa para a agressão verbal, embora todos os agressores estejam prontos para, em detalhes, formalizar uma ampla defesa de seus atos. Todos os seres humanos, por mais irritantes que possam nos parecer, nada mais são que possíveis encontros com nós mesmos.
Os motivos para os ataques, como diz Filho, A. e Siqueira, M. (2008) em seu trabalho na página 18, podem ter várias facetas como: “O superior hierárquico pode perceber determinado subordinado talentoso como rival e ameaça à sua própria carreira, e tentar desacreditar ou sabotar o desempenho desse profissional”. Porém, olhar e ver no outro qualquer coisa que cause desconforto, nos diferentes formatos que minha mente for capaz de estruturar isso, pode revelar a necessidade de uma revisão do próprio estado de ser. Na maioria dos casos o agressor apenas sofre de insegurança ou baixa autoestima, algo que poderia ser cuidado com ajuda de um bom profissional psicólogo.
Fato é que todos nós interagimos e possuímos pessoas das quais gostamos que também interagem com líderes e gestores; e não é agradável ver o outro passar por constrangimento, assédio ou qualquer tipo de afetamento no ambiente de trabalho. A máxima “devemos fazer ao outro aquilo que desejamos que façam conosco” deve ser colocada como um mantra para as nossas atitudes. 
Além disso, é sempre bom lembrar que as instituições modernas estão sempre avaliando seus colaboradores e vendo os melhores resultados em prol do momento e do mercado e aqueles que estão no poder hoje, podem não estar amanhã, por isso é importante tratar todo mundo bem, deixar sempre portas abertas e utilizar o respeito como base para tudo, pois somos todos seres humanos. E as pessoas lembram primeiro daqueles que são bons profissionais, é claro, mas que tem o diferencial da ética e que agregam valor como pessoas do bem, que ajudam ao invés de atrapalhar, que cooperam, que sabem se comunicar e que, acima de tudo relacionam e equilibrem efetividade com afetividade. 
Não é o outro. Nunca foi! É o que se sente e como é manifesto isso no lugar onde atuamos. O mundo pode ser um lugar melhor se, todos nós, pudermos investir em sermos pessoas cada vez melhores nessa jornada em busca de autoconhecimento, sem nenhum ponto de chegada marcado ou previsto.
*João Oliveira é psicólogo (CRP 05/32031).

Referências:

EKMAN, Paul. Emotions revealed. New York: Holt Paperbacks, 2007.

FILHO, A. e SIQUEIRA, M. Assédio moral e gestão de pessoas: uma análise do assédio moral nas organizações e o papel da área de gestão de pessoas. RAM – REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO MACKENZIE, Volume 9, n. 5, p. 11-34, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ram/v9n5/a02v9n5 - Acesso em 07/02/2016.

OLIVEIRA, J., Raiva a melhor emoção. São Paulo, Revista Psique, n. 80, agosto, 2012. Disponível em: http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/80/raiva-a-melhor-emocao-sera-que-e-possivel-afirmar-que-266479-1.asp -    Acesso em 07/01/2016

SAMPAIO, J. at all. Prevalência de bullying e emoções de estudantes envolvidos. Florianópolis. Texto Contexto Enferm,  2015 Abr-Jun; 24(2): 344-52. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/tce/v24n2/pt_0104-0707-tce-24-02-00344.pdf  - Acesso em 07/02/2016

domingo, 24 de janeiro de 2016

NO POLEIRO MAIS ALTO


Por Beatriz Acampora


Os passarinhos são criaturas encantadoras: cantam alegremente, voam e têm belas cores. Quando eles estão livres, é possível ouvir seus sons nos mais variados locais, basta prestar atenção.


Em muitos lugares, é comum os passarinhos serem colocados em gaiolas para que seus “donos” possam ouvi-los cantar diariamente. Em uma fazenda do interior, um senhor decidiu fazer um grande viveiro e para dar cor ao mesmo, adquiriu passarinhos das mais variadas cores e cantos.

Não se pode negar que o viveiro era bonito, atraía muitos olhares curiosos e as crianças eram as mais entusiasmadas com seus voos, cores e cantos. Dava trabalho cuidar do viveiro e havia um funcionário apenas para isso, pois os passarinhos precisavam se alimentar e também faziam muita sujeira.

Um desses passarinhos chamava a atenção pela sua postura, sempre de peito empinado, cabeça erguida e gostava de ficar no poleiro mais alto. Às vezes ele abria as asas e voava, mas, na maioria das vezes, subia saltitando: ganhava impulso e pulava de poleiro em poleiro até chegar ao topo. Poucos conseguiam seu feito. Ele parecia até o “rei do viveiro”.

Uma criança gostava de observar seu modo de agir e ficava se indagando porque ele agia dessa forma. Até que certo dia observando os outros passarinhos, percebeu que aquele que ficava no poleiro mais baixo era o mais sujo, ele levava em suas asas e na cabeça a sujeira que todos os outros passarinhos faziam.

E não era só ele, havia muitos passarinhos sujos, mas, aqueles que estavam mais no alto eram os mais limpos. E o mais limpo de todos era ele, o “rei do viveiro”, que ficava sempre no poleiro mais alto. Ele estava sempre limpo, imponente.

