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domingo, 26 de maio de 2019

O DIA EM QUE A TERRA PAROU





Por Prof. Dr.  João Oliveira

      

Todas as funções em uma instituição são importantes e, da mesma forma que um relógio pode parar por conta de uma pequena peça defeituosa, uma grande empresa pode ter problemas de produtividade se não tiver um departamento de Recursos Humanos eficiente e que consiga cobrir todo o espectro funcional.

Provavelmente você já ouviu alguma metáfora ou alegoria sobre isso: alguém para, em alguma posição na empresa, e o caos surge em todos os departamentos. Pode não ser algo imediato, mas, de fato uma estrutura que funciona perfeitamente, raramente apresenta excessos (ou redundâncias) em suas equipes de trabalho.

Deste ponto podemos começar a separar o questionamento em três pequenas etapas de apuração: será que sua instituição tem o mesmo perfil do relógio que falamos anteriormente?

Pense sobre os seguintes pontos: 

1 – temos funções replicadas que fazem o mesmo trabalho apenas com nomenclaturas diferenciadas? - Um exemplo clássico é o almoxarifado x guarda volumes x arquivo morto e etc. Um único departamento, com divisões internas, poderia acomodar toda demanda da empresa. 

2 – algum colaborador é a própria função que exerce? - Quando uma função se torna algo tão especificamente ligada a uma pessoa, isso é extremante ruim para a empresa. Imagine se, por algum motivo, esse profissional deixar de trilhar o caminho da sua empresa? Como ficará o fluxo de produção? 

3 – estamos sempre trocando as peças de nosso relógio. Não corremos risco algum! – Imagine que a substituição de pessoas seja algo tão constante que, nenhuma pessoa possa realmente dominar os requisitos básicos para manter a linha produtiva com o mesmo nível do colaborador anterior? Seria o caos! Uma empresa sem identidade.

De fato, a sua empresa, de longe supera esses pensamentos: tudo está perfeito. O funcionamento é rigorosamente checado pelos sistemas de controle existentes. Os mais modernos, por sinal. Onde pode ocorrer a fratura? No continuísmo dos mesmos e iguais padrões de comportamento laboral.

O mundo muda a cada seis meses. Muitas vezes, isso ocorre de forma mais rápida ainda. Produtos que eram fantásticos em seus lançamentos recentes já estão esquecidos pelo mercado. Ter uma empresa afinada hoje não representa o futuro sucesso de amanhã.

O mundo (entenda o mundo como mercado consumidor) não para de consumir produtos ou serviços que surgem, a cada instante, substituindo seus possíveis concorrentes em algum período temporal.

O departamento de Recursos Humanos do momento é aquele que consegue imprimir ânimo e entusiasmo em todos os setores da empresa, de forma que eles possam, além de funcionar plenamente, serem capazes de apontar novos caminhos e soluções pra problemas que ainda não ocorreram.

Em nossa cultura pode ser difícil imaginar um profissional que anteveja os problemas e seja capaz de apresentar possíveis soluções aos seus gestores. Isso ocorre, principalmente, porque não são incentivados a terem esse comportamento. Nossa cultura organizacional prefere muitas vezes acreditar somente no feeling do gestor supremo e não na visão, pequena e humilde, do entregador de caixas que tem contato direto com o consumidor.

A ordem de comando mudou há muito tempo. Manda o consumidor dos produtos e serviços. Já se passou a época em que todos poderiam ter o Ford modelo T na cor que desejassem, desde que fosse preto. Hoje, a escolha está na ponta dos dedos e as funções de uma empresa precisam ser afinadas diariamente como uma orquestra que se prepara para um grande concerto.

As informações devem ser acolhidas de todos as fontes possíveis. Cabe, ao gestor de sucesso, saber diferenciar as que realmente tem valor daquelas que são notícias velhas e repetitivas. Em tempo de fakes news isso deixou de ser um talento apreciado para se tornar uma habilidade necessária.

Metodologias podem ser aplicadas para a validação das fontes principalmente as internas. Da mesma forma que é possível revisões de procedimentos em busca de redundâncias nos protocolos. A busca constante por melhorias, mesmo no que já funciona bem, deve ser encarada como algo cotidiano e não diferencial.

O Raul Seixas acordou em um dia em que o padeiro não saiu para trabalhar. Imagine um dia em que sua instituição, sinta os efeitos contrários de um mundo que parou: não ser procurada por ninguém. Para que isso não ocorra nunca, as funções, por menores que sejam, devem ser valorizadas em treinamentos e escuta.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

ANSIEDADE LABORAL – VENENO DIÁRIO



Por Prof. Dr. João Oliveira

                

A ansiedade passou a ser considerada o mal dos novos tempos. Devido a multiplicidade das demandas, de toda natureza, se torna impossível dar a todas o mesmo grau de atenção. As nossas próprias expectativas acabam se tornando um redemoinho de emoções que quase sempre tiram o sono dos mais sensíveis.

