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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Vício



                Existem vários tipos de vícios entre os humanos e já está provado que até mesmo os animais podem adquirir comportamentos similares, principalmente quando se envolve substâncias químicas no processo de aquisição. Um comportamento inadequado pode também ser um vício mas, não é exatamente o comportamento que promove a repetição do ato e sim o que dele pode ser extraído.
 
                A palavra deriva do latim “vitium”  que significa falha ou defeito e sempre é usada quando o comportamento ou atitude acaba sendo prejudicial a quem pratica, embora o vício, muitas vezes, possa levar toda uma família para uma situação de confronto. Usa-se também de forma amena quando dizemos que fulano é viciado em futebol e por isso é necessário que o tipo de vício seja especificado já que a palavra sozinha não carrega sua tipologia.

                Existem vícios que ferem a moral e outros que surgem pela dependência de alguma droga. Podemos pensar que, alguns deles, misturam as duas coisas, pois o comportamento gera gratificação em produções químicas endócrinas (endorfinas/adrenalina) e o sujeito acaba por ficar dependente desta substância que é gerada pelo próprio organismo.

                Então a paixão é um vício?

                Pessoas ficam presas a outras de uma forma desesperada sem a mínima condição de sair da relação. Estão sujeitas a tudo, até mesmo a humilhação ou agressão, para partilharem de alguns momentos ao lado do objeto desejado. Trata-se então de um comportamento que gera prejuízo e dano a pessoa mesmo que exista, em certos momentos, uma gratificante e rápida injeção da própria química metabólica de satisfação. Portanto enquadra-se no conceito de vício.

                Como sair de um sistema como este? Sabemos que quando começamos um tratamento psicofármaco é necessário quinze dias para que a medicação comece a apresentar resultados que possam ser aferidos. Isso porque o metabolismo precisa se adequar a uma nova condição de receber algo, pronto, que ele deixou de produzir ou que não produz em qualidade ou quantidade adequada a normalidade. Claro que isto é uma forma simples de pensar, porém, serve como exemplo para o contrário do processo.

                Caso o processo da paixão esteja instalado e isso esteja causando maléficos de ordem perturbadora ao sujeito pensamos que o afastamento – de toda e qualquer forma – por quinze dias pode ajudar ao organismo a restabelecer suas produções internas originais. Lógico que isso não é a única medida, a ajuda de um profissional terapeuta ou apoio familiar também devem ser buscados.

                O raciocino me parece lógico! A cada encontro ou contato surge uma rápida e forte produção química interna, o corpo é, mais uma vez, alimentado com essa dose de satisfação e espera uma ainda maior. Afinal a cada nova dose o limiar de percepção aumenta tornando necessário sempre uma dosagem maior desencadeada pelo reforço de uma relação entre estímulo e o prazer químico. Para que o organismo possa reconhecer a normalidade seriam precisos alguns dias de afastamento total, sem nenhum tipo de contato, e com atividades  que proponham a ressignificação. Por isso, às vezes, o melhor caminho para um pessoa aprisionada por um forte vício é a internação, embora isto só seja uma medida extrema, de último caso, quando o risco de morte do sujeito ou seus pares, por conta de seu comportamento, está em jogo.

                A reestruturação passa pela semântica. Dotar o sujeito, enquanto permanece afastado do motivo viciante, de novas possibilidades de resolução. Caso exista motivação por parte dele e o comprometimento real, é possível uma nova realidade social. Todo vício nasce da busca pelo prazer e são procurados aqueles que o sujeito tem conhecimento, se o seu leque de oportunidades for ampliado ele poderá optar e a escolha pode ser melhor: para ele!
 

João Oliveira
Psicólogo

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