Naquele momento, a pequena menina se deu conta de aquele passarinho era o que mais se esforçava, pois tinha que pular mais, voar mais e nunca se acomodava ou deixava a preguiça dominar. Ele simplesmente parecia saber que para se manter limpo das fezes dos outros passarinhos, tinha que se esforçar mais.

E a menina decidiu, então, que iria tomar o exemplo do “rei do viveiro” como modelo, pois percebeu que todo esforço é recompensado, que não vale à pena deixar a preguiça ou a acomodação dominar, que o passarinho mais sujo era aquele que menos se esforçava. O que ela queria para si mesma era o brilho de canto e de cores que o passarinho do topo exibia.

Moral da história: Desconfie do caminho mais fácil. Sem esforço e dedicação não há movimento nem crescimento.

Lembre-se: passarinho feliz é passarinho livre.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

NOVOS LIVROS



É realmente com muito orgulho que anunciamos a publicação em formato impresso dos livros: 

Análise Comportamental: Relacionamento em Crise

Relacionamento em Crise: perceba quando os problemas começam.

Os livros serão lançados, simultaneamente, em três continentes e estará disponível inicialmente nas livrarias dos seguintes países: Brasil, Portugal, Angola e Cabo Verde. Embora tenham títulos e capas diferentes o conteúdo é o mesmo nas duas edições.

No Brasil, pela Editora WAK, com sede na cidade do Rio de Janeiro, o lançamento está previsto para depois do carnaval. Nos outros países de língua portuguesa na Europa e África o livro deverá começar a ser distribuído no início de março, pela CHIADO Editora, que tem sua sede principal em Lisboa, Portugal. A CHIADO também irá disponibilizar o livro em formato digital para todo o mundo através de seu site: https://www.chiadoeditora.com 

Dessa forma, a edição brasileira que começará a circular no mês de fevereiro poderá ser adquirida pelos interessados em qualquer boa livraria ou diretamente no site da Editora: http://www.wakeditora.com.br

De fácil leitura esse livro trata da comunicação não verbal no relacionamento, os sinais que podem ser exibidos indicando que a relação está indo bem e também aqueles que apresentam justamente o contrário. Assim, uma pessoa atenta saberá o momento certo de investir na relação e quando é necessário alterar comportamentos para obter um resultado ainda melhor. 

Os sinais de crise não significam um fim próximo determinado, afinal muitos sinais são absolutamente inconscientes, e sim que mais investimento deve ser feito para salvar a relação.

Totalmente ilustrado pela desenhista Mara Oliveira, o livro, é de autoria do casal de psicólogos: Beatriz Acampora e João Oliveira

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O HOMEM QUE ESCALOU O ARCO-ÍRIS







Por João Oliveira



Esse homem tinha um desejo bem forte em sua mente algo diferente de tudo que você pode imaginar: ele queria subir, pelas cores de um arco-íris, até o céu. Para isso ele começou a se preparar desde pequeno. Estudou física, aeronáutica, astronomia e até mesmo meteorologia. Ele conhecia tudo sobre o fenômeno, mas, por mais que tentasse ainda não conseguia, sequer, chegar perto do seu intento.

Você pode até pensar que ele era um idiota. Não! Você estaria enganado se pensasse assim: ele era muito inteligente. Ele até chegou a conclusão que, caso conseguisse congelar o espectro de luz formado por partículas d´água, ele poderia escalar, sem problemas, até o ápice do arco colorido. 

Romântico, não é? No entanto, isso foi o elemento motivador que o fez estudar e trabalhar por toda a vida. Desde do momento em que viu um arco-íris pela primeira fez, quando tinha seis anos, ele começou a elaborar um projeto de vida que o levasse até o seu objetivo final.

Economizou dinheiro para comprar equipamentos, deixou de sair e se divertir com os amigos para ficar horas estudando os assuntos ligados ao arco-íris, trabalhou mais que o necessário e nem ao menos tirava férias. Tudo por conta de seu plano maior.

Nesse ponto de nossa história vale a pena um questionamento: você tem um arco-íris que pretende um dia escalar?

Nossas vidas podem ser um tanto chatas e sem sentido se não possuímos um objetivo claro. Mas, pode ser pior ainda, quando o nosso objetivo é pequeno e se completa com facilidade nos deixando sem nada à frente para almejarmos.

Algumas pessoas são movidas por desejos fúteis, coisas realmente simples e fáceis de serem alcançadas. Outras, focam suas vidas, em coisas que certamente irão definhar com o tempo como, por exemplo, criar os filhos. Sempre chegará o dia em que eles se vão, deixam à casa onde foram criados, para seguirem suas vidas. Com isso o objetivo se esgota sem possibilidade de ser renovado.

Quando temos um foco maior como o crescimento pessoal, por exemplo, pelo prazer de evoluir como ser humano, podemos ter toda uma vida de investimento com resultados e ainda achar que é muito pouco. Afinal, estudar não tem limites. Ou, quando nos projetamos em algo renovável como construções, produções, artes e outras tantas atividades que fazem parte de um universo que pode sempre nascer de novo pelo efeito das nossas ações. Isso sim pode ser algo que nos faça levantar da cama todas as manhãs com a intenção de mudar o mundo.

