A maneira mais saudável de se
alterar o conteúdo de um trauma é a ressignificação. Este processo pode ser
feito de muitas formas, mas o ideal é que seja elaborado pela própria pessoa e,
para isso, é necessário a capacidade de aceitar, mudar o ponto de vista e, se
possível, dar oportunidade ao contraditório. As pessoas que estão sempre cheias
de razão e acreditam que estão sempre certas em seus pensamentos podem ter mais
dificuldades e, em função disso, o sofrimento se prolonga.
Sendo um termo largamente utilizado
pela neurolinguística atual, a ressignificação de valores consiste em
reescrever uma experiência, dando um novo entendimento, um significado emocional
diferente, ou seja, alterar a forma da percepção conceitual interna. O fato em
si, causador do dano, não muda. Nós é que alteramos nosso entendimento a
respeito dele. Deixando bem claro que esse processo somente ocorre quando a
pessoa deseja a mudança, por acreditar que seu modo de lidar com o trauma está
lhe causando algum impedimento na vida. Se você acha que está tudo correto em
sua estrutura emocional e, que não precisa mudar sua opinião sobre os fatos de
sua vida, continue lendo mesmo assim, talvez você possa incentivar alguém a
mudar!
Importante também é ressaltar que as
interpretações são baseadas em nossos conceitos conotativos e, como tal, sempre
possíveis de serem reinterpretados, bastando para isso alterar, de forma
consciente, o ponto de vista emocional do sujeito/paciente. No caso do
profissional psicoterapeuta atuando, é papel dele oferecer oportunidades sem
jamais fechar questão em algum ponto, isso fica por conta do sujeito/paciente
que sempre saberá qual o melhor caminho. Em caso individual de verificação
própria da trajetória de vida, temos de dar ao próprio sujeito através de sua
vivência a possibilidade de se reinterpretar, refazer sua própria historia em
ângulos variados, buscando entender o comportamento adotado em certos episódios
e os resultados obtidos. Reavaliar a vida, buscando um roteiro atualizado que
possibilite uma menor dissonância e, com isso, o caminhar para o equilíbrio
interno.
Essa tecnologia verbal na qual o Dr.
Milton Erickson, o criador da Sociedade de Hipnose Clínica dos EUA e mentor da
notória Hipnose Ericksoniana, era um grande mestre, é a arte de jogar as com
palavras, com a semântica, usando um raciocínio rápido e de boa flexibilidade
mental. Esse procedimento, que pode ser utilizado em literalmente qualquer
circunstância sem os formalismos do ambiente terapêutico, pode expandir o mapa
de acesso ao real de muitas pessoas direta ou indiretamente. A ressignificação
é, por assim dizer, a maneira mais fácil de se ampliar o mapa de reconhecimento
do mundo vivido. Pode-se mudar o enquadramento de uma situação ou, mudar seu
significado. Seriam as alterações por contexto ou conteúdo. Explicando melhor:
A)
Ressignificação de Contexto: Neste perfil de
ressignificação um comportamento que o sujeito acredite ser limitante, que
impede o sujeito de ir além ou lhe causa sofrimento e angústia pode ser
colocado num contexto mais apropriado. Na verdade todo sintoma tem um por quê.
Buscamos, através de um trabalho de elaboração da psique, adequar nosso
comportamento a contextos que consideramos apropriados e isso é muito subjetivo
e particular. Basta, para isso, lhe dar uma oportunidade de se reenquadrar. Uma
determinada pessoa, por exemplo, desenvolveu uma fobia social e não lhe é
possível estar em lugares cheio de pessoas falantes, pois tem medo e, pode se
achar inferiorizada por causa disso. Podemos trabalhar com ela afirmando que o
medo é algo da evolução humana e existe para nos proteger dos perigos, hoje o
homem evoluiu socialmente e, no entanto, seus padrões de ativação emocional
continuam, ainda, iguais aos dos tempos das cavernas onde uma reunião de
pessoas, desconhecidas, poderia significar algo ameaçador. Desta forma o
sujeito em questão pode ter argumento para reavaliar sua fobia e ter um novo
contexto da situação.
B)
Ressignificação de Conteúdo: Outra forma de lidar
com conteúdos limitantes é mudar o próprio significado da afirmação original
tratando de colocá-la menos ofensiva e mais positiva para quem afirmou. Muitas
vezes a ressignificação de conteúdo e contexto podem ocorrer ao mesmo tempo.
Quando a mudança se restringe ao entendimento lógico, semântico, e não ao contexto de aplicação do
comportamento, ato em si, então podemos afirmar tratar-se de uma
ressignificação de conteúdo. Um exemplo é o pensamento: “Deus ajuda a quem cedo
madruga!”. Acordar cedo todos os dias pode ser cansativo, mas amenizamos esse
fardo ao pensar que alguma força superior pode estar olhando esse sacrifício e
nos recompensará por isto. Esta tecnologia de abordagem verbal pode ser
poderosa para fazer mudanças significativas nas estruturas cognitivas das
pessoas.
Pensar sobre o passado e
ressignificar não é estar com o pensamento modelo “Poliana”, onde tudo que
ocorre tem um sentido melhor escondido. Afinal existem episódios trágicos que
precisamos superar pelo luto vivido e memórias ruins que servem como incentivo
à mudança para que não ocorram de novo.
Assim, não é só uma alteração de significantes para termos uma nova
reestruturação interna completa. O que, com certeza, altera nossas respostas
comportamentais e sintomáticas é, antes de tudo, a vontade de mudar.