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quarta-feira, 27 de abril de 2016

CANAL SENSORIAL PREFERENCIAL EM RH



Por João Oliveira

Ter conhecimento dos sistemas representacionais tem uma enorme importância no ambiente corporativo, pois potencializa a comunicação em um nível de excelência. Caso a sigla PNL lhe cause estranheza tenha bastante atenção nessa leitura, afinal, trata-se de uma forma de mudar a maneira de como vemos e entendemos o mundo.
A PNL, Programação Neurolinguística, tem sua atenção voltada para três pontos da estrutura perceptiva humana:

1) Programação -  entende que todos nós possuímos, como um computador, uma programação que formata o mundo como percebemos ao nosso modo. Assim, as experiências de vida, modelo familiar, religião e muitos outros aspectos de nossa existência, acabam modelando quem somos e como entendemos a realidade ao nosso redor.

2) Neuro – Parte do princípio que todos temos um sistema neural dotado de cinco sentidos capazes de codificar o mundo para ser analisado e interpretado pelo cérebro. É a parte do que seria o hardware nos computadores.

3) Linguística – Forma de acesso à essa programação que pode ser verbal ou não verbal. A estrutura interna só é alterada através de estratégias linguísticas além das próprias experiências. 

Tendo isso como pano de fundo podemos focar nos Canais Sensoriais Preferenciais. Algumas pessoas especializam o modo como absorvem as informações. Algumas são visuais, outras sinestésicas e, outras ainda possuem o canal auditivo muito apurado.  O ideal é que, para ser um bom comunicador, o profissional de RH tenha uma distribuição equilibrada entre esses três canais sensoriais.

Ocorre que grande parte das pessoas acaba se tornando, por um motivo ou outro, muito especializada em apenas um canal. Dessa forma, podemos encontrar pessoas que são altamente visuais deixando de lado os elementos da comunicação sinestésica e auditiva. Algumas que, por serem muito sinestésicas, acabam valorizando apenas aquelas que lhe interessam e deixando todo resto das informações de lado e, por último, as auditivas que também podem sofrer perda de conteúdo relativas aos outros canais menos significativos para elas.

Nem todas as pessoas apresentam enorme divergência entre os canais. Podemos encontrar profissionais que lidam muito bem com todo o perfil de inputs e, por isso, podem desfrutar de mais recursos na hora de lidar com situações de escolha. Afinal, eles entendem a comunicação que chega com mais detalhes que outras pessoas. O mundo fica maior.

O visual prefere ter as informações por escrito, aprecia gráficos, cores e apresentações de slides bem elaboradas. Já o sinestésico irá apreciar mais o toque nos objetos, nesse caso ter miniaturas, maquetes ou o próprio produto irá potencializar o entendimento. O auditivo, claro, prefere uma comunicação oral bem detalhada já que sua memória nessa área é excelente.

O grande desafio do profissional de RH é saber como lidar com todos de forma a não criar ruídos no processo comunicativo permitindo que a informação chegue clarificada para todos os perfis de sistema representacionais. Na prática, agradar gregos e troianos.

Ao montar a estratégia de intervenção, o profissional pode se valer de uma escuta ativa usando algum colaborador como referencial em determinado canal. Como fazem as grandes empresas quando solicitam uma pesquisa qualitativa: pequenos grupos de pessoas apreciam e discutem sobre o produto com ou sem interferência do pesquisador. No caso específico da empresa que propõe uma ação comunicativa para todo o corpo laboral, o ideal é que elementos já percebidos como expoentes em um único canal sensorial sejam submetidos ao conteúdo e, após isso, dê o feedback à equipe para que seja aferido o grau de entendimento.

Assim, o RH pode eliminar falhas na raiz e propiciar uma maior facilidade de acesso ao estado natural de interpretação de cada um. As imagens mentais, o self-talk, sensações e sentimentos podem ser barreiras ou aliados se os blocos de informações forem bem elaborados. Cuidar para que o corpo laboral entenda o que a linha está propondo já faz toda diferença no resultado.

Muitas vezes o conteúdo está colocado de forma impecável para um elemento receptor altamente visual. Mas, deixa muito a desejar para o entendimento de um auditivo que pode ter uma compreensão errada e ter atitudes contrárias às pretendidas pelos profissionais que elaboraram o material.

Todo o cuidado é pouco quando se lida com um grupo, mesmo que pequeno, de pessoas. Vale a premissa: “comunicação não é que se fala, é o que se entende”. Os outros, que são tocados pelo conteúdo que geramos, podem receber aquilo que falamos e fazemos através dos seus mapas mentais personalizados. Sempre que alguém ouve de forma distorcida o que para nós é claro, nos permite uma correção na forma como colocamos nossos pensamentos no mundo.