Fato, é que precisamos encontrar um arco-íris para escalar. Um objeto inspirador que funcione como placa de sinalização nos apontando um caminho na vida para seguir. 

O nosso personagem finalmente conseguiu escalar o arco-íris, foi em um sonho, justamente na noite em que ele morreu.

                

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

TROCA DE TURNO


Por João Oliveira



Já estava quase anoitecendo quando ele chegou se dirigindo ao senhor idoso que estava arrumando algumas tralhas:




- Então? Pronto para a aposentadoria?




- Ainda não. – Disse o velho cabisbaixo – De fato, ainda tenho muitos planos que não foram plenamente realizados.




- Pode esquecer. Agora eu é que tomo conta da parada. Conhece a frase: “Estamos sob nova direção”?




- Sim, claro. Não tenho dúvidas que você vai assumir agora cheio de novas ideias de gerenciamento.




- Você nem imagina meu velho. Vou arrumar a bagunça que você está deixando e ainda vou incrementar um monte de novidades.




- Mesmo? – O velho riu.




- Está rido de quê? Posso saber? – Se irritou o jovem.




- Você se parece muito comigo quando cheguei aqui: cheio de planos, ideias, cheio de vontade e dinamismo. – Baixou a cabeça e respirou fundo – Tudo se perdeu durante o meu turno aqui. Fiz o que pude mas, como pode ver... está tudo uma grande bagunça.




- Entendo. Sei como é se decepcionar. Mas isso não vai acontecer comigo pode ter certeza.




- Falei o mesmo para o meu antecessor. O problema não somos nós. O problema são eles.




- Eles? O que eles podem fazer: nós somos o tempo! Ninguém é mais poderoso que o tempo.




- Meu jovem. Entenda que eles podem ter todo o tempo do mundo e nunca aprenderão o básico para o crescimento contínuo. São seres de baixa longevidade e extremamente egoístas. Mesmo sabendo que possuem uma existência ínfima não se preocupam em deixar algo para a posteridade que os torne memoráveis.




- Mas, nossa passagem aqui também é curta. Somente uma volta em torno da estrela de quinta grandeza.




- Sim, isso é fato. Depois voltamos para o Continuum Temporal onde a eternidade e um segundo representam a mesma coisa. No entanto, meu jovem, nos tornamos eternos no calendário. Jamais deixaremos de existir por conta dos fatos históricos. Pena que a maioria desses fatos seja negativo para humanidade.




- Deixa de ser pessimista. Soube de vários avanços na ciência, na religião, na filosofia... os erros que você está deixando (já disse) vou consertar.




- Sim, isso também é verdade. Mas, se você pegar os nossos antepassados distantes verá que esses avanços pouco representam. Estão apenas repetindo saberes já alcançados em outras eras que foram esquecidos por eles.




- Então, para que eu posso começar bem o meu período, que conselho você pode me dar que seja útil?




- Seja modesto em seus objetivos. Não adianta entrar em serviço com muitos planos e espelhar isso na cabeça deles. Pois, a grande maioria irá se frustrar. E o pior é que não é por falta de capacidade que os planos deles acabam indo por terra. Tudo fracassa por falta de prioridades. Eles se perdem no caminho, uma pena mesmo.




- Mas se eu chegar sem planos? Apenas espalhando uma vontade de ser mais feliz independentemente dos resultados alcançados?




- Espera! – O velho se levantou – Ser mais feliz de qualquer forma?




- Isso! É possível, não é?




- Claro! Alguns deles são muito felizes com pouco. Olha aqui, veja aqueles que moram em casas pequenas e que estão festejando a sua chegada com grande alegria. Pouco possuem na vida material, mas são repletos de energia positiva. Olhe lá um pouco adiante, aquela casa cheia de riquezas, veja como as pessoas são silenciosas.




- Então é possível ser feliz independentemente dos resultados alcançados?




- Sim... tanto é que agora estou até me sentido melhor. – Sorriu o velho – Acho que você irá começar bem 2016.




- Espero que sim 2015. Obrigado pela conversa. Meu objetivo agora é que todos sejam felizes em qualquer condição possível. Afinal, sempre teremos um novo ano e muitos deles, seres finitos, talvez não.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

CONTOS DE NATAL



Por João Oliveira

TOMO PRIMEIRO: O VELHO QUE NÃO SABIA REZAR

Havia no alto da montanha uma pequena cabana onde viviam uma jovem e seu velho pai. Nessa noite de véspera de Natal ele estava muito adoentado, tossindo muito, e pediu a filha que lhe chamasse o Padre na aldeia.

- Mas pai? – Disse a menina nos seus poucos quinze anos e vida – O senhor sempre me proibiu de ir à igreja. Porque deseja ver o padre?

- Acho que é minha última noite na terra filha. Está muito frio e não vou aguentar mais... chame o pároco preciso lhe falar.

Assim foi feito. A menina atravessou a aldeia cheia de neve até a casa paroquial. O padre, como todo bom cristão, se chamado vai ao encontro dos necessitados.

- O que desejas de mim? – Falou o padre em tom carinhoso – Desde que sua esposa morreu no parto dessa linda moça você nunca mais voltou à igreja ou permitiu que ela lá fosse... o que posso fazer por você?

