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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Inteligência X Atitude





Por João Oliveira

               Existe uma função em nossa mente conhecida como prospecção. Trata-se da capacidade de nos deslocarmos, em nossa mente, ao futuro usando a imaginação para projetarmos como será o resultado de alguma ação que estamos praticando no momento presente. Nada complicado, fazemos isso a todo instante, até mesmo para atravessar uma rua é necessário fazermos uma prospecção – rápida – para calcular o tempo de travessia e evitar um atropelamento.

               Ocorre que as pessoas possuem diferentes tipos de inteligência diferindo, umas das outras, em alguns pontos focais e, pela maior ou menor capacidade de elaborar o futuro em uma função que aqui chamamos de “experimentação antecipada”. Quando uma pessoa, com grande capacidade de criar, em sua mente, um cenário repleto de detalhes, elabora um resultado futuro ela pode vivenciar este momento como se fosse real e, desta forma, não necessitar do resultado prático material em sua vida.

               A princípio isso é uma boa coisa, mas também guarda algumas desvantagens. Quando diante de um projeto a ser executado este perfil de pessoa pode criar o cenário em sua mente, fazer uma experimentação antecipada e, tendo sido (ou não) uma boa vivência, pode, simplesmente, desistir do empenho por já estar satisfeito com o resultado obtido com sua prospecção. 

               Isso difere das pessoas que já não possuem esta capacidade de construírem sensações tão perfeitas em sua mente quando imaginam um futuro. Elas têm de criar no mundo real para terem uma percepção do fato concreto. Assim, pode-se ter uma produção menor de um dito bem dotado de capacidade intelectiva do que de alguém com uma menor capacidade criativa. Resumindo, é possível que um erudito crie em sua mente e se satisfaça com isto. Dessa forma, grandes possibilidades ficam apenas existindo dentro da caixa craniana dele.

               Por isso, podemos perceber algumas pessoas com poucos dotes intelectivos com resultados fantásticos no mundo material. Como dispõe de menor capacidade de experimentação antecipada, esse indivíduo vai realizando as coisas sem pensar muito nos resultados futuros. De quando em vez a sequência de atos acaba dando um excelente resultado, é quando encontramos alguém, sem grandes saberes acadêmicos, bem sucedido em seus empreendimentos e, em contrapartida, podemos encontrar famosos intelectuais que não saem da mesa do bar com suas ideias fantásticas.

               Por favor, não comece com aferições e preconceitos fazendo comparações com pessoas que você convive ou consigo próprio. Lembre-se que isso é apenas um texto para reflexão: até que ponto deixamos de fazer as coisas por já estarmos satisfeitos com o gozo mental?

               Assim o mundo é movido por pessoas inscientes que, sem muito prospectar, vão construindo o que primeiro passa pela cabeça, sem elaborados constructos imateriais. Trocando em miúdos: às vezes pensar demais atrapalha a produção.
              

Neurociência para produtividade



Por João Oliveira

A produtividade em uma instituição pode ser prejudicada pelo perfil do ambiente de trabalho, graças à constância perceptiva e a economia neural. Dois grandes problemas do cérebro que tenta, a todo custo, economizar recursos. Um ambiente monótono, sem muitas alterações nos estímulos para os colaboradores, criará uma limitação na capacidade intelectual. No entanto, o contrário também pode ser um problema, pois muitos estímulos acabam por esgotar a capacidade da rápida tomada de decisão.

A constância perceptiva irá excluir informações que são constantes e inalteradas e, assim, documentos podem “desaparecer” em cima da mesa e a economia neural vai, aos poucos, reduzindo a velocidade de raciocínio, mantendo, apenas, as sinapses mais usadas. 

Por outro lado, muitas informações acabam estressando o sujeito, que precisa escolher as mais importantes para o lidar consciente. Cada tomada de decisão tem um custo calórico e o estresse acabará por surgir e limitar, de forma bastante presente, a velocidade de raciocínio.

O segredo reside em dar ao nosso cérebro a possibilidade de estar sempre renovando suas sinapses neurais. Assim, mantemos a mente ativa e sempre desperta, com uma maior velocidade de raciocínio e capacidade de retenção de conteúdo ampliada.

