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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

SONHOS COMO FONTE DE DESCOBERTAS





 Por João Oliveira

Os sonhos podem de fato nos ajudar em vários aspectos da vida. Pesquisas já comprovaram que dormir após estudar ajuda na retenção de conteúdo, o cérebro distribui melhor o material estudado para as áreas onde a memória de longa duração é mais eficiente. Sujeitos colocados em um labirinto tem melhor performance nesta tarefa depois de tentar por alguns minutos e dormir um pouco. Aqueles que sonharam com os corredores tiveram melhor resultado que os que não dormiram durante o experimento. Então os sonhos também nos ajudam a criar estratégias!

               Da mesma forma descobertas podem ser feitas através dos sonhos, vamos a alguns exemplos:

-  Paul McCartney  acordou numa manhã de 1965 com uma música na cabeça: Yesterday ! Ela veio tão completa em seu sonho que ele demorou em registrar como sua, pois acreditava ter ouvido em algum lugar antes e o sonho apenas havia recuperado a memória. Somente depois de mostrar para várias pessoas e comprovado que a melodia não existia é que teve coragem de gravar o que se tornou um dos maiores sucessos dos Beatles.

-  O romance Frankenstein, de Mary Shelley, foi inspirado em um sonho que a autora teve. Na verdade deve ter sido um pesadelo. A estrutura do monstro e de seu criador o Dr. Frankenstein veio completa durante a noite e a Mary pode então desenvolver a história que se tornou universal do monstro, feito de pedaços de corpos, com uma alma pura.

- O inventor Elias Howe teve um sonho onde uma tribo de canibais usavam lanças com buraco nas pontas, isto foi o suficiente para ele desenvolver o sistema que permite o funcionamento das máquinas de costura. Na verdade ele foi dormir com este problema na mente, como solucionar o problema da linha no movimento de ir e vir da máquina que ele estava construindo. Levar a linha para ponta da agulha, e não no cabo como era até então, foi a solução apresentada pelo mundo onírico.

- Depois de um sonho com uma cobra comendo o próprio rabo, o cientista August Kekulé desenhou a estrutura química do benzeno (C6H6) o que, na época, seria impossível sem a tecnologia atual.
- Até mesmo a estrutura do DNA, descoberta pelos cientistas James Watson e Francis Crick em 1953, surgiu em um sonho com escadas em espiral.

- Em 1936 Otto Loewi ganhou o prêmio Nobel de medicina graças a um sonho que lhe inspirou a um experimento de como os impulsos nervosos trafegam pelo corpo. Foram dois sonhos. Ele tinha o costume de anotar os sonhos (excelente costume), mas, na noite do sonho revelador ele escreveu tão rápido e, com sono, que no outro dia não conseguiu decifrar o que havia escrito e, portanto, não conseguiu lembrar-se dos detalhes. Na outra noite o sonho se repetiu e desta vez, ao invés de anotar Loewi foi direto para o laboratório tornar o conteúdo do seu sonho o experimento que fundamenta a teoria da transmissão química do impulso nervoso.

               Estes são apenas alguns poucos exemplos. Uma vez incorporada certas técnicas para o trabalho com os sonhos eles se transformam em ferramentas úteis para o dia a dia. Várias são as técnicas que podem nos auxiliar a direcionar os sonhos em prol dos diversos objetivos que pretendemos. Para memória, saúde ou mesmo apresentação de soluções para problemas cotidianos. Você pode encontrar algumas delas em nosso livro “A Importância dos Sonhos: Interpretação e prática para a saúde plena” (Editora WAK, 2013), todas já foram usadas em consultório e/ou ensinadas a pacientes com resultados satisfatórios. Na verdade quando se utiliza a psicoterapia agregada ao trabalho com sonhos o resultado é, por vezes, surpreendente.

               Porém devemos começar trazendo os sonhos à memória. Observamos que uma grande parcela das pessoas reclama de não ter uma perfeita memória dos sonhos ou que, segundo elas, nem mesmo sonha. Na verdade é impossível não sonhar. O sonho pode ser deletado pelo sistema para poupar o sujeito de um problema adicional durante o dia. O conteúdo não lembrado pode trazer a tona emoções que criariam uma situação negativa e por isto, como o sistema é perfeito, ele é dissolvido como uma neblina ao amanhecer.

               Para isto, fazer voltar a lembrança dos sonhos, também existem técnicas que podem ser encontradas no mesmo livro. Bons sonhos!



 

              

O CAMINHO



              

Por João Oliveira

             Durante a caminhada os dois personagens deste texto conversavam e, o que estava ao lado direito da estrada parecia estar mais animado.

- Hoje teremos um grande dia não é?

               O outro personagem, que caminhava mais lentamente e de cabeça baixa respondeu em um tom lento e tristonho.

- Pode ser para você. Afinal a festa é sua, eu só recolho os poucos que me escolhem.

