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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O PRESENTE




                Um dia os Deuses estavam reunidos olhando os primatas em nosso planeta. Devo dizer que essa história têm milênios e, pode ser que você já pode ter ouvido ela em algum momento da sua vida, por isso tenha paciência e entenda que não é um mito, nem é uma história de verdade, trata-se de um conto, uma parábola, ou melhor: uma metáfora! 

                Lá estavam os Deuses – já disse isso? – observando aquele bando de seres primitivos se transformando em homens das cavernas, coitados sem cultura ou conhecimentos profundos da ciência ou filosofia, viviam e morriam de acordo com as forças da natureza. Caçavam, reproduziam, brigavam entre si, mas nada surgia ou crescia de fato entre eles. Um bando de macacos pelados sobrevivendo entre os animais naqueles tempos difíceis.

                Acho que, por pena, os tais Deuses resolveram dar um presente (ou será que foi roubado?). Algo que pudesse ajudar no desenvolvimento desta espécie. Era um objeto mágico, sempre usado pelos Deuses em suas peripécias de fazer surgir grandes universos e, era capaz de realizar proezas fantásticas ao tornar possíveis – matéria - pensamentos que só existiam dentro da mente deles, em formato de éter. Este objeto foi dado (ou roubado) e, o grupo que o recebeu começou a usar imediatamente. Deu certo! Realmente, tudo ficou diferente! Aqueles homens imundos das cavernas começaram a edificar e se organizar, graças a este maravilhoso objeto mágico, desenvolveram a cultura e uma sociedade organizada. Maravilhas eram criadas por este objeto: cidades inteiras, a medicina, os aviões, educação, carros... Tudo era possível através da magia deste objeto, as coisas surgiam no mundo físico através deste poderoso mecanismo dos Deuses.

                No entanto, não poderia demorar, este poder foi logo usurpado por um grupo que se nomeou dono deste objeto e, fez com que ele mudasse de nome várias vezes para que o povo acabasse se esquecendo de seu grande poder. Hoje, essa magia, pode estar bem diante do seu rosto e você nem perceber do que é capaz de fazer com tal artefato mítico.

                Que maravilhoso objeto mágico dos Deuses é esse que está bem à sua frente e você não vê o seu poder? 

                Trata-se da mesa! Isso mesmo, uma simples mesa que pode ser de madeira, aço, ferro, pedra, redonda, quadrada, alta ou baixa, com ou sem cadeiras, nada disto realmente importa! Ela apenas tem de reunir, à sua volta, homens querendo compartilhar seus pensamentos.

                Nem todas as coisas que a mesa gerou foram boas, guerras surgiram por causa deste objeto. Isso é por que a mesa tem uma incrível (mágica) capacidade amplificar tudo que colocamos sobre ela. O bom ficará ótimo e o ruim, nem é bom pensar. Ela transforma o que é fluido e disperso no ar em projetos organizados e físicos em seu tampão. A mesa unifica pensamentos e dá início ao processo de construção no mundo real.

                Nos dias de hoje, apenas alguns sabem o valor deste objeto e, estes, se aproveitam disso para manipular o presente e o futuro de todas as outras pessoas que continuam a pensar sozinhas sem compartilhar suas ideias e projetos sobre uma mesa.  Pode ser que você esteja agora, em uma mesa, mas, uma mente sozinha não permite à mesa mostrar todo poder que tem, ela precisa de mais cabeças e bocas exalando palavras para exibir seu potencial magnífico. Tente agrupar pessoas com ideias para serem encaixadas em torno dela, leve papel e lápis para que, sobre a mesa, se delineie traços de um projeto. Quem sabe o que deste encontro pode surgir? Quem sabe se, a partir disto,  nosso mundo possa ser alterado positivamente, mais uma vez.

                Toda magia tem um segredo e o da mesa é o conjunto movido pela intenção. Não basta sentar e papear signos linguísticos soltos no ar, isso podemos fazer de pé ou deitado ao luar. A mesa requer um ritual, um projeto para ordenar o ritmo do pensamento, uma pauta que diga qual a nossa intenção diante de seu poder. Seja lá o que for ela irá ajudar a tomar forma, ela se incumbe do papel aglutinador. Unificando o melhor ou o pior: eis o perigo da mesa. Por isso ela está quieta no meio da sala de jantar. Alguns ditadores temem a mesa e a evitam, procurando impor seus pensamentos individuais, amplificados pela própria garganta ou braços, outros a escondem em grandes palácios onde só os eleitos podem cruzar as pontes elevadiças. 