Para isto toda uma abordagem, chamada de Neuróbica, foi desenvolvida e pode, facilmente, ser incorporada no local de trabalho, como exercícios laborais diários. Várias empresas estão apostando nesta ideia e já distribuem kits de jogos mentais para seus funcionários. Outras, a cada dois meses, solicitam aos colaboradores que remodelem seu local de trabalho, retirando tudo e colocando de volta em novas posições ou com novos elementos, que possam ser adicionados. Da mesma forma, deve existir rodízio de mesas para que nenhuma pessoa fique estagnada, por anos, em um único canto.

Apresentamos cinco exemplos de como os exercícios de Neuróbica são simples e fáceis de serem feitos, sem alterar muito a rotina estabelecida pela empresa. O gestor pode imprimir uma pequena cartilha ou enviar e-mails com sugestões diárias com dicas de como manter o cérebro sempre alerta.

1- Imagens Geométricas - feche os olhos e imagine uma pirâmide. Como você sabe, a pirâmide tem cinco lados, na verdade quatro lados e uma base. Agora, numere os lados da pirâmide na sua mente e faça-a girar bem devagar. Imagine-se de pé, em frente ao primeiro lado onde está escrito o número um (1) e, bem lentamente, vá girando a pirâmide em sua mente, permitindo que surja a próxima face com seu número estampado (2), e assim por diante. Depois que se acostumar com isto, faça o giro de ponta cabeça para ver o número cinco que está na base da pirâmide. Quando a pirâmide se tornar fácil, pegue um dado (seis lados) de brinquedo e tente fazer o mesmo mantendo a disposição numérica igual ao modelo real que tem em mãos.

2- Novo Caminho - Faça um novo caminho para ir para o trabalho ou voltar para a casa. O cérebro adora novidades. Nos dias de hoje este tipo de exercício é bom até mesmo para a segurança pessoal. Mas a intenção é dar à mente novas paisagens e, com isto, novos estímulos.

3 - Mude o relógio de braço -  Use o relógio de pulso no braço direito, ou no braço esquerdo, se for canhoto. Alterne o braço durante os dias da semana, não permita que seja criado um hábito de olhar o braço (vazio) em busca das horas – isto já ocorreu? – pois bem, com esta dinâmica seu cérebro ficará mais atento a pequenas coisas. Da mesma forma, você pode alterar o lado do mouse do seu computador.

4 - Estimule o paladar, coma coisas diferentes – peça algo diferente no restaurante na hora do almoço, se for um ambiente onde a comida esteja visível (restaurantes a quilo) escolha as de aparência mais agradável aos seus olhos. Permita que o sentido gustativo explore novos sabores. Não se prenda a comer a mesma coisa todo dia. Dê aos seus sentidos (paladar e olfato) a possibilidade de explorarem novos estímulos.

5 - Decore uma palavra nova por dia – do nosso idioma e de outro. Agora tente, aos poucos, introduzi-la em suas conversas de forma adequada. Inteligência verbal vem do conteúdo latente, ou seja, existem signos que podem ser usados. Mas, para que isto ocorra eles devem, primeiro, ser colocados na memória.

Estes exemplos foram retirados do nosso livro “Ativando Seu Cérebro Para Provas e Concursos - 100 técnicas para um cérebro melhor” (Editora Wak-2012).

A SÍNDROME




 Por João Oliveira

               Fábio dirigia pelo entorno da Lagoa, trânsito intenso, pois todos diminuíam a velocidade para ver a árvore ou para procurar uma vaga. Pensava ele na incongruência do setor de trânsito da cidade, proibir estacionamento em volta da lagoa justamente na época em que todo mundo que ir ver a árvore de Natal.

               Sem pensar, em ato súbito para o carro em frente a um prédio, seu táxi estava livre e seria muito bom pegar algum passageiro por aqui já que o congestionamento iria lhe consumir muitos minutos. Vê que surge uma mulher belíssima, bem arrumada e que, ainda de longe, nas escadas do prédio, lhe faz sinal de modo sorridente.

               Ela entra no carro.

- Para onde senhora?

