Por Prof. Dr. João Oliveira
Reza a lenda organizacional que havia um homem que duvidava de tudo: “Aumento de salário? Que nada, sempre ouvi isso e nunca fui contemplado. Esse é o papo do capitalista para nos prender pela esperança”. Na verdade, ele não acreditava em nada que pudesse demonstrar um avanço significativo: “Plano de benefícios? Você acha que vamos ser bem atendidos nesta clínica do convênio? Isso é outra forma de tirar um pouco do nosso salário!”
Claro! Dessa forma a vida não tinha muitas perspectivas. Afinal, a possibilidade de um futuro melhor era logo abortada antes mesmo de surgir algo no horizonte: “Novas filiais? Promoção? Ilusão, só isso... eu não caio nessa, querem que trabalhemos mais!”. Só fazia o básico, não participava das reuniões e nem dava opinião sobre a empresa, mesmo que percebesse algo errado ocorrendo e que pudesse gerar prejuízos à instituição.
Outro sujeito, nessa mesma lenda, tinha o perfil diferente, ele possuía uma fé enorme em todas as coisas que lhe eram apresentadas. Uma crença absoluta nas doutrinas impostas pelos gerentes de linha: “Se o senhor diz que vai dar certo, tenho certeza que vai melhorar!”, dizia ele consigo mesmo. “Estou neste emprego por um fio, não posso discordar do chefe. No momento certo as portas se abrirão para mim”. Sua fé era inabalável, colocava tudo nas mãos dos gerentes e dizia sempre: “Sou uma pessoa boa e não faço mal a ninguém, cumpro meu expediente e faço tudo que me pedem. Meu prêmio está garantido, é só esperar que um dia acontece”. Sendo assim, também só fazia o básico, não participava e nem opinava sobre nada na empresa, afinal, os chefes ganham para fazer isso.
O problema é que, em princípio, os dois estão certos no raciocínio primário, ocorre que pode começar a causar danos à estrutura empresarial quando um destes perfis de pensamentos se transformam em fundamentalismo radical e totalitário:em uma única e radical forma de pensar.
Sim! Certo está quem não aceita de pronto os novos projetos e desafios, mas que, ao mesmo tempo, busca entender qual o mecanismo envolvido em seu funcionamento. Neste caso, o sujeito procura mais conhecimentos que lhe ofertem informações sobre essas novas soluções apresentadas por seus pares. Esse perfil de comportamento ajuda no crescimento pessoal, pois agrega novos conteúdos ao buscador, e pode, inclusive, detectar possíveis falhas no projeto a tempo de indicar correções. Pessoas assim são excelentes numa empresa, pois, nada melhor do que um bom crítico (assertivo lógico) para ajudar no aprimoramento das ideias. Quem tudo aceita, por medo ou querendo agradar a gerência, pode, de fato, afundar uma empresa quando se calar em omissão.
Não está errado quem tem esperança e acredita em um futuro melhor para todos na organização. O erro é transferir responsabilidades e não assumir sua parcela de zelo pela empresa! Pensar que somente o outro pode criar soluções ou prover resultados positivos inibe a vontade e pró-atividade, tornando o sujeito apático. Ele espera que algo ocorra sem acreditar em seu potencial (ou no da empresa) de prover mudanças efetivas para seu próprio bem-estar. Na instituição, esse colaborador é invisível, ele não inova e nem colabora com sugestões. Esta atitude pode estar ocultando um autoconceito negativo, com provável baixa autoestima e, a passar o peso adiante, acreditando que o que faz é mais do que suficiente, acaba eliminando suas possibilidades de crescimento dentro da instituição onde atua.
O modelo atual requer colaboradores participativos. Sendo positivo ao levar indicações de rumos, pois quem aponta um problema deve ter, pelo menos, uma provável solução em mente. Observar o mercado (interno e externo) cotidianamente em busca de alterações de rotas, que podem ajudar no bom andamento do fluxo de produtividade, ao mesmo tempo em que se criam alternativas viáveis para aproveitar novas oportunidades. Isso não é algo especial em um colaborador: é o que se espera dele!
Lembro-me de ouvir um funcionário dizer em voz alta, em uma reunião na década de 1990: “Sou honesto e trabalhador!”. Sim, e o que tem de mais nisso? Ser correto nos procedimentos não é uma qualificação, do mesmo jeito que cumprir jornadas estabelecidas não torna ninguém especial – as pessoas são remuneradas justamente para isso! O salário ou comissões recebidas devem ser entendidos como profundos agradecimentos pelos bons serviços prestados e não como uma obrigação contratual. Tendo esse ponto de vista diferenciado, o colaborador sempre se esforçará para ser merecedor de mais “agradecimentos”. O comprometimento não é somente com a empresa, é consigo mesmo! Trabalhamos todos, a priori, para nosso próprio bem-estar, o que só é possível se a saúde financeira da instituição na qual estamos inseridos estiver excelente. Fazer por ela (instituição) é o mesmo que construir para nós!
Vale lembrar: uma pessoa que não se acha merecedora do melhor jamais irá buscar recompensas. Por isso, os treinamentos/dinâmicas, visando ao gerenciamento emocional, são tão significativos para o crescimento da organização. O corpo funcional deve estar organicamente voltado para a produtividade, na qual o lucro gerado pode garantir a continuidade da empresa e, por consequência, longevidade dos postos de trabalho e possibilidade de melhorias para todos envolvidos.
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