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domingo, 1 de junho de 2014

O DESEJO DE PRODUZIR



Por Beatriz Acampora

Em uma vila, perto de uma mina de carvão, nasceu uma criança, um menino muito esperto, com um desejo muito grande de realizar, de mover o mundo. Enquanto criança ele corria, pulava, construía objetos.

Logo que entrou na adolescência seu pai o colocou para trabalhar na mina de carvão, como todos os outros homens da família faziam. Ele aprendeu o ofício de ser mineiro e trabalhava com vontade.

Sentia dentro do peito um desejo de fazer algo diferente, mas não sabia o que era. Tinha alma de pintor, mas nunca tinha sido apresentado a pincéis, telas e tintas. E toda sua energia acumulada, toda a sua força interna era colocada no trabalho na mina.

Em alguns momentos se sentia frustrado sem saber o porquê e queria explodir aquela energia contida. E corria pela mina com o carrinho de carvão, tão rápido e até mesmo agressivamente, que foi considerado o mineiro mais rápido e que trabalhava mais.

Outras vezes sentia uma angústia de não estar produzindo algo diferente, canalizando seu desejo de outro modo, e batia com a marreta com mais força, escavava com mais velocidade do que todos os seus companheiros e, mais uma vez, se destacava.
Tudo o que ele queria era produzir, mas não sabia o que, nem como, não entendia porque aquela energia imensa que morava em seu peito tinha vontade de sair, de contagiar, de explodir.

Se sentia feroz e trabalhava mais, incessantemente, tentando aliviar seu peito, esvaziar sua vontade de fazer algo. Muitas vezes era visto como revoltado, agressivo, mas o que ninguém sabia é que nem ele mesmo conhecia suas potencialidades, suas habilidades adormecidas.

Potencialidades que nunca despertaram e, assim, foram transformadas em um outro tipo de produção: os olhos das pessoas da vila nunca viram quadros pintados por ele, mas conheceram o melhor e mais rápido mineiro daquelas terras.

Nem sempre os dons são revelados! Por falta de oportunidade, potencialidades ficam adormecidas. Mas a produção é outra coisa: para direita ou para a esquerda, para frente ou para trás, para cima ou para baixo, ela sempre ocorre.

Cada um pode extrair da vida aquilo que a força da sua alma impulsionar. Fazer, realizar, produzir mais e melhor com o que é dado. Se for plausível, buscar novas possibilidades. Se for improvável qualquer mudança de rumo, aceitar a natureza das coisas e direcionar as forças para fazer de modo eficaz aquilo que lhe cabe nesse momento.

Onde quer que esteja, a sua natureza irá se sobrepor a todas as possibilidades presentes e sua energia será vista, ressaltada, porque a força da alma e o desejo de realização não ficam inertes, movimentam e contaminam.

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