                Questiono esse poder, pois a mesa sozinha nada faz!

                Que se unam então as mentes querentes e participativas, que troquem seus projetos, que discutam suas carências e, após o ato e o sucesso alcançado, que voltem à mesma mesa, desta vez para comemorar!            

                Este conto eu ouvi em uma mesa de bar. Não era a melhor mesa possível para os homens de bem que nela proseavam sobre o futuro. Ela fez o seu papel unificando nossas ideias e, ao se revelar para nós, contaminou o ar com sua magia. Para seguir, temos agora a linha que surgiu em seu dorso naquele inesquecível dia. 

                Agradecimentos ao jovem Israel Costa (Vitória-ES) por criar a base fundamental desta bela parábola de improviso em nossa mesa.

João Oliveira
               

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

MOTIVAÇÃO



                O que motiva as pessoas?  Sabemos que algumas pessoas têm energia e vontade tão fortes que estão sempre buscando algo novo em suas vidas, ao contrário de outras que não se mobilizam tanto ou quase nada.  Pensando nisto, na década de 60 o psicólogo americano Abraham Maslow, apresentou sua proposta que os seres humanos são dirigidos por algumas necessidades em determinadas ocasiões específicas durante o percurso da vida. Argumentou também que elas são organizadas em uma hierarquia, partindo das mais urgentes às menos urgentes. Nascia assim a famosa pirâmide de Maslow que assinala, em cinco níveis, o que motiva as pessoas a agirem no mundo.

                Maslow afirma em sua teoria que a mobilização surge quando as necessidades não são atendidas. Então as pessoas agem na carência para suprir certas lacunas e sempre partem das necessidades básicas antes de se sentirem altamente motivadas a satisfazer outras.  Os cinco níveis, começando pela base da pirâmide e  indo para o topo, são:

1-      Necessidades Fisiológicas: Essas são as mais básicas e estão ligadas diretamente à sobrevivência do sujeito - fome, sede, sono, sexo - e constituem a base primária dos desejos. Somente a partir dessas estarem plenamente satisfeitas é que será possível, ao sujeito, perceber outros estímulos. Então, primeiro, se busca manter a sobrevivência.

2-      Necessidades de Segurança: Mais relacionadas à estrutura de segurança física como, por exemplo ter casa própria, mas também pode surgir como uma necessidade de segurança psíquica, onde o risco real não existe. As pessoas neste nível podem, por exemplo, economizar dinheiro numa poupança, ter planos de saúde, seguro de vida ou não sair de casa por medo de ser assaltado. Ela se movimenta para dar garantias à sua segurança.

3-      Necessidades Sociais:  Nesse plano surge a necessidade de sentimentos mais afetivos como pertencer à grupos, à família, ao clube, etc. Nos dias atuais (Maslow que me perdoe) essas necessidades podem estar sendo supridas de forma virtuais pelas atividades em redes sociais. Vemos aqui uma movimentação para ser aceito no grupo.


4-      Necessidades de Estima: Basicamente relacionado ao status social. Desejos de prestígio,  de reputação em seu ambiente, sucesso percebido e estima de seus pares. Essas pessoas podem buscar recursos para adquirir produtos como carros especiais, bebidas, jóias, pois, que estas coisas, estão relacionadas pela sociedade como benefícios de status. O sujeito neste degrau da pirâmide busca reconhecimento.

5-      Necessidade de Autorealização: Trata-se do nível mais elevado da pirâmide e também o que reúne o menor número de sujeitos, pois para se chegar neste patamar e necessário ter, todos os demais, satisfeitos. Aqui o indivíduo sente  necessidade de desenvolver suas potencialidades, procura o autoconhecimento e autodesenvolvimento ligados ao crescimento do homem como tal. Na pontinha final da pirâmide o homem se volta para dentro, ele quer ser completo consigo mesmo.  

