Você já deve ter ouvido falar que uma pessoa que tem autoconfiança e autoestima tem mais chances de se posicionar no mercado. Isso ocorre porque a utilização dos recursos internos para a produtividade e realização são mais frequentes e se consegue alcançar melhores resultados a partir do senso de capacidade e de autovalorização para a concretização de objetivos.
A autora Beatriz Acampora (livro: Autoestima: práticas para transformar pessoas 2013, p. 20 e 21) afirma que “A autoestima é a fonte do nosso poder pessoal, da capacidade que todo ser humano tem de influenciar e ser influenciado nas relações sociais. Em todos os tipos de relações a autoestima é o pano de fundo, pois ela determinará o modo como o indivíduo irá respirar, se emocionar e agir. Em situações de trabalho, por exemplo, pessoas com alta autoestima tendem a ser mais ágeis, a falar assertivamente o que querem, a lutar pelos seus objetivos de forma clara. Uma pessoa com alta autoestima acredita em si mesma, é o que quer ser, goza a vida e assume responsabilidades sem culpar os outros ou se justificar pelas escolhas que faz. ”
No ambiente de trabalho, a autoestima deve ser considerada como um fator importante que está na base do modo de desenvolver a atividade profissional, de avaliar a si mesmo como capaz de desempenhar determinadas tarefas e da habilidade de superar dificuldades a partir de seus recursos internos.
O mundo atual é repleto de cobranças, estimulação à competição, comparações e busca por um alto padrão de realização de tarefas, almejando sempre melhores resultados. Nesse sentido, é inevitável que as pessoas cobrem a si mesmas para fazer parte das exigências sociais. O autoconceito e a autoconfiança vêm sendo cada vez mais exigidos no mundo do trabalho, pois formam o alicerce para a atuação em equipe e a efetividade das ações em prol dos objetivos organizacionais.
Dessa forma, relaciona-se o autoconceito com o trabalho em equipe, o alcance de determinados resultados para a organização e a satisfação no trabalho. O autoconceito profissional é definido por Souza & Puente-Palacios, no artigo A influência do autoconceito profissional na satisfação com a equipe de trabalho (2011, p. 4) como: “a percepção que o indivíduo tem de si em relação ao trabalho (tarefas) que executa. ” Tal definição considera o autoconceito em função de percepções individuais relacionadas à realização profissional, à competência, à autoconfiança e à saúde, que são as suas dimensões constitutivas.
A realização profissional está, dessa forma, relacionada ao sentimento de competência diante dos processos de trabalho e das exigências cotidianas e tem conexão com a saúde, entendida a partir de um amplo espectro que envolve a vida psíquica, biológica e social.
O sentimento de competência implica o indivíduo apreender que tem um conhecimento específico e é capaz de colocá-lo em prática em prol de determinados resultados exigidos no ambiente laboral. Para que o senso de competência exista é preciso um investimento do próprio sujeito no aprimoramento de suas habilidades.
Cada indivíduo, em sua relação com o trabalho, desempenha de determinado modo sua atividade, o que depende da maneira como ele se vê diante da tarefa executada, de como se relaciona consigo e com as pessoas da equipe da qual faz parte, com sua produção e sua autorrealização no trabalho.
A satisfação no trabalho e a realização profissional caminham juntas, uma vez que, quando o indivíduo percebe a si mesmo como capaz, útil e parte integrante de algo maior, competente e autoconfiante para realizar suas atividades laborais, há um maior comprometimento com seu papel na organização, principalmente se esta oferece infraestrutura, benefícios, salário, plano de cargos e salários adequados.
Assim como a organização escolhe o indivíduo mais capacitado para atuar em um determinado cargo, o trabalhador também escolhe a organização que supra suas necessidades de realização profissional. Quanto mais qualificado é o trabalhador e mais exigências o cargo requer, maior essa relação de reciprocidade.
O autoconceito é continuamente construído e modificado nas relações do sujeito com o meio ambiente, podendo ser alterado em função das relações de trabalho e do ambiente laboral. Dessa forma, críticas, humilhações, rejeições, perdas, abandono, desvalorizações, isolamento, podem ter forte influência na diminuição do autoconceito.
Acampora, em sua tese de doutorado Análise da qualidade de vida e percepção da autoestima dos trabalhadores de saúde mental do Hospital Colônia e dos profissionais da Estratégia de Saúde da Família do Município de Rio Bonito / RJ / Br: um estudo de correlação e comparação (2017) destaca que o ritmo acelerado, a necessidade de cumprir objetivos em curto espaço de tempo, a obrigatoriedade de aprendizado constante em função de mudanças para adequação ao mercado, aumento de responsabilidade e de tarefas executadas, podem acarretar prejuízos para a saúde, dependendo do modo como o indivíduo lida com todas essas pressões no ambiente de trabalho. Ser resiliente implica uma adaptação e flexibilização diante desse contexto.
Indivíduos que acreditam no seu potencial e têm um alto autoconceito profissional tendem a ser mais resilientes, pois confiam que podem aprender constantemente e assumir novas responsabilidades, flexibilizando suas atividades e negociando prazos. Uma pessoa que possui autoconfiança na sua capacidade de trabalho supera os obstáculos em prol de melhores resultados e da sua autorrealização.
Toda empresa deve investir em um ambiente corporativo que propicie o autoconceito profissional, facilitando a valorização profissional, a comunicação assertiva, metas que sejam possíveis de serem alcançadas, acompanhamento dos processos de trabalho, o avanço da autonomia do profissional, reuniões de alinhamento e de feedback, um clima organizacional favorável às relações humanas, com respeito, se tornando assim, facilitadora de um autoconceito profissional positivo que traga resultados mais satisfatórios para o trabalhador e para a própria organização.
Texto do Prof. Dr. João Oliveira
REFERÊNCIAS:
ACAMPORA, B. AUTOESTIMA: práticas para
transformar pessoas. Rio de Janeiro: Wak editora, 2013.
ACAMPORA, B. Análise da qualidade de vida e percepção
da autoestima dos trabalhadores de saúde mental do Hospital Colônia e dos
profissionais da Estratégia de Saúde da Família do Município de Rio Bonito / RJ
/ Br: um estudo de correlação e comparação. Tese de doutorado em Saúde Pública.
PY: Universidad Americana, 2017.
SOUZA, M & PUENTE-PALACIOS. A influência do autoconceito profissional na satisfação
com a equipe de trabalho. Estudos de Psicologia, Campinas, 28(3),
315-325, julho - setembro 2011. Disponível em: .
Acesso em: 16 fev 2018.
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