Os sintomas podem ocorrer com tanta severidade que prejudicam a produtividade e geram o absenteísmo. Casos mais graves podem levar profissionais talentosos ao abandono total de suas atividades. Essas situações deixaram de ser excepcionalidades e a cada dia se tornam mais frequentes.

Ansiedade é um nome moderno, e mais sútil, para uma das seis emoções presentes no homem: o medo!

De fato, as emoções existem como forma de preservar a existência da espécie e, todas (sem exceção) servem muito bem a esse propósito. Ocorre que, devido a evolução social e cultural da espécie humana, as emoções ficaram fora da sintonia da vida atual.

Alegria, nojo, tristeza, raiva, espanto e medo são as emoções aceitas na atualidade resultado do trabalho do Psicólogo americano Paul Ekman. Na década de 60 ele conseguiu identificar a natureza filogenética dessas emoções. Muito outros trabalhos já foram realizados e comprovaram, não só a existência dessas seis emoções naturais como também outras duas sociais, desprezo e desdenho, que são aprendidas durante as relações que ocorrem no desenvolvimento social.

O medo tem a função de paralisar e promover a fuga de situações que coloquem em risco a vida do organismo. Isso, com certeza, foi extremamente útil nos primórdios de nossa existência nesse planeta. Até certo ponto, evitar uma rua escura em um bairro perigoso, ainda é um evidente trabalho dessa emoção que nos faz fugir sempre que o risco está em alta probabilidade.

Os tempos são outros. No entanto, nosso coração acelera diante da cena em que o Duende Verde lança granadas no Homem-Aranha. Sequer são atores! É pura computação gráfica! Mas, o cérebro não se atenta a esses detalhes e a adrenalina surge em nosso sistema alterando nossas emoções. Não iremos fugir, permaneceremos sentados no cinema. A tensão criada não terá vazão em movimentos aeróbicos de fuga.

O cenário é outro. Prazos curtos para finalização de projetos, esposa (ou marido) que cobra mais carinho, filhos que necessitam de atenção, carro que apresenta problemas mecânicos... Uma imensidão de turbulências que leva o organismo ao projeto inicial: fuga ou luta!

Não existe a opção luta corpórea (para os normais, claro) nessas situações. É necessária uma sublimação da emoção que gera a conhecida palavra do título deste texto: ansiedade.

Sem nenhuma opção de resolução física, a sublimação irá, com certeza, se apresentar como sintomas dos mais variados.

Há pouco tempo uma empresa quase teve seu seguro saúde rompido com uma grande instituição de saúde por conta dos procedimentos que, de forma alarmante, subiram vertiginosamente em três meses.

Chamado para verificar o que poderia ter ocorrido, nossa equipe descobriu que um novo sistema de gestão havia sido implantado quase exatamente no mesmo período do aumento dos problemas de saúde da equipe (6.000 vidas).

Um projeto inovador ofertava, a cada elemento das equipes, o mesmo nível de informação do supervisor. Gerente Estepe era o título do projeto piloto que criou uma concorrência anormal entre todos os elementos que desejavam a posição de seu gestor. A intenção foi positiva afim de permitir que o setor jamais tivesse uma paralisação. O efeito foi cruel: de dores de cabeça, prisão de ventre a (até mesmo) pressão alta em vários membros das equipes.

Essa a pré-ocupação da mente, com resultados negativos no futuro é uma alta autocobrança que cria uma atmosfera destrutiva interna.

Como sair disso?

A ressignificação das situações vividas no passado e um propósito de vida bem definido são os segredos para a destruição da ansiedade. O problema reside em ter um foco bem definido do que se deseja para a vida em logo prazo e saber se livrar do peso das emoções negativas vividas no passado.

Para isso, não tenha dúvida, um texto em página de papel não será o bastante. Busque os cuidados de um profissional de saúde: terapeuta, psicólogo ou até mesmo um coaching de carreira se for um problema mais simples de direcionamento.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

UM LUGAR VIRTUAL PARA BRILHAR



Por Prof. Dr. João Oliveira


Manter-se conectado está se tornando uma verdadeira tortura para quem deseja estar bem no universo virtual. O problema se agrava a cada dia com as novíssimas ferramentas de controle de postagens em conjunto com os sistemas de aferição de resultados.

Diferente do profissional que transita no ambiente acadêmico, onde o Currículo Lattes é uma referência nacional, qualquer outro perfil profissional terá uma grande área para apresentar seus talentos, capacidades e habilidades. São tantas opções que se torna impossível, para uma pessoa normal, cobrir todo o espectro virtual.

Desde do Linkedin, Instagran e Facebook, para divulgação de nome, produto ou marca até os realmente especializados em unir talentos aos contratantes como o Workana, Catho ou Fiverr. São vários sistemas online que possibilitam a criação e manutenção de uma persona laboral virtual.

