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quarta-feira, 25 de julho de 2012

LUTO



                O sofrimento no luto pela perda, seja ela real ou imaginária, pode corroer um ser humano e  não existem regras estabelecidas que fechem janelas temporais limitando a vivência deste sentimento. Sabemos que as pessoas podem manifestar sintomas diversos que vão do choque, negação, raiva, depressão à aceitação.  Durante ou após essas fases, podem ainda surgir: culpa, angústia, baixa autoestima e a revolta, que muitas vezes não encontra objeto no mundo real e, então, recai contra o próprio sujeito que sofre.

                Onde está o parâmetro para o tamanho que se deve sentir ou por quanto tempo devemos sofrer pela perda do outro?

                Uma vez um monge hinduísta perdeu sua Japamala  após uma cerimônia. Ele ficou transtornado com a perda e, muito nervoso, pedia a todos que o ajudassem a encontrar o objeto religioso. Após uma busca insana, de quase duas horas o cordão de contas finalmente foi encontrado, neste instante ele explodiu de felicidade e comemoração. Marajaha Chandra Mukha Swami, personalidade respeitada no universo védico, que assistia à tudo, não se conformou: “ – Como pode estar tão alegre em encontrar algo que já era seu? Antes de perdê-lo estava em suas  mãos, todo o tempo, e você mal percebia este objeto.”

                As pessoas que estão ao nosso lado hoje podem não estar recebendo merecida e real atenção.  A falta, que é imposta pelas obrigações diárias, nos limitam o convívio de quem gostamos. Acredito, e posso estar errado nisto, que a revolta que surge, após uma perda irreparável, se dá pela possível culpa de não ter vivenciado o máximo possível da presença deste alguém em vida.

                Após a progressão total no processo de vida, fato que também chamamos de morte, ainda existe a possibilidade de encontros nos sonhos. Salve-me Carl G. Jung, pois são todos mesmo de compensação? Ou algo existe além da porta de saída? Não convém o debate, pois crenças e fé são de âmbito particular e o respeito à individualidade está acima de tudo. O alívio ocorre em campos oníricos.

                No entanto, podemos elaborar mais a respeito enquanto existe a oportunidade de compartilhar tais momentos, quanto mais exaltarmos, o que nos é prazeroso em companhia, menos devemos nos culpar após sua partida. Não creio que seja uma fórmula matemática e nem a solução para quem sofre, mas podemos contar como uma justificativa para o entendimento.

                Partiu, é fato! No entanto vivemos intensamente! Uma regra simples: dar valor ao que se têm enquanto possui, embora isto, provavelmente, não irá apagar o sofrimento, mas pode amenizar o peso na consciência, pois foi feito de tudo para aproveitar os momentos juntos. Pode ser uma possibilidade que isto venha evitar o surgimento da culpa e posterior revolta. Funcionaria como um anteparo de segurança à dor maior.

                Outro dia uma pessoa me disse que foi a uma festa de inauguração de um “Box Blindex de Banheiro”.  Não entendi do que ela estava falando e a explicação é que era apenas um motivo para as amigas de encontrarem no apartamento de uma delas numa festa temática onde, todas deveriam ir de roupões e toucas na cabeça: celebração à vida, só isso! Um ótimo exemplo que não é necessário nenhum evento especial para a demonstração de afeto e carinho. Não é preciso esperar o dia dos pais, das mães, dos filhos... Existe dos irmãos? A linha de afeto deve ser clara e transparente, repetidas vezes anunciada e, caso não escute o eco do carinho, repita mais uma vez. Dar afeto nunca é demais, alias é a única coisa que quanto mais se dá mais cresce dentro da gente.

                Então o luto pode ser maior ou menor. Não é o outro, que parte, a ditar o tamanho daquilo que sentiremos em sua ausência, pode ser o peso faltoso das palavras que pretendíamos lhe entregar e não houve suficiente tempo.  E, ainda, podemos pensar, se este tempo era de qualidade ou apenas quantidade. Pois, se for de qualidade, o último segundo valeu por toda vida.

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