                Esses cinco níveis são muito usados pela psicologia, por profissionais de recursos humanos e são amplamente divulgados como parâmetro de comportamento universal. Claro que não é uma fórmula química ou uma equação matemática, pessoas são universos restritos e podem ter variações desses níveis. Usamos como uma amostra geral.

                O que não se apresenta nessa teoria é porque algumas pessoas têm ausência de motivação mesmo sem terem solucionadas suas necessidades básicas. Não falamos de depressão doença que pode ser tratada com remédios e psicoterapia. Pensamos nas pessoas que colocam obstáculos imaginários à sua frente sempre que uma carência surge e, tornam impeditivos, qualquer movimento possível para sua elucidação.

                Provavelmente está leitura não toca nenhuma dessas pessoas pois elas dificilmente teriam interesse em ler tantas linhas, já estariam sonolentas logo nos dois primeiros parágrafos. Portanto, se realmente este não é  seu caso, olhe-se nos cinco níveis citados e descubra onde você está e o que falta para que possa escalar mais um. Caso já esteja no último, sinta-se privilegiado, principalmente se conseguiu isto tendo total condição de saúde para aproveitar o que a vida tem de melhor: a alegria de ser feliz olhando-se no espelho. São muitos poucos que conseguem tirar do vento motivos para prosseguir, a maioria, tenha certeza disto neste país em que vivemos, ainda está preocupada com o almoço e jantar.


quarta-feira, 25 de julho de 2012

LUTO



                O sofrimento no luto pela perda, seja ela real ou imaginária, pode corroer um ser humano e  não existem regras estabelecidas que fechem janelas temporais limitando a vivência deste sentimento. Sabemos que as pessoas podem manifestar sintomas diversos que vão do choque, negação, raiva, depressão à aceitação.  Durante ou após essas fases, podem ainda surgir: culpa, angústia, baixa autoestima e a revolta, que muitas vezes não encontra objeto no mundo real e, então, recai contra o próprio sujeito que sofre.

                Onde está o parâmetro para o tamanho que se deve sentir ou por quanto tempo devemos sofrer pela perda do outro?

                Uma vez um monge hinduísta perdeu sua Japamala  após uma cerimônia. Ele ficou transtornado com a perda e, muito nervoso, pedia a todos que o ajudassem a encontrar o objeto religioso. Após uma busca insana, de quase duas horas o cordão de contas finalmente foi encontrado, neste instante ele explodiu de felicidade e comemoração. Marajaha Chandra Mukha Swami, personalidade respeitada no universo védico, que assistia à tudo, não se conformou: “ – Como pode estar tão alegre em encontrar algo que já era seu? Antes de perdê-lo estava em suas  mãos, todo o tempo, e você mal percebia este objeto.”

                As pessoas que estão ao nosso lado hoje podem não estar recebendo merecida e real atenção.  A falta, que é imposta pelas obrigações diárias, nos limitam o convívio de quem gostamos. Acredito, e posso estar errado nisto, que a revolta que surge, após uma perda irreparável, se dá pela possível culpa de não ter vivenciado o máximo possível da presença deste alguém em vida.

                Após a progressão total no processo de vida, fato que também chamamos de morte, ainda existe a possibilidade de encontros nos sonhos. Salve-me Carl G. Jung, pois são todos mesmo de compensação? Ou algo existe além da porta de saída? Não convém o debate, pois crenças e fé são de âmbito particular e o respeito à individualidade está acima de tudo. O alívio ocorre em campos oníricos.

                No entanto, podemos elaborar mais a respeito enquanto existe a oportunidade de compartilhar tais momentos, quanto mais exaltarmos, o que nos é prazeroso em companhia, menos devemos nos culpar após sua partida. Não creio que seja uma fórmula matemática e nem a solução para quem sofre, mas podemos contar como uma justificativa para o entendimento.

                Partiu, é fato! No entanto vivemos intensamente! Uma regra simples: dar valor ao que se têm enquanto possui, embora isto, provavelmente, não irá apagar o sofrimento, mas pode amenizar o peso na consciência, pois foi feito de tudo para aproveitar os momentos juntos. Pode ser uma possibilidade que isto venha evitar o surgimento da culpa e posterior revolta. Funcionaria como um anteparo de segurança à dor maior.