- Padre, peço perdão pelas minhas falhas. Sinto que hoje é meu último dia na vida e gostaria de me lembrar como é que se reza. Faz tanto tempo que abandonei a religião com raiva de Deus pela morte de minha esposa que, agora gostaria de rezar, mas, me desculpe, não me lembro como fazer isso.

- Mas, isso é tão fácil meu filho. Veja, está olhando aquela cadeira vazia ali no canto do quarto? Pois bem, imagine que o Senhor Jesus veio lhe visitar hoje, na noite de Natal, e como um velho amigo se põe a conversar com você. Conte-lhe se suas aventuras, seus sucessos, seus fracassos, diga-lhe como foi sua vida e das coisas que se arrepende. Como um amigo querido que você não vê há muito tempo. Isso é rezar, meu filho, falar com Deus através de seu Filho Jesus.

Dito isso, o Padre foi embora. Aquela, provavelmente, foi a noite mais fria do ano e o velho não aguentou. Pela manhã soam batidas fortes na porta da casa paroquial.

- Sr. Padre, por favor, venha à minha casa. Meu pai amanheceu morto. – Disse a menina.

- Meus pêsames. Mas querida filham isso já era esperado.

- Eu sei Padre, mas ele morreu de uma forma muito estranha.

Lá chegando o Padre teve uma surpresa. Durante a noite o velho havia reunido todas as forças para se levantar e trazer a cadeira vazia até próximo a cabeceira de sua cama. Ali ele morreu, com a cabeça apoiada na cadeira.

Disse o padre com lagrimas nos olhos:

- Quem dera que todos nós pudéssemos morrer assim: com a cabeça no colo de Cristo.

TOMO SEGUNDO: A FERRAMENTA PRODUTIVA


Todos os dias ele trabalhava na sua serralheria. Sozinho ele fabricava cadeiras, mesas, armários... muitas pessoas tinham, naquela cidade, a casa praticamente toda feita com os móveis de sua pequena empresa.

Trabalhando sozinho ele só tinha mesmo tempo para o trabalho e nunca tirava férias ou investia tempo com a manutenção de suas ferramentas. Dia a após dia, sempre produzindo mais e mais, sem se preocupar com o estado de sua saúde ou de seus instrumentos de produção.

Um dia, ao serrar uma porta, o serrote se partiu e, um pedaço da lâmina, acertou o seu olho esquerdo o cegando para sempre.

Aquilo foi como a própria morte: como poderia ele ser castigado por Deus fazendo o que ele mais gostava (trabalhar) e exatamente produzindo coisas úteis para todos? Se estivesse farreando, fazendo maldades ou sendo desleal com os amigos, pelo menos teria uma justificativa para ser castigado. Mas, ele estava trabalhando e isso não podia ser compreendido. Ficou muito triste.

Alguns meses depois outro sério acidente. Uma carga rolou da empilhadeira e quebrou sua perna direita. Devido ao local (fêmur) e sua idade avançada (75 anos) foi obrigado a andar de muletas o que o atrapalhava bastante.

Nesse ponto ele se revoltou com o criador e foi dormir uma noite, renegando sua crença em Deus. Durante a madrugada uma luz, ele nunca descobriu se isso realmente aconteceu ou foi apenas um sonho, iluminou todo o quarto com uma voz estrondante:

- Filho Meu, sabe que dia é hoje?

- Véspera de Natal... quem está falando? É um fantasma?

- Sim, sou o Fantasma da criação. Aquele que tudo vê, tudo controla no universo, mas, como bem sabes, nada decide pelas consciências humanas. Essas tão poderosas consciências cheias de si.

- Como assim? – Disse o velho amedrontado – É o Senhor Meu Deus?

- Assim também posso ser chamado. Diga-me, criatura, o que te incomoda?

- Estou sendo castigado por Ti sem nada dever. Muito pelo contrário, sou um exemplo de pessoa produtiva para seu reino.

- Sim, isso é verdade. Mas, filho, me diga: tem cuidado de suas ferramentas de produção?

- Como assim Senhor?

- Ouça bem o que lhe digo, tudo que nesse mundo há necessita de reparo, descanso e, como já deve ter percebido cuidado e atenção. Até mesmo as árvores mais frutíferas no inverno têm o seu momento de hibernação. Você só é culpado pela falta de zelo com o próprio corpo, ferramenta maior de produção nesse mundo e dos instrumentos que utiliza em seu trabalho.

O silêncio, prova da culpa, se fez presente. A voz que emanava da luz continuou:

- Agora não há mais tempo para reparações. Que seu exemplo sirva aos demais: todas as ferramentas, talentos e corpos tem seu tempo de vida útil que pode, ou não, ser prolongado se forem devidamente cuidados. Limpe bem sua enxada para que ela corte o capim e não o seu pé.

Assim dito, a luz se apagou, o velho carpinteiro essa história, pelo mundo, espalhou. 

TOMO TERCEIRO: PAPAI NOEL CARIOCA

Quando encontrou a carteira perto do bueiro da Rua Dias da Rocha, Augusto percebeu que a sorte finalmente havia lhe sorrido. Já era véspera de Natal e até agora não tinha conseguido nenhuma vaga de propagandista nas lojas.

