Estávamos
em um voo de instrução em um ultravele, no comando o Capitão Careca, também
conhecido como Marcos Antonio, mas o nome dele é Capitão Careca mesmo. Antes de
sairmos do solo o Careca leu um checklist e revisou todos os itens da
aeronave. Algo como flap direito, flap esquerdo, freio e outras coisas que não
me recordo. Somente após esta checagem em que pediu permissão de decolagem no
Aeroporto Bartolomeu Lizandro para que pudéssemos decolar.
No
alto percebi que havia me esquecido da câmera e, como era período de cheias do
Rio Paraíba do Sul, pedi ao Capitão Careca que retornasse ao aeroporto para
pegar o material para registrar nosso voo sobre a planície goitacá. Feito! Com o material a tira colo, voltei ao
assento e passei o cinto. Careca pegou o checklist e começou a revisar todos os
itens novamente! Lógico que eu o questionei: “ – Para que isso? Acabamos de
fazer essa checagem a menos de 10 minutos??” A resposta de Careca ainda está
bem clara: “ – É protocolo da decolagem, não importa quantas vezes tenhamos
feito a mesma coisa, pode ser que um dia, por relaxamento ou preguiça, venhamos
a esquecer de verificar algum detalhe e, este pode ser o erro fatal em um voo”.
Essa semana (14/08/2012) um piloto de asa-delta , com 15 anos de experiência,
morreu ao cair logo após a decolagem por esquecer de se fixar a asa. Esquecimento
ou seu cérebro lhe pregou uma peça fatal?
Nossas
vantagens acabam sendo nossos inimigos naturais: constância perceptiva e a
economia neural. No entanto, sem essa facilidade que o cérebro adota para seus
procedimentos, não conseguiríamos andar pelo mundo, nossa visão seria um
emaranhado de informações tão grande que não seria possível decodificar o real
à nossa frente. É um mal necessário. O mundo é reduzido a padrões para permitir
que tenhamos uma consciência (plena?) ativa e possamos interagir com ele.
Aquilo
que fazemos constantemente e que seja, absolutamente, natural de fazermos está
– comprovadamente – mais fadado ao erro que as coisas que não temos tanta
experiência. Como explicar isso? Relaxamos quando nos sentimos muito a vontade
e esquecemos os detalhes. Para isso existe uma solução: o protocolo.
Criar
protocolos parece ser algo como instalar um regime autoritário, no entanto isto
pode ser útil para evitarmos erros já feitos ou economizar erros nas tarefas
que repetimos com frequência. Anotar os erros cometidos e visualizar as
possíveis falhas é o primeiro passo, o segundo é ler essas anotações antes de
adotar tais procedimentos mais uma vez. É impressionante como cometemos o mesmo
erro várias vezes.
Imagine
se construíssemos um protocolo para relações conjugais, algo como: sempre fazer
carinho antes de propor sexo! Isso iria evitar algumas brigas. Claro que estou
sendo satírico, mas, a frase “Errar é humano”, poderia ser usada como desculpas
para as falhas menos vezes do que costumamos.
Não
tenho dúvidas que muitas pessoas agora devem estar pensando de como isso é
impossível, pois faz parte da natureza humana as falhas para o aprendizado. Isto
está correto. Se você tem muito tempo de vida está tudo bem! Parabéns! Faça ou
não seu protocolo de checagem. Eu não tenho uma longevidade que permite
experimentar todos os erros possíveis para o melhor aprendizado. Então vou
trapacear e me apoiar em protocolos de outras pessoas. Seres que viveram,
erraram, aprenderam e escreveram sobre isso! Isso mesmo: livros!
São
os livros protocolos que resumem anos de experiências nessa ou, em outras
épocas. Uma forma de economizar tempo e recursos, nos apoiando em outras vidas.
Não se engane quanto a isso: em algum lugar ou em outro tempo, alguém já passou
exatamente por isto que você está enfrentando agora. Se você soubesse o que lhe
ocorreu e como conseguiu superar, já teria um protocolo de intenções preparado
que você pode seguir ou não, mas, pelo menos, seria uma referência sobre o
tema.
Das
pequenas atitudes aos comportamentos mais complexos que, por suas falhas podem
ser fatais, nosso cérebro estará sempre pronto para se alimentar de novidades
e, em contra senso, detesta mudanças. Vai entender isso!
João Oliveira
Psicólogo