                Outro dia uma pessoa me disse que foi a uma festa de inauguração de um “Box Blindex de Banheiro”.  Não entendi do que ela estava falando e a explicação é que era apenas um motivo para as amigas de encontrarem no apartamento de uma delas numa festa temática onde, todas deveriam ir de roupões e toucas na cabeça: celebração à vida, só isso! Um ótimo exemplo que não é necessário nenhum evento especial para a demonstração de afeto e carinho. Não é preciso esperar o dia dos pais, das mães, dos filhos... Existe dos irmãos? A linha de afeto deve ser clara e transparente, repetidas vezes anunciada e, caso não escute o eco do carinho, repita mais uma vez. Dar afeto nunca é demais, alias é a única coisa que quanto mais se dá mais cresce dentro da gente.

                Então o luto pode ser maior ou menor. Não é o outro, que parte, a ditar o tamanho daquilo que sentiremos em sua ausência, pode ser o peso faltoso das palavras que pretendíamos lhe entregar e não houve suficiente tempo.  E, ainda, podemos pensar, se este tempo era de qualidade ou apenas quantidade. Pois, se for de qualidade, o último segundo valeu por toda vida.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

VERDADE


    A verdade tem muitas faces! Com certeza você já ouviu essa máxima popular e, se tiver alguma experiência de vida, saberá que isto é uma realidade de fato. Mas a verdade então é um conceito pessoal? Ela sempre deve ser dita? O contrário da verdade, uma mentira, é algo ruim?

    Existem verdades que causam mal, isso não é mentira. Também existem mentiras que fazem bem, e isso é uma verdade! O problema é que somos adestrados, desde novos, a sempre falar a verdade custe o que custar, mas a vida nos ensina a sermos sociais e isso cobra alguns custos: mentir é um deles. Fica, portanto, a dúvida!

    Quem só fala a verdade, o tempo todo, é um grande chato e, em consequência direta disso, deve ter pouquíssimos amigos. Ninguém quer ouvir toda a verdade e poucos estão preparados para entender toda a verdade.

    O grande problema reside em algo mais filosófico: a verdade é pessoal. Construímos nossas verdades a partir de conceitos herdados de nossos pais, escola, religião, ambiente de trabalho, partido político e etc. O pior é que a grande maioria destes conceitos são de fato dogmas e todos usam de neologismos para mostrar modernismos em fundamentos antigos e falhos, sem base estrutural de convencimento, sem filosofia de sustentação. Seria como tentar vestir uma roupa velha que já não nos cabe mais, pois, crescemos.

    Mudar, ressignificar, não implica na falta de personalidade. Sabemos que prevalece a adaptabilidade não a força. Impor uma verdade pela autoridade moral é adiar o inevitável, o afastamento dos que o cercam. Melhor então omitir, uma outra face da mentira: não falar toda a verdade.

    A omissão da verdade, quando a informação é necessária para elucidação de uma situação, também pode ser considerada covardia ou significa, ainda, a falta capacidade de convencimento do outro que teme causar dano à relação, ou seja, existe uma carência de subsídios e inteligência relacional.  Mas, é melhor isto, do que expor o raciocínio que pode ser ofensivo e causar o rompimento total com o outro.

    A regra geral diz que a verdade é melhor que a mentira. Isso vai depender da intenção da mentira. Se for uma mentira social, aquela que adoça as relações, pode ser aceita ou finge-se não perceber a falsidade amena, mas se for uma mentira estratégica em busca de vantagens diretas que podem causar dano ao próximo, é abominada na sociedade.

    Mais uma vez surge o problema conceitual ou semântico: deve estar faltando uma ou mais palavras que diferenciem uma MENTIRA de uma mentira. Assim, sem diferenciação em razão da falta de símbolos linguísticos, estamos em um beco sem saída.

    Acredito na minha verdade, posso aceitar que você tenha a sua e possa exercer o direito de tentar o convencimento, por argumentos, de quem se permitir a isso. No entanto ninguém tem o dever (algumas religiões pregam isso) de impor a “sua” verdade a quem quer que seja. Cada um, se quiser, que busque a sua!

