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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Cheiro de Chuva



Por João Oliveira

                Um condicionamento feito por uma indução de auto-hipnose neurossensorial é algo realmente muito forte e, como percebemos, pouco utilizada. O tempo todo estamos sendo condicionados desta forma: o cheiro de um perfume lembra uma pessoa e bate uma saudade triste ou, uma música nos faz recordar de uma tarde na praia e ficamos mais alegres.

                O funcionamento é relativamente simples, uma sensação qualquer que pode ser visual, sinestésica ou auditiva serve como âncora para um estado psicológico instalado ou, como já conseguimos alguns resultados, em substituição a alguma substância química usual, como cigarros ou drogas. Estando o sujeito em estado alterado de consciência, sem barreiras criticas, o condicionamento fica livre de análises e pode alcançar um excelente nível de aproveitamento.

                Algumas ancoragens neurossensoriais foram desenvolvidas em nosso consultório durante a pesquisa para o mestrado na UENF-RJ e, se mostraram altamente eficazes. Na verdade elas nem são citadas na dissertação, pois este não era o tema principal e, essas induções com apoio neurossensorial, faziam parte da abordagem para o método desenvolvido para o Emagrecimento Pela Palavra. No livro “Ativando Seu Cérebro Para Provas e Concursos! Esse perfil de indução é associado à recuperação de memórias de conteúdo estudado, mas pode ser utilizado para qualquer “colagem” na estrutura psíquica. Uma dessas técnicas de auto-hipnose é mais antiga do que podemos mensurar: a do Mantra Diário, por exemplo, que foi reeditada pelo Émile Coué no século XIX já era usada pelo egípcios e hindus em suas meditações transcendentais.  Se observarmos bem, ao nosso redor, a auto-hipnose está em quase tudo que requer atenção dirigida. Como disse certa vez o Dr. Milton Erickson: “-Tudo é hipnose e nada é hipnose.” 

Alguns exemplos práticos que encontramos no livro “Ativando Seu Cérebro Para Provas e Concursos” Editora WAK 2012

Ancoragem Neurossensorial Tátil – As ancoragens neurossensoriais sempre são muito poderosas e esta é muito fácil de ser feita e só depende de uma boa concentração. Ao ler um trecho do texto que precise ser memorizado, repita a leitura tocando uma parte do seu corpo sob pressão tátil. Faça assim: Com dois dedos da mão direita pressione um dos dedos da mão esquerda. Continue apertando enquanto lê e relê o texto por alguns momentos. Pronto: a ideia é que, ao apertar de novo, nesta mesma área com pressão similar, irá criar condições para o acesso na memória do material estudado.

Ancoragem Neurossensorial Gustativa – Usando o paladar para memorizar. Use um tipo especial de balas com vários sabores diferentes. Lógico, você já entendeu, terá de ter acesso às mesmas balas no dia da prova, por isto saiba escolher bem. O resto é o mesmo processo: estude saboreando as balas. Uma para cada tipo de material que você quer criar associação.  Use, apenas, uma vez cada sabor e, quando necessitar recordar este material especifico, utilize o sabor como ponte à memória.

Ancoragem Neurossensorial Visual – Processo que utiliza cores para ancorar memórias. Utilize, para isto, fitas coloridas como pulseiras no braço. Cada cor um trecho importante. Leia mantendo a fita como guia de leitura, depois a coloque no braço.  Como sempre, a fita deve estar presente no dia da prova para facilitar a recordação do material estudado.

               
                Qualquer cenário psicológico pode ser associado a uma sensação, podemos ativar uma elevada autoestima, promover forte estado de segurança ou ainda substituir compulsões. Nosso cérebro tem respostas e artifícios incríveis que estamos apenas começando a descobrir. Não é nada difícil e você mesmo pode testar algumas destas possibilidades.