- Eu acho que você faz bem o seu trabalho, afinal todos os que vão em sua direção são autênticos. Meu trabalho é diferente: não escolho nem sou escolhido. Apenas pego o que aparecer pela frente. Ou seja, quantidade: todos são meus afinal! No seu caso acho que é a qualidade que importa.

               O que andava lentamente parou, olhou de frente para o companheiro de jornada e disse em tom solene.

- Já não é mais assim, o mundo mudou! Eles só me procuram quando percebem que você já está diante deles. Por isto sempre caminhamos juntas: Morte e Fé!

               Deixando os dois personagens seguindo pela estrada, por enquanto, podemos refletir sobre o que entendemos por fé ou esperança. Afinal, posso apostar, a maioria das pessoas liga (imediatamente) fé a uma religião qualquer ou a uma deidade amparadora que oferta soluções em tempos de crise. Não é desse tipo de fé que gostaria de tratar, até porque não possuo credenciais para tal, e sim de outra, uma que conhecemos como projeto de vida.

               Ter uma vida com um projeto estabelecido é ter fé em um amanhã melhor. A grande massa aprisionada entre a conquista do almoço e do jantar não pode olhar além do final de semana e isso se instala como uma rotina para toda existência. Não está certo viver assim.

               A morte, embora  certa, não está nos planos de ninguém. O que resta então é poder seguir em sua direção com o proveito máximo da vida: realizando, construindo, tendo lazer, amando e tantas outras coisas que podemos fazer para manter uma boa qualidade de vida. Para que isto possa ser possível é necessário um plano de voo estabelecido: onde quero chegar e em que tempo?

               Calcular o tempo de vida que se espera ter à frente e como pretende distribuir deveres e prazeres deve ser uma prioridade para criar o elemento de fé na vida e não ter surpresas ou arrependimentos no momento em que a morte se tornar presente. 

Quais são os seus planos? São viáveis? Está cumprindo as etapas? Já desistiu de tentar?

               Este perfil de fé mantém o caminho firme sobre os pés e mesmo nas turbulências que ocorrerem você será capaz de suportar, pois, existem outras metas para serem alcançadas e tantas outras que já foram superadas. Escolha algo para conquistar em curto prazo, outro objetivo para médio prazo e, para o resto da vida, projete conquistas em longo prazo. Assim será mais fácil administrar sucessos e fracassos (sim, eles existirão).

               Voltamos ao caminho. A Morte se volta para a Fé devolve um olhar tranquilo e diz:

- Então temos aqui um grande problema amiga: estou sempre diante deles. Pode ser que eles vivam fingindo que nunca os encontrarei. Mas, não saio, um segundo sequer, do futuro de todos os que vivem.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O DRAGÃO DA MONTANHA




Por João Oliveira
              
               Todos os guerreiros estavam sentados em volta da mesa quando o Rei levantou-se e começou a falar:

- Não podemos mais viver com esta ameaça constante! Não é possível prosperar como nação desde que este Dragão começou a cobrar partilha! Não é possível dar 50% de toda produção de nosso trigo!

- Mas majestade – disse um cavaleiro próximo ao Rei – corremos o risco de sermos destruídos, queimados, triturados se não houver tal tributo como sempre nos disse o velho sábio.

- Olhe bem! – Disse o Rei em tom áspero- Estou disposto a pagar tal preço pela liberdade. Quero cinco voluntários prontos para partir amanhã em direção a montanha e enfrentar o monstro. Levem com você o portador dos tributos - o velho sábio que duas vezes ao ano leva as mulas com o trigo para pagar o Dragão. Ele sabe onde a fera se esconde.

               Silêncio total. Um dos mais idosos cavaleiros se levantou:
- Eu vou majestade!

               Outro, igualmente velho e acabado também se anunciou como voluntário. Logo o Rei já tinha, à sua frente, cinco bons guerreiros dispostos a lutar e morrer em defesa do reino. O Rei estava curioso em saber porque só os mais idosos haviam se disponibilizado e perguntou aos jovens valentes que continuaram sentados:

- Vejo que os mais velhos estão dispostos a combater o inimigo que assombra nossas vidas. Porque os mais jovens não se apresentaram para o combate?

- Trata-se, apenas, de uma questão de estratégia Vossa majestade. – falou um dos mais novos e fortes guerreiros.

- Como assim? – Perguntou o Rei junto ao pasmo geral.

- Veja, eu e meus comandados somos uma força poderosa com muitos anos de combate ainda pela frente. Já os que se voluntariaram estão no término de suas jornadas em nosso plano.

- Sim! E daí? Onde está à estratégia nisto? – Questionou o Rei ansioso.

- Senhor, vejo nessa situação três possibilidades. Primeira: se eles forem e vencerem acabou o problema. Nós seremos poupados para outras lutas com nossos inimigos. Segunda: caso sejam derrotados os que sobreviverem poderão nos trazer informações valiosas sobre localização, tamanho, força e pontos fracos da besta, assim poderemos organizar um ataque fulminante munidos de certezas e não de medo do improvável, afinal ninguém nunca viu este Dragão de perto, só o sábio. 

