Por João Oliveira
O
Sultão andava de um lado para o outro na torre de observação sempre mirando a
linha do horizonte no deserto. O mercador que estava trazendo a Joia Da Verdade
já demorava cinco dias além do prazo estipulado. Não era medo de perder o valor
pago que o deixava assim, era a ansiedade por ter as perguntas respondidas.
A
Joia da Verdade sempre responde três perguntas ao seu novo dono, depois disto
ela se silencia para sempre para esta pessoa. O dono, que já teve suas
perguntas respondidas, pode então vender a joia mas, não sem antes, fazer um
elaborado ritual de entrega.
Ocorre
que a joia deve ser embrulhada na primeira noite do Ramadã e entregue ao novo
dono antes que este período de jejum se encerre. Assim, o novo dono, terá de
abrir a caixa da joia na primeira noite de lua cheia após o ramadã e, que com
as duas mãos segurando a joia sob o luar à meia noite, proferir as perguntas.
Agora
uma caravana surgia ao longe. O Sultão Abhir Kabar Uslan sorriu pela primeira vez
em muitos dias. Seu nervosismo tinha lugar, pois hoje será a primeira noite de
lua cheia e, caso não pudesse abrir a joia nesta noite, deveria esperar por
mais um ano para obter suas respostas.
Uma
grande festa se deu no palácio, a ansiedade pelo momento certo estava tornando
cada segundo quase insuportável. Já com a caixa nas mãos o Sultão subiu até a
mais alta torre de seu palácio e, sob o luar perfeito abriu a caixa.
A
joia estava acomodada em um pequeno travesseiro de cor vermelha o que aumentava
seu brilho alaranjado. Ele, com muita cautela, ergueu com as duas mãos a pedra
acima da cabeça e gritou:
- Quando irei morrer?
O
que ocorreu em seguida só sabemos por se tratar de uma história contada muitas
vezes entre os povos árabes, pois ninguém que estava ao lado do Sultão
realmente ouviu algo. A voz sensual de uma mulher ecoou apenas dentro da cabeça
daquele homem e as palavras lhe disseram:
- Todos os dias, um pouco- E
ficou em silêncio.
A
resposta não era exatamente o que o Sultão esperava e após ficar alguns
segundos pensativo fez a segunda pergunta.
- Como posso ser ainda mais rico?
Quase
imediatamente a voz soou dentro de sua cabeça como um trovão.
- Valorizando as coisas que não
possuem preço.
O
Sultão abaixou os braços e olhando a joia entendeu que tudo de mais precioso
nunca lhe custou uma única moeda. Pensou em seus filhos, nas suas esposas, em
suas refeições, nos amigos queridos... isso demorou alguns minutos até que ele
levantou novamente a joia para fazer a pergunta final.
- Me diga ó joia da sabedoria
universal. Qual o segredo de maior valor que devo saber para viver melhor, sem
aborrecimentos ou ressentimentos, entre os seres humanos! O que devo saber,
joia misericordiosa, para ser feliz todos os dias na minha vida!
O
silêncio se fez na cabeça do Sultão. Alguns instantes apenas que lhe fizeram se
sentir abandonado por completo. Enfim, a joia respondeu:
- Não espere nada de ninguém.
Ouça a todos sem contestar. Jamais responda uma pergunta que não foi feita e
sempre prefira o silêncio às palavras não pensadas.
Dito
isto a joia perdeu sua cor e se emudeceu por completo. Ficou branca e só
tornará a ter cor diante de um novo proprietário sedento por suas sábias
respostas.
Tenho
certeza que você gostaria de ser o novo proprietário desta joia. Acredite, você
já a possui, se chama consciência. Todas as respostas estão aí dentro de você,
apenas ouça. Para isto é necessário que você faça silêncio e perceba essa voz
que ecoa no seu ser.