    Bem fazem os políticos profissionais: estes que falam as verdades que queremos ouvir ou as mentiras que nos fazem sorrir.

Prof. Msc. João Oliveira
Psicólogo Diretor de Cursos do ISEC

   

quarta-feira, 11 de julho de 2012

TRISTEZA


        
           
            Em todos os Treinamentos de Análise Comportamental que fazemos percebemos duas emoções se apagando da percepção social: tristeza e medo. Raramente encontramos alguém capaz de identificar, com a mesma velocidade e certeza, essas duas manifestações emocionais em comparação às outras apresentadas em igual velocidade. O bloqueio é tamanho que, mesmo quando diminuímos a velocidade de exposição, o medo e a tristeza continuam “embaçados” para a maioria das pessoas.

            Por que isso se dá?

            Ocorre que a sociedade prega constantemente que essas duas emoções são negativas e expõem o sujeito como fraco ou derrotado diante de seus pares. Desta forma ocultamos suas manifestações e, com o tempo, o cérebro passa a evitar, como puder, o contato com elas.
            Para nosso exercício do pensar hoje, vamos focar na tristeza que é a mais dispendiosa das emoções, pois envolve muitos músculos: corrugador, orbiculares oculli, frontalis (ergue cenho), mentalis, platisma, risórios, triangulares e prócero. Por isso, ocorre um rebaixamento energético quando ficamos tristes. O nosso cérebro contabiliza a atividade elétrica.

            Não importa o tamanho do músculo, a mente entende que é algo muito oneroso e diminui o metabolismo a fim de poupar energia. É lógico pensar que pessoas que expressam tristeza por muito tempo acabam engordando. A estratégia do corpo é guardar combustível para queimar quando necessário for.

            Como não existe emoção sem função, se estão entre nós é por que foram úteis no processo evolucionário. A tristeza deve ter uma utilidade prática que está sendo relevada pela sociedade. Afinal todos manifestamos essa expressão em algum momento da vida, mas, a cada dia, menos pessoas reconhecem!

            Todos os semestres, nossos alunos do sexto período do curso de formação em  Psicologia saíam em campo mostrando desenhos e fotos de pessoas expressando várias emoções. Eles pediam às pessoas que identificassem ou que narrassem uma história para explicar por que a pessoa demonstra este ou aquele tipo de expressão na face. Em todos os ambientes, seja classe baixa ou alta percebemos uma razoável diminuição da percepção da tristeza. Isto porque mascaramos ou apagamos a possibilidade de reconhecimento para evitarmos sofrimento.

            Mas a função da tristeza não é impor sofrimento, isto é consequencia, e, é claro, que não funciona esconder o que sentimos, o custo para o corpo pode ser maior do que imaginamos com a somatização de uma emoção! A tristeza deve ser vivenciada, e seu gasto energético deve ser realmente queimado. O luto não exposto cobra seu preço em longas prestações com juros altíssimos. Segurar nossas emoções aprisiona pressões que vão, mais tarde, aparecer em forma de sintomas e, como consequência, doenças.

            Num raciocínio lógico podemos elaborar que a função natural da tristeza é pedir ajuda, acolhimento, atenção do outro. Negar à estrutura psicológica este apoiamento, ou queima, em algum momento de revés, é deixar uma lacuna aberta, uma falha, em nossa psique.
           
            Não é fraco quem chora. É, ou será, doente quem não permite a manifestação de suas emoções: isto é certo!
           
            Lógico que a tristeza instalada sem ressignificação a longo prazo pode se transformar em doença, deixar de ser uma emoção e passar a ser um sintoma. Nestes casos, onde o vivenciar não foi suficiente para o processo de “queima” da emoção, é aconselhável um apoio profissional que pode, inclusive, ser medicamentoso por algum período.

            O problema, reside em tentar descobrir, se esta doença já não é resultado de uma vida de abafamento sendo manifesta de uma só vez quando algo consegue romper a barreira dos disfarce.

            Por enquanto, vale o conselho, viva as emoções. Sem exageros ou teatralidade, apenas permita que o choro e o riso tenham lugar certo em sua existência, pois sabemos bem, existem dias claros como também noites escuras, mas eles se vão, como tudo na vida.