Mesmo fora do ambiente institucional esse conhecimento é valioso. Perceber como o outro entende e, principalmente, quais são nossas próprias falhas perceptivas. Saber qual é o canal mais forte e, se existem canais representacionais menos potentes, nos alerta para a possibilidade de tentar melhorar nossa capacidade de coletar dados informacionais do ambiente.

Trazendo para o dia a dia, muitos casamentos ou amizades podem ter pouca durabilidade simplesmente porque os elementos envolvidos não conseguiram adaptar seus processos representacionais do mundo de forma a poder alcançar o outro em seu entendimento.

Existem vários testes on line disponíveis na internet para quem quiser descobrir qual o seu canal sensorial preferencial. Não se preocupe com resultados que apontam diferenças absurdas pois, não há nada que não possa ser alterado com treinos utilizando a neuróbica. Nossa mente possui uma incrível capacidade de mudanças, principalmente quando assim queremos.

terça-feira, 26 de abril de 2016

OS PARISIENSES SOLTAM PUM NA RUA?



Por João Oliveira 



Percebemos uma falha no questionamento título desse texto: “ Os parisienses soltam pum na rua? ”. Óbvio que não podemos partir do princípio que todos humanos têm a mesma fisiologia para justificar um comportamento que pode ser cultural ou não. Além disso, essa pergunta é um tanto aberta é necessita de certos ajustes para que possamos aplicar uma metodologia científica de pesquisa de campo afim de apurar se o fato é real ou não.


Em primeiro lugar como podemos definir “parisienses”? São os nascidos na cidade de Paris, capital da França ou simplesmente os que lá residem há muito tempo? Vale também a pena saber se os naturalizados estão inclusos nesse mesmo grupo e, se as pessoas que receberam títulos de cidadãos honorários desta mesma cidade, podem também figurar no espectro de parisienses.


Imposta essa limitação, que deve estar clara logo no início, outros parâmetros precisam ficar bem definidos para que não existam discrepâncias nos resultados possíveis.


1 – Entra em jogo a idade da população entrevistada? Isso é relevante, pois, como sabemos, as crianças e adolescentes, sem a devida maturidade, podem lidar com essa função fisiológica de diversas formas, o que pode comprometer a apuração dos dados.


2 – A alimentação será questionada? Sim, afinal, certos alimentos são mais propensos a gerar gases que outros. Dessa forma, é possível que alguns indivíduos pesquisados possam ter comportamentos únicos, diferente de seus pares, apenas por um almoço com maior volume de feijão ou batata doce.


3 – O que é considerado “rua” pelo pesquisador? Notamos que a cidade de Paris possui muitas vielas e ruas sem tráfego de automóveis, bairro Latino, por exemplo, como esses caminhos serão considerados? As áreas livres em condomínios fechados estão abarcadas na categoria rua? O questionamento é pertinente, afinal, com base simplista, estar fora de casa – seja onde for – já pode ser considerado como “rua”.


Podemos ainda questionar como os dados serão coletados. Uma simples pesquisa de opinião pode não revelar a pura verdade. Diante de tal questionamento, pode ser grande a possibilidade de um constrangimento ao responder positivamente ao pesquisador. Principalmente se o mesmo for do sexo feminino. O ideal seria a utilização de equipamentos acoplados ao corpo do pesquisado, em posicionamento preciso, para coletar a emissão de gases durante o dia e depois confrontar com o mapeamento do GPS. Somente assim seria possível um mensuramento mais preciso.


A ciência que existe hoje só ocorreu porque alguém tinha uma pergunta sem resposta. A busca pela verdade é algo que sempre moveu o homem em sua escalada da construção de uma sociedade dotada de um maior número de recursos. Porém, devemos ter cautela ao dispor nosso tempo em determinados temas que podem, ou não, serem de fato significativos para a evolução do homem, como espécie dominante do planeta ou como indivíduo em busca de seu próprio crescimento pessoal.


Resumindo: algumas perguntas não merecem respostas.

domingo, 17 de abril de 2016

O AÇOUGUEIRO QUE AMAVA AS VACAS



Por João Oliveira


O expresso transiberiano já estava começando a cruzar o deserto de Gobi na Mongólia quando os dois homens se encontraram em um dos luxuosos vagões restaurante do trem. O espaço estava lotado e, para se sentarem ao lado da janela os dois estranhos tiveram de dividir a mesma mesa.

As feições revelavam as origens, um claramente chinês, provavelmente voltando para casa em Pequim e o outro um moscovita de primeira classe, isso facilmente percebível pelo tom avermelhado de suas gordas bochechas. O chinês contemplava a imensidão do deserto quando o outro iniciou a conversa em seu próprio idioma:

- Não é lindo o vazio iluminado pelo pôr do sol?