Para quem ainda não se aventurou por essa seara aqui vão algumas informações que podem ser úteis e fazer com que possa existir uma economia de tempo de procura e entendimento na utilização dos sistemas online. Sem a pretensão de cobrir todas ferramentas, vamos a alguns exemplos:

REDES DE DIVULGAÇÃO: Para quem já tem um produto ou serviço bem delineado e deseja apenas a captação de novos clientes existem algumas redes que já provaram ser eficazes:

- FACEBOOK: A criação de páginas de empresas permite a publicação de produtos e serviços com promoções dentro do perfil pretendido. As ferramentas de divulgação são precisas e pode-se, inclusive, limitar o público alvo somente no espeço territorial que pode atender ou, ainda, idade, sexo e área de interesse.

- INSTAGRAM: Nos últimos tempos o instagram tem se demonstrado uma excelente ferramenta de divulgação de talentos. De fato, existem segmentos que trabalham unicamente com o instagram como fonte de obtenção de conversões. O perfil de negócios, que pode ser configurado rapidamente, auxilia bastante com a métricas que são disponibilizadas.

- WORKANA: Para os freelancers ou para aquele que desejam apenas uma complementação de renda o Workana é uma ferramenta fantástica que possibilita o encontro entre que deseja um perfil de serviço com as pessoas mais qualificadas para atendê-lo. O sistema garante o pagamento (que é feito antecipadamente) tão logo assim o contratante se declare satisfeito com o serviço executado. Para trabalhadores instalados em Home Offices e especializados em serviços virtuais esse mecanismo é indispensável. De redatores a programadores, todo o tipo de serviço que pode ser enviado como um arquivo é bem-vindo ao Workana.

- FIVERRS: Muito parecido com o Workana apenas com o detalhe de usar o valor de 5 US como bandeira de marketing. Embora esse valor seja apenas uma referência inicial para os serviços mais simples. Dificilmente um trabalho especializado terá esse valor.

- BLOGS: Saindo de moda aos poucos os blogs ainda atraem a atenção do público que prefere uma leitura mais aprofundada. Dessa forma é necessário manter um Blog para ser o destino das postagens, em redes sociais, para dar mais detalhes do que tem para oferecer aos futuros clientes.

REDES DE RECRUTAMENTO: Para aquele que o produto é o próprio profissional. São mecanismos que auxiliam empresas no contato com o mercado de oferta de mãos de obra. Hoje os departamentos de RH encurtam o caminho usando uma dessas ferramentas.

Sites como: Linkedin, Catho, Empregos.com.br, Manager, Infojobs, Vagas.com.br, Indeed, Vagasonline e Empregocerto (apenas como um pequeno exemplo) se proliferam na rede tornando a tarefa de distribuir currículos cada vez mais fácil para que está em busca de trabalho.

Como são absolutamente similares – com exceção do Likedin que tem a aparência de rede social – as dicas vão no sentido de auxiliar na apresentação do profissional.

- Aparência: fotos e gravações (alguns sites permitem uma apresentação em vídeo) devem ser feitos com o mesmo cuidado que o candidato teria se estivesse presencialmente em frente ao recrutador. Roupa, cabelo, barba devem ser bem preparados da mesma forma como a escolha do fundo que irá aparecer na filmagem.

- TEXTO DE APRESENTAÇÃO: Todo currículo deve ser objetivo e atualizado. O foco deve estar centrado naquilo que realmente traduz o que o profissional faz de melhor. Lembrando sempre que, nos dias atuais, a vaga do especialista é mais garantida do que a do generalista. Quem faz de tudo pode não fazer tudo muito bem. Foque no seu melhor e com o menos número de palavras possível.

- PRETENSÃO SALARIAL: Muitos sites preferem que o candidato deixe claro o seu universo de rendimento pretendidos. Para não estar fora da realidade, sempre faça uma busca na internet para saber o valor médio do mercado. Uma boa ferramenta para isso é o site: http://www.salariobr.com.br. Mas, lembre-se sempre: as grandes empresas sempre têm uma oferta e não deixarão de apresentar caso o valor solicitado, pelo trabalhador, seja diferente.

Assim, esse é um pequeno mapa que pode abrir algumas boas possibilidades. Não se deve temer o desconhecido mundo das redes e sistemas online. Mergulhar no oceano virtual pode se transformar em uma produtiva aventura.



domingo, 12 de maio de 2019

EM UMA NOITE DE SEXTA

EM UMA NOITE DE SEXTA



Por Prof. Dr. João Oliveira

Não eram 19h30 ainda e toca o interfone no apartamento 604:

- Alô? – Diz o proprietário do apartamento meio chateado por ter interrompido seu episódio da terceira temporada de Game of Thrones (Ramsay colocou um monte de mulheres suas seduzindo o Theon mas, parece que as intenções não são boas).

- Boa noite aqui é seu vizinho do apartamento 302. Deixa-me te fazer uma pergunta: é daí que estão cozinhando um arroz branco salpicado de hortelã e manjericão, com umas batatinhas gratinadas em rodelas com requeijão cremoso por cima com pedaços de Salmão, gratinados também, temperados com limão, sal e azeite?

- Não? Claro que não? De onde você tirou isso?

