Por Prof. Msc. João Oliveira
Quando
olhou para o sofá percebeu que o corpo estava do lado esquerdo e que, só não
havia tombado ao chão, por ter ficado escorado no braço de veludo muito mais
alto que os normais. O prato de comida, na mesa de centro em frente a televisão,
revelava que ele não havia terminado a refeição, estava pela metade. Apenas um
orifício de entrada do projétil, do lado direito da têmpora, sem a saída
visível, isto regulava com o perfil de uma bala de pequeno calibre:
possivelmente ainda dentro da cabeça da vítima.
-
“O senhor viu que a arma está no sofá, do lado do corpo?” – disse o policial
–“Nós não mexemos em nada. Está no mesmo lugar, próximo da mão direita dele.
Como a arma é pequena não houve muito coice e caiu aí mesmo perto do corpo.”
-“Claro,
claro...” – O investigador continuou andando pela casa. Na cozinha americana
encontrou um prato no escorredor junto a talheres limpos. Voltou ao local do
corpo e agora olhou com mais cautela o prato que estava sobre a pequena mesa em
frente ao provável suicida.
-
“Estranho, quem planeja cometer suicídio não prepara um jantar...” Falou
sozinho.
-
“Precisamos fechar as informações.” – falou apressado outro policial – “Fechamos
com suicídio?”
-
“Não se trata disto, temos um caso de homicídio aqui. Mas podemos encontrar o
principal suspeito sem sairmos desse andar.” – sorriu de forma estranha o
investigador.
-“Como
você pode afirmar isto sem ao menos termos um papiloscopista aqui conosco? Você
agora vê digitais com seu olho biônico?” – brincou outro policial que também
acompanhava o desenrolar da cena.
-“Não
é isto, veja aqui: a vítima deixou a comida do lado direito do prato e os dois
talheres estão do lado esquerdo, isto indica que ele era canhoto. Assim, ele
não poderia ter atirado com na têmpora direita.” – continuou – “Veja, o lado do
rosto esquerdo dele é maior que o direito, isto só reforça esta possibilidade.
E mais, o assassino não está longe.”
-“E
como você pode saber disto?” – perguntou o mesmo policial.
-“A
pessoa que atirou nele estava jantando aqui e, após o tiro, para ocultar seu
rastro, teve tempo de lavar o prato que comeu e os talheres, que estão secando
na pia da cozinha.” – e completou – “Só uma pessoa com facilidade total de
acesso a esse apartamento teria calma e tempo para fazer isso sem dificuldade.
Como o porteiro afirma que ninguém estranho passou pela portaria esta noite ele
só pode estar nesse prédio e, muito provavelmente, nesse mesmo andar.”
-
“Só falta você saber também o motivo...”
-
“Crime passional! Foi uma mulher!”
-“Como????”
– falou espantado o policial
-
“Cheiro o prato que está secando, a pessoa usou um desinfetante de limão. Você
vê algum vidro aqui?” – mexendo na prateleira da cozinha – “Ache o recipiente
deste desinfetante que achará a assassina. Nenhum homem teria este cuidado,
este tipo de detergente é especial para não causar danos às mãos. É algo muito
refinado e caro!”
-
“Interessante, como é o nome desta técnica que o senhor usa para analisar cenas
de crimes?”
-
“Análise Comportamental amigo, o homem sempre se expõem, mais do que deseja,
pelo seu modo de agir. Não há segredos quando você sabe onde olhar.”
Naquela
noite uma série de entrevista revelou que uma das moradoras havia abandonado a
cidade, tornando-se assim a suspeita número um do crime. Uma vistoria
autorizada em seu apartamento revelou que ela realmente tinha um estoque de
detergente de limão na cozinha e que, pelos e-mails descobertos em seu
computador, mantinha um secreto romance com a vítima. O caso estava
praticamente encerrado.