Para sua surpresa o que deveria ser uma frase solitária e sem retorno recebeu resposta em uma fala carregada de sotaque, mas, perfeitamente compreensível:

- Sim! Nossos países são separados por tantas coisas diferentes e aqui o que nos separa é o nada: apenas areia.

- O senhor fala russo muito bem? Trabalha em Moscou? – Perguntou de forma solene.

- Na verdade aprendi a falar russo na China mesmo. Na adolescência tinha planos de morar em seu país. Mas, a vida me levou para outros caminhos. Hoje sou açougueiro em Pequim e tirei uns dias de férias em Moscou.

- Mas que grande coincidência! – Exclamou em alto tom o russo – Eu também sou açougueiro!

- Que grande coincidência mesmo: dois companheiros de facas se encontrando para jantar. O senhor é de Moscou mesmo?

- Sim, sou e o senhor?

- Sou do sul da China da região de Yulin.

- Sim! Já ouvir muito falar! – Exclamou com empolgação – Dizem que lá existe um festival onde o prato principal é a carne de cachorro. Que coisa terrível com esses pobres animais.

- Senhor. – Falou o chinês com o rosto pálido- Eu sou especializado em corte canino, sou açougueiro de carne de cachorro, um dos mais famosos em meu país.

O clima da mesa mudou radicalmente, mas, mesmo intimidado pela fala do chinês o açougueiro russo continuou o seu ataque:

- É um absurdo que a china ainda mate e coma cães e gatos. Esses são animais carinhosos e fieis aos homens.

Sem mudar sua postura e começando a saborear o jantar o açougueiro chinês falou em tom macio;

- Caro companheiro de facas. Não só a China aprecia os sabores das carnes de cães e gatos. No Canadá, Havaí, Suíça, Vietnã, Coreia do Sul e nas Ilhas Polinésias cães e gatos são servidos como carne de alto nível nas mesas mais exigentes.

- Como??? Isso não é possível! O mundo civilizado não teria esse comportamento absurdo! – Espantou-se o açougueiro russo – Carne para se comer só mesmo de vacas, porcos, galinhas, cabritos, perus, ovelhas ...

- A lista é grande não é mesmo? Eu, por exemplo, não como carne bovina. Tenho um apreço especial por esses animais. Na verdade, em nossa casa no campo, crio vacas para leite e seria incapaz de matar uma delas para comer.

O russo, naquele momento, parou de respirar por alguns segundos. Olhando firme nos olhos do chinês disse:

- Está me dizendo que você tem vacas como animais de estimação?

- Sim! Acho que sim, todas têm nome, andam soltas pelas nossas terras... delas só extraímos o leite mesmo. – Falou calmamente o chinês que já estava quase terminando o seu prato enquanto o russo ainda não tinha experimentado uma única colherada da sopa servida a bordo.

- Como isso pode ser possível? - Questionou boquiaberto o russo. – Esses animais são criados para se comer! Já os cães e os gatos são animais diferentes.

- Essa é uma fala que merece um grande destaque amigo de facas: qual seria o animal criado para se comer? Existe alguma diferenciação entre esses animais?

- Claro que sim: é uma questão de amor! Não se come um bicho que você ama.

- Isso – disse o chinês- Isso mesmo. Eu amo as vacas, o senhor ama cães e gatos. Isso define o que pomos na mesa para comer e o que decidimos tratar com carinho e respeito. Apenas isso.

Lá fora o tom laranja do deserto foi dando lugar a um azul escuro. Os dois açougueiros, sentados à mesma mesa, saboreavam uma sopa de legumes, algo que não causava nenhum distúrbio cultural sobre suas preferências de corte.


terça-feira, 12 de abril de 2016

O NOVO MENTORING



Por João Oliveira (Psicólogo CRP 05/32031)


A velocidade de mudanças que ocorrem no mercado acaba por imprimir um determinado perfil de resolutividade nas instituições que desejam se manter no ambiente de competitividade. Torna-se necessário ter profissionais qualificados disponíveis para atender as demandas que se tornam cada vez mais urgentes. Os profissionais devem possuir agilidade nas resoluções dos problemas que surgem com assertividade: a empresa não pode parar para pensar muito.

Uma forma de preparar esses profissionais para uma atuação com menor taxa se erros é manter, de forma contínua na empresa, o Mentoring Interno bem atuante. Profissionais mais experientes que passam conhecimento para os mais novos auxiliando na formação profissional no perfil mais adequado àquela empresa.

