Por João Oliveira
Todos
os guerreiros estavam sentados em volta da mesa quando o Rei levantou-se e
começou a falar:
- Não podemos mais viver com esta
ameaça constante! Não é possível prosperar como nação desde que este Dragão
começou a cobrar partilha! Não é possível dar 50% de toda produção de nosso
trigo!
- Mas majestade – disse um
cavaleiro próximo ao Rei – corremos o risco de sermos destruídos, queimados,
triturados se não houver tal tributo como sempre nos disse o velho sábio.
- Olhe bem! – Disse o Rei em tom
áspero- Estou disposto a pagar tal preço pela liberdade. Quero cinco
voluntários prontos para partir amanhã em direção a montanha e enfrentar o
monstro. Levem com você o portador dos tributos - o velho sábio que duas vezes
ao ano leva as mulas com o trigo para pagar o Dragão. Ele sabe onde a fera se
esconde.
Silêncio
total. Um dos mais idosos cavaleiros se levantou:
- Eu vou majestade!
Outro,
igualmente velho e acabado também se anunciou como voluntário. Logo o Rei já
tinha, à sua frente, cinco bons guerreiros dispostos a lutar e morrer em defesa
do reino. O Rei estava curioso em saber porque só os mais idosos haviam se
disponibilizado e perguntou aos jovens valentes que continuaram sentados:
- Vejo que os mais velhos estão
dispostos a combater o inimigo que assombra nossas vidas. Porque os mais jovens
não se apresentaram para o combate?
- Trata-se, apenas, de uma
questão de estratégia Vossa majestade. – falou um dos mais novos e fortes guerreiros.
- Como assim? – Perguntou o Rei
junto ao pasmo geral.
- Veja, eu e meus comandados
somos uma força poderosa com muitos anos de combate ainda pela frente. Já os
que se voluntariaram estão no término de suas jornadas em nosso plano.
- Sim! E daí? Onde está à
estratégia nisto? – Questionou o Rei ansioso.
- Senhor, vejo nessa situação
três possibilidades. Primeira: se eles forem e vencerem acabou o problema. Nós
seremos poupados para outras lutas com nossos inimigos. Segunda: caso sejam
derrotados os que sobreviverem poderão nos trazer informações valiosas sobre
localização, tamanho, força e pontos fracos da besta, assim poderemos organizar
um ataque fulminante munidos de certezas e não de medo do improvável, afinal
ninguém nunca viu este Dragão de perto, só o sábio.
- Parece realmente interessante.
– Comentou o Rei
- É, mas a terceira possibilidade
deve ser testada em primeiro lugar, pois, caso nenhum velho guerreiro volte com
vida e da montanha só retorne o sábio a luta também estará terminada para todos
nós. - Completou o guerreiro.
- Mais uma vez não lhe entendo. -
Falou o Rei com a voz pequena.
- Muito simples. Caso só o sábio
sobreviva posso entender que tudo é um plano dele para enriquecer as nossas
custas. Não há Dragão algum, provavelmente ele está vendendo ou estocando este
trigo ao longo dos anos. Assim, se o senhor acreditar que isso possa mesmo vir
a ocorrer, bastam algumas horas de tortura no sábio para termos toda verdade e
pouparmos as vidas de nossos idosos.
Dito isso o Rei, pensou um pouco e se lembrou
de que o portador da ameaça do Dragão havia sido o próprio sábio há muito tempo
e que, de fato, ninguém nunca tinha visto tal dragão de perto, só barulhos e os
incêndios na floresta. Mandou chamá-lo e apenas após duas horas de forte
inquérito descobriu-se uma caverna lotada de trigo no alto da montanha. Ele planejava
sumir do reino após essa última colheita com todo o lucro da venda dos seis
anos de terror.
Moral
da história: Dentro de uma organização é necessário muito cuidado, pois, quem
para mim traz, de mim leva. Fique atento com pessoas que sempre trazem
novidades ruins ao seu ouvido, algo de ti, para o próximo, eles podem estar
levando. E, ouça os mais jovens, existe sabedoria até mesmo no que julgamos ser
pura inocência ou inexperiência. O bom gestor sabe ouvir, separando o que deve
ser levado em consideração ou não.
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