As pessoas sempre falam sobre o bom senso, isso já sabemos que não existe, cada
um tem o seu bom senso que está diretamente ligado a cultura local – micro
cultura melhor dizendo – e que difere de um quarteirão para o outro. Por sorte
eu morei em vila na minha infância, um conjunto de casas coladas umas nas
outras onde era possível ouvir as brigas de todos os vizinhos, até dos que
moravam nas últimas casas, e isso ensina muito de como funciona esse tal de bom
senso.
Não há com existir bom senso que sirva pra todos, pois nossas vidas são
diferentes e um conselho só pode ser útil para quem o dá! Claro! Pense bem, a
nossas experiências são absolutamente diferentes. O que você sofreu e como
interpretou fez de você o que é! Como pode a minha experiência de vida lhe ser
útil?
Lógico que não estamos tratando aqui nem de moral nem de ética, estamos falando
daquela situação em que alguém pergunta: - “O que você faria se fosse eu?” Não
existe resposta útil para esse tipo de pergunta.
Disto podemos também inferir um pensamento a respeito do senso comum. Essa
coisa de generalizar pensamentos e falsas metáforas. Vamos a um exemplo prático
citado no livro Freakonomics (só não me pergunte qual dos dois, pois não
me lembro mesmo) quando perguntado às mulheres destras o porque de terem
preferência em segurar os filhos com o braço esquerdo elas respondiam que era
para deixar o braço direito livre para pegar mamadeira e etc. Mas quando a
pergunta era feita às canhotas, que igualmente preferem segurar os filhos com o
braço esquerdo, a resposta era porque, com o braço esquerdo elas têm mais
segurança e correm menos risco de deixar a criança cair.
Na verdade, comprovou a pesquisa posteriormente, elas fazem isso
independente da razão consciente, pois se trata de uma programação genética –
meninas pequenas também dão preferência a segurar bonecas com o braço esquerdo
– segurando o recém nascido com o braço esquerdo ele fica com a cabeça mais
próxima do ventrículo cardíaco esquerdo que (você não iria adivinhar) faz mais
barulho, o som do batimento cardíaco! Ocorre que o feto durante nove meses ouve
esse ruído e, fora do ventre, se sente incomodado com o novo mundo, ao ser
colocado nesta posição ele tem acesso ao som novamente e – claro – se acalma!
Então as explicações – senso comum – não tinham relação com a verdade! É mais
ou menos por aí o resto de todas as coisas que costumamos arrumar uma
explicação plausível sem base científica. O tal “achismo” impera sobre a
realidade em quase tudo! Essa coisa de “- Eu acho que...” cria discórdias,
atrapalha resoluções e impede o progresso da nação.
Disto vem um pensamento um pouco mais complexo: existe democracia? Pense
numa tribo indígena onde as crianças estão com uma virose qualquer. O médico,
branco, oferece a cura através de uma vacina onde, apenas uma dose aplicada por
uma injeção, pode exterminar a doença que esta matando os mais novos da tribo.
Mas o Pajé , aquele que detém o poder da cura pela mágica dos deuses, disse aos
membros da tribo que todos os que tivessem a pele furada não seriam aceitos por
Tupã.
Conclusão: a maioria optou por não deixar aplicar a vacina nos filhos! Sendo
este um processo democrático, claro, o médico não pode exercer sua função!
Todos os infectados morreram tendo a cura, todo o tempo, bem nas mãos do médico
impossibilitado de agir pela votação na tribo.
Solução?
Sempre pergunte e questione qualquer verdade, até mesmo esta frase. Não existe
verdade absoluta, tudo pode ter outra versão. Não existe senso comum, como
também não existe consenso pleno e absoluto. Somos seres únicos e minha
verdade não serve para você, construa a sua ou observe o que já construiu.
Filhos se revoltam com os pais justamente por isso. Os pais pensam que tem
respostas, e isso é verdade, mas as perguntas foram diferentes. Espero ter
contribuído para uma introspecção sobre dogmas, caso não tenha tido sucesso
pergunte-se sobre o real significado da palavra fundamentalismo.
Prof. Msc. João Oliveira
Psicólogo
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