No Brasil enfrentamos algumas dificuldades quanto a plena atividade do Mentoring em alguns perfis profissionais. Por um lado, alguns veteranos temem passar seus conhecimentos e serem substituídos pelos colegas mais novos e, pelo outro, os jovens querem propor mudanças radicais para implementarem estilo próprio e marcarem território.

Em muitas outras instituições onde a comunicação é clara e a estabilidade para o elemento produtivo é garantida, o mentoring consegue se estabelecer e dá bons frutos. Nos países onde esse processo faz parte da estrutura normal de trabalho, o resultado é aferido pelos lucros alcançados. A General Eletric do Jack Welch talvez seja o exemplo mais presente de como uma companhia pode crescer rapidamente usando o mentoring como estratégia de preparação profissional. O próprio Welch preparou o seu sucessor e, enquanto esteve à frente da G.E. atuou como mentor, diretamente, com 750 executivos da companhia.

No entanto, existe um outro perfil de mentoring que não fica retido entre as paredes da instituição: o mentoring externo. Empresas que possuem interesses comuns, e que não são concorrentes entre si, podem se auxiliar mutuamente provendo conhecimento específico umas às outras que podem alavancar produtividade, dando lucratividade aos dois lados da mesa.

As vantagens são muitas para as empresas que conseguem estruturar esse tipo de relação com outra instituição:

1 – Ampliação da rede de mercado: os clientes de uma empresa podem também se beneficiar dos serviços ou produtos da outra.

2 – Sinergia: novas ideias de atuação no mercado sempre surgem quando existe um mentoring eficiente. Até mesmo novos produtos podem ser lançados com a participação de duas ou mais empresas.

3 – Especialidades se completam: produção, distribuição, pontos de venda, treinamento de equipes, atendimento... os ramos de atuação são inúmeros e, quando existe confiança entre as partes as ações são exponencialmente ampliadas.

4 – Credibilidade no mercado: quando as empresas se apresentam no mercado no formato de compartilhamento das soluções ampliam suas estruturas de confiança. Afinal, o cliente agora pode contar com dois gestores capazes de solucionar possíveis problemas com o produto/serviço.

5 – Melhores profissionais: em todo intercâmbio sempre existe grande troca de conhecimentos e experiências.  Mentoring externo apresenta outros pontos de vista sobre o mercado e pode acrescentar muito aos profissionais envolvidos.

Existem várias maneiras de criar uma relação de mentoring externo entre as instituições. Isso vai depender, em grande parte, do perfil das instituições envolvidas. Um tipo muito comum é o da assistência técnica. Uma empresa cria um produto que será distribuído em uma grande área, mas, não possui uma estrutura de atendimento ampla e, por isso prepara pequenas empresas para serem credenciados em determinadas áreas no que tange ao atendimento do cliente.

O segundo mais comum é a rede de distribuição seguido de perto pelos pontos de venda especializados. Da mesma forma uma indústria foca seus esforços na preparação do produto e, compartilha esse produto com suas especificidades para outras empresas que fazem o processo de distribuição e outras que adotam a exclusividade de vendas desse mesmo produto.

O mundo de hoje dá preferência aos profissionais e empresas especialistas. Até aceita os generalistas, mas, sempre que comparados, os que se apresentam como voltados exclusivamente para um produto/serviço acabam levando vantagem. Nesse ponto o valor do produto/serviço pode ser até um pouco mais caro, desde que o cliente perceba que o fornecedor é capaz de solucionar qualquer situação de revés no futuro em relação ao que está sendo adquirido.

Provavelmente a relação de mentoring mais antiga é a que dá nome a esse processo; Mentor foi deixado por Ulisses, rei de Ítaca, para que instruísse seu filho, Telémaco, até sua volta da guerra de Troia. A história, contada por Homero em “A Odisséia”, coloca Mentor na posição de responsável pela educação de Telêmaco e pela formação de seu caráter ensinando valores para que este adquirisse sabedoria em suas decisões. 

A força dessa relação e a posterior renovação da mesma história em 1699 pelo escritor francês François de Salignac, que escreveu “As Aventuras de Telêmaco”, acabou por dar projeção ao personagem Mentor ao ponto de ser criado um verbo: mentorear. Assim, de forma semântica correta, é possível mentorear e ser mentoreado.

Estar sempre aberto as novas possibilidades de crescimento sendo capaz de analisar os conceitos envolvidos para, com sabedoria, aproveitar o melhor que o outro possui para nos ofertar pode ser o diferencial que o sistema de mentoring nos apresenta. Se ainda não esteve dentro deste sistema, se prepare, ele com certeza está cada vez mais próximo de todos nós que queremos avançar em nossas atividades profissionais.