A PRAGA
Para que este texto possa fazer o efeito desejado, tente se imaginar na pele do personagem principal, numa empatia construtiva com o pai, chefe de família que tem uma esposa e uma linda filha de cinco anos. Ao final, não apresse a leitura, procure elucidar o questionamento antes de ler a conclusão. Está história não é minha, ouvi ou li em algum lugar, mas faz tanto tempo que não consigo identificar a fonte, apenas estou recontando algo que me marcou e , acredito, pode ter o mesmo efeito em você. Boa leitura.
Naquela manhã, como de costume, você saiu cedo para trabalhar. No carro, no banco de trás, sua filha. No caminho para a faculdade, onde trabalha como professor, você a deixaria no colégio, como todos os dias. A pequena olhava pela janela descobrindo o mundo e se entusiasmando com tudo que estava ocorrendo lá fora. Sua atenção principal era com os cães, não era segredo que ela desejava ter um filhote, mas morando em um pequeno apartamento ter um animal não era uma opção.
No rádio uma noticia de uma doença que estava fazendo vitimas na África. Um tipo de gripe, chamado de Influenza Maledita era fatal em 48 horas a todos que a contraíam; já contavam dezenas de mortes em uma comunidade rural.
Quando chegou em casa, lá pelas 20h00 ainda ouviu algo na televisão sobre a tal doença. Agora a informação afirmava que uma decisão radical havia fechado os principais aeroportos da África, pois havia o risco do vírus migrar para outros países.
A semana passou rápido e as notícias só pioravam. Londres, Lisboa, Paris já apresentavam pacientes com o perfil desta nova praga. Alguns foram a óbito em menos de 24 horas. As pessoas não estavam mais transitando pelas ruas com medo de contraírem a tal Influenza Maledita. Mais de 1.500 vítimas na Europa.
Mesmo com todo o aparato de segurança a doença chegou aos Estados Unidos e se espalhou rapidamente, numa progressão exponencial não explicada pelos médicos. Aparentemente o vírus, que já havia contaminado as pessoas meses antes e estava latente, agora, por algum motivo não detectado, começa a se tornar visível na sua forma mais brutal. A conta, em todo o mundo, já passava de 30.000 mortos.
O mundo está em pânico. Não existe cura. O Brasil fechou todos os aeroportos e principais rodovias. Vítimas em capitais como Rio, São Paulo e Brasília sinalizavam para o trânsito de passageiros em aeroportos internacionais. O vírus havia sido importado e, sem estradas, ele não afetaria o interior. O país começa a sofrer sérias restrições de abastecimento.
Você está seguro em seu lar. Não há aeroportos onde mora e, até agora, nenhuma pessoa na cidade havia manifestado o vírus. Por motivo de segurança as escolas estavam fechadas e todos estavam em suas casas só saindo em situações emergenciais. As ruas estavam desertas, o medo imperava sobre todos.
Uma notícia na faculdade onde você dá aulas: - Os cientistas têm uma esperança!
No laboratório de ciências biológicas um doutor, conhecido seu, fala aos jornais e TV: “- Se pegarmos o sangue de alguém que apresente características genéticas refinadas, em relação ao perfil do vírus da Influenza, poderemos criar uma vacina!”
Que notícia ótima! O cientista pede a todos que se apresentem na faculdade para deixar uma amostra de sangue. Como a cidade ainda não havia apresentado nenhum caso da doença, a chance de se conseguir o tipo se sangue especial e o código genético intacto era grande.
Todos foram ao laboratório. As filas eram imensas de pessoas, com boa vontade, querendo ajudar. Você foi, levou sua esposa e filha e, depois de uma espera de duas horas, recebeu a notícia. Entre todos os 100.000 habitantes da cidade só uma pessoa tinha apresentado o sangue no perfil ideal para a base da fabricação da vacina: sua filha!
Esta era uma ótima notícia! No entanto o médico responsável pela coleta não compartilhava desta alegria: “- Ela é muito pequena, vamos precisar tirar todo o sangue para ter algum sucesso!”.
“- Qual é o problema? Façam isto rápido! Salvem o mundo.” – disse você entusiasmado com a possibilidade de cura – “ O que está errado? Não existe transfusão de sangue, tira-se um e colocasse outro...”
O médico finaliza: “- O senhor não está entendendo, isto não é possível, ela não irá sobreviver!”
Agora a alegria dá lugar ao desespero. Você e sua esposa se abraçam. O mundo precisa da cura; hoje o número de vítimas passa de dois milhões, não há um só país que não esteja na lista de infectados. O que fazer, como fazer?
Uma reunião ecumênica na sua casa reuniu pastores, padres e outros representantes que, de uma maneira muito gentil, não deram uma opinião final, não tentaram influenciar você e sua esposa numa decisão. Mas estava claro, sua filha iria morrer.
Você levou um pequeno filhote para ela, um cãozinho, que iria viver muito mais que sua pequena jóia. Linda e inocente, ela estava feliz com o tratamento que os médicos estavam dando a ela. Todos eram gentis e o foram até o final.
Sangue retirado, vacina feita, sucesso absoluto. Helicópteros enormes pousaram no pátio da faculdade levando esperança para milhões de pessoas. A corrida da morte estava cessando. O mundo estava curado.
Um ano se passou, hoje a ONU vai fazer uma homenagem à sua filha: pelo sacrifício de uma vida inocente e pela saúde de 7 bilhões de habitantes. Você se coloca diante da TV, afinal é uma transmissão em cadeia mundial, se senta com sua esposa no velho sofá ao lado da pequena cadela, lembrança sempre presente do carinho da sua filha.
Não é possível ouvir o som da televisão. Por mais que você aumente o som que vem da rua é muito alto. Uma música horrível está sendo executada em um nível alarmante. Você se coloca na janela e olha para baixo. Jovens, que bebem e dançam na rua, animados por um carro, com as portas abertas e o som no último volume.
Como isto é possível? Como essas pessoas não se importam com sua dor? Quem são estes animais que não respeitam um momento de respeito pela sua filha que foi a responsável pela cura da doença mais fatal enfrentada pela raça humana?
A pergunta, deste texto, que deve levar a uma pequena reflexão é: - Quem deve estar sentindo a mesma coisa que você agora? Quem deve estar, neste momento, compartilhando do mesmo sentimento? – pense um pouco antes de ler o próximo parágrafo.
Os seres humanos agem conforme seus interesses e é raro aquele que olha para fora de si com a intenção de beneficiar a todos, mesmo que isso o prejudique. A nossa condição de humanidade é o que nos eleva, mas também é o que nos declina.
Somente quem deu a vida de um filho para salvar o mundo pode sentir o mesmo: Deus. Ele deu todo o sangue se seu único filho, Jesus, para lavar os pecados do mundo e, no entanto, poucos são os que manifestam respeito por este sacrifício.
Obrigado pelo tempo dedicado a esta leitura, boa vida!