A sua barriga avantajada era um trunfo nessa época. Se vestia de Noel e ficava na frente das lojas em Copacabana balançando um sininho e dizendo: - “Ho, Ho, Ho, Feliz Natal!”. Só isso e a ceia estava garantida.

Não vivia mal. A aposentadoria de engenheiro da DAE (Departamento de Águas e Esgoto) lhe rendiam uns parcos R$ 3.500,00 por mês. Isso era mais que suficiente para pagar a pensão em São Cristóvão, a alimentação e umas cervejas com os amigos nos finais de semana na feira nordestina no pavilhão. 

Apenas um problema lhe atrapalhava esse ano: o novo código de postura municipal. Ocorre que a figura na calçada do propagandista foi proibida. Adeus ao Papai Noel das Calçadas, as bandinhas natalinas e todos os outros periféricos dessa época.  O dinheiro extra não existiria mais.

A carteira parecia gorda e, ao abrir, se deparou com R$ 1.600,00 em notas de cinquenta reais. O sorriso abriu a boca de orelha a orelha. Era o seu presente de Natal. Agora, poderia ir ao Barbarela, lá na Princesa Isabel, ver as meninas bem esculpidas e tomar todas as cervejas importadas que desejasse.

O detalhe foi, que junto com o dinheiro, veio também o nome e endereço do proprietário. Um tal senhor Armando Nascimento de Jesus que lhe parecia familiar. Lhe bateu algo na consciência e, como o endereço era próximo, decidiu levar a carteira ao real proprietário. Não era longe, o senhor Armando, dizia o boleto na Light, morava no Bairro Peixoto.

- Boa tarde – Falou ele a senhora idosa que veio lhe atender no portão.- A senhora conhece o Sr. Armando?

- Sim, do que se trata?

- Bom, achei essa carteira perto de um bueiro na Rua Dias da Rocha, aquela sem saída em Copacabana. Dentro dela está, não mexi em nada, mil e seiscentos reais.

-Meu Deus – Gritou a velha apavorada – Isso não é possível? Quem é o senhor afinal?

- Que isso senhora? Estou querendo entregar a carteira ao senhor Armando e espero que ele seja generoso comigo... afinal, não é todo mundo que entrega uma carteira recheada assim.

- Olha senhor, não sei que brincadeira é essa. Meu marido morreu há três anos e, logo agora que preciso, exatamente de R$ 1.600,00 para finalizar o inventário o senhor me aparece com essa história? Quem é o senhor? Faz parte do sindicado do Papai Noel?

- Desculpa... sindicado do Papai Noel?

- É isso mesmo. Aquele grupo que Armando fundou. Ele e uma turma de bêbados que costumavam se reunir no Natal para se vestir de Papal Noel e sair por aí dando brinquedos para esses menores de ruas.

Nesse ponto ele entendeu tudo. Deu a carteira para a mulher e saiu andando pelas ruas. Onde será a sede desse sindicato afinal de contas? O recado estava dado, ele havia entendido a própria missão. Quem sabe ainda tinha tempo de comprar uns brinquedos na loja do chinês e dar para aquelas crianças do Posto 5? Seu coração ficou repleto.




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sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

SINTONIA




Por Beatriz Acampora


Em uma comunidade muito pobre existe uma mulher que tem cinco filhos e trabalha em casa lavando roupa para fora. Ela tinha um rádio muito antigo com o botão quebrado que a impedia de trocar de estação. Seu desejo era ouvir músicas alegres, notícias engraçadas, mas todos os dias ela ouvia a mesma estação de rádio, que só tocava músicas tristes, o locutor quase não falava e quando dizia algo era em tom melancólico, desanimado. 

Ocorre que ela não tinha dinheiro para comprar outro rádio e nem ninguém que ela conhecia poderia ajudá-la a ter um rádio novo. Com isso, ela se acostumou ao seu rádio velho de uma única estação de rádio. As músicas tocadas a deixavam triste, abatida, mas isso se tornou algo comum para ela. 

Todos os dias ela fazia a mesma coisa: lavava roupa para os clientes ouvindo a mesma estação de rádio, até que em uma certa manhã, uma amiga, também muito humilde, a convidou para ir em uma excursão a uma cidade vizinha. Ela ficou hesitante, mas aceitou. 

No ônibus havia um rádio moderno e, como ela chegou cedo, pôde conversar com o motorista e ouvir um pouco de cada estação de rádio, sentada na escada do ônibus. Gostou de várias e percebeu que as músicas, o tom de voz do locutor, tinham uma energia que contagiava e faziam ela se sentir de muitos modos diferentes. 

Percebeu, então, que precisava sintonizar em uma estação diferente da que tinha se habituado em seu velho rádio com botão quebrado. E, ao voltar da excursão, decidiu jogar fora o aparelho danificado. Colocou em sua mente que era merecedora de um rádio novo e que os meios para adquiri-lo iam surgir. 

Foi aí que ela teve a ideia de criar um trabalho extra e passou a fazer comida sob encomenda. Todo o lucro deste novo empreendimento era guardado. Depois de algum tempo, na véspera do ano novo, ela conseguiu ir a uma loja e comprar um rádio novo. 

A felicidade de experimentar sintonias de ondas de rádio diferentes era tanta, que ela decidiu que a partir daquele dia só ouviria músicas alegres, que inundassem seu ser com bons sentimentos. 

