Por João Oliveira
Ser
capaz de internalizar as regras da sociedade e agir por conta própria sem ferir
o código ético e moral vigente, é o sinal maior de adultificação e que o
indivíduo alcançou a real autonomia de ser.
Quando
crianças, recém nascidos, reina em nós a anomia, ausência de regras, um mundo
onde todas as possibilidades são possíveis e estamos liberados para permitir o
desejo de forma plena. A não satisfação dos anseios gera revolta, choro e
birra. Este período não dura muito, às vezes poucos meses de vida, em função
das regras apresentadas nos diferentes ambientes; logo chega a heteronomia
quando o outro, neste caso os pais, cobra a conduta dentro do molde social
estabelecido.
O
problema surge quando a heteronomia se torna o modo de vida que se solidifica
por toda a existência.
Não
são poucas as pessoas que só seguem a ética e moral quando na presença de outro
ou que necessitam de direcionamentos a cada instante para estarem de acordo com
as normas.
Jogar
a lata fora, pela janela do carro, quando ninguém vê é um exemplo de alguém no
estado de heteronomia. Este sabe o que é certo mas só o faz se outra pessoa
estiver presente como testemunha de sua falha. Assim, para este grupo de seres
viventes, não existe de fato pecado se outros olhos não podem ver.
Agora
o segredo: nunca estamos sozinhos sem julgamentos!
Ocorre
que existe em nós um sistema autopunitivo das nossas ações – em pessoas ditas
normais (sem comprometimentos cognitivos) – que funciona durante todo o tempo
quando estamos conscientes, em estado vigil. Basta ter uma primeira informação
do que é certo ou errado para que este tribunal comece a funcionar. E isso será
modo contínuo para o resto de nossas vidas.
Assim,
se fazemos algo que consideramos ser errado tendo plena consciência disso, algo
entrará em colisão dentro de nós imediatamente. Podemos ver isso claramente
quando fazemos análise comportamental em um indivíduo que mente com medo de uma
sanção. Seus movimentos ideomotores inconscientes seguidos das contra medidas
conscientes, deixam claro que o tribunal interno julga, condena e pune
imediatamente as falhas cometidas.
Essas
pequenas punições internas podem passar despercebidas pela pessoa que vive na
heteronomia mas, em muitos casos o acúmulo no sistema acaba por criar sintomas
como forma de reparação aos possíveis erros.
Quem
não possui noção dos erros por não ter sido apresentado as normas não sofre
nenhum tipo de alteração endócrina pois, o sistema inconsciente não é capaz de
fazer comparações entre o que é certo ou errado. Os doentes mentais, sociopatas
e psicopatas também estão livres deste sistema de punição. No entanto, o resto
de nós está sujeito ao eterno julgamento interno e as possíveis penalidades
impostas sem nenhuma possibilidade de questionamento ou defesa. Tudo ocorre
silenciosamente em nosso organismo e sempre justificamos os sintomas que surgem
como prováveis resultados de doenças, mal estar, efeitos de má alimentação etc.
Ou seja, arrumamos uma explicação qualquer para dar conta de tais efeitos em
nosso corpo.
Provavelmente
viver em autonomia é uma forma de manutenção de um bom equilíbrio interno seja
psicológico ou endócrino. De fato isso deve auxiliar bastante na boa saúde
física. Pensando assim, os que vivem na constante heteronomia, poderiam manter
uma ética constante como investimento num modelo de vida mais saudável.
Claro
que nem todos acabam ficando doentes ou com remorsos por terem colado durante
uma prova no ensino médio, mas fazer disso um estilo de vida vai ter seu preço
cobrado em algum momento. Quem sabe, possamos descobrir se isso já não está
acontecendo agora, e alguns sintomas que temos talvez sejam resultados de ações
punidas.