Antes de continuar devo dar mais algumas informações:

1 – O prédio está localizado em Ipanema – classe média alta da Zona Sul do Rio de Janeiro.

2 – Sexta feira é dia de dar uma saída para jantar fora.

3 – Quem está ligando do 302 é um chef de cozinha desempregado.

- Bom amigo, sou eu quem está fazendo esse jantar gourmet. – fala o Chef morador do 302 – Sou o Roger Fortes, chef de cozinha, e preparei hoje 30 jantares gourmet para os moradores desse prédio por apenas R$ 35,00 cada prato. Mas, quem solicitar dois pode levar por apenas R$ 60,00, Está finalizando agora, devo levar quantos para o seu apartamento? Chega aí no tempo de elevador do terceiro ao sexto...

Ocorre um silêncio com alguns segundos. Roger pensa que foi uma furada montar essa estratégia. 

Foi ideia da mulher dele usar uma abordagem sensorial para oferecer as quentinhas gourmets (como eles chamam até hoje). Sim, o risco de perder parte ou toda comida era grande, mas, eles tinham de tentar. As contas estavam vencendo e o dinheiro acabando.

O morador do 604 responde após dolorosos 30 segundos:

- Você aceita cartão?

A matemática dela tinha até uma certa lógica. Veja bem, seis apartamentos por andar em um prédio de 12 andares, são setenta e uma possibilidades. Pode ser até que 30 quentinhas sejam poucas para começar.

E foi exatamente o que aconteceu. Logo no primeiro dia eles tiveram de sair, ir no supermercado e entregar, em três apartamentos, quentinhas em seus próprios pratos. Não tinham se preparado para o sucesso e haviam comprados trintas quentinhas de papelão.

As pessoas adoraram e com o faturamento daquele final de semana pagaram o aluguel e a luz que estava para cortar. Começaram uma nova vida.

Essa história teve início em 2013 e, de lá para cá, muita coisa mudou na vida do casal. Além das duas (lindas) meninas que vieram se juntar a família, Roger arrumou um sócio, um cliente recorrente entre os mais de 200 que conquistou nos prédios próximos.

Virou empresa, restaurante no Shopping Leblon com 18 funcionários, mas, nunca abandonou a entrega de quentinhas gourmets nos finais de semana – sexta e sábados - hoje responsável por um faturamento de quase R$ 100.000,00 por mês.

- Roger? – perguntou o sócio – Vamos colocar as quentinhas todos os dias?

- Claro que não... se fizermos isso deixa de ser especial.

Fantástica história, não é? A esposa do Roger teve uma ideia que deu super certo. Mas, não foi só a ideia de elencar o sensorial das pessoas... era muito bom também. Caso contrário seria apenas uma venda e não uma jornada de sucesso.

Leu até aqui? Deu vontade de pedir uma quentinha dessas na próxima sexta? Ele agora leva vinho também se você optar pelo pacote premium.

Esse seria o exato momento do texto para eu colocar o link de contato com o Roger.

Entretanto, não posso fazer isso.

Roger, sua esposa, as quentinhas... nada disso existe. Eu criei apenas para demonstrar como é possível prender a atenção de uma pessoa para conduzir uma conversão (venda).

O que eu posso fazer é deixar o nosso contato de WhatsApp, pois, estamos preparando um treinamento de Neuromarketing para o segundo semestre no Rio de Janeiro – Copacabana - e São Paulo – Avenida Paulista.

Nesse treinamento vamos apresentar o que há de mais moderno nessa área para potencializar suas vendas presenciais e online. 

Ante de passar o contato, deixa eu te dizer como o Senhor Genival, vendedor ambulante de bebidas nas areias de Copacabana, usa o Neuromarketing sem ter a menor ideia do que seja. Dei umas dicas para ele e está funcionado melhor ainda.

Ele chega perto de um grupo de pessoas na praia, se senta no próprio isopor cheio de bebidas. Abre uma garrafinha de água mineral (a mesma o dia todo) e fala assim:

- Nossa senhora que calor! Só mesmo uma água gelada ou uma cerveja para quem gosta... nunca vi um dia assim tão seco... dói até a garganta da gente.

Toma um gole da água, olha para as pessoas e fala.

- Estou querendo ir embora mais cedo hoje, esse calor e o peso da mercadoria estão me matando. Vou baixar o preço de tudo aqui... quem quer água ou cerveja bem gelada aí... tenho de tudo...

Positivação de vendas? Ele tem 78 anos... só a ideia de ajudar um idoso a se livrar do pesa da mercadoria garante um faturamento de – nos dias quentes – R$ 500,00 !

Leu até aqui? Que bom, tenho certeza que nos encontraremos em sala de aula. Mande uma mensagem para +55 21 98085 0333  - Diga apenas na mensagem de contato: NEURO. Nossa equipe irá te colocar em um grupo de espera – sem interação nenhuma – até termos a agenda do segundo semestre.

