Por João Oliveira
Nos últimos dias o número de
acidentes nas estradas do estado do Rio de Janeiro aumentou consideravelmente
e, devido ao final de ano e a sequência de festas comemorativas como Natal e
Ano Novo, este número pode ser ainda maior com ainda mais vítimas fatais para
tristeza de todos nós.
A
BR 101, que corta o estado, é conhecida como a Estrada da Morte, principalmente
o trecho entre a cidade do Rio de Janeiro e
Campos dos Goytacazes, no norte do estado, na divisa com o Espírito
Santo. Neste trecho, posso me colocar como exemplo, as perdas são muitas e,
posso afirmar sem medo de errar, não há uma só família em Campos que não tenha
um parente ou amigo que se acidentou ou perdeu a vida nesta estrada. De minha
parte: a morte de um irmão, um sobrinho afilhado querido e, mais do que posso
contar com os dedos das mãos, pessoas
com quem tive relacionamento de amizade.
O
que ocorre? Como podemos evitar ou tentar minimizar as possibilidades de uma
tragédia ao volante?
Não
vamos colocar a culpa nas curvas ou na falta de manutenção, da mesma forma que
não podemos atribuir toda responsabilidade ao motorista. Apenas vamos focar nos
pontos que podemos alterar: nós mesmos.
Há
algum tempo, numa aula de Hipnose, um aluno que é médico socorrista na BR 101,
me contou um fato trágico e interessante. Na saída do antigo Posto Flecha (Km
80) um motociclista comentou com o outro um pouco antes de pegar a rodovia como
o som do motor de sua moto estava maravilhoso. Olhou para os dois lados e saiu,
para colidir de frente, com uma Scania que estava na direção contrária a poucos
metros. Como ele não viu um caminhão imenso vindo em sua direção? Como ele se
lançou, de frente, sem dúvida alguma, direto para a morte?
A
explicação mais simples e perturbadora é que grande parte dos seus recursos
cognitivos estavam voltados para a percepção do som da moto e, com isto, a sua
visão criou uma alucinação negativa (subtração de objeto real) apresentando em
sua mente uma pista limpa sem obstáculos. Desta forma, acredite, o ditado “ver
para crer” perde todo sentido.
Nossa
visão não é física, não funciona como uma máquina fotográfica, embora seja o
melhor exemplo prático que a ciência pode ofertar para facilitar o
entendimento. A visão depende de muitos fatores que envolvem experiências anteriores,
aspectos das lembranças emocionais e, sobretudo, capacidade de processamento no
momento em que se observa alguma coisa.
Portanto,
algumas práticas ao volante podem estar prejudicando a interpretação das
informações visuais que temos e diminuindo a resposta comportamental. Acima de
40 quilômetros por hora o risco de vida já existe, caso haja um acidente, e
certos cuidados já devem ser tomados.
Pode parecer absurdo, mas eu não ouço músicas quando dirijo. Ocorre que
sei da minha condição de ter uma preferência sensorial auditiva (na verdade sou
muito auditivo) assim sendo, ouvir consome muito da minha capacidade de
percepção do externo. Caso você seja assim – seus pensamentos conseguem abafar
o que as pessoas estão te dizendo – comece a ter cautela neste aspecto.
Outras
distrações podem prejudicar a atenção plena ao volante. Na lista podemos falar
do celular e até mesmo do GPS, no entanto, acredite, o carona pode ser o
elemento mais distrator dentro de um veículo em movimento. Caso contrário, não
existira aquela famosa plaquinha nos ônibus : “Fale somente o indispensável ao
motorista” .
O
fator emocional também deve ser considerado. Após o 11 de setembro de 2001 o
número de acidentes de carro nos EUA aumentou de forma alarmante, em parte por
que a população temia viajar de avião e isto colocou milhares de carros extras
nas rodovias e, em parte, analisam os especialistas, porque a população estava
extremamente tensa com os atentados.
Assim,
mente tranquila e foco de atenção total ao volante, sem elementos distratores
no veículo, podem trazer mais segurança e menor possibilidade da ocorrência da
famosa “falha humana” que é mais comum do que podemos supor.
Desejo
que você apenas pense sobre este texto, afinal, um pequeno detalhe em alta
velocidade pode fazer a diferença entre a vida e o término dela.