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terça-feira, 13 de julho de 2021


 





 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

terça-feira, 22 de junho de 2021

ALTERAÇÕES CONTRATUAIS

 


ALTERAÇÕES CONTRATUAIS

Por João Oliveira



Padre - Vou precisar de um minuto que o coroinha está imprimindo o adendo contratual...

Noivo - Que isso? Como o senhor para o meu casamento assim no meio?

Padre - A Diocese foi pressionada pela Geração Y. Essa garotada Milenium...

Noivo - Que isso? O que isso tem a ver com o meu casamento???

Padre - Nada demais meu filho... ah, tá chegando aqui...

Noiva - Calma meu amor já está quase terminando...

Noivo - Vamos lá Padre... estou ansioso demais...

Padre - Pronto... vamos lá

A igreja inteira em silêncio. O Padre arruma o microfone, dá uns tapinhas nas laterais da batina e começa:

Padre - Sr. Márcio. Promete ser fiel, amar e respeitar a Sra. Marta, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias de vossas vidas até que a morte os separe?

Noivo - Ué? Não mudou nada, prometo sim... claro

Padre – Calma senhor agora é que entra a parte nova: O senhor promete coçar as costas dela sempre que for solicitado de dia ou de noite estando dormindo ou acordado?

Noivo – Como senhor?

Padre – Não acabei... o senhor promete ouvir sem questionar todas as histórias que ela tiver para lhe contar e sempre dar risadas das piadas dela?

Noivo – Sim e acaba logo com isso...

Padre – Já já acaba – O senhor promete jamais esquecer datas de aniversários, dias comemorativos referentes ao relacionamento histórico dos dois....

Noivo interrompendo - O que é isso?

Padre – Dia do primeiro encontro, dia do primeiro beijo, dia da primeira... bom o senhor me entende... não é?

Noivo - Prometo, prometo, prometo.. acaba logo com isso por favor.

Padre com muita calma - Senhor aos olhos de Deus e da Igreja o sacramento do matrimônio é ato de fé e de amor para vida toda. Aguente firme que só faltam dois minutinhos.

Noivo – Acelera senhor Padre por favor....

Padre – Senhor Márcio, promete não olhar para nenhuma outra mulher na praia, no shopping, na rua, na internet ou em qualquer outro lugar que exista ou possa ser inventado?

Noivo – Prometo.

Padre – Para finalizar promete sempre explicar o filme para ela independente do momento de ação que a cena esteja e, com calma e paciência, dar todos os detalhes possíveis incluindo nome dos atores, idade, com quem estão atualmente casados e quanto receberam pelo filme?

Noivo – Prometo. Pronto acabamos?

Padre – Sim, com o senhor sim. Agora é com a Sra Marta

Noivo – Agora é que eu quero ver... agora é que vai ser legal quero ver você prometer tudo que o Padre falar....

Padre – Sra. Marta promete permitir que ele assista as partidas de futebol do time dele e não reclamar do consumo de cervejas?

Noiva – Sim.

Noivo - Mas é só isso???? Para mim foi um monte de coisas, por que para ela é só isso?

Padre - Tem razão... Tem razão... deixa eu incluir mais uma aqui. Sra. Marta, promete não estourar o cartão de crédito em compras nas lojas de roupas e sapatos.

A noiva virou as costas sem responder e saiu pela porta da frente da igreja gritando coisas impublicáveis.

Casamento desfeito na hora.

 


terça-feira, 1 de junho de 2021

O SÉTIMO CAVALEIRO DO APOCALIPSE

 


O SÉTIMO CAVALEIRO DO APOCALIPSE

Por João Oliveira
O grupo estava acampado e a Fome preparava o jantar em uma fogueira improvisada.


- Acho que a comida não vai dar para todo mundo. – Reclamou

- Você sempre com o mesmo problema: nunca nenhuma quantidade de comida é suficiente.

Dizendo isso, a Guerra pegou uma luneta e começou a procurar por algo no horizonte.

- O que está procurando? – Perguntou a Peste.

- Ele está tentando ver a chegada dos novatos – Respondeu a Morte que estava deitada com os braços cruzados sobre o peito.

- Isso mesmo! Essa tal de renovação está me deixando preocupado. O que poderia acrescentar forças aos Quatro Cavaleiros do Apocalipse?

