Por João Oliveira
Após
uma tempestade de fortes raios, um homem encontrou uma árvore envolvida em uma
estranha substância. Algo que se movia com o vento, brilhava e destruía tudo
que tocava, transformando em cinzas. Parecia estar viva e se rebelando contra o
ambiente.
Era
uma época diferente de hoje. As pessoas não tinham palavras e transmitir
conhecimento não era algo fácil. Sem os signos linguísticos, os gestos e os
urros eram as únicas coisas que possuíam para duplicar experiências.
Assim,
aquele homem ficou parado olhando a beleza da espetacular substância.
Não
demorou muito para perceber que ela aquecia nas noites, ajudava a tornar os
alimentos mais saborosos e, com muito cuidado, podia ser transportada de um
lugar para o outro quando se agarrava aos galhos secos.
Justamente
essa tornou-se a missão de sua vida: manter aquela essência ativa. Todas às
vezes que ela parecia estar se dissipando, ele soprava com a boca, juntava
pequenas folhas secas e o substrato voltava a dançar no ar rebelde como sempre.
Dia
após dia pessoas vinham de longe buscar um pouco dessa maravilhosa substância da
qual ele se tornou mantenedor. Traziam alimentos em troca de poder impregnar
pedaços de madeiras com aquele brilho vivo e voltarem para suas cavernas
felizes e satisfeitos. Nem todos tinham o mesmo cuidado em manter a atividade
constante da substância e, quase sempre, as mesmas pessoas voltavam para pedir
mais um pouco.
Dessa
forma, o cotidiano do nosso personagem se tornou repleto de visitas constantes
e aquilo era o seu único modo de viver. Isso durou muito tempo mas, um dia, uma
chuva torrencial destruiu completamente qualquer vestígio daquela estranha
matéria. Ela simplesmente havia desaparecido junto com as águas que caíram do
céu.
Atordoado
o homem soprou como pôde em galhos secos. Juntou tantas folhas que fez um
enorme monte no meio da floresta. Nada disso trouxe o calor da substância de
volta.
Em
um momento de fúria, já quase anoitecendo, ele atirou uma pedra com força no
chão. A pedra se chocou com outra que estava no solo e, nesse momento, ele pôde
ver uma pequena fração da substância surgir bailando no ar. Algo diminuto que
ele sabia ser o início de uma nova possibilidade.
Passou
o resto da noite batendo nas pedras até que descobriu um tipo perfeito que, com
maior facilidade, fazia aparecer as partículas da substância no ar. Fez o mesmo
movimento próximo as folhas secas e, com a ajuda de seu sopro, surgiu o esplendor
daquilo que buscava.
Agora
era o detentor e podia distribuir a magia onde quer que fosse, pois era capaz
de transformar a matéria. Suas pedras, suas faíscas faziam surgir o fogo.
Muitas
vezes nos apegamos a algo (trabalho, pessoas, lugares) como se fosse o motivo
de nossa existência, apenas por acreditar que tal estrutura só existe por conta
de nossa devoção. Isto é falso. Lembre-se que quando algo se apagar, podemos
fazer surgir chamas de pequenas faíscas e construir um novo fogo dentro de nós.
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