Não
havia muito por onde andar. As águas haviam baixado e, o que antes era um vasto
continente, agora pareciam ilhas distantes. Numali, bela deusa dos antigos,
olhava com tristeza o passado glorioso de cidades estados que agora estavam nas
regiões abissais de um imenso oceano.
- Eu avisei! – disse ela aos
outros que estavam no barco – Eu disse que isso iria acontecer. Não ouviram...
agora não existem mais.
- Senhora, não se entristeça. –
falou uma jovem serviçal – Assim estava escrito nas tábuas dos antigos: “À água
tudo retornará! ”
Numali
baixou a cabeça, o ar de cansaço se confundia com a angústia profunda, caminhou
pelo convés vagorosamente e, de súbito, gritou com toda força:
- Onde está o nosso Mago
Engenheiro?
- Aqui estou Numali, pronto para
lhe servir!
Um
velho homem surgiu no ar em frente a Numali e trazia nas mãos cristais
coloridos.
- Veja, já localizei um outro
planeta com as mesmas condições do nosso! Olhe aqui em meus cristais sagrados
como os habitantes de lá vivem em alegria constante. Será um bom lugar para
começarmos de novo. – disse o Mago Engenheiro em euforia.
Numali
se curvou sobre os cristais e começou a ver várias cenas do tal planeta.
- Isto é uma máquina do tempo?
Estou vendo nosso passado aqui. O que eles estão fazendo todos reunidos em um
só local gritando como loucos? Não parece com os nossos antigos jogos de
guerra? – perguntou Numali.
- Ah...- disse o Mago – Isso se
chama futebol. Está ocorrendo uma disputa que reúne todos os reinos deste
planeta em uma mesma competição.
- Me diga Mago, o que o
território dos guerreiros vencedores recebe como tributo ao final do torneio?
- Na verdade não muita coisa. Pelo
que eu entendi, olhando os cristais, eles recebem uma grande taça de metal.
Tudo é muito simbólico por lá...
- Como simbólico? Veja como as
pessoas estão vestidas, histéricas, veja aqui: algumas estão sendo agredidas.
Eles estão em guerra como nós antes da catástrofe?
- A senhora mexeu nos cristais,
isso que está vendo agora são os trabalhadores que ensinam crianças solicitando
melhorias em seu labor.
- Mago? Neste lugar os que detém
o conhecimento são agredidos? Isso parece bem pior que o nosso passado. Tem
algo errado com os cristais...
- Não... tem algo errado no
planeta deles. Por isso, acredito ser uma excelente opção para o nosso destino.
Veja aqui... neste cristal menor como eles se encantam por qualquer coisa.
- O que é isso?
- São as fêmeas da própria
espécie com poucas indumentárias.
- Mago – disse Numali pálida –
Eles ficam paralisados diante de seres da própria espécie em situação de nudez?
- E não é só isso! Veja como são
frágeis e podem ser desligados com o mínimo esforço. São bolhas de líquido e
carne com ossos porosos. Imagine diante de nossos guerreiros invisíveis.
- Sim, seria fácil dominar pela força.
Vejo como morrem com facilidade... mas tenho um plano melhor para nos
apossarmos de tudo e ainda sermos adorados e bem servidos. Não é preciso
preparar nada. Partimos hoje!
Assim
o barco se transformou em uma grande nave espacial e todos os seus tripulantes
e passageiros, mais de 300.000 sobreviventes de um planeta submerso, começaram
uma jornada em direção a Terra.
- Mas, minha senhora, como espera
dominar todos de uma só vez?
- Nada, quando chegarmos, dentro
de alguns anos solares, pouco existirá desta espécie e, os que sobreviverem,
aceitaram qualquer oferta de esperança como tábua de salvação.
- E como a senhora sabe disso?
- Veja como o nosso planeta, como
se autodestruiu. Não éramos tão diferentes deles há alguns poucos anos. Tínhamos
histeria coletiva, apego a coisas banais e, você bem se lembra, brigávamos
entre nós por qualquer motivo que fosse. Pela distância que estamos deles, o
tempo da viagem será suficiente para encontramos escombros e seres famintos.
- Mas, senhora – disse o mago – é
justamente isso que somos agora.
- Sim amigo Mago, mas eles não
sabem disso!
O
pior tipo ignorância é a que acredita que conhece algo mas, que realmente nada
sabe sobre realidade dos fatos, por isso, é facilmente manipulável pelos que
distribuem as informações.
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