SE DEUS QUISER ...
Um amigo, já falecido, tinha o costume de interpelar qualquer pessoa que rogasse pelo nome de Deus sem um motivo relevante.
Se alguém falasse perto dele:
- Se Deus quiser amanhã vai fazer sol!
Ele já soltava uma, mais ou menos, assim:
- Deixa Deus fora disso! Ele tem coisas mais importantes para cuidar. Vá olhar o informe da meteorologia.
Ou, ainda melhor:
- Deus vai me ajudar a conseguir uma vaga para trabalhar. Tenho certeza!
O meu amigo diria:
- Deus não trabalha com recrutamento e seleção de empregos. Deixe seu currículo nas empresas.
Ele me corrigiu uma centena de vezes.
Sempre dizia que Deus deveria estar liberado para poder dar atenção ao que realmente importava. Coisas do tipo de não deixar a Terra de chocar com a Lua, manter a gravidade funcionando e zelar por todos os seres vivos. Isso sim era um trabalho para Deus.
Veja bem: não estou questionando a onipotência nem a onipresença. Estou apenas comentando sobre o meu amigo e suas manias.
Até porque, eu mesmo já testemunhei Deus operando em coisas sem relevância nenhuma.
Uma vez, estava em um campeonato de pesca do Farol de São Thomé organizado pelo Prof. Matsuda (eu tinha uns nove anos de idade) e vi – com esses olhos que a Terra há de comer – uma cena histórica.
Um dos pescadores do nosso grupo estava com a linha de pesca toda embaralhada nas mãos. Um monte de nylon que parecia um novelo de lã. Ele segurou o bolo com as duas mãos, olhou triste para o céu e gritou:
- Deus! Me ajuda por favor!
Claro, vocês não vão acreditar. A chumbada caiu da mão dele e, como mágica, a linha se desenrolou diante dos olhos perplexos de todos nós.
Jamais esqueci essa cena.
O meu amigo não estava presente nesse dia. Óbvio!
Ele foi útil para nós. Minha esposa também o conheceu. Aqui em casa não rogamos por Deus à toa. Clamamos por ele em nossas preces e meditações sempre com muitos agradecimentos e quase nunca com solicitações pessoais de qualquer espécie.
Quero crer, que, nesse momento de pandemia Ele deve estar muito ocupado atendendo inúmeras demandas de seres humanos em real sofrimento.
Dessa forma, algumas pessoas podem até acreditar que Ele estava distraído, muito atarefado com tudo isso em nosso mundo, quando o menino Miguel entrou naquele elevador.
Outros dizem que, na verdade, Ele quer os melhores mais rapidamente de volta ao Lar.
Quem sou eu para, em dias turbulentos, afirmar ou contestar verdades absolutas que todos defendem com voracidade.
A minha é menor e silenciosa.
Sobre o meu amigo?
Bem, ele morreu de enfarto fulminante na década de 90 enquanto almoçava.
Provavelmente, também, em desses momentos de muita ocupação do nosso Senhor ou de atenção plena aos bons.
Por João Oliveira