Um grande grupo de pessoas, em nossa sociedade atual,
possui um conceito um pouco deturpado do que seja felicidade. Elas acreditam que
este estado emocional deve ser igual ao da euforia. Provavelmente são essas
pessoas que confundem amor com paixão, pois, não conseguem perceber que uma
situação é um estado natural e duradouro e, o outro, completamente artificial e
momentâneo. Assim, essa tal felicidade, também confundida com alegria, não é
vivenciada plenamente, pois sempre se espera algo além do momento presente,
como uma premiação na mega sena, um carro novo, férias ou alguém para completar
a vida.
Não nascemos para sofrer, isto é fato inquestionável. A
tristeza surge como uma consequência em nossa existência, por uma série de
fatores, sendo o principal o descontrole do desejo. Desejamos sempre mais que o
necessário para sermos felizes. Faça uma análise rápida agora: você é feliz
enquanto lê esse texto? Acredito que deveria ser, afinal não deve estar com
fome, frio, dor, pois, se você está prestando atenção plena nessas palavras
deve, também, vivenciar, como eu, ao escrever, um momento de felicidade!
Simples: felicidade é um estado psicológico onde não há
sofrimento ou dor e, mesmo que exista, não interfere no estado emocional geral.
No entanto, e aí vêm problemas, existe o sofrimento mental.
O sofrimento, sem real existência de um objeto ou
situação que provoque o surgimento da angústia, pode complicar um pouco este
nosso argumento e, podemos observar, ainda, dois tipos principais: um realmente
padece de uma disfunção ou distúrbio mental e o outro não, o que apenas está
aprisionado em conceitos sem possuir a capacidade de ressignificar valores de
interpretação.
No caso das pessoas que nasceram ou adquiriram alguma
doença mental, somos levados a pensar
que eles não possuem uma consciência dos estados emocionais como à maioria e,
por isso, sem uma exata noção de mundo como nós, podem nem perceber a tristeza
ou felicidade dentro dos conceitos aqui colocados. Mas, as pessoas que sofrem
justamente por ideias instaladas, fatos passados ou ainda nem vivenciados, as
que andam à beira de um precipício imaginário, essas podem sofrer ainda mais do
que os seres em luto pela perda de um ente querido. A imaginação não tem
tamanho e pode criar âncoras mais pesadas que todo o planeta Terra.
Então este sofrimento não vem da falta. Ele surge do
possuir instalações imaginárias, que podem até, em algum momento, terem partido
um objeto real. Da mesma forma que possuem suas fortificações em estruturas
imaginárias também podem ser desmontadas do mesmo jeito, alterando a maneira de
ver o mundo. Nem pense em mudar o mundo para resolver seus dilemas. O mundo é
isto mesmo e não vai deixar de ser o que é por causa de nenhum de nós.
E o sofrimento que vem da falta? Bom, essa fila é grande.
Pense o seguinte: “Quem nada tem, com pouco se alegra!”- está certo este
raciocínio? Sim, está! Agora podemos também pensar que aquele sujeito com muito
de tudo, coisas materiais, já não encontra nada na loja que lhe traga alguma
felicidade física. Meio paradoxo isto! Quando nada tenho, tudo quero! Quando
tudo tenho, nada me serve? Então o que a
lógica insinua? Devemos aprender a se feliz com nós mesmos e isso significa,
embora pouca gente vá entender de fato, que o melhor é ser feliz sozinho.
Vamos imaginar que tenho, ao meu lado, uma pessoa que me
é de boa companhia. Ele(a) troca carinho, dá suporte, apoio moral e incentivo.
Este outro é cúmplice de vida, mas pode faltar. Diferente disto: eu tenho um carro, que é o
modelo do ano, ele corre, é confortável, gasta pouco combustível, mas o pneu
pode furar. Estou bem alimentado (agora), mas à noite posso querer jantar. Nada é perfeito! Nós devemos então buscar um
olhar especial para o ser que não nos abandonará nesta jornada: nós mesmos!
Não há como fugir de nós mesmos e por isso é necessário
aprender a conviver conosco e ser feliz assim. Ressignificar – palavra que vale
ouro – tudo aquilo que nos limita no caminho da equanimidade, não é necessário
euforia, basta equilíbrio. Também devemos controlar os desejos materiais, eles
sempre surgirão mais modernos, belos e eficazes antes mesmo de começarmos a
usar o que compramos, somos impulsionados pela mídia ou ambiente social e se
permitimos isto não terá fim. Não é
preciso tanto para ser feliz! E se vier outro partilhar comigo desta
jornada? Que venha! Seremos felizes
juntos! Desejando muito, ambos, o crescimento interno, pois através dele
seremos ainda mais felizes. E, se alguém algum dia lhe perguntar o que têm nas
mãos de tão valioso para expor este sorriso que engole orelhas, diga: - A
capacidade de sempre reconstruir a mim mesmo!
Hoje, em função de tudo que já sabemos de cor, perdemos a
capacidade de ouvir o ruído da chuva fina que cai lá fora. Mas, de vez em
quando, os trovões nos impõem medo. A felicidade é construída, mas existem
pessoas que escolhem construir pontes para a tristeza, a doença e o fracasso. Ser
feliz demanda da escolha de ouvir a alma e não se assustar com o mundo.
João Oliveira
Psicólogo