Vender nem é o problema... fidelizar sim.

sábado, 30 de março de 2019

A MALDIÇÃO DO ESTÉTICO



TEXTO DISPONÍVEL APENAS PARA QUEM ESTÁ SEM A PULSEIRINHA VIP


Viver com base nas expectativas materiais deve ser, realmente, muito desgastante. O nível de energia utilizada para acompanhar o ambiente estético (Olá, Soren Kierkgaard!) com certeza leva a exaustão qualquer ser humano que viva em aquários.

Senão, vejamos, sempre existirá:

- Alguém mais jovem

- Mais bonito(a)

- Mais inteligente

- Mais rico(a)

- Mais (aparentemente) feliz

- Mais saudável

- Com mais likes

- Mais culto(a) ... (pera aí, acho que isso não conta).

Do que você, eu ou qualquer um de nós.

A concorrência é infinita e o tempo é o maior inimigo. Afinal tudo definha, envelhece, cai, adoece e morre.

Dessa forma, o sofrimento das pessoas reflexos é algo não mesurável na medida que, são suas próprias expectativas alimentando a ansiedade que têm. Uma cobra que morde o próprio rabo: deseja menos sofrer e esse desejo gera o sofrimento. Nada será perfeito por mais detalhamento que se imponha em busca do ideal de beleza ou qualidade.

Chama Platão no canto: na mente o ideal se manifesta – e apenas lá! No mundo concreto, das coisas feitas de pano e metal, essa tal percepção humana atrapalha tudo. A imaginação não se duplica como clone germinado. Falha, chove, borra, atrasa e a foto da self ficou fora de foco ainda por cima.

Nem mesmo as lágrimas da decepção tem o espetacular brilho alcançado pelas lentes que só aquele youtuber possui. Sua festa de aniversário foi fantástica, mas, não foi no castelo ao sul da França como a do mago.

Essas redes sociais... que dor! Não há tempo para acompanhar tudo e a miséria alheia jamais aparece nos sorrisos zigomáticos. Preso na aparência o corpo necessita de cuidados que custam monetário e tempo. Não se chega à conclusão óbvia que tempo não é dinheiro: tempo é vida. Gasta-se a vida perdendo tempo em busca de redes de aprisionamento do vento (Pablo Neruda a essa hora?).

Fato é que, a liberdade se limita a quebrar o espelho ou usar antolhos. Isso só vai depender da sua necessidade de aprovação. E antes que me esqueça, essa aprovação nunca é do outro... isso mesmo: é sua mesmo amigo(a).

Eu aprovo sua elevada autoestima que lhe liberta do checking social.

O que realmente importa (sem filosofia, por favor) só você – com os olhos fechados – é capaz de enxergar



Por João Oliveira  (Perdi minha pulseirinha no banheiro, desculpe)

sexta-feira, 1 de março de 2019

MORTE, VIDA E CONTINUIDADE




Por João Oliveira

- Não há o que temer se é a dor que lhe assusta.

Indra disse isso de costas para Darnak com suas mãos unidas atrás na clássica pose de general que sempre foi.

- Morrer dói com certeza, se não for uma dor física será uma tortura psicológica.

- Darnak, se recorda da dor que sentiu quando caiu do elefante na batalha em Vrindávana?

- Mas, eu não cai de nenhum elefante na batalha...

- Pode ser que tenha caído e não se recorda porque no tombo bateu com a cabeça isso apagou essa memória?

- Não sei...

- Dessa forma, então, pode ser a morte também. Não há dor sem lembrança.

Indra se virou e olhou nos olhos escuros de Darnak.

- Essa é uma conversa infrutífera. Não há nada nesse ponto de sua argumentação que possa alterar o que se dá no processo de transformação que todos irão se submeter um dia.

Darnak deixou a cabeça pender.

Ambos estavam no salão principal do palácio de Svarga no alto de Meru, uma das maiores montanhas do mundo. O assunto começou quando Indra convocou os nobres para enfrentarem, ao seu lado o asura Vritra que roubou toda água do mundo e tinha se transformado em um dragão gigantesco.

- Não é uma questão de temer a morte e sim de entender o processo – continuou Indra – Você teme, na verdade é perder as experiências corpóreas. Os prazeres e dores que o corpo oferta.

- Poderoso senhor... acho que temo é perder a consciência de quem sou.

- Você sabe quem é nesse momento?

- Sou Darnak, claro!

- Esse é o nome que seus ancestrais lhe deram.

- Sou seu capitão do exército montado!

- Esse é quem você se tornou.

- Sou esse que sente frio, fome, tem medo e coragem!

- Essas sãos as percepções do corpo.

- Então quem sou? Me diga senhor que tudo conhece.
Indra riu alto. Toda corte ouviu a gargalhada.

- Vou lhe explicar de um jeito que nunca mais irá esquecer. Todos os corpos físicos ou não, sencientes ou não, em todos os pontos do universo nesta e em todas as dimensões, são ligados da mesma forma que suas células da mente. Fios pequenos, quase invisíveis unem você a mim, aos asuras e as mais distantes estrelas de todas as galáxias.

Indra respirou fundo e continuou.

