Em
todos os Treinamentos de Análise Comportamental que fazemos percebemos duas
emoções se apagando da percepção social: tristeza e medo. Raramente encontramos
alguém capaz de identificar, com a mesma velocidade e certeza, essas duas
manifestações emocionais em comparação às outras apresentadas em igual
velocidade. O bloqueio é tamanho que, mesmo quando diminuímos a velocidade de
exposição, o medo e a tristeza continuam “embaçados” para a maioria das
pessoas.
Por que isso se dá?
Ocorre que a sociedade prega constantemente que essas duas emoções são
negativas e expõem o sujeito como fraco ou derrotado diante de seus pares.
Desta forma ocultamos suas manifestações e, com o tempo, o cérebro passa a
evitar, como puder, o contato com elas.
Para nosso exercício do pensar hoje, vamos focar na tristeza que é a mais
dispendiosa das emoções, pois envolve muitos músculos: corrugador, orbiculares
oculli, frontalis (ergue cenho), mentalis, platisma,
risórios, triangulares e prócero. Por isso, ocorre um rebaixamento energético
quando ficamos tristes. O nosso cérebro contabiliza a atividade elétrica.
Não importa o tamanho do músculo, a mente entende que é algo muito oneroso e
diminui o metabolismo a fim de poupar energia. É lógico pensar que pessoas que
expressam tristeza por muito tempo acabam engordando. A estratégia do corpo é
guardar combustível para queimar quando necessário for.
Como não existe emoção sem função, se estão entre nós é por que foram úteis no
processo evolucionário. A tristeza deve ter uma utilidade prática que está
sendo relevada pela sociedade. Afinal todos manifestamos essa expressão em
algum momento da vida, mas, a cada dia, menos pessoas reconhecem!
Todos os semestres, nossos alunos do sexto período do curso de formação
em Psicologia saíam em campo mostrando desenhos e fotos de pessoas
expressando várias emoções. Eles pediam às pessoas que identificassem ou que
narrassem uma história para explicar por que a pessoa demonstra este ou aquele
tipo de expressão na face. Em todos os ambientes, seja classe baixa ou alta
percebemos uma razoável diminuição da percepção da tristeza. Isto porque
mascaramos ou apagamos a possibilidade de reconhecimento para evitarmos
sofrimento.
Mas a função da tristeza não é impor sofrimento, isto é consequencia, e, é
claro, que não funciona esconder o que sentimos, o custo para o corpo pode ser
maior do que imaginamos com a somatização de uma emoção! A tristeza deve ser
vivenciada, e seu gasto energético deve ser realmente queimado. O luto não
exposto cobra seu preço em longas prestações com juros altíssimos. Segurar
nossas emoções aprisiona pressões que vão, mais tarde, aparecer em forma de
sintomas e, como consequência, doenças.
Num raciocínio lógico podemos elaborar que a função natural da tristeza é pedir
ajuda, acolhimento, atenção do outro. Negar à estrutura psicológica este
apoiamento, ou queima, em algum momento de revés, é deixar uma lacuna aberta,
uma falha, em nossa psique.
Não é fraco quem chora. É, ou será, doente quem não permite a manifestação de
suas emoções: isto é certo!
Lógico que a tristeza instalada sem ressignificação a longo prazo pode se
transformar em doença, deixar de ser uma emoção e passar a ser um sintoma.
Nestes casos, onde o vivenciar não foi suficiente para o processo de “queima”
da emoção, é aconselhável um apoio profissional que pode, inclusive, ser
medicamentoso por algum período.
O problema, reside em tentar descobrir, se esta doença já não é resultado de
uma vida de abafamento sendo manifesta de uma só vez quando algo consegue
romper a barreira dos disfarce.
Por enquanto, vale o conselho, viva as emoções. Sem exageros ou teatralidade,
apenas permita que o choro e o riso tenham lugar certo em sua existência, pois
sabemos bem, existem dias claros como também noites escuras, mas eles se vão,
como tudo na vida.
João Oliveira
Psicólogo CRP 05/32031