- Nada – Falou a Fome – É burocracia mesmo. Esse lance de upgrade virou moda nas instituições e querem aplicar em nós também.

Os quatro deram boas risadas. Afinal, o que realmente poderia ser mais forte e cruel do que a Guerra, Fome, Peste e Morte juntos?

- Alto lá! Quem está vindo? Se anuncie! – Gritou a Guerra para um cavaleiro que se aproximava.

- Eu sou o Quinto Cavaleiro do Apocalipse e trago comigo a mentira, a corrupção, a falsa democracia, a falsa caridade e o mito que todos os homens são iguais. Uso tudo isso como instrumentos de trabalho em prol destruição da humanidade.

Os quatro Cavaleiros do Apocalipse abriram a boca espantados com a firmeza e crueldade nas palavras do recém-chegado.

- Qual o seu nome cruel Cavaleiro? – Perguntou alguém

- Sou a Política Partidária! Aquele que vende esperança em troca de escravidão subserviente.

Foi aplaudido pela Peste que revelou:

- Já trabalhamos juntos... é uma figura formidável... comove multidões e os desgraça ao mesmo tempo. Tem me ajudado muito nesse momento.

- Calma senhores – Falou alto a Guerra – Está se aproximando mais um novato!

Todos olharam para o altivo Cavaleiro com cores exuberantes. Vestia um manto de veludo vermelho e ostentava um báculo de cristal.

- Quem é você que ousa se aproximar dos Cinco Cavaleiros do Apocalipse? – Perguntou a Peste.

- Sou o Sexto Cavaleiro do Apocalipse! O mais temido de todos. Sou capaz de colocar multidões em guerra, de se submeterem à fome ou de morrerem doentes pela peste resignados sob meu comando.

- Que coisa horrível – Disse a Morte – Eu gosto quando sofrem revoltados – Resignados não tem nem graça.

O novo cavaleiro levantou o braço direito e com uma espada flamejante gritou:

- Eu sou a Religião Fundamentalista: milhões morrem em meu nome! Defendendo as diferentes crenças que prego como verdade absoluta.

A cena comoveu a todos e os aplausos ecoaram pelo vale. Os cinco cavaleiros, de pé, aplaudiam o recém-chegado efusivamente. Quando, do nada, surge uma voz pequenina e frágil.

- E aí galera? Tudo joinha? Tô chegando no pedaço e já vou desejando uma boa tarde para todo mundo.

- Que isso? Que merda é essa? – A Morte se levantou e já armou sua foice para um golpe.

- Calma minha querida, sou o Sétimo Cavaleiro do Apocalipse.

A pequena figura em nada se mostrava perigosa ou ofensiva. Montada em uma pequena mula cheia de alforjes lotados de bugigangas e com um grande sorriso no rosto começou a se apresentar.

- Gente... eu sou responsável pela separação de casais com mais de vinte anos de casamento, faço pais colocarem filhos para fora de casa, crio humilhação, vergonha, remorso e ódio todos os dias em milhões e milhões de pessoas... sou fera né?

- Como? Com essa cara de anjo? – Perguntou a Peste.

- Ah... não é difícil não... agora veja só – falou a figura esquálida – Enquanto a gente conversa a Fome está comendo tudo ali atrás bem quietinha para ninguém ver.

A Guerra se virou furiosa.

- Para com isso Fome! Temos novatos, que belo exemplo você está dando.

- Eu estava só provando para ver se o tempero que a Peste trouxe estava bom mesmo.

- Nossa, foi a Peste que trouxe o tempero? – Disse o Sétimo Cavaleiro – Sei não gente... não é a Peste que mexe com esse negócio de venenos?

Pronto: todos olharam desconfiados para a Peste que já se encolhia no canto.

- Não é veneno não... é só um pouquinho de COVID, nada demais, uma gripezinha só.

- Pera aí? – Se colocou fortemente a Guerra – Você está causando discórdia entre nós! Afinal de contas quem é você?

Todos os seis cavaleiros: Morte, Guerra, Fome, Peste, Política Partidária e Religião Fundamentalista ficaram em silêncio esperando a resposta daquela pequena e engraçada figura, que em poucos segundos, quase causa uma briga entre eles.

- Eu? – Deu um sorriso angelical – Sou o Sétimo Cavaleiro do Apocalipse: o Grupo da Família no WhastApp.

domingo, 23 de maio de 2021

O QUE É MAIS IMPORTANTE?

