Por João Oliveira
Meu
nome é Alexandro e devo lhe contar uma coisa. Um evento muito sério... vou
dizer toda a verdade, afinal, ele me fazia muito mal. Hoje não seria capaz de
dividir a mesa do jantar com ele em nenhuma ocasião. Fiz bem em destruir sua existência.
Agora
que ele se foi posso me sentir mais livre e feliz. Sumiu de mim toda inquietação
que sempre me provocava. Muito passional, ele levantava questões especulativas
sobre todos ao seu redor e, por conta disto, vivia em um mundo de medo e
ansiedade constante, quase um psicótico.
Não era boa
companhia para ninguém, não construiu amizades sólidas e, ao contrário,
conseguiu impedir o surgimento de várias possibilidades de relacionamentos
duradouros. Afinal, abusar dos sentimentos dos outros era sua melhor
especialidade.
Agora que está
morto, por minhas próprias mãos, o mundo é um lugar melhor. Principalmente para
mim e, tenha certeza do que vou lhe dizer, devia tê-lo matado muito antes.
Antes que você me condene,
deixe-me esclarecer alguns pontos:
1) Ele
estava destruindo, por completo, minha capacidade de raciocínio.
2) Seus
hábitos poderiam me matar em algum tempo.
3) Nunca
me ajudou a crescer, muito pelo contrário, sempre atrapalhava tudo com seu
comportamento inadequado.
O homem que
matei tem o mesmo nome e cpf que eu, no entanto era outra pessoa completamente
diferente. Você faria o mesmo, se é que já não fez e ainda não se deu conta:
extirpou parte de você que prejudicava sua vida.
Sabe, isso
funciona como uma nova posição de ver o mundo: como se você estivesse sobre a
montanha vendo, agora, as grandes casas que você admirava muito pequenas lá
embaixo. O problema é que ainda existe uma sombra, sua, pairando por onde você
caminhou.
São as pegadas
de outro homem que habitava seu corpo. Uma identidade diferente que podia agir
de uma forma abominável para os seus princípios atuais. Claro que ele pode te
assombrar em pesadelos noturnos e, o melhor que pode ser feito neste momento, é
matar, por completo, cada estrutura ruim deste ser antigo que ainda habita sua
mente.
Não me olhe
assim. Nem tudo nele estava perdido (ainda bem) muitas coisas foram excelentes
em seu tempo e, graças a estes passos, pude ver o diferencial de escolhas.
Realmente sei o que pensa, você se orgulha de tudo que vez em sua vida. Que
bom! Isso deve ser porque eu tenho boa memória dos meus atos e consigo julgar a
mim mesmo antes de avaliar a ética de outras pessoas.
Está morto!
Falar disso me causa uma sensação de livre arbítrio como nunca tive antes.
Tomei a decisão, olhei para a meta final e sigo caminhando. Nem sei porque
motivo você elenca este assunto agora. Deixe isso no passado. Já confessei meu
crime. O que tenho de pagar?
Entendo...
então estarei condenado a viver com ele dentro de mim mesmo que ele não possa
se manifestar em momento algum. Ele será memória. Fator importante para manter
o rumo centrado a cada novo momento desafiador.
Saber reconhecer
suas falhas pode ser o fator mais importante para o crescimento pessoal.
Entretanto, não é possível matar parte de você como se fosse um jornal velho
que queimamos no quintal. Sempre haverá lembrança dos erros e isso pode ser o
guia para os acertos futuros.