- O que acontece a uma lesma centenária no polo sul deste planeta interfere de alguma forma na velocidade de nossas vimanas, no calor do sol e na força dos ventos.

- Se eu morrer então irá faltar um pedaço disso, não é?

- Darnak, já ressuscitei milhares de homens caídos em campos de batalhas e, ao voltar, todos me disseram a mesma coisa.

- O que eles dizem sobre o mundo dos mortos?

- Eles se zangam comigo e dizem: - “Porque fez isso comigo, eu estava em paz!”
Darnak se assusta:

- O que isso significa?

- Darnak, ao morrer você não irá desaparecer, irá se tornar parte desta rede infinita e universal se tornando uno com tudo. Sem medo, sem fome, sem coragem... só conhecimento e paz.

- Não quero deixar de ser quem sou.

- Como poderia deixar de ser algo que nem sabe o que é?

- Então, porque existo nessa forma nesse momento?

- Porque é necessário.

A porta se abre e entra no salão Shachi, esposa de Indra:

- Meu amado é urgente que a solução seja encontrada. Recebi a informação que milhões padecem de sede.

- Estamos de saída Shachi, Darnak não irá comigo nesta batalha. Eu irei à frente empunhando Varja sobre Airâvata.

Darnak se levantou e gritou:

- Como ousa Indra? Sou seu servo mais leal e o único capaz de liderar as tropas de Svarga!

- Como ousa você pensar que pode ir a uma batalha temendo a morte. Pode um escriba escrever com medo que lhe falte tinta? Como um ferreiro constrói boas espadas temendo ser atingido pelas fagulhas? Existe algum pescador que se arrisca no mar sem saber nadar? Como ousa você vir lutar ao meu lado, sabendo que trago os mortos à vida, temendo passar por essa experiência corpórea?

- Cure meu medo senhor. – Se ajoelhou aos pés de Indra – Me diga: se vamos todos morrer porque nascemos?

Indra, sempre paciente com os humanos, se ajoelhou ao lado de Darnak.

- É uma oportunidade para aprendermos, evoluirmos, experimentarmos dor, alegria, frio e calor. É um momento para evoluirmos ou não. Os humanos podem se tornar apenas seres que vivem produzindo adrenocromo para os asuras por conta do seu medo da morte ou, quem sabe, se tornarem em vida seres que vibram altas frequências, conseguindo tocar a rede universal: extraindo música do ar.

- Me ensine a ser assim meu senhor...

- Acho que hoje tivemos nossa primeira lição. Levante-se vamos que a luta anseia por vidas e não há vida sem lutas.


Vocabulário pela ordem de aparição no texto:

Asura: mesmo que demônio

Vimanas: naves ou aviões

Varja: arma em forma de espada que gerava raios

Airâvata: elefante de guerra usado por Indra

Adrenocromo: tipo de composto químico produzido pelo medo.




segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

VALOR, VALORAÇÃO E VALORIZAÇÃO


- Alô? É o Doutor Gustavo? Poxa quer bom que consegui falar com o senhor. Sabe o que acontece, tenho um vizinho que precisa muito de ajuda. Ele está míope, quase cego mesmo, mas não quer se tratar. Gostaria de pedir ao senhor para dar uma passada aqui na casa dele para convencer o coitado que ele precisa de tratamento. Vou passar o endereço pelo WhatsApp.

- Oi, tudo bem senhor Alexander. Estou em busca de um bom pintor para fazer uns retratos meus e o senhor foi muito bem indicado. Gostaria que o senhor me fizesse um, pelo menos, para ver se gosto. Assim, como prova de seu talento sabe? Se ficar bonito penso em encomendar uns dois ou três.

- Professor Carlos, o Pedrinho está com uma enorme dificuldade na sua matéria. Posso levar ele na sua casa para o senhor explicar melhor o conteúdo que deu hoje em sala? Pode ser de noite para não atrapalhar o seu trabalho.

Provavelmente você deve ter achado, minimamente, impossível destas comunicações ocorrerem na vida real. Infelizmente elas ocorrem o tempo todo, na vida dos profissionais psicólogos.

Ocorre que, por motivos diversos, a maior parte da população não sabe exatamente o que este profissional de saúde mental faz e nem como ele é construído ao longo dos anos de sua formação.

Muita gente (muita mesmo) não consegue, ao menos, saber a diferença entre: psicanalista, psicólogo e psiquiatra. Pessoas de grande conhecimento em várias outras áreas, profissionais talentosos, desconhecem, inclusive, que a Psicologia é uma ciência. Para eles está mais no campo dos tratamentos holísticos ou alternativos. Nada contra nenhum dos dois, claro, apenas para ilustrar como o desconhecimento gera descrédito.

Não há valor!
Falta reconhecimento da importância desse profissional. Uma maior consideração e respeito pelo trabalho que o Psicólogo pratica todos os dias em diversas áreas da saúde e saber humano.

Sem pudor nenhum as pessoas perguntam se têm de pagar por uma sessão onde, na opinião delas, ocorreu só uma conversa.