Na vida todos nós temos um rádio interno que precisa ser constantemente ajustado. A evolução e o aprendizado requerem novas práticas, novos rumos. E qualquer mudança se torna muito difícil quando se persiste em sintonizar no velho, ultrapassado, que não é mais útil e que cria desconforto. 

O problema é que é mais fácil se habituar a algo ruim e criar uma zona de conforto do que investir na mudança necessária para uma nova frequência. Parece um tanto clichê afirmar que “você é o que você pensa”, pois isso já é amplamente divulgado. O filósofo Descartes cunhou a célebre frase “penso, logo existo”. E se apreendermos o modo como nos conduzimos pela existência, veremos que é o pensamento e as estruturas afetivas que formam suas bases, que criam uma determinada sintonia com o mundo. 

O filtro que uma pessoa utiliza para interpretar algo como bom ou ruim, o modo de lidar com uma nova experiência, a compreensão de um fato, tudo isso tem como base a vibração do indivíduo com ele mesmo e com tudo que o cerca. 

É hora de pensar em ouvir novas estações, abandonar o velho rádio quebrado e escolher uma nova sintonia. O Universo vibra junto com você e aquilo que é colocado nele tem retorno rápido em grandes proporções. 

Um novo ano se aproxima, novos sóis, novas luas, oportunidades de crescimento, de mudança, aprendizado e de felicidade: a renovação só depende da sua escolha de exercer sua liberdade.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A BALA VEIO VOANDO


Por João Oliveira (Psicólogo CRP 05/32031 )

Passou pelo carteiro, mas, como sabemos, o carteiro está apenas trabalhando, não tem nada a ver com a briga das facções ou do embate da polícia contra os traficantes. Por isso mesmo, ela passou raspando, deixou o carteiro em paz. Foi em frente sem olhar para trás.


Vinha o menino correndo saindo da escola. A bala até viu o corpo macio e pensou em nele se alojar. No entanto, o menino sorria tão bonito que ela resolveu adiar esse encontro e passou a um centímetro do braço do garoto que pela via seguia.

O padre só colocou a cabeça para fora na janela da casa paroquial e, justamente, na trajetória da bala, que fez um grande esforço em curva para livrar o vigário. Afinal, pensou a bala, alguém teria de rezar a missa do próximo falecido, resultado de um outro tiro.

A lavadeira jogou a trouxa de roupas no chão. Se escondeu atrás dela. A bala riu: - “Sorte sua que não te quero como alvo. Essa trouxa que roupas sujas contém não protege sua vida. ” E seguiu em frente com a velocidade mortal que toda bala tem.

A bala, na verdade, queria mesmo era voar mais. Por isso estava evitando os alvos. A liberdade de voar em tal velocidade era incrível, ver o mundo rapidamente sendo o mais potente ser no ar deve ser uma sensação espetacular. Justamente isso ela queria fazer durar.

Pela ladeira vinha subindo o sobrinho do traficante, o mesmo que havia apertado o gatilho e a libertado pelo ar, em agradecimento ela também desviou do rapaz e seguiu adiante.

Tinha um policial na frente, ela passou rente e também tinha um político corrupto, mas, esse estava muito longe. Sem ter o que mais fazer a bala encontrou o muro e pôs fim à sua jornada no mundo.

Uma pena que a bala que voe fora dessa página não tenha piedade de ninguém. Vai de encontro a vidas finalizando histórias, deixando claro para muitos que essa jornada vale muito mais que um vintém. Viva agora, seja feliz de forma urgente, pois, não são só as balas que param a gente.

sábado, 12 de dezembro de 2015

O REI DO GRÃO DE AREIA



Por João Oliveira (Psicólogo CRP 05/32031)

Diferente de algumas histórias que você conhece, essa não começa dizendo algo sobre um grande reino longe daqui. Na verdade, trata-se de um pequeno reino que pode estar perto daqui, no planeta Terra.  Pequeno mesmo, tão pequeno que todos residiam em um grão de areia, na realidade o único grão de areia que existia no universo naquele momento.

Milhares de súditos e a nobreza partilhavam de grandes campos cultiváveis que existiam nesse minúsculo grão de areia. Claro, era pequeno aos nossos olhos, pois, para eles que lá viviam, era um amplo mundo de riquezas.

O rei, soberano e ditador, um dia reuniu seus sábios no microscópico salão real e proferiu um discurso que seria inaudível aos ouvidos humanos:

- “Para que esse reino seja feliz e próspero preciso ter certeza que somos um só pensamento. Por isso quero, por decreto real, que todos concordem com os meus pensamentos. Todo aquele que pensar diferente de mim será banido do nosso reino! ”

Aquilo soou como um tiro na cabeça dos sábios. Como o rei poderia lançar um decreto como esse? Um desses sábios era também um Mago extremamente poderoso e perguntou ao soberano:

- Majestade, mas não existe nada além de nossas fronteiras. Para onde irão essas pessoas que o senhor irá expulsar?

- Isso não me interessa! – Gritou silenciosamente o rei (silenciosamente aos nossos ouvidos de gigantes) – Eles que criem, cada um, seus próprios reinos e sejam por lá felizes.