 



                 Júpiter se levantou, caminhou até a sacada e olhando para o mar falou com sua voz de trovão:

- A palavra! Certamente é o mais relevante.

                Buda, sem parar de comer, o interrompeu:

- Zeus, tem de existir intenção. Sem intenção não há força nas palavras...

- Não me chame assim gordinho. Não gosto que me chamem pela minha identidade grega. -Disse Zeus (desculpe) Júpiter!

- Júpiter está certo!

                A mesa inteira olhou para o jovem rapaz cabeludo e de barbas longas.

- Como sabem, falo em nome de Meu Pai e nas escrituras sagradas está escrito que no princípio era o verbo. Somente da palavra de Meu Pai que tudo foi construído. Dessa forma, está bem claro a força que existe na palavra.

- Jesus – falou Buda – Em primeiro lugar fale por você mesmo, já que é você que está aqui na mesa conosco e, em segundo lugar, nem todo mundo tem o poder de Seu Pai. Sendo assim a palavra pode ter pesos diferentes dependendo de quem a profere.

                Jesus, nitidamente aborrecido, olhou firme para Buda e disse:

- Gordinho, existia um homem que vivia nas montanhas cuidando de ovelhas, um dia...

- Pêra aí? Outra parábola?  Não! De deixo nenhum... – cortou Buda

                A mesa inteira olhou sério para Jesus e ele finalizou:

- Conto essa depois.

                Eu permanecia sentado quieto no meu canto apenas observando o desenrolar daquela interessante discussão. Foi quando Vishnu se levantou (na verdade flutuando) e disse quase cantando:

- Todos aqui sabem que são meros frutos de meu estado onírico. No meu despertar tudo será desconstruído. Mas, estando em meu sonho, nesse momento, merecem minha atenção.

                Júpiter ameaçou falar algo, mas Vishnu continuou:

- O mais importante é cultuar o afastamento da ideia de uma personalidade isolada do todo e, ao alcançar a unidade, cultivar o real desejo pela conquista de seus objetivos. Somente então a intenção e a palavra podem ter seus efeitos.

- Concordo plenamente – Disse Krisnha de forma superanimada e começou a bater palmas para Vishnu – Muito boa a sua fala senhor!

- Muito obrigado, mas quem é o senhor?

- Eu? Eu sou você amanhã! – Respondeu Krisnha sorrindo.

                Mitra, que estava quase escondido em seu lugar, toma a palavra de maneira tímida:

- Senhores, acho que tudo isso só pode ser possível se o individuo possuir a clareza de uma construção frasal adequada. Sem saber pedir ao universo pode-se conseguir um retorno negativo daquilo que realmente deseja. Muitas pessoas não sabem solicitar o que desejam... não sabem falar o que querem...

                Júpiter, e os demais da mesa, ficaram pensativos e em silêncio. Foi nesse momento que Buda me olhou e falou:

- E você? Representante dos humanos nesse sonho paradoxal, o que tem a dizer?

                De fato, era um sonho. Era possível perceber que a sala mudava de tamanho e forma a cada momento. Mas, já que estava ali tinha de colocar meu pensamento:

- Tudo que todos os senhores disseram é verdade e faz parte de um conjunto único.

                Consegui a atenção deles: todos olhavam para mim.

- No entanto, posso acrescentar apenas um detalhe: a consciência. É primordial que a consciência esteja desperta para que o desejo, fé, crença ou intenção estejam colocados de maneira correta. Assim, a palavra, articulada com o conteúdo assertivo, pode encontrar o eco perfeito no universo que sempre responde: queiramos ou não.

                Silêncio na mesa e finalmente Vishnu falou:

- Mas, foi exatamente isso que eu disse.

                Alguns deram risadas e eu finalizei:

- É preciso despertar as pessoas, ativar a consciência de quem são e do que podem.

                Acordei, neste instante, sob a ilusão de ter ouvido uma salva de palmas.

 

Por João Oliveira

               

sábado, 1 de maio de 2021

O SOLDADO SEM MEDO

 


O SOLDADO SEM MEDO

Por João Oliveira

Mahadevi estava nervoso. Afinal, Açoca, o poderoso imperador, não estava lhe dando a devida atenção. O avançar da hora sinalizava que ele teria de viajar na escuridão pelas terras dos Mujavats. Povo perigoso e que costumava atacar viajantes desprevenidos.

