Por João Oliveira
Após
a estabilização da sequência de órbitas em volta do planeta chegou o momento de
enviar uma equipe para contatar os habitantes pela primeira vez nessa incursão.
Algumas precauções estavam sendo organizadas na nave de abordagem quando o
segundo em comando chamou a atenção dos tripulantes que se preparavam para
descer.
- Vocês sabem como devemos nos
comportar na presença deles não é?
- Sim senhor! – gritaram todos ao
mesmo tempo.
- Então vamos repassar algumas
prioridades para não termos nenhum problema de comunicação com os locais.
Lembrem-se que disso depende o futuro deles – não o nosso – No entanto, devemos
fazer a nossa parte para que tudo possa transcorrer da melhor forma possível.
E continuou:
- Primeiro: Se perguntarem sobre
a existência de Deus, qual a reposta padrão para não perturbar mais a mente
deles?
Todos responderam em uma só voz:
- Não somos deuses! Deus é uma
entidade superior a todos os astros e seus possíveis habitantes conscientes ou
não, vivos ou não! Deus é uma entidade
além do tempo, da matéria e até mesmo da própria existência.
- Muito bem! – disse o segundo em
comando com voz calma e tranquila – Não saiam dessa linha que vai dar tudo
certo. Se começarem a perguntar sobre imortalidade da alma ou assuntos
semelhantes mandem conversar comigo. Outra coisa importante: não entrem em
detalhes sobre nosso aspecto físico, de saúde e tempo de vida. Eles vão nos
pressionar para conseguirem curas para todos os males, pobreza e tudo mais.
Nenhum de vocês está autorizado a resolver nenhum problema entre eles.
- Mas, nossa missão não é para
ajudar os seres inferiores? – perguntou um dos mais humildes da tropa.
- De que academia você veio? –
falou o líder da missão que surgiu das sombras como um furacão.
- Vim da Master Infinitus senhor
alocado em vossa nave já há três ciclos...
- Só podia ser. Povo fisiologista...
ganhar simpatia por favores ofertados. – falou olhando nos olhos do soldado –
Não seja ridículo! – Gritou o líder – Eles não têm problema algum! O que falta
nesses nossos cultivados é equilíbrio emocional, educação, senso de ridículo e
ética!
- Só isso? – uma voz pequena saiu
quase despercebida do fundo da nave.
- Quem disse isso? – falou
furioso o segundo em comando.
- Fui eu senhor... é que depois
de termos enviado mais de uma dezena de avatares, imposto cataclismos e pestes,
o senhor ainda acredita que eles podem aprender o básico para uma existência
saudável.
Um silêncio
perturbador tomou conta da nave. O Líder em seu roupão prateado colocou as mãos
(todas as quatro) atrás do próprio corpo e andou em círculos por alguns
momentos. Parou e olhou para o alto dizendo:
- Essa é nossa última missão aqui,
se não der certo dessa vez o nosso protocolo manda queimar tudo e começar do
zero em outro planeta. Já se passaram 10 mil anos de civilização e esse povo
ainda mata, rouba, engana... hoje é a última chance deles. Vamos, novamente,
apresentar propostas de mudanças e aguardar só mais 50 anos solares. Se não
houver mudança... bem, já vamos deixar os artefatos nucleares instalados.
- Escriba, anote aí! – falou o
líder – Se não der certo o nosso cultivo de humanos aqui em Marte o próximo
planeta que será alvo de nosso experimento é aquele ali meio azulado com um
satélite branco grande. O chamaremos, já a partir de agora, de Terra! Isso em
homenagem ao nosso próprio planeta azul.
- Nossa! – Exclamou um dos
soldados - Como ele é bonito ... parece mesmo com a nossa Terra natal...
Foi uma festa!
Todos aplaudiram e gritaram colocando fé naquele pequeno planeta azul. Como já
sabemos o futuro de Marte não seria dos melhores mas, essa tal Terra. Ela sim,
promete muito.