O Mago – (eu disse que ele era muito poderoso?) – Naquele instante teve uma excelente ideia e elaborou um encantamento capaz de dar, a cada habitante daquele reino, a capacidade de criar o seu próprio grão de areia caso fosse expulso do reino. Assim ele estava garantindo que todos sobreviveriam a ira do rei.

Já no outro dia, o rei passou a aplicar um teste em todos os seus súditos para saber se eles estavam, de fato, em concordância total com os seus pensamentos. Ele pensava um número de 5 dígitos e perguntava as pessoas que número era esse. Caso errassem seriam expulsos, pois, essa era a prova maior que não pensavam como ele.

Lógico. Ninguém acertou, nem mesmo a rainha ou os sábios. E, cada um deles que era expulso se via, automaticamente, em um novo e espaçoso grão de areia. Milhares e milhares de novos reinos foram surgindo criando uma grande rede interligada por contato físico. 

Pouco tempo depois o rei estava sozinho em seu grande grão de areia reinando soberano sobre ele mesmo e proferindo suas sentenças que só seriam aplicadas sobre ele mesmo. Já seus súditos, hoje reis de seu próprio território, se organizaram e já tinham sua pequenina ONU, além de um grande mercado de trocas de seus produtos: eram felizes.

Saiba você então, quando vai a uma praia qualquer, que houve um tempo que só existia um único grão de areia. Tudo isso que você vê hoje nada mais é que o produto de uma discordância de pensamentos que propiciou a criação de novas possibilidades.

Sim, isso mesmo: cada grão de areia que você vê é o produto de alguém que foi expulso por um rei absolutista. O número elevado de grãos se dá porque alguns deles imitaram o rei e também expulsaram outras pessoas que igualmente criaram novos reinos. Agora, se o rei era feliz ou não, não sabemos, porque existem pessoas que a única possibilidade de felicidade é o individualismo narcisista da soberania de suas ideias.

Assim, caro amigo, tenha em mente que é possível ir além de reinos individuais se distanciando de pessoas que só concordam com os próprios pensamentos. Provavelmente o mago errou na dose ao criar o encantamento, pois também fomos afetados por ele. Somos capazes de criar nossos próprios reinos para sermos eternamente felizes longe de quem só aceita o próprio espelho. 



terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A MENINA QUE NÃO CONHECIA A NOITE



Por Beatriz Acampora

No Egito antigo era comum as mulheres dormirem muito, cerca de 16 horas por dia. Yasmin era uma menina jovem, com 14 anos de idade, e tinha uma vida confortável, sem muitas regalias, mas com o que era preciso para viver naquela época.

A rotina da jovem Yasmin era acordar cerca de 07h da manhã, comer alguma coisa, ajudar sua mãe nos afazeres domésticos, estudar um pouco e voltar a dormir por volta das 15h. E dormia até o dia seguinte. Essa rotina, dizem, tornava as mulheres mais belas e saudáveis.

Ocorre que Yasmin nunca havia visto a noite. Certa madrugada, ela teve um sonho estranho e acordou antes do sol nascer. Quando abriu os olhos viu seus pais deitados dormindo, diferentes do que estava acostumada e assustou, acreditou que eles estavam mortos. Olhou pela janela e ficou ainda mais apavorada, pois, no lugar do sol, havia a escuridão da noite e pontos brilhantes no céu.  Aterrorizada, a menina começa a gritar e acorda a casa inteira.

Yasmin corre para o deserto tentando fugir daquela situação desconhecida. Porém fica ainda mais atordoada quando vê uma bola redonda, grande e branca no céu. Ela pensou: “será que esta coisa engoliu o sol”? A mãe foi atrás dela, a abraçou e explicou: “minha filha: essa é a noite, de dia existe o sol, a claridade e à noite existem a lua, as estrelas, que são esses pontos brancos no céu.

A mãe de Yasmin ficou abraçada com a filha, explicando os benefícios do dia e da noite, até que o sol nasce e a menina fica maravilhada com o amanhecer, com a transformação da noite em dia.

Os mistérios da vida, precisam ser apresentados. Quantos mistérios ainda seriam revelados a Yasmin? Quantos mistérios ainda se desvelarão na sua vida? E diante destes mistérios, todos têm o poder de escolher o que fazer com o novo conhecimento.  Cada um tem mistérios a revelar que podem surpreender o outro, abrir a porta para um pensamento, um julgamento diferente.

A cada um é dado muitas possibilidades em uma trilha individual e, na pessoalidade cotidiana do viver, a escolha de quais caminhos percorrer, qual a direção seguir, a intenção e a vontade de realizar, se tornam o chão daquele que percorre a vida em toda sua intensidade.

É como um homem de setenta anos do interior que nunca viu o mar e quando fica diante da imensidão do oceano, dentro dele, tem uma vastidão de ondas porque seus olhos se enchem de lágrimas, que viram rio.

É como um ribeirinho que cresce do lado do rio e para ele aquilo não tem mais mistério nenhum, mas quando ele vê uma cachoeira, se maravilha. É como um homem que vive ao lado da cachoeira, perto de uma floresta e vê os peixes pulando e não há mistério algum, mas quando ele vê algo novo pela primeira vez, maravilhado, aquilo também se torna um mistério desvelado.