                Na próxima vez que sentir o cheiro da chuva chegando pegue um poema que deseja decorar, leia algumas vezes enquanto inspira o odor deste momento. Assim, quando a chuva estiver chegando em outra oportunidade, acredito que você já seja capaz de declamar, de memória, o mesmo texto olhando para as nuvens.



sexta-feira, 4 de julho de 2014

A CARTA




Por João Oliveira


            Querido amigo, escrevo esta carta no intuito de remediar a longa ausência de contato entre nós. Escolhi este método por ser pouco usual e existir além da temporariedade. Veja, hoje na era cibernética é fácil mandar e-mails, sms, falar ao celular, mas, carta de papel, escrita a caneta, é uma coisa cada vez mais rara. Acredito que escrever com a mão sobre o papel transmite um pouco da emoção que se sente no momento.


            Justamente esta emoção eu gostaria de transferir para você, embora eu tenha certeza que pouco será útil nestes dias mas, que sabe, pode vir a completar a lacuna vazia de alguém neste vasto mundo.


            O que sempre ocorreu é que nunca tivemos tempo para nada. Seu propósito de vida, ganhar dinheiro, tirou você do meu campo de visão. Eu sempre busquei crescimento interior e você sempre zombou disto.


            Está certo. Nunca possuí um carro como o seu, nem morei em uma casa como a sua. Essas diferenças de conforto físico eu não posso negar, existem sim. No entanto, pouco tempo você teve para desfrutar de tudo a sua volta. Sempre algo importante estava ocorrendo e isso lhe tomava mais tempo ainda.


            Seus filhos cresceram e você nem viu direito. Sua esposa, como sofreu essa criatura, sempre pedia mais atenção e você (disso me lembro bem) jogava na cara dela que estava trabalhando para dar conforto a família.


            Eu posso dizer que conheço boa parte do mundo, que li bons autores e que sei os passos que darei nos próximos anos. Você, querido amigo, está preocupado com a segunda feira, com o horário que o banco vai abrir. Isso nunca foi vida para ninguém.


            Outro detalhe que eu gostaria de ressaltar nesta carta é a forma como você sempre cuidou de seu corpo. Nunca praticou nenhum tipo de atividade física, sempre se alimentou de forma errada e, ainda por cima, fumava e bebia.


            Não há como negar que uma bomba relógio estava se armando ao longo dos anos.

            Ouça o que eu tenho para te dizer:


1)     Dinheiro não é o mais importante. Ter na medida certa é muito bom, mas viver em função dele tira da vida o melhor que podemos ter: as relações.

2)    Só temos um corpo. Sim, este invólucro que cerca sua alma é frágil e necessita de cuidados especiais.

3)    A família é tudo. Se não tiver tempo para sua família esqueça o resto pois, nada vale mais a pena que uma boa relação com os filhos e netos.

4)     Temos pouco tempo! Sempre existiu uma crise em andamento. Por isso devemos escolher bem onde colocamos nossa atenção.



Bom, amigo, não posso me furtar de lhe falar que todo o dinheiro que acumulou e seus bens espalhados pela cidade continuarão a existir enquanto você, acometido deste enfarto já não está entre nós.  


Trouxe pessoalmente esta carta que deixo agora sobre seu túmulo. Sinto não ter escrito isso há 20 anos. Não sei se teria mudado algo, mas eu teria a consciência mais leve de ter lhe dito o que sentia.


Só mais uma coisa: breve estarei com você. Afinal, todos caminhamos na mesma direção e a falta de clareza em ver o término da jornada pode nos cegar e fazer pensar que sempre teremos tempo, à frente, para consertar as coisas que deixamos para trás. 


Sei que agora em está em paz, pena que sua vida não foi assim.


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Múltiplos


 Por João Oliveira

              Não havia muito por onde andar. As águas haviam baixado e, o que antes era um vasto continente, agora pareciam ilhas distantes. Numali, bela deusa dos antigos, olhava com tristeza o passado glorioso de cidades estados que agora estavam nas regiões abissais de um imenso oceano.

- Eu avisei! – disse ela aos outros que estavam no barco – Eu disse que isso iria acontecer. Não ouviram... agora não existem mais.

