Por Prof. Msc. João Oliveira
Segundo o biólogo
inglês Desmond Morris em seu livro de 1967, “O Macaco Nu”, podemos observar um
perfil comportamental nos animais que pode ajudar a explicar algumas situações
no ambiente humano. Trata-se da Atividade Deslocada: atitudes estranhas e sem
nenhum propósito prático que ocorrem em momentos de grande estresse ou pressão.
Funciona como uma válvula de escape para a energia que está sendo reprimida e o
animal adota comportamentos que não tem nenhuma ligação com o que de fato está
ocorrendo a sua volta.
Às vezes, quando prestes a entrar em um combate, diante
de um oponente mais forte, o animal pode intercalar os gestos de ameaça com
movimentos alimentares, como se estivesse comendo algo invisível, ou ainda se
coçar ou limpar os pelos. Algumas espécies chegam a montar abrigos imaginários
no ar ou caem no sono repentinamente para logo a seguir voltar à posição de
defesa ou ataque. Estes movimentos deslocados, que não possuem nenhuma função
de ordem real, são atitudes do animal que se julga vencido no embate. Na
verdade o máximo que podemos observar é a total paralisação de todo e qualquer
movimento, colocando o animal ameaçado, em uma total inércia diante de seu
opositor. Diante deste quadro, geralmente o rival cessa sua agressão e se dá
como vencedor da disputa.
Como isso ocorre em humanos?
Podemos perceber que, quando em estado de ansiedade,
desconforto, medo ou insegurança, o sujeito pode exibir o mesmo modelo de
atividades deslocadas. São movimentos comportamentais sem nenhuma praticidade
como: olhar o relógio repetidas vezes, se coçar, balançar os pés, mexer nas
pulseiras e, hoje com a modernidade, explorar funções no celular. Além se
servir como elemento de saída para a energia acumulada também funciona como
estado dissociativo, retirando o sujeito, mentalmente, da área de confronto
onde está colocado.
O grande problema começa quando o último estágio, ou o
mais poderoso deles, se torna real na vida de uma pessoa: a inatividade
completa. Um recurso extremo para solucionar a evitação ao confronto. Óbvio que
não estamos nos referindo a um combate físico e sim a luta diária pela
sobrevivência. Aliás fizemos bem essa adaptação para nossos dias, tanto que
falamos: -“Vou a luta!” , quando queremos dizer que estamos indo trabalhar. Essa
substituição muito tem a ver com as antigas disputas por territórios entre
nossos antepassados mais distantes. Então, diante de situações onde nosso
sistema de defesa se encontra esgotado, o metabolismo pode se valer de uma
“saída” emergencial para retirar o corpo
do elemento estressante: o sintoma/doença.
O mecanismo parece ser o mesmo que ocorre nos primatas
menos evoluídos, mas é interessante observar que, para cada tipo de confronto
(trabalho) existe um perfil diferente de sintoma, que podemos considerar como
uma atividade deslocada de último nível. O exemplo é que, quem trabalha com a
voz, poderá desenvolver algum sintoma que o impeça de falar ou cantar. No
entanto esse sintoma dificilmente irá ocorrer em um lutador de boxe, pois ele
não depende da voz para atuar em seu ramo profissional. Neste caso a maior
incidência é de doenças de pele. Cabe-nos observar com maior atenção o
surgimento destas “Atividades Deslocadas” logo no inicio, antes de tornarem
sintomas e, vale lembrar, que a doença psicossomática não é menor em sofrimento
para o sujeito. Penso que, no futuro poderemos prevenir o surgimento de doenças
que possam limitar o sujeito em seu esforço produtivo, se conseguirmos
identificar, com acuidade, o comportamento deslocado persistente.
Sintomas comuns como alergias, disfunções fisiológicas, cefaleias
ou até mesmo TOCs, podem ser resultado de uma “Atividade Deslocada” não
percebida em seus momentos iniciais que, por ser desconhecida do sujeito, foi
migrando e ampliando até um ponto culminante de colocá-lo na inércia de fuga
através do sintoma manifesto.
Isto não significa que toda “Atividade Deslocada” deve
gerar um sintoma futuro mas, a observação da quantidade de ocorrências, como as
descritas aqui, pode nos indicar que algo precisa mudar para evitarmos danos posteriores.
Lembrando sempre das palavras de John
Milton: "A mente não deve ser
modificada pelo tempo e pelo lugar. A mente é o seu próprio lugar e, dentro de
si, pode fazer um inferno do céu e do céu um inferno."
Quem escolhe sou eu, e você mesmo!
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