SORTE, OU AZAR?
Pessoas
passam pela vida argumentando que são infelizes por não terem tido
oportunidades ou por serem desprovidas de sorte. O que há de verdade nisto?
Seria mesmo possível existir tais diferenças entre os seres humanos?
Uma vez
o exército de Gengis Khan passava por uma fazenda ao norte da Mongólia, era o ano
de 1180, ele estava reunindo os clãs
para mais uma luta contra os tártaros.
Um dos seus arqueiros montava uma égua que, prenha, tinha dado a luz a
um potrinho. Gengis Khan não queria
saber de distrações em sua tropa e ordenou que o pequeno animal fosse
sacrificado. Ao invés de fazer isto, o arqueiro deu o potrinho para um menino,
filho do dono da fazenda onde estavam alojados. A tropa seguiu viagem.
- “Menino de sorte este seu filho hein? Ganhou um potrinho
de uma égua do exército de nosso Khan!” – disse o vizinho ao pai do menino.
- “Sorte ou azar, só o futuro dirá.” – respondeu o velho
homem ajudando o menino a alimentar o fraco animal.
O
potrinho cresceu e, certa vez, a porteira da fazenda foi esquecida aberta
durante a noite, o jovem cavalo, cheio
de energia e vontade de correr pelo mundo, fugiu.
- “Menino de azar esse filho seu, ganhou o potrinho, cuidou
tão bem dele e, agora, o bicho foge!” – Disse o vizinho.
-”Sorte ou azar, só o futuro dirá.” – responde o idoso
fazendeiro consolando o filho que chorava pela perda do animal.
Passadas
três semanas, eis que surge o cavalo correndo pelos campos e arrastando consigo
vários cavalos da mesma raça que viviam nas frias espetes na forma selvagem. Toda a tropa entra na fazenda,
seguindo o líder, foram direto para o cercado se alimentar.
- “Que menino de sorte este teu filho: ganhou um potrinho, o
bicho cresce e foge e agora volta, trazendo mais oito cavalos! Isso é que é
sorte!”
- “ Sorte ou azar –
repetiu o velho – só o futuro dirá!”
Um mês depois
o menino estava adestrando os cavalos selvagens, montado em um deles o animal
se assusta e tomba o rapaz quebrando seu braço. Uma época onde os tratamentos
eram difíceis o menino acaba se curando, mas fica com o braço direito torto.
- “Menino azarado
este teu filho: ganhou o potrinho, que se torna uma cavalo e foge, retorna com
vários outros e agora um deles deixa seu filho meio aleijado! Que azar não é?”
- “Meu querido vizinho, sorte ou azar, só o futuro dirá.” –
disse o velho com o olhar triste sabendo que o filho não teria mais os
movimentos perfeitos naquele braço.
Os
soldados de Gengis Khan voltaram.
Desesperados ele precisavam de jovens para ser treinados como arqueiros. A
batalha estava quase perdida e eles não tinham tempo a perder. Entravam nas
casas e sequestravam os rapazes que tinham a idade certa para segurar o pesado
arco. O filho do fazendeiro que vivia falando sobre a sorte do vizinho foi
levado, mas o garoto que, após a queda, tinha ficado com o braço torto, foi poupado,
de nada ele serviria ao exército guerreiro, afinal jamais poderia manejar bem
um arco e flecha.
Nas
batalhas, o filho do fazendeiro vizinho morreu.
- “Azar mesmo – disse ele – teve foi o meu filho.”
Não
existe como avaliar uma situação no momento em que ela ocorre. Existem eventos
ruins, em nossas vidas, que podem assinalar mudanças de planos, alteração de
rota e que, no futuro, podem se tornar coisas realmente boas. Caso fiquemos
ocupando o raciocínio tentando elucidar os fatos em dualidades – boa ou má – ou
ainda se focarmos somente no passado que consideramos ruim, deixamos de
observar o dia e planejar o futuro.
Existe a tragédia. Sim existem fatos que nos
causam imensa dor. No entanto, se permanece a vida em nós, também existe a
chance de mudar o porvir. Cuidar para que, os próximos passos, sejam produtivos
e melhores do que os dias em que a tragédia nos colocou de joelhos.
Viver
não é somente contabilizar momentos agradáveis. A vida é feita de tudo o que há
nela e não podemos apenas escolher. É necessário construir.