Não existe valoração!

Muitos são, de fato, os profissionais que não sabem apresentar de forma adequada o seu próprio trabalho. Não conseguem determinar a qualidade de seu conhecimento técnico e, com isso, não podem imprimir no seu entorno, um real critério de respeito pela sua atuação como profissional diferenciado que é.

Falta Valorização!

Inexiste um trabalho de classe que eleve a autoestima desse profissional que atua, principalmente, auxiliando seus clientes/paciente nessa área. Falta conscientização de toda uma categoria de sua importância para que, finalmente, isso possa ser percebido por todos.

Não vai funcionar se apenas uns poucos trabalharem divulgando a Psicologia como profissão voltada para o bem-estar, qualidade de vida, saúde, longevidade e instrumento de pesquisa que auxilia no desenvolvimento no próprio sentido de ser humano.

Uma consulta com um psicólogo não é só uma conversa! Nosso trabalho envolve uma escuta ativa e diagnóstica para a escolha do melhor curso de tratamento. Se as pessoas não sabem o valor de um bom profissional, é porque desconhecem quanto poderá custar, na sua vida, um profissional ruim.



Por Prof. Dr. João Oliveira

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Hoje à noite...



"Quero que minha árvore seja feita de silêncios. 

Silêncios que façam intuir felicidade, contentamento, sorrisos sinceros.
Neste Natal não quero mandar cartões. 

Tenho medo de frases prontas. Elas representam obrigação sendo cumprida. 

Prefiro a gratuidade do gesto, o improviso do texto, o erro de grafia e o acerto do sentimento.
Natal quero descansar de meus inúmeros planos. 

Quero a simplicidade que me faça voltar às minhas origens. 

Não quero muitas luzes. Quero apenas o direito de encontrar o caminho do presépio para que eu não perca o menino Jesus de vista.
Quero um natal sem Papai Noel. 

Papai Noel faz muito barulho quando chega. Ele acorda o menino Jesus, o faz chorar assustado. Os pastores não. Eles chegam silenciosos. São discretos e não incomodam...

Os presentes que trazem nos recordam a divindade do menino que nasceu. 

São presentes que nos reúnem em torno de uma felicidade única.


Quero dividir com Maria os cuidados com o pequeno menino. Quero cuidar dele por ela. Enquanto eu cuido dele, ela pode descansar um pouquinho ao lado de José.


Descubram a beleza que as dispersões deste tempo insistem em esconder. Fechem as suas chaminés. 

Visita que verdadeiramente vale à pena chega é pela porta da frente.
Na noite de Natal fujam dos tumultos e dos barulhos. 

Descubram a felicidade silenciosa. Ela é discreta, mas existe! Eu lhes garanto!Não tenham a ilusão de que seu Natal será triste porque será pobre. 

Há mais beleza na pobreza verdadeira e assumida que na riqueza disfarçada e incoerente.


E não se surpreendam, se com isso, a sua noite de Natal tornar-se inesquecível. "



Padre Fábio de Melo

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

FELIZ NATAL?



Se você gosta do Natal, não leia esse texto. Ele não vai trazer nenhuma daquelas lições de moral, desejos de felicidades, investimento na autoestima... nada disso. Até muito pelo contrário, é capaz deste texto tirar um pouco do seu sorriso natalino.

Fui uma daquelas crianças que ficavam com os olhos brilhantes de desejo em frente a vitrines coloridas nas lojas no centro da cidade e, com os olhos brilhando com lágrimas de decepção ao não ser contemplado pelo bom velhinho no dia 25 de dezembro.

Tive uma infância simples. Isso é suficiente para que entendam.

Hoje, com a mídia entrando pelos buracos dos olhos de quem tem (ao menos) um telefone celular, o desejo de posse deve ser muito mais presente nas crianças do que há 50 anos.

Para saber das novidades tínhamos de ir ao centro. O que passava na televisão em preto e branco (só tínhamos a TV TUPI na época) era irreal: morávamos em Campos dos Goytacazes e a tv só falava do Rio de Janeiro. Outro mundo sabe? Outras coisas que sabíamos existir e que jamais teríamos acesso.

Assim, as ruas do centro e suas lojas eram as atrações nos natais. Nada de shoppings ou passeatas da Coca Cola. Muito simples e cruel. Quem nada tinha, nada teria: ponto final.

Passávamos em frente a uma loja numa véspera de Natal no começo dos anos 70. Essa exibia uma TV COLORIDA – isso mesmo – as cores haviam chegado às Tvs em 1972 (Em Campos demorou mais um pouquinho). 

Paramos, eu e meu querido falecido pai, em frente à loja Distribuidora Mercantil  - Rua Santos Dumont – que tinha um desses mágicos aparelhos ligados.

Meus olhos brilharam!

De fato, sempre fui um autêntico vidiota: Capitão Aza, Furação, Tia Arlete... sei lá quantos heróis no espaço ou nas profundezas dos territórios demarcados pelo Conde Arnold Saknussemm. A televisão completava o vazio de uma era sem lazer em uma cidade sem opções e, mesmo se tivesse, o parco monetário não daria para usufruir de qualquer coisa.