Açoca era o imperador de toda Índia. A dinastia Máuria estava no seu auge neste ano de 212 a.C. e, com certeza, a compra irá valer a pena toda essa espera de quase um dia. Pense bem: esperar pelo imperador mais poderoso da Terra não era tão ruim assim.

 - O que tem hoje Mahadevi? Diga meu mercador do oeste. 

- Meu Rei, tenho o que há de melhor. Veja esses tecidos leves que trouxe de terras distantes - são feitos de fios gerados por vermes - ou esse pó que se parece com cúrcuma mas na verdade é uma forte pimenta do norte. 

- Mahadevi o que são essas pedras? 

- Meu Rei, são cristais de poder infinito que posso lhe ofertar por um valor simbólico...

A conversa e os negócios foram se alongando até que Mahadevi enfim falou:

- Meu Rei, temo viajar pelo vale após o escurecer. Mas tenho de estar em Gurapav antes do amanhecer para encontrar fornecedores. 

-Medo dos Mujavats? 

- Sim meu Rei, não me envergonho de reconhecer o meu temor pelos Mujavats.

- Não se preocupe. Irá lhe escoltando o meu melhor homem. 

Ao dizer isso o Rei se levantou e gritou bem alto:

- Chamem o Soldado Sem Medo! 

Mahadevi arregalou os olhos e perguntou quase murmurando:

- Um soldado sem medo? 

- Sim, meu caro! – disse o Rei – O mais temido de todo o reino, o único homem que não tem medo de nada. Ele lhe fará escolta até Gurapav e chegará em total segurança com todos os seus pertences. Nenhum salteador Mujavat irá lhe fazer mal.

Assim ocorreu. 

Cada um em seu cavalo durante quase toda a noite. Mesmo que ouvissem barulhos na floresta nenhum salteador se aproximou deles. A presença do Soldado Sem Medo fez toda diferença. 

Nem era tão grande assim. Na verdade, ele tinha até um tipo físico muito comum. Mas, era a sua face fechada como uma nuvem de monção, que impunha terror a pessoas comuns. 

O portão da cidadela de Gurapav estava fechado e o Soldado Sem Medo ordenou: 

- Abram os portões para o mercador Mahadevi em nome de Sua Majestade Imperador Açoca! 

Palavras mágicas ditas pelo homem certo. 

Mahadevi desceu do cavalo, pois, não se entra montado em nenhuma fortaleza. Os guardas do portão o receberam com reverências.

Ele foi até o Soldado Sem Medo que já estava fazendo a volta com o seu cavalo. 

- Me diga lá nobre Soldado Sem Medo, é real que nada teme nesse mundo? 

O Soldado sem medo curvou o corpo com uma voz bem baixa disse ao mercador: 

- Nada, não temo nada. Nem cobras ou elefantes, nem homens ou fantasmas e nem mesmo a doença ou a morte. 

- Mas isso é espetacular. Como alcançou essa capacidade?

O Soldado Sem Medo curvou o corpo mais ainda e, no ouvido de Mahadevi, confessou: 

- Eu nada tenho. Não tenho pai, mãe, mulher, filho... não tenho nem esse cavalo que é do Rei ou a cama onde durmo na estrebaria. Nada tendo, nada temo perder. 

Mahadevi ficou parado com os olhos arregalados e a boca totalmente aberta enquanto o Soldado Sem Medo se afastava de volta à capital Málaga. 

Já passando pelos arcos do portão Mahadevi se virou e gritou:

- E felicidade? Tem? 

O Soldado Sem Medo já estava quase totalmente encoberto pela escuridão da madrugada e, sem se virar, gritou de volta: 

- Também não! 

Moral da história: o medo surge quando existe a possibilidade, real ou não, de perda. Óbvio que só se pode perder algo que se tem. E, pensando melhor, quem tem algo é porque assim o conquistou.

Então, fazendo as contas no ábaco, o temor é algo que pode aparecer naqueles que são capazes de conquistar. Nos que possuem vitórias na vida. 

Não há muito o que pensar: além de ter é preciso manter e confiar. Pois, o temor, pode apenas ser uma lembrança da luta antes da conquista.

Simplificando para as mentes mais humildes do reino de Açoca: vive sem medo aquele que nada tem a perder ou aquele que confia na capacidade de manter suas conquistas.