Por João Oliveira
Certos
comportamentos parecem ser uma regra em alguns seres humanos: a ingratidão é um
destes. Mas porque ele ocorre?
Uma
explicação simples é que não devemos ajudar quem não nos pede ajuda; isso causa
desconforto e, com o tempo, um movimento de evitação por parte da pessoa que
recebeu o auxílio. Como ela não tem condições de retribuir o que recebeu acaba
se afastando do seu benfeitor que, por sua vez, entende isto como uma falta de
reconhecimento pelo que fez.
Outra,
ainda mais complexa, é que toda ajuda caminha ao lado de uma humilhação velada.
Mesmo atuando com boas intenções o sujeito que presta auxílio o faz por estar
em melhores condições emocionais e/ou financeira e, justamente esta posição,
faz reflexo em quem recebe, que sofre por não poder estar na posição do amigo.
Nesse caso, pode até se transformar em inveja.
Certo
é que, nos dois casos, a história sempre acaba mal. Quem recebeu ajuda sofre
por seus motivos e quem se esforçou em socorrer sofre mais ainda por não ter
nenhum agradecimento de retorno em igual tamanho. Aí está a chave da questão: esperar
reconhecimento.
Na
verdade, qualquer tipo de contribuição que possamos fazer para melhorar alguma
condição de um amigo, parente ou quem quer que seja, deve sempre estar
acompanhada de certo grau de indiferença. Não fique surpreso, a palavra é esta
mesma.
Você
pode ficar feliz de cumprir com sua “missão” de ser uma boa pessoa na terra,
mas, jamais crie elos emocionais com a pessoa que você está ajudando. Não
espere, nunca, que ela devolva algo para você, nem mesmo um sorriso de
agradecimento. Assim você estará protegido de sofrimento no futuro.
A
forma com este apoio chega também é responsável pela forma como é entendido.
Sempre que for contribuir com alguém próximo faça com regras explícitas. O problema
ainda é maior e mais comum quando o tema é dinheiro, envolvendo parentes
próximos. Por isso, elaboramos algumas regras básicas de se fazer o bem sem
deixar margens para interpretações emocionais equivocadas:
1)
Quando emprestar algum valor solicite algum
documento como garantia e não tenha vergonha de fazer isto. Seja franco e diga
que a memória é fraca e caso ele demore a devolver o valor – com juros ou não –
este papel irá certificar que o valor não foi alterado. Palavras ditas o tempo
apaga.
2)
Quando a ajuda for humanitária, apoio emocional,
não faça comparações com sua forma de agir em situações similares. Cada pessoa
é única em suas ações e cada um está em seu tempo de maturidade, não espere que
todos tenham a sua experiência de vida.
3)
Sempre espere a pessoa solicitar sua ajuda. Não
banque o bom samaritano de pensar que a pessoa precisa de você, às vezes,
naquele momento, é importante para ela passar por um sufoco que servirá como
modo de aprendizagem. Claro, isso não inclui socorro emergencial em caso de
vida ou morte. Não se espera que uma pessoa que esteja se afogando consiga
gritar muito.
4)
Sempre se certifique que a pessoa que recebe a
ajuda entende que ela terá algum compromisso de devolução em algum tempo. Pode ser
algo que nada tenha de valor monetário, mas este compromisso é importante para
que ela saiba dar valor ao que recebe.
5)
Caso a ajuda seja permanente por algum tempo –
tipo pagar uma faculdade – tenha um mecanismo de controle de assiduidade e
notas, se for o caso. Na verdade tenha certeza que o recurso esta sendo usado
da maneira como foi proposto inicialmente.
6)
Não cobre duas vezes. Mas também não ajude
novamente. Talvez esta seja a parte mais difícil, pois dentro de nós tem um
mecanismo fortíssimo capaz de perdoar as pessoas de quem gostamos. Tente ser
firme e assertivo, como já falamos antes, as pessoas precisam crescer e isto
pode ocorrer com maior rapidez em momentos de escassez.
Não pense que
estás regras são sanções legais. Apenas observe e veja se alguma pode ser aplicada
em sua vida. Se isso for possível é bem provável que você tenha menos aborrecimentos
que o necessário.
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