Por Beatriz Acampora
Em uma vila, perto de uma mina de carvão, nasceu uma criança, um menino muito esperto, com um desejo muito grande de realizar, de mover o mundo. Enquanto criança ele corria, pulava, construía objetos.
Logo que entrou na adolescência seu pai o colocou para trabalhar na mina de carvão, como todos os outros homens da família faziam. Ele aprendeu o ofício de ser mineiro e trabalhava com vontade.
Sentia dentro do peito um desejo de fazer algo diferente, mas não sabia o que era. Tinha alma de pintor, mas nunca tinha sido apresentado a pincéis, telas e tintas. E toda sua energia acumulada, toda a sua força interna era colocada no trabalho na mina.
Em alguns momentos se sentia frustrado sem saber o porquê e queria explodir aquela energia contida. E corria pela mina com o carrinho de carvão, tão rápido e até mesmo agressivamente, que foi considerado o mineiro mais rápido e que trabalhava mais.
Outras vezes sentia uma angústia de não estar produzindo algo diferente, canalizando seu desejo de outro modo, e batia com a marreta com mais força, escavava com mais velocidade do que todos os seus companheiros e, mais uma vez, se destacava.
Tudo o que ele queria era produzir, mas não sabia o que, nem como, não entendia porque aquela energia imensa que morava em seu peito tinha vontade de sair, de contagiar, de explodir.
Se sentia feroz e trabalhava mais, incessantemente, tentando aliviar seu peito, esvaziar sua vontade de fazer algo. Muitas vezes era visto como revoltado, agressivo, mas o que ninguém sabia é que nem ele mesmo conhecia suas potencialidades, suas habilidades adormecidas.
Potencialidades que nunca despertaram e, assim, foram transformadas em um outro tipo de produção: os olhos das pessoas da vila nunca viram quadros pintados por ele, mas conheceram o melhor e mais rápido mineiro daquelas terras.
Nem sempre os dons são revelados! Por falta de oportunidade, potencialidades ficam adormecidas. Mas a produção é outra coisa: para direita ou para a esquerda, para frente ou para trás, para cima ou para baixo, ela sempre ocorre.
Cada um pode extrair da vida aquilo que a força da sua alma impulsionar. Fazer, realizar, produzir mais e melhor com o que é dado. Se for plausível, buscar novas possibilidades. Se for improvável qualquer mudança de rumo, aceitar a natureza das coisas e direcionar as forças para fazer de modo eficaz aquilo que lhe cabe nesse momento.
Onde quer que esteja, a sua natureza irá se sobrepor a todas as possibilidades presentes e sua energia será vista, ressaltada, porque a força da alma e o desejo de realização não ficam inertes, movimentam e contaminam.
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