- Segue em direção a Barra, por favor, quando chegar perto lhe explico melhor onde quero ir.

               A conversa começou imediatamente.

- Trânsito ruim hoje não é? – disse ela.

- Enquanto a árvore de Natal estiver aí, até o começo de janeiro, vai ser assim. Todo mundo que ver a árvore da lagoa Rodrigo de Freitas.

- Que bom! – dispara ela -  Pelo menos estas pessoas estão com saúde e podem ir onde quiserem não é?

- Engraçado a senhora falar isto. – fala triste o Fábio – Minha filha é muito doente e agora mesmo me lembrei de que tenho de comprar alguns remédios para ela.

- O que sua filha tem?

- Um tipo de Leucemia grave que já não permite intervenções tradicionais. Ela já passou por tudo nos hospitais e agora está em casa, esperando a hora de partir. – Sua voz lentificou, com o aspecto maior da tristeza.

- Espere um momento – diz a mulher ansiosa – tenho aqui comigo alguns remédios que foram comprados justamente para um quadro como este. Veja aqui! – falando isto entregou uma bolsa ao motorista.

               Ele encosta o carro, pega a bolsa de remédios e vê o inacreditável, a exata receita que tem para comprar está toda ali.

- A senhora esta me dando estes remédios?

- Sim! Claro! A pessoa que iria usar estes medicamentos não precisa mais. Pode ficar e levar para sua filha...

- Muito obrigado! Não sei o que posso fazer em retribuição a tal ato...

- Bem – disse ela com um largo sorriso no rosto – Sou uma mulher muito sozinha.

               Algo ocorreu naquele instante. Fábio encontrou caminho entre as poltronas da frente para um beijo apaixonado. O sabor daquele beijo tinha algo de calma e serenidade ao mesmo tempo em que era quente e estimulante. Deste instante até a saída do motel não houve muito o que pensar. Simplesmente aconteceu.

               A mente de Fábio girava, pois, isto nunca havia ocorrido antes. Ele sabia que era casado, mas, como mágica, não conseguia se lembrar de sua esposa. Apenas a cama de sua filha doente eram as únicas lembranças de seu casamento.

- A senhora me desculpe, não sei o que aconteceu...

- Márcia, meu nome é Márcia.

- Engraçado – disse ela – é o mesmo nome da minha esposa. Mas, não sei porque não consigo me lembrar dela.

- Fábio...

- Como sabe meu nome?

- Fábio, volte para a Lagoa e me deixe em casa. Por favor.

- Mas, como a senhora sabe meu nome?

- Fábio, meu amor, você tem síndrome de Korsakoff. Quando nossa filha morreu, há cinco anos, você saiu em disparada e acabou batendo com o carro. Um trauma craniano, dizem os médicos, foi o responsável por isto.

- Como assim? Do que você está falando? – Fábio dirigia com o olhar espantando como se o mundo estivesse desabando sobre ele.

- Não se preocupe. Volte para casa de sua mãe, é lá que você mora nestes últimos anos. Devolve-me a bolsa de remédios, pois vou precisar dela na semana que vem. Todas as quintas você aparece lá no prédio quase sempre na mesma hora. Eu estou sempre te esperando. Funciona assim nos últimos dois anos, sempre do mesmo jeito.

- Mas, mas... o que vai  ser de mim agora?

- Nada, você vai sofrer apenas até dormir. Eu vivo com isto todos os dias de minha vida. Os médicos falam que, a qualquer momento, você pode recobrar a memória basta manter a rotina e não tentar forçar seu ambiente de conforto. Como não se lembra de mim é melhor acordar sempre na casa de sua mãe.

               Fábio deixou Márcia, se esqueceu dela, voltou a se encontrar, amar e novamente esquecer. Assim como nós em tantas vidas, uma após a outra.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Sobre o textos e pequenos haikais

Não escrevo de forma pessoal. São palavras agrupadas que podem (ou não) causar impacto emocional em que lê. Portando, antes de postar algum comentário, verifique o que de você está sendo exposto publicamente.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

ACIDENTE


                    
 
Por João Oliveira

 
                    Nos últimos dias o número de acidentes nas estradas do estado do Rio de Janeiro aumentou consideravelmente e, devido ao final de ano e a sequência de festas comemorativas como Natal e Ano Novo, este número pode ser ainda maior com ainda mais vítimas fatais para tristeza de todos nós.