Então, todo mistério, só pode deixar de ser mistério quando é revelado.  Quantas revelações ainda vamos nos permitir ter? A vida fica mais simples e fácil quando somos capazes de compreender e aceitar que existem mistérios a serem revelados em toda a parte e qualquer pessoa pode ser a fonte para desvelar um enigma quando estamos dispostos a entendê-lo.


domingo, 6 de dezembro de 2015

RECLAME



Por João Oliveira

Não investe tempo em estudo e se revolta por não alcançar uma posição melhor.
Se alimenta com produtos nocivos ao corpo e não aceita as consequências na saúde.
É incapaz de tomar decisões e se entristece com a falta de resultados.
No entanto, tem certeza de tudo. Sobre todas as coisas.

Consegue ver com clareza os erros de todos que estão ao seu redor.
Desconfia daqueles que são felizes. Afinal, isso não é possível.
Não arruma a própria cama e quer um mundo perfeito.

Reclame: essa é a solução para tudo.

Fala de uma crise cada dia pior.
Prega um futuro apocalíptico.
Prevê, com clareza, a falência de qualquer empreendimento.
Suspeita de qualquer um que tenha lucro financeiro.

Se ausenta da própria vida e reclama de Deus.
Diz ser bom e caridoso, mas, só pratica de fato o que consegue divulgar.
Não ora, não tem tempo, e espera algo dos céus.
Não anda, não tem esperança, e espera chegar em algum lugar.

Reclame: essa é a solução para tudo.

Só me faça um favor. Reclame em outra direção.
No lado da rua onde estou só ouço agradecimentos.
E, o primeiro deles, é por ter mais um dia em vida para algo construir.

Excelente domingo para todos!


    

A MONTANHA E A PIPA




Por Beatriz Acampora

Em uma pequena cidade com lindas colinas havia um construtor que tinha uma casa ao pé de uma montanha. Ele tinha o desejo de chegar tão alto que pudesse enxergar o mar e o sol do cume do monte. Se pôs, então, a construir uma escada cada vez mais alta e ao mesmo tempo que ia edificando cada degrau da escada, ia também elevando a sua casa. 

Perto dali um menino soltava pipa e a empinava tão alto que nem mesmo ele conseguia mais ver onde ela estava, apenas havia uma linha em sua mão que lhe garantia que existia uma pipa no ar. 

A intenção do construtor era que, assim como ele, as pessoas também pudessem subir as escadas e vissem a maravilhosa paisagem existente no alto da colina. E assim, erigia a escada e a casa para que pudesse alcançar o topo. 

Já o menino sabia que tinha construído uma pipa com suas próprias mãos: cortado o bambu, construído a estrutura da pipa e colado o papel de seda delicadamente. Havia amarrado o fio e empinado a pipa tão alto o quanto pôde. 

O construtor elevava a escada e a casa, enquanto o menino colocava sua pipa o mais alto que conseguia no céu. Em um dado momento, a escada estava tão alta e a casa tão distante do solo, que as pessoas que passavam tentavam gritar e falar com o construtor, mas não eram mais ouvidas. Do alto, ele até via que havia pessoas com as mãos acenando e ele as convidava para subir fazendo gestos com as mãos. Mas, as pessoas não o compreendiam, não mais o viam ou ouviam, apenas criticavam uma escada que não servia para nada. 

O menino também ouvia críticas, as outras crianças perguntavam a ele o que estava acontecendo, porque ele olhava para o alto se nada havia lá. O menino tentava explicar que ele empenou uma pipa que ele mesmo fez o mais alto que pode e que agora só era possível ver a linha em suas mãos, que também se perdia no espaço. Mas, infelizmente nenhuma outra criança acreditou nele. 

Quando o construtor chegou no topo da montanha, ele respirou fundo e olhou para o horizonte à sua frente: viu um lindo mar calmo, cristalino, sentiu a energia do sol e se percebeu totalmente conectado. Olhou para baixo e nada mais via. Já estava tão longe de onde havia partido que só conseguia enxergar o pedaço da escada que estava perto de si. 

Olhando para o alto, o menino chegou a duvidar por alguns instantes que ele havia construído e empinado a pipa, afinal, eram tantas pessoas duvidando dele, que uma ponta de hesitação passou por sua mente. 

Enquanto isso, no pé da montanha, as pessoas, revoltadas, sem entender para que a escada servia, decidiram quebra-la, destruí-la, perdendo a oportunidade de ter a mesma visão que o construtor, simplesmente porque não compreenderam para que a escada servia. 

O construtor já não se importava mais com o que acontecia lá embaixo porque ele tinha construído um caminho do qual se orgulhava e agora podia desfrutar da maravilhosa paisagem. O menino percebeu que as outras crianças não conseguiam compreender aquilo que elas não viam e por isso duvidavam da existência de algo tão banal, simplesmente porque não enxergavam nada além do que pudessem ver. E ele decidiu que ele deveria segurar firme a linha porque ela era o elo de ligação com a sua produção. 

Assim é a vida: é quase impossível compartilhar a realização com aqueles que não participaram do processo de construção. Há os que olham, mas não enxergam, os que ouvem mas não escutam, os que sentem e negam. A cada uma cabe os ônus e os bônus de sua própria caminhada. Não abra mão do que tem e do desejo de ir além porque os outros não reconhecem o seu valor.