João Oliveira
Psicólogo CRP 05/32031

quinta-feira, 5 de julho de 2012

INVEJA!




A palavra sugere um sentimento ruim que aparece quando alguém, diante do outro, se vê inferiorizado por não possuir algo que este outro ostenta: bens materiais, atributos físicos ou psicológicos. Ocorre mais entre amigos, parentes e casais do que gostaríamos, pois, a proximidade, permite uma comparação maior entre pessoas e é, por comparação da trajetória similar, com resultados diferentes, que o sentimento invade quem se julga fraco ou impotente. No entanto, na origem da palavra em latim “invidere”  tem outro significado: não ver.

                Invidere, portanto, significa não ver as próprias qualidades, pois está prestando mais atenção nos resultados alheios do que em seus atributos pessoais. O outro pode servir como referência, modelo para ser seguido, e isto é saudável, mas desejar viver a vida do outro é desprezar a própria vida. A inveja surge quando o sujeito acredita na sua imobilidade, na falta de condições de alcançar o objeto de seu desejo.

                Decodificando a inveja, passo a passo, podemos entender que, caso seja bem direcionada, pode ser usada como elemento de motivação. No primeiro momento o sujeito dispara a cobiça, ambição, ao ver no outro algo que deseja para si. No instante seguinte ele analisa suas condições e, ao se julgar incompetente e menos capaz surge o segundo elemento: raiva.  Se o processo prosseguir, sem que o sujeito procure um caminho de resolução –  lutar pelo que quer – irá se instalar o sentimento que poderá arruinar sua vida: a tristeza.

                Dois mecanismos podem surgir daí:

1)      No momento em que a raiva aparece o sujeito pode direcionar os recursos catalisados por esta emoção para agir no mundo em busca do que deseja e, viu no outro como parâmetro. Um processo positivo.

2)      Na impossibilidade de ver suas próprias aptidões e, com a tristeza instalada, o sujeito se torna agressivo  e tenta justificar o sucesso alcançado pelo outro de forma negativa ou pejorativa. Isso se amplia e começa a destruir a saúde física e mental do portador deste perfil da inveja.

                Em todos os lugares que lemos sobre a inveja somos alertados do mal que ela pode fazer as pessoas. É verdade! Só que este mal não alcança a pessoa que ostenta, por vaidade ou não, suas conquistas pessoais, na verdade o mal entranha e destrói a pessoa que, em sua absorção da tristeza e raiva, acaba por apresentar sintomas dos mais variados pelo corpo. A doença física acaba por surgir no invejoso.

                Em tempo: a melhor defesa contra a inveja alheia é a indiferença. Faça de conta que tal pessoa não existe. Caso ocorra o contato direto, trate-a com respeito e ponto final.

                Não somos invejosos por natureza. Este sentimento é uma condição que pode surgir entre a comparação do ter (outro) e o não poder (ser si mesmo). Apenas uma análise mais aprofundada  do próprio sujeito, que pode ser feita por ele mesmo, pode transformar este movimento em algo positivo e motivador. Se atrelada em seu início, a um objetivo de busca, a inveja  não chega a crescer e dominar o sujeito pois, ao ver suas próprias qualidades e a possibilidade de vitória, ele mira na trajetória pessoal  e segue em frente esquecendo do outro, que foi seu ponto de partida.

                Podemos então ter o outro como referência: se ele conseguiu, eu também posso! A inveja sempre é representada como tendo a cor verde, isto deve ser um sinal que ainda há esperança, para isso deve-se olhar para os recursos disponíveis e potencializa-los na direção correta. Quando alcançarmos nosso objeto de desejo é bom que tenhamos em mente que, sempre existirão pessoas sem a capacidade de ver suas própria excelências, virtudes,  e nos terão como alvo e não como um bom exemplo.  

João Oliveira
Psicólogo CRP 05/32031

segunda-feira, 2 de julho de 2012

João Oliveira na Rádio MEC - Programa Atualidades com Cadu Freitas

No dia 02/07/2012 o Psicólogo João Oliveira participou do Programa Atualidades da Rádio MEC apresentado pelo Jornalista Cadu Freitas. Uma mesa redonda com o tema OMISSÃO que contou, também, com a participação do renomado sociólogo Paulo Baía.


