Matéria de Renato Alves do Correio Braziliense para ir a página original siga o link do título.
Campinorte (GO) — Um dos donos da fazenda onde está escondido o segundo maior meteorito do Brasil quer se desfazer logo do achado. Também fala em deixar a cidade com a família. O homem de 61 anos e carregado sotaque goiano está com medo. Teme ter a propriedade invadida, ser roubado, seqüestrado e até morto. Tudo por causa da pedra de 2,5 toneladas vinda do espaço, avaliada em R$ 1 milhão.
Pela primeira vez, um dos proprietários do meteorito — o outro é irmão dele — aceitou dar entrevista. A equipe do Correio o encontrou em meio ao pasto de sua fazenda, na divisa entre os municípios de Campinorte e Nova Iguaçu, no Norte de Goiás, a 300km de Brasília. Vestido como um típico produtor rural, de botina, chapéu e calça jeans, falou da descoberta da pedra extraterrestre e dos seus receios.
O fazendeiro confirmou que o meteorito está enterrado em um ponto da propriedade. “Fizemos isso (ele e o irmão) no mesmo dia que desenterramos o meteorito. Tiramos uns retratos e uma lasca para mandar para exame. Depois, a gente mudou ela de lugar para ficar escondida”, contou. “Cê precisava ver a pedra limpa. Ela é linda. É igual a um espelho”, ressaltou, em um raro momento de descontração.
O brilho se deve à tonalidade do meteorito, composto por um tipo de ferro cromado. Cerca de 50 gramas dele foram enviados há três meses ao Museu Nacional do Rio de Janeiro, instituição de referência no estudo de meteoritos. Com base nas fotografias e nas amostras, os pesquisadores concluíram se tratar do segundo maior meteorito e o 58º localizado no país.
Aproveitadores
Diante da confirmação do museu, negociantes de pedras preciosas procuraram os irmãos goianos. “Falaram que podemos ganhar até R$ 1 milhão com a pedra. Mas tem muita gente já querendo levar vantagem. Por isso pedimos a ajuda de um advogado”, comentou o fazendeiro, enquanto preparava a seringa para vacinar um cavalo recém-castrado.
Além dos aproveitadores, o dono do meteorito também teme assaltantes e garimpeiros. “Cê sabe que aqui tem muito. É uma região de minério, de ouro. Esse povo é esperto”, observou ele, que é filho de garimpeiro. O pai, já morto, mudou do sul para o norte goiano justamente em busca de pedras preciosas, mas não achou, fixou residência em Campinorte e comprou a fazenda onde está o meteorito.
O herdeiro do antigo garimpeiro contou que ele e o irmão descobriram a “pedra de ferro” há “uns16 anos”. “Limpando a terra, a gente encontrou a ponta dura. Depois, mandamos um pedacinho para um laboratório em Goiânia. Eles disseram que era só um ferro, sem valor”, lembrou. Esse tipo de meteorito não é considerado raro no meio científico, mas, por causa da quantidade, pode valer uma fortuna.
Na internet, o grama de meteorito é vendido de US$ 10 (cerca de R$ 20) a US$ 10 mil (R$ 20 mil). O preço varia de acordo com a raridade e a condição da pedra cósmica. Em todo o mundo, 40 empresas comercializam meteorito. Eles também são oferecidos em casas de leilões estrangeiras. O Museu Nacional não compra, mas recebe doações para seus estudos e exposições. A instituição espera ganhar um pedaço do Meteorito Campinorte — assim os cientistas o batizaram.
Preocupação
O fazendeiro goiano não fala em doação. No momento, só quer saber de manter a pedra escondida. Tanto que se recusou a cavar parte da terra para mostrá-la à equipe do jornal. “Para fazer isso, preciso de um trator. Aí, vocês e o tratorista vão saber onde a pedra está”, explicou, cismado. “Moço, tô com tanto medo que tô começando a achar que é melhor ir embora de Campinorte”, completou.
Ele, no entanto, não conseguiu calar o filho adolescente. Todos os colegas do menino em Campinorte sabem do tesouro do pai. Muitos até viram as fotos do meteorito. “Ele exibe para todos verem. Diz que o pai perdeu a eleição, mas ficou rico”, contou um dos amigos, que pediu para não ter o nome publicado. O fazendeiro concorreu a uma vaga na Câmara Municipal de Campinorte. Não conseguiu 100 votos.
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