Por João Oliveira
Quando
ela abriu a janela sentiu o vento quente e o cheiro das folhas secas que já
estavam no solo. O calor seco invadiu o ambiente e a luz, branca absoluta, fez
ferver a pele como uma adaga perfurante. Não era um dia qualquer, era o último
dia de todos os seres viventes na Terra.
Há
muito que os rios deixaram de fluir e os oceanos estavam reduzidos tanto pela
constante evaporação sem chuvas quanto pela utilização pelas populações que
deles retiravam água para filtragem e utilização. O preço do litro de água
potável, mesmo subsidiado pelos governos, era o mais alto dos itens de
sobrevivência, a alimentação saudável era algo do passado remoto.
Agora o
término é certo. Todos sabem a hora exata do fim, o sol explodirá as 11 horas e
11 minutos desta quarta-feira. Os cientistas já revelaram que não há
escapatória mesmo para os que se esconderam nas profundas cavernas, a radiação
resultante da explosão irá pulverizar, de forma instantânea, tudo que existe
até a órbita de Júpiter, provavelmente o único planeta que continuará existindo
deste pequeno círculo de amizade planetária.
Ela
resolveu olhar o sol até o final. O ridículo telejornal disse que não era para
olhar direto, pois isso poderia causar cegueira no momento da explosão. E o que
mais haveria para ver após... melhor, quem estaria aqui para ver. Olhar direto,
todos os segundos até o fim, para o elemento da natureza que fez brotar a vida
neste planeta e agora se preparar para extinguir todos os seres que nela ainda
habitam.
Muitas
pessoas estão dopadas neste momento e tantas outras já abreviaram a espera com
altas doses de venenos. Ela, solitária na montanha, ainda olha pela janela o
taciturno astro rei em seus instantes finais. Neste momento o relógio marca 11
horas.
Algo
está começando a mudar, a cor do sol está se tornando azulada e o calor começa
a diminuir. Um retrocesso está se dando neste exato momento, tal qual um
tsunami alerta da sua chegada causando uma espetacular maré baixa, o sol
apresenta uma personalidade serena antes de soltar sua fúria final.
Uma luz.
Bilhões de anos resumidos em um forte brilho sem som.
O
silêncio que sempre existirá é perene no frio galáctico e o choro, de uma
criança pode ser ouvido em outra parte do universo. Um planeta classe 3, onde
as condições existentes permitem aos seres de base carbono constituírem uma
sociedade bem similar à que existiu em outra realidade. Lá nasceu hoje uma
menina cega que, em outra vida, foi capaz de assistir a morte de um rei.
Os
ciclos são grandes e pequenos. Algumas entidades vivem por minutos, outras
permanecem além do que entendemos ser eternidade. Mas, em algum momento, todos
deixam de existir. Isso que chamamos de morte, é uma realidade para todos e
para tudo. Cada um em seu tempo próprio e, perto do fim, sempre achamos que foi
pouco.
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