Lavar as mãos, diante de uma situação onde você têm
conceitos estabelecidos, não libera da responsabilidade do resultado final como
se, não houvesse um apoio dado a um dos lados da contenda. A grande maioria das
pessoas acredita que o ato de não se envolver é sábio e, mesmo diante de uma
clara situação onde existe algoz e vítima não se pronuncia em nome da justiça.
Uma frase que resume bem a implicação da opção de não se
envolver é esta: “Para que o mal triunfe basta que os bons não façam nada”. Foi
o que nos disse Edmund Burke, filósofo irlandês no século XVIII, quando é
visível a diferença de forças, onde percebemos que há uma intenção malévola
agindo sobre uma pessoa ou situação em desvantagens de recursos, é nosso dever
tomar partido para a resolução.
Podemos perceber que a sociedade moderna se afasta cada vez
mais de suas responsabilidades sociais individuais, colocando todo peso da
resolução de problemas, seja eles quais forem, nas mãos do estado, da entidade
pública ou de Deus. Alias, a frase: “Deus sabe o que faz” livra muita gente de
pelo menos tentar fazer algo por outra pessoa.
Pôncio Pilatos ficou famoso lavando as mãos diante de uma
situação que ele sabia estar errada, não tomou partido mesmo tendo o poder de
resolução e, nós sabemos o resultado desta história. A inação, ou não ação, é
uma tomada de decisão. Não participar ativamente de uma resolução de conflito,
tendo condições para isso e, permitir que o valor negativo prospere na situação
é fugir da responsabilidade de agir contrariando a ética. Todos nós sabemos quando
agimos assim, ninguém opera na ignorância de juízo critico e, se assim for,
está livre de ônus.
A pergunta que vem a seguir é, que ônus seria este? Quando
os participes de uma sociedade se omitem diante de injustiças a entidade
negativa ganha forma e, com algum tempo, acaba por atingir todos deste
ecossistema.
Deixando a religião fora deste questionamento, podemos
analisar outro ícone neste raciocínio. Na iconografia dos santos podemos ver a
imagem da Nossa Senhora das Graças, também conhecida como Nossa Senhora da
Medalha, onde ela se apresenta com o semblante plácido, calmo enquanto o pé
esquerdo, desnudo, esmaga a cabeça de uma serpente. Seu rosto não aparenta
raiva ou esforço envolvido no ato de, com força, pisar no animal rastejante.
O simbolismo é a luta do bem contra o mal. O sujeito não
precisa se envolver, ruidosamente, no combate ao que considera injusto. Sua
ação não necessita de envolvimento emocional apenas do posicionamento correto.
O ato de tomar partido pelo injustiçado requer
distanciamento emocional até mesmo para salvaguardar o pensamento
analítico que sempre fica prejudicado quando imerso em forte emoção.
Finalizando: omissão está mais próximo da covardia do que da
imparcialidade. Caso cada um de nós agíssemos com vigor, todas as vezes que a
injustiça fosse percebida como tal, os agentes do mal teriam menos espaço para
expor suas intenções.
João Oliveira
Psicólogo CRP 05/32031
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