Por Prof. Msc. João Oliveira
O
principio básico da democracia é que todos têm os mesmos direitos e, solicitada
a decisão da maioria, o rumo deve ser alterado. Isto realmente é válido e
funciona em uma instituição onde a produção é foco principal?
Exemplificando:
Uma tribo indígena estava sofrendo de um grande mal, uma doença que atingia as
crianças e, em poucos dias, elas morriam com horrendas pústulas por todo o
corpo. Um médico da cidade foi chamado por uma das mães preocupada com o
destino do seu filho: ele ainda não havia demonstrado nenhum sinal da doença,
mas era previsível que, em algum tempo, pudesse manifestar a mesma fatalidade.
O
médico, após um curto exame dos doentes, descobriu como imunizar todas as
crianças que ainda não haviam manifestado os sintomas: uma vacina!
Imediatamente ele mobiliza as mulheres da aldeia para que tragam seus filhos,
pois o material para ser aplicado já estava em suas mãos.
Para
a surpresa de todos, o pajé se manifesta contrário e argumenta, com sua
autoridade mística, que todas as pessoas que fossem furadas na pele pelo homem
branco não seriam aceitas no reino pós vida e ficariam vagando, como almas
perdidas, pela floresta sem rumo ou amparo, na chuva e no sol por toda a
eternidade. Já aqueles que mantivessem sua fé nos trabalhos religiosos poderiam
ser beneficiados com a cura do filho. Dito isto o pavor tomou conta de todos
que se afastaram do médico. No entanto uma ou duas mães gostariam de vacinar
seus filhos mesmo assim. O que fazer então?
Líder
da tribo, o cacique, chamou todos ao centro da aldeia para uma votação direta:
os que desejassem vacinar seus filhos deveriam ir para o lado direito da praça
central e os que fossem contra tal ato para o esquerdo. Foi uma esmagadora
vitória contra a vacina e o médico teve de se afastar sem aplicar uma só dose.
Aquela geração foi toda perdida, nenhuma criança escapou da morte e, em apenas
três meses, as mães lamentavam não terem se posicionado contra o pajé.
Houve
uma votação, ganhou a maioria! Então, isto é exercício pleno da democracia para
o melhor desempenho do grupo. Mas o resultado não foi o melhor possível. Onde
está o erro? No
nível de informação e distribuição de responsabilidades.
Não
se pode querer que todos de uma empresa tenham voz ativa no direcionamento da
instituição como um todo. Pois, possuem diferentes formações com conhecimentos
restritos a uma parcela da estrutura onde estão inseridos. Para decisões
complexas, de ordem global, é necessário que o grupo seja uniforme em conteúdo
ou um profissional especializado em gestão, que reúna as características do
Pajé, seja capaz de direcionar a todos com seu carisma e autoridade, o que
também não é garantia do melhor resultado.
Errado
é tentar desfazer a crença na democracia. Porém, ela só funciona bem quando
todos estão em consonância com as diretrizes da empresa e munidos de toda a
informação possível, não só da própria instituição como também do mercado
coorporativo. Ouvir os colaboradores e analisar suas ideias pode economizar
muitas etapas no crescimento, mas em alguns momentos o que a maioria quer pode acabar
sendo ruim para todos. Desta forma pode ser um erro querer implantar uma
atitude de relacionamento político seguindo a máxima de transparência nas
resoluções.
Claro
que a rigidez vertical também é falha e causa prejuízos quando encontra
resistência nas bases onde realmente ocorre a produção, distribuição e (pior)
relacionamento com os clientes. O sistema mais funcional é o multigerenciamento
por células, ou seja: iguais se resolvem em seus núcleos. Uma instituição
orgânica que permite flexibilidade operacional tende a dar respostas mais
rápidas ao mercado com menor esforço gerencial. No caso da aldeia do exemplo
dado, pelo menos alguns dos curumins seriam salvos da morte certa e parte
daquela geração seria preservada. Isto, se a aldeia fosse divida em células
autogerenciáveis.
Simples
e descomplicado: os grupos de trabalho se tornam responsáveis pelo processo de gerenciamento da linha de
produção, de um bem ou serviço. São eles os senhores que ditam o direcionamento
em busca das melhores oportunidades de clientes internos ou externos, fazendo
as devidas correções de rumo com a possibilidade de alteração de rota quando
necessário for.
Com
certeza os manuais de conduta ética desaprovam qualquer pensamento que vai
contra o valor democrático. Isto por que, provavelmente, estes valores não
foram escritos por gestores e sim por ideólogos sem experiência prática nos
meios de produção moderna. Na verdade é uma questão de adaptação ao mercado e a
velocidade em que isto deve ocorrer para poder dar certo e gerar retorno
suficiente à instituição.
Pode
ser que hoje o gestor maior esteja em uma posição onde o campo de visão não
permite ver o vale completo, mas se persistir na escalada poderá, em algum
momento, olhar além dos verdes campos onde, nem sempre, existe um arco-íris.
Por isto, o melhor que pode fazer é distribuir binóculos ao invés de
microscópios aos seus colaboradores.
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