Pedi ao meu pai de Natal uma televisão colorida. Papai olhou o preço, abaixou a cabeça e me disse com a voz lentificada:

- Filho... acho que nós nunca poderemos ter uma televisão dessas. É muito cara... isso é mesmo só para gente muito rica. Não é coisa para pessoas como nós... vou comprar um papel transparente com três cores que vendem no mercado municipal, vai ficar igualzinha a uma tv dessas. Garanto!

Tinha lá meus 11 anos e não me lembro, em nenhum outro momento em minha vida, de ter tido tamanha tristeza como naquela noite. Nem mesmo nos momentos mais tristes que enfrentei – não foram poucos – tive um sofrimento tamanho como aquele proferido pelo meu pai:

- Nós nunca vamos ter uma TV colorida.

Cai no sono chorando silenciosamente na poltrona da sala onde dormia na rua Formosa, número 100, casa 1. Uma vila de casas que existe até hoje. Que noite quente e sofrida. O suor grudava minha pele na napa que cobria o velho sofá.

Nessa noite tive um sonho “numinoso” como nos diz Jung. Sonhei com Jesus Cristo no quintal lá de casa. Jesus, com seus trajes típicos, olhava de frente para mim com sua roupa toda ensanguentada – parecia que tinha limpado os punhos perfurados no camisolão branco. Sorria alegremente, indiferente ao meu sofrimento:

- Jesus???? O que você está fazendo no meu quintal????

- Vim te visitar Joaozinho ...  está triste?

- Claro que estou! Jesus, você é tão bom para todo mundo... me dá uma tv em cores nesse Natal?

Tem um detalhe importante aqui: o sonho era tremendamente colorido. O quintal lá casa estava repleto de flores (coisa que nunca teve) e cada uma era de uma cor diferente. Cada uma mais brilhante que a outra.

Jesus se abaixou para pegar uma flor e rindo disse:

- Que bobagem... menino João, vai chegar o dia que você terá tantas tvs coloridas em sua casa que vai abrir um armário assim (fez o gesto com as mãos de quem abre duas portas ao mesmo tempo e uma cara de espanto) e vai dizer: - Não sabia que tinha essa aqui.

Ele riu muito e eu ri também no sonho.

- Nesse dia – completou o Senhor em meu sonho profético – Você vai se lembrar de mim e que está aqui “apenas” a meu serviço.

Que bom que não tem uma câmera transmitindo enquanto escrevo nesse momento. Não há como não me emocionar todas as vezes que relato esse sonho. Provavelmente foi o principal motivo de minha busca incessante pelos mistérios dos sonhos, cérebro, fé.... que me levou (me trouxe) até onde estou hoje, mesmo que não seja nada grandioso o resultado.

Foram necessários uns 35 anos de minha vida, após esse dia, para que o sonho voltasse à minha mente.

Estávamos saindo para a praia quando pedi ajuda ao meu filho Victor Flávio para pegar a tv da sala. Na casa de praia não tinha uma tv. Victor argumentou que a televisão era muito pesada e seria melhor que levássemos a Tv que ele usava para jogar vídeo games.

Ele apontou para o armário em cima da cama. Subi na cama, abri as portas do armário e me deparei com um aparelho de tv pequeno que não me lembrava de ter comprado. Fiquei olhando tentando lembrar te onde tinha vindo aquele aparelho até que a lembrança do sonho de criança me recordou do aviso: - Você está aqui apenas a meu serviço.

Não peguei a tv, sentei na cama e senti a epifania ocorrendo em todo o corpo, principalmente na mente.

Acredito que todos estamos aqui a serviço.

Todos!

Uns prestam um bom serviço. Outros não sabem que estão em horário de trabalho. Mas, creio eu, a grande maioria nem acredita que existe uma força maior do que belos presentes natalinos. Coisas que compramos, usamos e descartamos após algum tempo.

O verdadeiro sentido do Natal se perdeu há muito tempo. Não é só a mídia que é culpada. São as pessoas que não sente seguranças em ser quem de fato são e se apoiam em muletas douradas, festas exibicionistas, perfumes caros, brinquedos que serão esquecidos... em coisas, coisas, coisas e mais coisas.

Não é isso.

Nada do que está fora de nós poderá nos completar. Está dentro: na essência do ser.

Óbvio que isso não é nenhuma novidade. Você sabe disso: chegou até aqui no texto. Outra pessoa teria abandonado a leitura no primeiro indício de lembrança do compromisso que temos: estamos aqui a trabalho.

Então, o que iremos produzir de significativo nesse período que todos comem, bebem, trocam presentes ou se entristecem por não terem nada disso?

Você não é assim, eu sei! O patrão não cobra nossa produção. Ele nos deu a capacidade de autoavaliação.

Na verdade, ele conta com isso.




Por João Oliveira, hoje com 56 anos (2018) acreditando ter bons serviços, silenciosamente, prestados.