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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

SOLUÇÃO

Por João Oliveira



O senhor de aparentes 50 anos bate palmas na porta da casa às 16h00 de um sábado de sol.

- Boa tarde, a senhora é Kátia Maria funcionária das Telhas Perfeição?

- Sim sou seu, pois não? – disse a mulher segurando uma criança no colo.

- Sou Carlos André da Soluções Assessoria Empreendimentos, estou aqui em nome da empresa em que a senhora trabalha. Podemos conversar um pouco?

- Sábado à tarde? O que está havendo?

- Bom senhora Kátia, estudos apontam que as melhores soluções surgem nos momentos de lazer fora do compromisso funcional. Deixe-me perguntar: quanto tempo a senhora leva para ir de sua casa até o local de trabalho?

- Às vezes até uma hora e meia, depende do trânsito vou sempre de ônibus às vezes meu marido me leva... verdade é: nunca demora menos de uma hora.

- Bom, nossa empresa fez alguns levantamentos e acreditamos que a senhora possa ir, de casa para o trabalho em, no máximo 15 minutos a pé.

- Rs, rs... como meu senhor? O senhor sabe o meu trajeto?

- Justamente minha senhora. O seu trajeto é o problema. Será que não poderia existir outro caminho?

- Claro que não... olha, tenho de pegar o ônibus ali na esquina até a avenida principal. De lá pego outro em linha reta até bairro da empresa e depois ando mais uns dez minutos até a fábrica.

- Veja, a senhora sabe que em linha reta o trajeto completo não é mais que dois quilômetros?

- E o senhor sabe do valão no meio do caminho e que só tem uma ponte lá na avenida principal?

- Justamente por isso estou aqui, para pensarmos em soluções. Posso entrar?

- Claro, me desculpe. Vou servir um café. – Disse a mulher demonstrando satisfação.

               Com mais cinco minutos de conversa e um café com bolo veio a pergunta chave da questão:

- Como a senhora acha que pode ter mais qualidade de vida economizando cerca de 40 horas por mês otimizando o tempo de suas idas e vindas ao trabalho? Isso significa que, em um ano (já fizemos as contas) a senhora terá 25 dias de tempo livre, contando com dias de 8 horas em 200 horas poupadas. Isso não é bom?

- Claro que é, mas eu não tenho um balão!

- Balão.... balão... deixe eu anotar, não chegamos a pensar nisso. No entanto, tenho outras três opções aqui já estudadas e quantificadas. Gostaria de ouvir?

- O senhor deveria ter começado por aí... –  riu.

- Longo, médio e curto prazo. Vamos começar com a solução a longo prazo. – Tirou um pacote de papel da pasta – Aqui está o projeto de uma ponte que deve ser apresentado a Secretaria de Obras do Município com cópias para todos os vereadores e o excelentíssimo senhor prefeito. Junto também estão os orçamentos de três grandes empresas de construção.

- Nossa senhora! O senhor fez tudo isso?

- Na verdade nossos profissionais. A empresa que a senhora trabalha nos contratou para aumentar a produtividade e isso passa pelo bem estar de seus funcionários. Bem, aqui estou. Agora vamos a solução de médio prazo. 

               Tomou um pouco de café, comeu mais um pedaço de bolo e continuou:

- A de médio prazo precisa de um pequeno investimento financeiro de todos os envolvidos. Na mesma posição da senhora temos outros 45 funcionários da empresa. Todos terão, pelo menos, o ganho de duas horas por dia com a construção de uma pequena ponte só para pedestres. A empresa entra com 50% e o restante, rateado entre os funcionários, terá o custo de R$ 3.500,00 que pode ser pago em 24 meses, sem juros, descontado na própria folha de pagamento. Aqui está o projeto e, se for aprovado por todos os funcionários, a pequena ponte pode ficar pronta em menos de três meses. Aqui está o pedido de autorização que deve ser feito na secretaria de obras, aqui está o termo de doação...

- Doação?

- Sim, qualquer construção feita por cima de rios, córregos ou valões, mesmo sendo financiada por particulares ou feita dentro de propriedades particulares se torna bem público.

- E a solução de curto prazo?

- Pode começar na segunda feira. – Puxou outro pacote de dentro da pasta.

- Aqui temos o telefone de todos os 45 funcionários e o do barqueiro que já está aguardando sua ligação de autorização. Funcionará assim: O barqueiro irá se posicionar no final desta esquina no local de fácil acesso a água. Dois pequenos portos de um lado e do outro do valão serão ligados por um cabo guia preso ao pequeno barco. O próprio barqueiro já conversou na prefeitura e pode começar mesmo sem a autorização oficial. Ele irá ficar o dia todo, de 06h00 às 18h00, com o barco à disposição. Só para almoçar de 11h00 às 15h00.

- Mas, mas...  e o custo? O que faço?

- Cabe a senhora ligar para todos os funcionários e cada um terá que pagar R$ 10,00 por semana direto ao barqueiro. 

- Porque o senhor me escolher para fazer isso?

- Não escolhi, a senhora é a pessoa que está mais perto do local onde irá funcionar o processo. Portanto é a maior interessada e, por isto, deve ter uma motivação extra. A empresa não pode se envolver nisso diretamente. Então... boa sorte!

- Muito obrigado, vou começar agora mesmo. Só não sei como lidar com esse novo tempo livre...

- Viva... escolha algo que pode lhe fazer feliz e faça. A Soluções Assessoria Empreendimentos agradece seu tempo. Tenho de ir para São Paulo agora, problema com falta de água.

Moral da história: na vida é preciso analisar as situações difíceis, planejar soluções e ter o comprometimento para realizar as mudanças necessárias.

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