               A BR 101, que corta o estado, é conhecida como a Estrada da Morte, principalmente o trecho entre a cidade do Rio de Janeiro e  Campos dos Goytacazes, no norte do estado, na divisa com o Espírito Santo. Neste trecho, posso me colocar como exemplo, as perdas são muitas e, posso afirmar sem medo de errar, não há uma só família em Campos que não tenha um parente ou amigo que se acidentou ou perdeu a vida nesta estrada. De minha parte: a morte de um irmão, um sobrinho afilhado querido e, mais do que posso contar com os dedos das mãos,  pessoas com quem tive relacionamento de amizade.

               O que ocorre? Como podemos evitar ou tentar minimizar as possibilidades de uma tragédia ao volante?

               Não vamos colocar a culpa nas curvas ou na falta de manutenção, da mesma forma que não podemos atribuir toda responsabilidade ao motorista. Apenas vamos focar nos pontos que podemos alterar: nós mesmos.

               Há algum tempo, numa aula de Hipnose, um aluno que é médico socorrista na BR 101, me contou um fato trágico e interessante. Na saída do antigo Posto Flecha (Km 80) um motociclista comentou com o outro um pouco antes de pegar a rodovia como o som do motor de sua moto estava maravilhoso. Olhou para os dois lados e saiu, para colidir de frente, com uma Scania que estava na direção contrária a poucos metros. Como ele não viu um caminhão imenso vindo em sua direção? Como ele se lançou, de frente, sem dúvida alguma, direto para a morte?

               A explicação mais simples e perturbadora é que grande parte dos seus recursos cognitivos estavam voltados para a percepção do som da moto e, com isto, a sua visão criou uma alucinação negativa (subtração de objeto real) apresentando em sua mente uma pista limpa sem obstáculos. Desta forma, acredite, o ditado “ver para crer” perde todo sentido.

               Nossa visão não é física, não funciona como uma máquina fotográfica, embora seja o melhor exemplo prático que a ciência pode ofertar para facilitar o entendimento. A visão depende de muitos fatores que envolvem experiências anteriores, aspectos das lembranças emocionais e, sobretudo, capacidade de processamento no momento em que se observa alguma coisa.

               Portanto, algumas práticas ao volante podem estar prejudicando a interpretação das informações visuais que temos e diminuindo a resposta comportamental. Acima de 40 quilômetros por hora o risco de vida já existe, caso haja um acidente, e certos cuidados já devem ser tomados.  Pode parecer absurdo, mas eu não ouço músicas quando dirijo. Ocorre que sei da minha condição de ter uma preferência sensorial auditiva (na verdade sou muito auditivo) assim sendo, ouvir consome muito da minha capacidade de percepção do externo. Caso você seja assim – seus pensamentos conseguem abafar o que as pessoas estão te dizendo – comece a ter cautela neste aspecto. 

               Outras distrações podem prejudicar a atenção plena ao volante. Na lista podemos falar do celular e até mesmo do GPS, no entanto, acredite, o carona pode ser o elemento mais distrator dentro de um veículo em movimento. Caso contrário, não existira aquela famosa plaquinha nos ônibus : “Fale somente o indispensável ao motorista” . 

               O fator emocional também deve ser considerado. Após o 11 de setembro de 2001 o número de acidentes de carro nos EUA aumentou de forma alarmante, em parte por que a população temia viajar de avião e isto colocou milhares de carros extras nas rodovias e, em parte, analisam os especialistas, porque a população estava extremamente tensa com os atentados.

               Assim, mente tranquila e foco de atenção total ao volante, sem elementos distratores no veículo, podem trazer mais segurança e menor possibilidade da ocorrência da famosa “falha humana” que é mais comum do que podemos supor.

               Desejo que você apenas pense sobre este texto, afinal, um pequeno detalhe em alta velocidade pode fazer a diferença entre a vida e o término dela.