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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A AULA




Por Prof. Msc. João Oliveira

                Todos estavam sentados esperando que o professor entrasse para dar sua costumeira aula de filosofia. Neste dia, um forte calor fez com que as janelas fossem abertas e o vento disputava caminho com os sons que vinham do bosque ao lado da faculdade.

            Professor Augusto entrou como sempre elegante em seu velho e modesto terno de casimira, parou diante dos 50 alunos e tossiu muito, por vários minutos! Aquela tosse estava sinalizando algo muito ruim e, mesmo assim, ele continuava fumando naquele cachimbo de porcelana. Um lápis caiu ao chão e, dois alunos, na tentativa de recuperar o objeto, acabaram chocando as cabeças quando se abaixaram rapidamente. “- Meninos! E, se pudéssemos voltar no tempo para impedir que o lápis caísse ao chão?” – Perguntou  o professor. “- Teríamos agora dois colegas sem dor nas testas?” A risadaria foi geral e, ele interrompeu com outro questionamento: “ – Quem não gostaria de voltar no tempo para mudar algo que fez de errado na vida?”

            O silêncio tomou conta do lugar: “- Eu poderia, por exemplo, voltar 30 anos na minha própria vida e evitar que começasse a fumar. Quem sabe, deste jeito, eu não teria um câncer diagnosticado como incurável? – O silêncio se transformou em algo triste. Ele finaliza olhando o céu pela janela: “– O que você gostaria de mudar em sua vida caso pudesse voltar no tempo?”

            O paradoxo temporal sempre foi motivo para muitas histórias de ficção científica: como o filho voltando no tempo e quase impedindo os pais de se casarem ou evitando a morte de um amigo e, com isto, causando um dano maior ainda. A trilogia “Efeito Borboleta” transforma essas possibilidades em filmes de terror.

            Pensado bem, não teríamos as guerras mundiais! Voltando ao momento chave e mudando o rumo da história poderíamos evitar muitos massacres. No entanto, das guerras surgiram avanços tecnológicos. O esforço de guerra obrigou os países a acelerarem projetos que hoje estão plenamente incorporados ao nosso modo de vida moderno. A penicilina, do Dr. Alexander Fleming,  é um grande exemplo disto, pois sua utilização prática só começou em 1943, quando os governos, preocupados com o aumento das baixas decorrentes de infecções nos campos de batalha, resolveram aplicá-la nos soldados feridos. A aviação, outra beneficiada, teve um avanço incrível, também na segunda guerra, com a invenção alemã do avião a jato, o Heinkel He 178,ue alcançava os incríveis 640 Kms/h a 12 mil metros de altura! Logo após a guerra essa tecnologia passou para a aviação comercial. Nem é necessário lembrar a energia atômica e seu uso calamitoso no fim da guerra. Mas, surgia aí, a história da energia produzida pelos átomos que hoje ilumina milhões de lares em todo o mundo, inclusive no Brasil.

            A verdade é que, o que ocorreu de ruim em nossa concepção no passado, pode ter direcionado nossas vidas de um jeito do qual não queremos abrir mão hoje. As tragédias sempre existiram e existirão. A despeito de todas as precauções que possamos tomar, jamais poderemos evitar a catástrofe e o sofrimento, pois, isto é parte da nossa própria existência do mesmo jeito que a morte.

            Muitas vezes podemos pensar que certas coisas poderiam ser evitadas. Quem sabe não saindo de casa nunca, jamais seríamos atropelados? Ou, não morando em prédios escaparíamos de incêndios e desabamentos? Uma vez, minha esposa estava dirigindo quando um caminhão (desses de colocar concreto em obras) bateu com seu braço articulado em um poste. Os fios de alta tensão romperam e “laçaram” o carro dela que passava no local. Foram alguns minutos de faíscas e fogo em volta do veículo com ela dentro, com os vidros fechados sem nada poder fazer. Logo o sistema tombou a eletricidade e o horror passou sem deixar vítimas. Minha pergunta é: qual a probabilidade de algo assim ocorrer com alguém transitando em seu carro?

            A aula, com o professor Augusto, aconteceu de fato em 1988, apenas seu nome está alterado neste texto. O cenário se tornou duvidoso após a pergunta que ele fez, o que poderíamos querer mudar em nossas vidas e quais seriam as consequências disto? Será que a morte, a tragédia maior, pode(ria), de fato, ser evitada? No meio desta aula ele perguntou solene: “-Quem aqui, nesta turma, fuma? Por favor, levante o braço.” Quase todos ergueram os braços, afinal, naquela época, fumar era um atestado de independência e masculinidade entre os meninos e, apenas duas pessoas não se manifestaram. Ele completou em tom profético: “- Chegará o momento que, em uma sala como esta, será justamente o contrário, apenas um ou dois terão este vício maldito, no dia em que tiverem mais exemplos como o meu.” Um ano depois, por causa do câncer, ele deixou esse plano.  

                Existe uma frase na filosofia védica: “Rakhe Krishna mare ke mare krishna rakhe ke”.  Significa: aquele que é protegido por Krishna ninguém pode matar, mas se Krishna desejar matar alguém, não há ninguém que possa salvá-lo. Devemos sim, aprender com os erros que ocasionaram tragédias e tentar, se possível, evitá-las no futuro e, caso algo ronde a mente tirando a paz de espírito, gerando angústia com memórias trágicas do passado o melhor que se pode fazer é ressignificar. Não se trata de diminuir o valor do ocorrido, mas, de procurar entender que, tudo caminha sempre para o mesmo destino final, é só uma questão de tempo. E o tempo, querido amigo, é apenas uma interpretação nossa da percepção do movimento da luz e sombra proporcionado pelo sistema solar onde estamos inseridos no momento.



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