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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

PROTOCOLO




                Estávamos em um voo de instrução em um ultravele, no comando o Capitão Careca, também conhecido como Marcos Antonio, mas o nome dele é Capitão Careca mesmo. Antes de sairmos do solo o Careca leu um checklist e revisou todos os itens da aeronave. Algo como flap direito, flap esquerdo, freio e outras coisas que não me recordo. Somente após esta checagem em que pediu permissão de decolagem no Aeroporto Bartolomeu Lizandro para que pudéssemos decolar.

                No alto percebi que havia me esquecido da câmera e, como era período de cheias do Rio Paraíba do Sul, pedi ao Capitão Careca que retornasse ao aeroporto para pegar o material para registrar nosso voo sobre a planície goitacá.  Feito! Com o material a tira colo, voltei ao assento e passei o cinto. Careca pegou o checklist e começou a revisar todos os itens novamente! Lógico que eu o questionei: “ – Para que isso? Acabamos de fazer essa checagem a menos de 10 minutos??” A resposta de Careca ainda está bem clara: “ – É protocolo da decolagem, não importa quantas vezes tenhamos feito a mesma coisa, pode ser que um dia, por relaxamento ou preguiça, venhamos a esquecer de verificar algum detalhe e, este pode ser o erro fatal em um voo”. Essa semana (14/08/2012) um piloto de asa-delta , com 15 anos de experiência, morreu ao cair logo após a decolagem por esquecer de se fixar a asa. Esquecimento ou seu cérebro lhe pregou uma peça fatal?

                Nossas vantagens acabam sendo nossos inimigos naturais: constância perceptiva e a economia neural. No entanto, sem essa facilidade que o cérebro adota para seus procedimentos, não conseguiríamos andar pelo mundo, nossa visão seria um emaranhado de informações tão grande que não seria possível decodificar o real à nossa frente. É um mal necessário. O mundo é reduzido a padrões para permitir que tenhamos uma consciência (plena?) ativa e possamos interagir com ele.

                Aquilo que fazemos constantemente e que seja, absolutamente, natural de fazermos está – comprovadamente – mais fadado ao erro que as coisas que não temos tanta experiência. Como explicar isso? Relaxamos quando nos sentimos muito a vontade e esquecemos os detalhes. Para isso existe uma solução: o protocolo.

                Criar protocolos parece ser algo como instalar um regime autoritário, no entanto isto pode ser útil para evitarmos erros já feitos ou economizar erros nas tarefas que repetimos com frequência. Anotar os erros cometidos e visualizar as possíveis falhas é o primeiro passo, o segundo é ler essas anotações antes de adotar tais procedimentos mais uma vez. É impressionante como cometemos o mesmo erro várias vezes.

                Imagine se construíssemos um protocolo para relações conjugais, algo como: sempre fazer carinho antes de propor sexo! Isso iria evitar algumas brigas. Claro que estou sendo satírico, mas, a frase “Errar é humano”, poderia ser usada como desculpas para as falhas menos vezes do que costumamos. 

                Não tenho dúvidas que muitas pessoas agora devem estar pensando de como isso é impossível, pois faz parte da natureza humana as falhas para o aprendizado. Isto está correto. Se você tem muito tempo de vida está tudo bem! Parabéns! Faça ou não seu protocolo de checagem. Eu não tenho uma longevidade que permite experimentar todos os erros possíveis para o melhor aprendizado. Então vou trapacear e me apoiar em protocolos de outras pessoas. Seres que viveram, erraram, aprenderam e escreveram sobre isso! Isso mesmo: livros!

                São os livros protocolos que resumem anos de experiências nessa ou, em outras épocas. Uma forma de economizar tempo e recursos, nos apoiando em outras vidas. Não se engane quanto a isso: em algum lugar ou em outro tempo, alguém já passou exatamente por isto que você está enfrentando agora. Se você soubesse o que lhe ocorreu e como conseguiu superar, já teria um protocolo de intenções preparado que você pode seguir ou não, mas, pelo menos, seria uma referência sobre o tema.

                Das pequenas atitudes aos comportamentos mais complexos que, por suas falhas podem ser fatais, nosso cérebro estará sempre pronto para se alimentar de novidades e, em contra senso, detesta mudanças. Vai entender isso!

João Oliveira
Psicólogo

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