- Senhora, não se entristeça. – falou uma jovem serviçal – Assim estava escrito nas tábuas dos antigos: “À água tudo retornará! ”

           Numali baixou a cabeça, o ar de cansaço se confundia com a angústia profunda, caminhou pelo convés vagorosamente e, de súbito, gritou com toda força:

- Onde está o nosso Mago Engenheiro?

- Aqui estou Numali, pronto para lhe servir!

                Um velho homem surgiu no ar em frente a Numali e trazia nas mãos cristais coloridos.

- Veja, já localizei um outro planeta com as mesmas condições do nosso! Olhe aqui em meus cristais sagrados como os habitantes de lá vivem em alegria constante. Será um bom lugar para começarmos de novo. – disse o Mago Engenheiro em euforia.

                Numali se curvou sobre os cristais e começou a ver várias cenas do tal planeta.

- Isto é uma máquina do tempo? Estou vendo nosso passado aqui. O que eles estão fazendo todos reunidos em um só local gritando como loucos? Não parece com os nossos antigos jogos de guerra? – perguntou Numali.

- Ah...- disse o Mago – Isso se chama futebol. Está ocorrendo uma disputa que reúne todos os reinos deste planeta em uma mesma competição.

- Me diga Mago, o que o território dos guerreiros vencedores recebe como tributo ao final do torneio?

- Na verdade não muita coisa. Pelo que eu entendi, olhando os cristais, eles recebem uma grande taça de metal. Tudo é muito simbólico por lá...

- Como simbólico? Veja como as pessoas estão vestidas, histéricas, veja aqui: algumas estão sendo agredidas. Eles estão em guerra como nós antes da catástrofe?

- A senhora mexeu nos cristais, isso que está vendo agora são os trabalhadores que ensinam crianças solicitando melhorias em seu labor.

- Mago? Neste lugar os que detém o conhecimento são agredidos? Isso parece bem pior que o nosso passado. Tem algo errado com os cristais...

- Não... tem algo errado no planeta deles. Por isso, acredito ser uma excelente opção para o nosso destino. Veja aqui... neste cristal menor como eles se encantam por qualquer coisa.

- O que é isso?

- São as fêmeas da própria espécie com poucas indumentárias.

- Mago – disse Numali pálida – Eles ficam paralisados diante de seres da própria espécie em situação de nudez?

- E não é só isso! Veja como são frágeis e podem ser desligados com o mínimo esforço. São bolhas de líquido e carne com ossos porosos. Imagine diante de nossos guerreiros invisíveis.

- Sim, seria fácil dominar pela força. Vejo como morrem com facilidade... mas tenho um plano melhor para nos apossarmos de tudo e ainda sermos adorados e bem servidos. Não é preciso preparar nada. Partimos hoje!

                Assim o barco se transformou em uma grande nave espacial e todos os seus tripulantes e passageiros, mais de 300.000 sobreviventes de um planeta submerso, começaram uma jornada em direção a Terra.

- Mas, minha senhora, como espera dominar todos de uma só vez?

- Nada, quando chegarmos, dentro de alguns anos solares, pouco existirá desta espécie e, os que sobreviverem, aceitaram qualquer oferta de esperança como tábua de salvação.

- E como a senhora sabe disso?

- Veja como o nosso planeta, como se autodestruiu. Não éramos tão diferentes deles há alguns poucos anos. Tínhamos histeria coletiva, apego a coisas banais e, você bem se lembra, brigávamos entre nós por qualquer motivo que fosse. Pela distância que estamos deles, o tempo da viagem será suficiente para encontramos escombros e seres famintos.

- Mas, senhora – disse o mago – é justamente isso que somos agora.

- Sim amigo Mago, mas eles não sabem disso!

                O pior tipo ignorância é a que acredita que conhece algo mas, que realmente nada sabe sobre realidade dos fatos, por isso, é facilmente manipulável pelos que distribuem as informações.