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No estúdio da Rádio MEC

quarta-feira, 27 de junho de 2012

OMISSÃO


Lavar as mãos, diante de uma situação onde você têm conceitos estabelecidos, não libera da responsabilidade do resultado final como se, não houvesse um apoio dado a um dos lados da contenda. A grande maioria das pessoas acredita que o ato de não se envolver é sábio e, mesmo diante de uma clara situação onde existe algoz e vítima não se pronuncia em nome da justiça.

Uma frase que resume bem a implicação da opção de não se envolver é esta: “Para que o mal triunfe basta que os bons não façam nada”. Foi o que nos disse Edmund Burke, filósofo irlandês no século XVIII, quando é visível a diferença de forças, onde percebemos que há uma intenção malévola agindo sobre uma pessoa ou situação em desvantagens de recursos, é nosso dever tomar partido para a resolução.

Podemos perceber que a sociedade moderna se afasta cada vez mais de suas responsabilidades sociais individuais, colocando todo peso da resolução de problemas, seja eles quais forem, nas mãos do estado, da entidade pública ou de Deus. Alias, a frase: “Deus sabe o que faz” livra muita gente de pelo menos tentar fazer algo por outra pessoa.

Pôncio Pilatos ficou famoso lavando as mãos diante de uma situação que ele sabia estar errada, não tomou partido mesmo tendo o poder de resolução e, nós sabemos o resultado desta história. A inação, ou não ação, é uma tomada de decisão. Não participar ativamente de uma resolução de conflito, tendo condições para isso e, permitir que o valor negativo prospere na situação é fugir da responsabilidade de agir contrariando a ética. Todos nós sabemos quando agimos assim, ninguém opera na ignorância de juízo critico e, se assim for, está livre de ônus.

A pergunta que vem a seguir é, que ônus seria este? Quando os participes de uma sociedade se omitem diante de injustiças a entidade negativa ganha forma e, com algum tempo, acaba por atingir todos deste ecossistema.  

Deixando a religião fora deste questionamento, podemos analisar outro ícone neste raciocínio. Na iconografia dos santos podemos ver a imagem da Nossa Senhora das Graças, também conhecida como Nossa Senhora da Medalha, onde ela se apresenta com o semblante plácido, calmo enquanto o pé esquerdo, desnudo, esmaga a cabeça de uma serpente. Seu rosto não aparenta raiva ou esforço envolvido no ato de, com força, pisar no animal rastejante.

O simbolismo é a luta do bem contra o mal. O sujeito não precisa se envolver, ruidosamente, no combate ao que considera injusto. Sua ação não necessita de envolvimento emocional apenas do posicionamento correto. O ato de tomar partido pelo injustiçado requer  distanciamento emocional até mesmo para salvaguardar o pensamento analítico que sempre fica prejudicado quando imerso em forte emoção.

Finalizando: omissão está mais próximo da covardia do que da imparcialidade. Caso cada um de nós agíssemos com vigor, todas as vezes que a injustiça fosse percebida como tal, os agentes do mal teriam menos espaço para expor suas intenções. 

João Oliveira
Psicólogo CRP 05/32031

terça-feira, 26 de junho de 2012

Radio Roquete Pinto 26/06/2012

Nesta terça-feira (26/06) o quadro Painel em Debate, do Programa Painel da Manhã da Rádio Roquete PInto 94,1 FM, trouxe o tema Crime Passional! COM: Alice Silveira - Produção; Fabiano Albergaria - Apresentação; Elias Lins - Psicologia, Psicanálise e Hipnose Terapêutica; Jorge Ramos - Apresentação; João Oliveira - Mestre em Cognição e Linguagem e autor do livro SAIBA QUEM ESTÁ À SUA FRENTE (WAK editora); Beatriz Acampora - Mestre em Cognição e Linguagem autora do livro 170 TÉCNICAS ARTETERAPÊUTICAS (WAK editora) e Alexa Archer - Produção Ouça todo Painel em Debate de Hoje

Veja um trecho do programa em vídeo