A única certeza que temos na vida é, provavelmente, a que mais assusta às pessoas: a morte.
Todos os seres que rastejam, voam, cavam, nadam ou andam, um dia cessam de vez suas atividades. Desde que o mundo é mundo.
Esse plano não foi desenhado só para nós, pois até as estrelas entram em colapso e se tornam buracos negros. Um ótimo paralelo para a morte pois dele nada escapa, nem a luz.
No México é uma Santa, no Japão um culto diário aos que se foram, na Índia um breve momento e para muitos de nós, um renascimento.
Mas, e a espera? E a sensação de perda?
Não gostaria de falar da própria morte, até porque, para mim, pessoalmente, isso está bem resolvido. Não a temo. Não a anseio. Aguardo.
Então, com a devida licença dos estudiosos da Bíblia, peço perdão pela interpretação que farei a seguir de uma das histórias mais conhecidas do Livro da Lei: a Ressurreição de Lázaro. Faço isso, apenas, como uma reflexão humana e leiga, de quem quer aproveitar cada palavra como forma de aprendizado para a nossa jornada. Portanto, sem nenhuma outra intenção. Meu breve raciocínio:
Jesus estava distante de Betânia onde residia Lázaro e suas irmãs, Maria e Marta. Quando informado da doença de Lázaro, Jesus já sabia, exatamente, o que iria ocorrer e não parte, imediatamente, para visitar a família, fazendo-o, somente depois de sua morte, Quatro dias depois, Ele, finalmente, chega à casa e vê, com certeza, o luto estampado no rosto de todos. Neste momento, Jesus chorou (João 11:35 - "E Jesus chorou").
Nosso questionamento se dá na pergunta: por que Jesus chorou?
Ele tinha um plano, sabia que dentro de instantes iria ressuscitar Lázaro e tudo estaria resolvido. Então por que Ele se comove?
Três pensamentos passam pela minha cabeça e gostaria de compartilhar com quem lê este texto:
1) Ele chora, porque vê a tristeza no rosto das irmãs, sua família íntima, e deve ter pensado como elas, que tiveram a oportunidade de ouvir, diretamente, a sua Palavra, e entenderam, assim, as boas novas do Senhor. Ou seja, Ele não estava cumprindo bem a missão do Pai e isso poderia se refletir por muitos anos à frente.
2) Pode ter chorado também ao perceber que havia medo nos rostos. Isso! Ao ver o irmão morto, as irmãs podem ter se dado conta da própria mortalidade e, com isso, o medo pode ter aflorado em suas consciências. Mais uma vez houve falha no entendimento da Palavra.
3) Mas, outro motivo ainda é possível de ter ocorrido na ocasião. Jesus pode ter ouvido os diálogos enlutados do tipo: - E agora? Quem vai cuidar de nós? Ou, Lázaro era tão bom para nós, como ficaremos sem ele? (Lázaro era arrimo de família). Isso pode ter feito Jesus pensar que aquele choro era de egoísmo. Sim, a falta que o outro vai fazer para mim! Não o destino do outro! O outro, que me dava presentes, me fazia sorrir, conversava comigo. Ele não está mais aqui e vai me fazer muita falta: egoísmo.
Então, mesmo com lágrimas nos olhos, Jesus diz: ”- Pai, graças te dou por me ouvires. Tu ouves-me sempre, mas digo isto por causa de toda a gente que aqui está, para que creiam que me enviaste. Então Jesus mandou, em voz muito forte: Lázaro, sai!” (João 11: 41 – 43)
Mas, será que é isso? Choro do egoísmo?
Somos muito egoístas mesmo! E olhando por nós, agora, o Senhor deve estar em lágrimas novamente. Claro que entendemos sua palavra, Senhor, mas somos humanos. Desculpe minhas lágrimas, aguardo a ressurreição. Mas, é essa espera Senhor, e essa falta...
Obs. Ontem, 14/01/2011, deixou esse plano o Léo, meu afilhado e sobrinho, de 23 anos, vítima da BR da Morte (101). Não ouvi nem disse tudo, espero poder, um dia...