- Parece realmente interessante. – Comentou o Rei

- É, mas a terceira possibilidade deve ser testada em primeiro lugar, pois, caso nenhum velho guerreiro volte com vida e da montanha só retorne o sábio a luta também estará terminada para todos nós. - Completou o guerreiro.

- Mais uma vez não lhe entendo. - Falou o Rei com a voz pequena.

- Muito simples. Caso só o sábio sobreviva posso entender que tudo é um plano dele para enriquecer as nossas custas. Não há Dragão algum, provavelmente ele está vendendo ou estocando este trigo ao longo dos anos. Assim, se o senhor acreditar que isso possa mesmo vir a ocorrer, bastam algumas horas de tortura no sábio para termos toda verdade e pouparmos as vidas de nossos idosos.

                Dito isso o Rei, pensou um pouco e se lembrou de que o portador da ameaça do Dragão havia sido o próprio sábio há muito tempo e que, de fato, ninguém nunca tinha visto tal dragão de perto, só barulhos e os incêndios na floresta. Mandou chamá-lo e apenas após duas horas de forte inquérito descobriu-se uma caverna lotada de trigo no alto da montanha. Ele planejava sumir do reino após essa última colheita com todo o lucro da venda dos seis anos de terror.

               Moral da história: Dentro de uma organização é necessário muito cuidado, pois, quem para mim traz, de mim leva. Fique atento com pessoas que sempre trazem novidades ruins ao seu ouvido, algo de ti, para o próximo, eles podem estar levando. E, ouça os mais jovens, existe sabedoria até mesmo no que julgamos ser pura inocência ou inexperiência. O bom gestor sabe ouvir, separando o que deve ser levado em consideração ou não.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

RAZÃO




Por João Oliveira

               Sempre nos deparamos com situações onde temos absoluta certeza que estamos certos e a outra pessoa – mesmo errada – não abre mão do seu ponto de vista. Este é o exato momento em que se deve fazer uma pergunta a si mesmo: essa relação tem valor para mim?

               Algumas pessoas podem chegar a extremos para manter uma posição da qual não abrem mão. Podem alterar a voz ou, em situações fora da ordem emocional, serem violentas fisicamente. De uma forma ou de outra a sua relação com esta pessoa sofrerá uma modificação e, mesmo com desculpas posteriores, pode nunca mais voltar a ser igual, algo terá se perdido para sempre. 

               Por isso, é sempre bom avaliar até onde queremos ir, em um debate, onde a razão pode não ser a coisa mais importante em jogo. As relações humanas, tão difíceis de serem criadas nos tempos atuais, tem mais valor e – acredito – devem ser poupadas de opiniões individuais sem propósito maior.
               Verdade seja dita: as maiores brigas verbais são por assuntos débeis ou altamente subjetivos. Termos ligados à religião, futebol, política e (pasmem) meteorologia são os maiores pontos de atrito entre pessoas e, por consequência, geradores de embates. A filosofia também é uma grande produtora de matéria prima, da melhor qualidade, para discussões intermináveis.

               Como evitar situações de risco e ainda sair bem da história toda?

               Normal você procurar, junto com outra pessoa dirigindo, algum endereço. Se ela estiver dirigindo e, indo para um lugar errado, avise com educação, mas não teime nem se altere. Se perceber que ela não vai ceder apenas diga: “- Quando você estiver certo que está enganado estou pronto para auxiliar!” A junção das palavras certo e errado na mesma frase dá oportunidade à pessoa de tomar a decisão e alterar o rumo da prosa sem nenhuma vergonha de tê-lo feito afinal, ele tem “certeza” que está errado e, o aspecto positivo prevalece sobre o negativo.

               Assim, com pequenas estratégias verbais, você pode sair de um tema que gera atrito e solucionar a questão ou mesmo ir para outro tema mais ameno. Não vale à pena prejudicar um relacionamento de amizade por conta de ser a pessoa com “a razão”. Até porque ter opinião qualquer um pode ter, mas possuir estratégia de convencimento é para uns poucos habilitados.

               Sempre que temos treinamentos de persuasão, nos cursos de Análise Comportamental aprofundado, esta é uma das ementas mais concorridas. Acredito que alguns saiam decepcionados, pois, acreditam que vão aprender um jeito de convencer todo mundo do que quiserem. Isso e meia verdade, o que ocorre é que as técnicas fazem com que a outra pessoa é que deseje seguir uma linha de raciocínio – por você colocada –pensando que foi ideia dela e não sua! O truque é justamente você ser convencido, pelo outro, daquilo que você deseja.

               Hipnose Conversacional, gestos de apoiamento, jogo de olhar, tudo funcionando para que a razão esteja com o outro e o resultado positivo com você, mesmo que, para isto, você tenha de perder a discussão.